sábado, 31 de dezembro de 2011

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O valor divino do matrimónio - S.Josemaria Escrivá

O amor puro e limpo dos esposos é uma realidade santa, que eu, como sacerdote, abençoo com ambas as mãos. A tradição cristã viu frequentemente na presença de Jesus nas bodas de Caná uma confirmação do valor divino do matrimónio: O nosso Salvador foi às bodas – escreve S. Cirilo de Alexandria – para santificar o princípio da geração humana.

O matrimónio é um sacramento que faz de dois corpos uma só carne: como diz com expressão forte a teologia, são os próprios corpos dos contraentes que constituem a sua matéria. O Senhor santifica e abençoa o amor do marido à mulher e o da mulher ao marido; e ordenou não só a fusão das suas almas, mas também a dos seus corpos. Nenhum cristão, esteja ou não chamado à vida matrimonial, pode deixar de a estimar.

O Criador deu-nos a inteligência, centelha do entendimento divino, que nos permite – com vontade livre, outro dom de Deus – conhecer e amar; e deu ao nosso corpo a possibilidade de gerar, que é como uma participação do seu poder criador. Deus quis servir-se do amor conjugal para trazer novas criaturas ao mundo e aumentar o corpo da Igreja. O sexo não é uma realidade vergonhosa; é uma dádiva divina que se orienta limpamente para a vida, para o amor, para a fecundidade. (Cristo que passa, 24)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Papa Bento XVI: Vigília de Oração com os jovens na Feira de Freiburg

Neste ponto, não devemos calar o facto de que o mal existe.

Vemo-lo em tantos lugares deste mundo; mas vemo-lo também – e isto assusta-nos – na nossa própria vida. Sim, no nosso próprio coração, existe a inclinação para o mal, o egoísmo, a inveja, a agressividade.

Com uma certa autodisciplina, talvez isto se possa, em certa medida, controlar. Caso diverso e mais difícil se passa com formas de mal mais escondido, que podem envolver-nos como um nevoeiro indefinido, tais como a preguiça, a lentidão no querer e no praticar o bem.

Repetidamente, ao longo da história, pessoas atentas fizeram notar que o dano para a Igreja não vem dos seus adversários, mas dos cristãos tíbios.

Então como pode Cristo dizer que os cristãos – sem ter excluído os cristãos fracos e frequentemente tão tíbios –são a luz do mundo? Compreenderíamos talvez que Ele tivesse gritado: Convertei-vos! Sede a luz do mundo! Mudai a vossa vida, tornai-a clara e resplandecente! Não será caso de ficar maravilhados ao vermos que o Senhor não nos dirige um apelo, mas diz que somos a luz do mundo, que somos luminosos, que resplandecemos na escuridão?

Queridos amigos, o apóstolo São Paulo, em muitas das suas cartas, não tem receio de designar por «santos» os seus contemporâneos, os membros das comunidade locais. Aqui torna-se evidente que cada baptizado
– ainda antes de poder realizar boas obras ou particulares acções – é santificado por Deus.

No baptismo, o Senhor acende, por assim dizer, uma luz na nossa vida, uma luz que o Catecismo chama a graça santificante. Quem conservar essa luz, quem viver na graça, é efectivamente santo.

Queridos amigos, a imagem dos santos foi repetidamente objecto de caricatura e apresentada de modo distorcido, como se o ser santo significasse estar fora da realidade, ser ingénuo e viver sem alegria.

Não é raro pensar-se que um santo seja apenas aquele que realiza acções ascéticas e morais de nível altíssimo, pelo que se pode certamente venerar mas nunca imitar na própria vida. Como é errada e desalentadora esta visão! Não há nenhum santo, à excepção da bem-aventurada Virgem Maria, que não tenha conhecido também o pecado e que não tenha caído alguma vez.

Queridos amigos, Cristo não se interessa tanto de quantas vezes vacilastes e caístes na vida, como sobretudo de quantas vezes vos erguestes. Não exige acções extraordinárias, mas quer que a sua luz brilhe em vós.
Não vos chama porque sois bons e perfeitos, mas porque Ele é bom e quer tornar-vos seus amigos.

Sim, vós sois a luz do mundo, porque Jesus é a vossa luz. Sois cristãos, não porque realizais coisas singulares e extraordinárias, mas porque Ele, Cristo, é a vossa vida. Sois santos porque a sua graça actua em vós.

A necessidade de Deus (e de Cristo) - Henrique Raposo

O ar do tempo acha que é completamente independente do cristianismo. O ar do tempo está errado. Mesmo que não acredite no mistério pascal (como eu o percebo), mesmo que não seja um cristão de fé, o cidadão ali da rua é um cristão cultural, educado numa cultura de direitos que só cresceu na civilização judaico-cristã. Tal como defende Nicholas Wolterstorff, os tais "direitos inalienáveis" (a base ética e constitucional das nossas vidinhas) têm uma raiz bíblica.

Por outras palavras, o Direito Natural precisa de uma base religiosa, precisa de uma comunicação com a transcendência divina. Porquê? A resposta não é simples, mas aqui vai: sem uma noção de transcendência, sem algo que nos liberte da prisão do aqui-e-agora, o poder político fica com as portas abertas para limitar os direitos inalienáveis dos indivíduos. Não por acaso, os regimes totalitários do século XX anularam por completo qualquer noção de transcendência, destruíram qualquer noção ética com origem em algo exterior à lei positiva determinada pelo chefão. O fascismo e o comunismo foram tiranias da imanência.

Muitos autores contemporâneos, como Alain Dershowitz, defendem um conceito de Direito Natural secular, sem qualquer apelo a Deus. Mas isso é o mesmo que ser do Benfica e gostar do Pinto da Costa ao mesmo tempo . Um Direito Natural completamente secularizado é uma contradição em termos, porque não tem uma gota de transcendência. Quando dizemos que cada indivíduo tem direitos inalienáveis que nenhum poder terreno pode pôr em causa, quando dizemos que cada pessoa tem direitos inalienáveis que nenhum direito positivo pode rasgar, estamos - na verdade - a dar um salto de fé em direcção a uma concepção de amor ao próximo, um concepção de amor que transcende a imanência da lei, da cultura e do nosso próprio corpo (i.e., Deus).

Portanto, convém perceber que a ideia de direitos inalienáveis não foi inventada de raiz pelo pensamento iluminista do século XVIII ou pelo optimismo científico e individualista do século XIX. Esta ideia já fazia parte do património bíblico. Neste sentido, a tese de Wolterstorff não é descabida: sem esta raiz cristã, a nossa cultura de direitos não teria sido desenvolvida. Os críticos desta tese poderão invocar Kant para a defesa de um Direito Natural absolutamente secular, mas ficarão sempre expostos a um ataque óbvio: Kant cresceu numa cultura cristã e não noutra qualquer; Kant não apareceu no paganismo indiano ou chinês. Não por acaso, Nietzsche dizia que Kant era um cristão manhoso, um cristão que inventou uma teoria secular de direitos apenas para fugir da questão de Deus e da fé.

Moral da história? Durante muito tempo, pensei que Kant chegava para as despesas do Direito Natural. Mas não chega.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Chorar em público - Miguel Esteves Cardoso

Quando sair este jornal, a Maria João e eu estaremos a caminho do IPO de Lisboa, à porta do qual compraremos o PÚBLICO de hoje. Hoje ela será internada e hoje à noite, desde o mês de Setembro do ano passado, será a primeira vez que dormiremos sem ser juntos. O meu plano é que, quando me expulsarem do IPO, ela se lembre de ir ler o PÚBLICO e le...ia esta crónica a dizer que já estou cheio de saudades dela. É a melhor maneira que tenho de estar perto dela, quando não me deixam estar. Mesmo ficando num hotel a 30 passos dela, dói-me de muito mais longe. 

 O IPO consegue ser uma segunda casa. Nenhum outro hospital consegue ser isso. Podem ser hospitais muito bons. Mas não são como uma casa. O IPO é. Há uma alegria, um humor, uma dedicação e uma solidariedade, bem-educada e generosa, que não poderiam ser mais diferentes da nossa atitude e maneira de ser - resignada, fatalista e piegas - que são o default institucional da nacionalidade portuguesa. É graxa? Para que tratem bem a Maria João? Talvez seja. Mas é merecida. Até porque toda a gente que os três IPO de Portugal tratam é tratada como se tivesse direito a todas as regalias. Há muitos elogios que, não obstante serem feitos para nos beneficiarem, não deixam de ser absolutamente justos e justificados. Este é um deles. Eu estou aqui ao pé de ti. Como tu estás ao pé de mim. Chorar em público é como pedir que nada de mau nos aconteça. É uma sorte. É o contrário do luto. Volta para mim." (28-11-2011)

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Tudo pode e deve levar-nos a Deus - S. Josemaria Escrivá

O cristão precisa de ter fome de saber. Desde o estudo dos saberes mais abstractos até à habilidade do artesão, tudo pode e deve conduzir a Deus. Efectivamente não há tarefa humana que não seja santificável, motivo para a nossa própria santificação e oportunidade para colaborar com Deus na santificação dos que nos rodeiam. A luz dos seguidores de Jesus Cristo não deve estar no fundo do vale, mas no cume da montanha para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.

Trabalhar assim é oração. Estudar assim é oração. Investigar assim é oração. Nunca saímos afinal do mesmo: tudo é oração, tudo pode e deve levar-nos a Deus, alimentar a nossa intimidade contínua com Ele, da manhã à noite. Todo o trabalho honrado pode ser oração e todo o trabalho que é oração é apostolado. Deste modo, a alma fortalece-se numa unidade de vida simples e forte.

Vimos a realidade da vocação cristã, ou seja, como o Senhor confiou em nós para levar as almas à santidade, para as aproximar d'Ele, para as unir à Igreja e estender o reino de Deus a todos os corações. O Senhor quer-nos entregues, fiéis, dedicados, com amor. Quer-nos santos, muito seus.. (Cristo que passa, nn. 10–11)

Deus escolheu ser pobre - José Luís Nunes Martins

Muitos são os que acreditam que Deus é infinitamente bom e misericordioso, mas é um completo absurdo que tenha descido à Terra para viver como nós e, pior ainda, que tenha terminado a sua vida numa cruz.

Este homem, que era Deus, quis experimentar viver a nossa vida e morrer a nossa morte. Não chegou envolto em honras e nunca as quis. Preferiu sempre ser simples, tendo apenas o essencial, nada mais. Veio até nós amar-nos e viver connosco. Pediu--nos que fôssemos ao encontro dos nossos semelhantes mais pobres, tal como Ele veio ter connosco.

Felizes de nós se, pelo menos no dia de Natal, nos sentirmos da mesma família dos pobres, dos doentes, dos que choram e de todos os que sofrem; somos tão carenciados como eles noutros aspectos da nossa vida, e mais felizes seremos se dermos um passo na sua direcção. Amar alguém é ir ao seu encontro.

Um dos mais admiráveis poderes deste Deus que se fez homem não consiste em responder às nossas dificuldades com milagres, mas em dar a todos nós a possibilidade de nos transformarmos, de transformarmos as nossas vidas e, através disso, o mundo em que vivemos. Deu-nos ombros fortes, a fim de sermos capazes de carregar a nossa própria cruz e deste modo ajudar os outros a carregar também as suas.

Talvez o sentido da vida seja fazer vencer o Amor sobre o egoísmo. in jornal i

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Frase do dia

"Eu gostava mais do Natal do que dos presentes. Os presentes baralham-se na minha memória. Deram-me com certeza muito prazer. Mas o prazer esquece. Lembro-me do Natal: porque o Natal não era prazer mas sim alegria e a alegria tem qualquer coisa de eterno. Só o maravilhamento é eterno." 

Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 24 de dezembro de 2011

O canto dos Anjos na Noite de Natal - Pe. Rodrigo Lynce de Faria

«Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade» (Lc 2, 14). É assim que São Lucas nos narra como os Anjos naquela Noite louvaram o Menino Jesus, que acabava de nascer. A Igreja, disse o Papa, ampliou este hino de júbilo sobre a glória de Deus. «Nós vos damos graças pela vossa imensa glória». Nós vos damos graças pela vossa beleza. E pela vossa grandeza. E pela vossa imensa bondade, que nesta Noite se torna especialmente visível para nós.

A manifestação do que é belo torna-nos felizes. Exactamente por isso, diante da beleza — ao contrário de outras coisas — não nos interrogamos pela sua utilidade. «A glória de Deus, da qual provém toda a beleza — continuava Bento XVI — faz explodir em nós o deslumbramento e a alegria». Aquele que contempla a Deus — recém-nascido, indefeso, envolto em panos, deitado numa manjedoura — sente-se feliz. E não sabe muito bem explicar porquê.

São Lucas não nos diz que os Anjos cantaram. Diz-nos, isso sim, que eles louvaram a Deus (cfr. Lc 2, 13). Mas desde sempre os homens souberam que a linguagem dos Anjos é diferente da nossa. Nesta Noite, tal louvor dos espíritos celestes foi um canto no qual brilhou a glória, a bondade e a beleza do nosso Deus. É uma música que nos convida a aderir ao louvor da milícia celeste com o coração fascinado: Deus fez-se homem e veio habitar no meio de nós!

Os cânticos de Natal estão presentes nos quatro cantos da Terra. Porque cantam os homens na Noite de Natal? Porque experimentam uma grande alegria. E também porque não querem guardar essa alegria somente para si. Algo parecido aconteceu com os Anjos. Cantar é uma nova dimensão da fala. É um modo novo de comunicar-se. Uma comunicação que possui características magníficas e inefáveis.

Com o cântico o amor torna-se audível. Com o cântico suportamos com mais facilidade as aflições. Crescemos na esperança no meio das dificuldades. Permanecemos no amor mesmo quando ele é posto à prova. Cantamos — mesmo que seja somente no nosso interior — porque sentimos alegria e queremos comunicá-la. Ninguém canta com o coração amargurado.

Esta Noite convida-nos a cantar com os Anjos. Oxalá se recupere em muitas famílias cristãs o costume de cantar na Noite de Natal! Onde? Primeiro, na Missa do Galo. Depois, lá em casa, ao redor do presépio, antes de abrir os presentes. Não nos esqueçamos — pelo amor de Deus — de Quem é que faz anos nesta Noite!

Um cântico de Natal provém de uma alegria simples e profunda — não do excesso de álcool! E de onde vem essa alegria? A alegria genuína — ao contrário da “alegria mundana” — procede sempre do Amor. E o Amor — com letra maiúscula — é a mensagem principal da Noite de Natal. Somos amados por Deus! Veio à Terra para nos salvar! E também veio à Terra para nos animar a cantar com os Anjos na Noite de Natal.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Natal com os refugiados - Irmã Irene Guia

Durante quatro anos, de novembro de 2006 a outubro de 2010, fui voluntária do JRS (Serviço Jesuíta aos Refugiados). Passei-os nos campos de refugiados no Ruanda e de deslocados internos à força na República Democrática do Congo.

Fui desafiada pela Ecclesia a contar como é que se vive o Natal em sítios como estes, onde se respira permanentemente um enorme e denso “advento”, onde se vive uma enorme e densa espera… onde se equilibra o desespero com a certeza do regresso a casa; onde se antevê a própria terra, que agora parece unicamente ser prometida, com a certeza de que Deus é fiel e não abandona o seu povo em terra estrangeira.

Durante esses quatro anos não faltei a um único Natal no campo. Eles eram, e ainda são, a minha Comunidade de referência.

Não é fácil falar do Natal quando o contraste é tão grande com o nosso. Não é fácil. Não é fácil porque o Natal num campo de refugiados é tão austero e tão extremamente pobre que a única coisa que realmente acontece é, de facto, o nascimento do Deus Menino, o Emmanuel, o Deus-connosco!

Não há iluminações porque não há eletricidade. Há apenas a Luz que veio habitar entre nós e que, guiados pela potente estrela da fé, nos faz sair do pequeno abrigo, na escuridão da noite e da própria vida, até ao presépio para adorar Aquele que quis ter a sua tenda do meio das nossas! Pode haver alguém que entenda melhor as razões pelas quais o Deus Menino quis nascer em extrema pobreza e habitar numa tenda, que nasceu numa gruta por não encontrar lugar na hospedaria, do que aqueles que, tal como Ele, vivem em pobreza e habitam em tendas porque não têm lugar no seu próprio país, na sua própria terra? De facto, a única coisa que realmente acontece no Natal dos campos de refugiados é o nascimento do Deus Menino, o Deus-connosco!

Não há rabanadas, nem peru, nem bacalhau, nem vinho nem azevinho. Nalgumas tendas haverá batata cozida, um verdadeiro manjar de festa, para quem conseguiu trocar, por estas, parte da farinha de milho que, há anos sem fim, é o prato do dia a dia que se recebe mensalmente do Programa Alimentar Mundial. Pode haver alguém que entenda melhor o que experimentaram os pobres pastores, que viviam fora das cidades, ao serem os primeiros a dar “as boas vindas a este mundo” ao Salvador do que aqueles que de mãos vazias e coração ardente adoram o Menino na grande tenda do Campo onde se celebra a missa do galo?

Pode haver alguém que se alegre mais com os anjos que cantaram naquela noite “Glória a Deus no Céu e Paz na terra aos homens por Ele amados” do que aqueles que depois da missa ficarão horas a dançar com o coração repleto de alegria porque nasceu novamente o Menino, o Príncipe da Paz que fortalece a esperança que lhes permitirá voltar a casa?

Pode haver Alguém que entenda melhor o que é ser refugiado do que Aquele que também o foi? “O anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar.» E ele levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito, permanecendo ali até à morte de Herodes” Mt.2,13-15

No Natal num Campo de Refugiados de facto não acontece nada. Unicamente nasce o Salvador ardentemente esperado!

Santo Natal para todos! - Aura Miguel

São criminosos e, por isso, cumprem penas pesadas. Só que, desta vez, o seu Natal foi diferente: o Papa foi à prisão visitá-los e aceitou conversar com eles!

Omar aproximou-se do microfone e disse: “Queria perguntar-te um milhão de coisas, mas é difícil porque estou comovido. Por isso, prefiro pedir-te um favor: deixa-nos ficar ligados a ti, com os nossos sofrimentos, como a um cabo eléctrico que nos comunique com Nosso Senhor. Gosto de ti”.

Comovido, o criminoso beija a mão de Bento XVI, que lhe responde: “Também eu gosto de ti e as tuas palavras tocam o meu coração”. Depois, o Papa acrescenta: “Sei que o Senhor se identifica com os prisioneiros. Por isso, vim aqui. Em vós, o Senhor está à minha espera e vocês precisam deste reconhecimento humano. Quantos mais se unirem a vós na oração, mais forte será o 'cabo eléctrico' que nos liga a Nosso Senhor".

A beleza deste gesto do Papa é também um desafio para cada um de nós. É que o rosto de Cristo também se encontra atrás das grades! Santo Natal para todos!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

1º discurso para a novena de Natal - Santo Afonso Maria de Ligório

«Fogo sempre ardente, diremos com Santo Agostinho, inflama as nossas almas.» Jesus Cristo, fizeste-Te homem para acender nos nossos corações o fogo do amor divino: como pudeste encontrar em nós tamanha ingratidão? Tudo fizeste para que Te amassem; chegaste a sacrificar o Teu sangue e a Tua vida. Porque razão ficam os homens insensíveis a tantas graças? Será que as ignoram? Não, eles sabem, eles crêem que, por amor deles, vieste do céu revestir a carne humana e carregar com as suas misérias; eles sabem que, por amor deles, quiseste levar uma vida de sofrimento permanente e sofrer uma morte ignominiosa. 

Depois disto, como explicar que vivam no completo esquecimento da Tua bondade extrema? Eles amam os pais, eles amam os amigos, eles chegam mesmo a amar os animais [...]; é somente por Ti que não sentem amor nem gratidão! Mas que digo eu? Ao acusar os outros de ingratidão, estou a condenar-me a mim mesmo, pois o meu comportamento para conTigo foi pior do que o deles. Porém, a Tua misericórdia dá-me coragem; sei que ela me sustentou durante tanto tempo, para me perdoar e incendiar-me com o Teu amor, com a única condição de eu querer arrepender-me e amar-Te.

Sim, meu Deus, quero arrepender-me [...]; quero amar-Te com todo o meu coração. Reconheço que o meu coração [...] Te negligenciou para amar as coisas deste mundo; mas também vejo que, apesar desta traição, Tu continuas a chamá-Lo. É por isso que, com toda a força da minha vontade, eu To dedico e To dou. Digna-Te incendiá-lo com o Teu santo amor; faz com que doravante ele só Te ame a Ti. [...] Amo-Te, meu Jesus; amo-Te, meu soberano Bem! Amo-Te, único amor da minha alma.

Maria, minha mãe, tu que és «a Mãe do amor formoso» (Si 24,24 Vulg), obtém-me a graça de amar o meu Deus; é de ti que o espero.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Buon Natale

Si avvicina il Santo Natale e noi di cuore vogliamo augurare a tutti voi un Buon Natale!
Gesù Bambino ci porti il dono della speranza, della pace e della serenità.
La Vergine Maria possa trovare tanti cuori pieni di amore per potervi deporre il piccolo Gesù.
Chiediamo la grazia di superare le difficoltà e le prove che incontriamo, sappiamo che Dio veglia su ognuno di noi e ci protegge nell'aspro cammino della vita.
Auguriamo anche un prospero Anno Nuovo.
Con gratitudine vi benediciamo e restiamo sempre uniti nella scambievole preghiera.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Arriscar é preciso - Aura Miguel

O natural entusiasmo das crianças devia ser contagiante.

É que elas avançam com os olhos arregalados para a realidade, sem barreiras nem esquemas de defesa. Ficam – por assim dizer – disponíveis para acolher tudo o que se passa. Confiam sem problemas e, quando não sabem, perguntam.

Pelo contrário, a tendência dos adultos é desconfiar e defender-se. Muitos vivem como quem leva o cotovelo diante dos olhos para evitar golpes desagradáveis ou inesperados da vida, retêm da realidade apenas o que lhes convém e são manhosos perante certas evidências: preferem fechar-se no seu pequeno espaço e recusam surpreender-se com as sugestões que vida traz.

Assim se joga a nossa liberdade: ou (primeira hipótese) nos entrincheiramos em esquemas e jogamos à defesa; ou (segunda hipótese) arriscamos como as crianças, de coração simples e olhar escancarado.

O mistério do Natal terá sérias dificuldades em florescer na primeira hipótese.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Frase do dia

"Coepit facere et docere". – Jesus começou a fazer e depois a ensinar: tu e eu temos de dar o testemunho do exemplo, porque não podemos levar uma vida dupla: não podemos ensinar o que não praticarmos. Por outras palavras, temos de ensinar o que, pelo menos, lutamos por praticar. 

S. Josemaria Escrivá

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O Titanic do Ocidente - José António Saraiva

Nos anos 70, quando Ana Salazar lançou a sua linha de roupa preta para senhora, achei que iria ser um tremendo fiasco. Quem é que, num país do Sul, quereria andar todo vestido de preto? Na altura eu acabara de concluir o curso de Arquitectura na Escola de Belas-Artes, ia com frequência a Paris, fascinava-me com os impressionistas - Renoir, Van Gogh, Cézanne, Monet, Modigliani, Gauguin - e não podia perceber como é que se renegava a cor no vestuário feminino. Não era mais bonito ver as mulheres, sobretudo as jovens, vestidas com roupa alegre de cores garridas do que enfiadas em trajes de luto?

Agora, 40 anos depois do aparecimento de Ana Salazar, passava eu por uma loja de roupa, olhei distraidamente para dentro e o que vi? Manequins vestidos integralmente de negro. E numa loja de homem que havia em frente, o que dominava a montra? Fatos pretos. Muito perto da sede deste jornal existe uma loja 'gótica'. Assim, pelas redondezas, circulam constantemente jovens vestidos de negro - que além disso usam em geral piercings e tatuagens, e têm esotéricos cortes de cabelo, a imitar os índios apaches ou os cabeças-rapadas. Os piercings podem ser na língua, nos lábios, nas orelhas, no umbigo ou até no sexo. Os rapazes e raparigas assim ataviados parecem caricaturas saídas de tribos primitivas.

A nossa civilização atingiu uma tal sofisticação que começou a ser difícil avançar mais - e, aí, entrou-se no retrocesso ou no caminho do absurdo. Há quem compre roupa rota nas lojas de roupa nova. Roupa rota que custa mais caro do que a nova. Cansámo-nos do luxo - e o luxo máximo tornou-se a 'negação do luxo'. Mas uma negação que tem de ser notória: os jovens não compram jeans usados, compram jeans novos a imitar os usados mas percebendo-se que são novos. O vestuário negro e desengraçado é um dos sinais anunciadores da crise que atinge o Ocidente.

Rejeita-se a cor, que reflecte vitalidade e alegria. As únicas 'cores' que se aceitam não são cores: são o preto, o cinzento e o branco. As cores desapareceram. E na decoração sucede a mesma coisa: entra-se numa casa e é tudo branco. Ou é tudo preto e cinzento. O uso das cores vivas passou a ser 'piroso'. Ao que chegámos! Falo da cor porque é uma realidade muito visível de uma mudança inexorável que está em curso: a decadência da nossa civilização. Uma civilização que teve uma ascensão, um apogeu e entrou em declínio. Um declínio que é patente em todas as áreas: a desagregação da família, a deterioração da autoridade, o aumento da indisciplina, os desvios sexuais, o crescimento do consumo de drogas, a proliferação de gangues suburbanos, a perda de valores e referências positivas, o abaixamento cultural, etc. Comecemos por aqui, pela cultura. Já não falo da 'cultura' difundida pelas televisões - e que tem os seus exemplos mais acabados em programas tipo Big Brother ou Casa dos Segredos. São protótipos abjectos, que puxam a sociedade para baixo.

Mas a própria cultura 'respeitada' (ou mesmo venerada) pelos críticos atinge mínimos inconcebíveis. Depois da grande pintura clássica renascentista como conceber um quadro todo negro? E se ainda fosse só um... Mas em todos os museus de arte contemporânea se vêem exemplares desses. E, ao lado de uma escultura de Leonardo da Vinci ou mesmo de Rodin, o que dizer da 'instalação' de Cabrita Reis à porta dos Jerónimos constituída por pneus velhos pendurados numa armação de ferro? E como classificar um filme sem imagens, como o de João César Monteiro, ao lado de uma obra de Orson Welles ou Visconti? E alguém se ocupou a comparar uma sinfonia de Beethoven com os novos batuques que nos massacram os ouvidos na rádio? Mas, repito: nada disto são casos isolados - são todos sintomas do mesmo mal e todos concorrem no mesmo sentido. Todos fazem parte do mesmo puzzle, que tem um nome: decadência. O quadro de valores e de referências em que nos movemos mudou radicalmente.

A família, por exemplo, deixou de ser uma instituição a preservar. A percentagem de divórcios já iguala a de casamentos. Só que isto, aplaudido por alguns, é um drama tremendo para a esmagadora maioria. A família é o primeiro veículo de integração de um indivíduo na sociedade. E o primeiro apoio de que um indivíduo dispõe em situações adversas, quer ao nível material quer no plano afectivo. A família é uma rede - que ampara o indivíduo quando cai, como ampara o trapezista quando falha o trapézio. A destruição da família entrega as pessoas a si próprias, ainda por cima num ambiente muito competitivo como é a selva urbana em que se tornaram as grandes cidades - e daí as depressões, as exclusões, os suicídios, que aumentam regularmente. A família também é essencial para o crescimento equilibrado das crianças. É a família que lhes oferece um ambiente estável e lhes transmite segurança. Uma sociedade de famílias desestruturadas começa a produzir crianças problemáticas.

A legalização dos casamentos gay, com a aceitação explícita de casais estéreis, foi mais um sinal do esvaziamento da ideia de 'família' nos tempos que correm. E os problemas das famílias prolongam-se nas escolas, sendo responsáveis por fenómenos como a indisciplina nos estabelecimentos de ensino, que se tornou uma praga. Assistimos a alunos a agredirem professores em plena sala de aula - o que não devia sequer poder passar pela cabeça dos alunos, quanto mais poder acontecer. E a seguir vêm as drogas, o consumo crescente de drogas, com o seu rosário de problemas. Drogas que têm como objectivo explícito a alienação, a fuga à realidade, a marginalização do quotidiano. E depois temos as inscrições nas paredes, os gangues suburbanos, o aumento da criminalidade. E assistimos ainda ao aumento dos desvios sexuais: multiplicam-se os travestis, os transexuais, as trocas de casais (o swing), para já não falar da pedofilia.

A ostentação da homossexualidade tornou-se também uma moda. Em Paris, jovens homossexuais descem o Boulevard Saint Michel ou os Campos Elíseos de malas femininas penduradas nos braços imitando as senhoras. Todos os sinais aqui apontados, repito, são peças de um mesmo puzzle e são típicos das sociedades em crise. E não adianta fechar os olhos nem vale a pena lutar contra o inelutável. Os economistas, os financeiros, os políticos esmifram-se a procurar 'saídas para a crise'. Mas a crise não tem saída porque a questão não é económica e financeira: a crise económica e financeira em que estamos mergulhados é apenas um dos sintomas do descalabro geral. Já percebemos que temos de nos habituar a viver com menos. Mas o
grande problema não é esse. Antes fosse...O grande drama é que o mundo onde cada um de nós julgava que iria viver sempre entrou numa decomposição acelerada. O barco onde navegámos durante séculos chegou ao fim do prazo de validade e está a afundar-se.

E isso vê-se em tudo. Basta abrir os olhos. Vê-se no afundamento cultural - com a desqualificação da pintura, da escultura, da literatura e da música. Vê-se na desvalorização do casamento e na desagregação da família. Vê-se na deterioração da autoridade e da disciplina, particularmente nas escolas. Vê-se nos desvios sexuais, na proliferação das drogas, na perda de valores e de referências positivas. E tudo isto é simbolizado pelos jovens com os quais comecei este artigo: esses jovens vestidos de preto, com a pele furada por argolas e manchada por tatuagens, que parecem os corvos anunciadores da desgraça. Aves de mau agoiro.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Frase do dia

"Deus está entre nós e chama-nos; mas insistimos em não responder e em não vê-Lo, porque preferimos ficar absortos nos nossos próprios interesses." 

S. Pio de Pietrelcina

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Papa acende a maior árvore de Natal do mundo

"Cada um seja uma luz para quem estiver ao seu lado; saia do egoísmo que com frequência fecha o coração e impele a pensar só em si mesmo; dê um pouco de atenção e amor ao outro. Cada pequeno gesto de bondade é como uma luz desta grande Árvore: juntamente com outras luzes é capaz de iluminar a escuridão da noite, inclusive a mais tenebrosa." 

Papa Bento XVI (este homem até a acender árvores de natal diz coisas certas)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pe.Tolentino Mendonça nomeado consultor de Cultura no Vaticano

A nomeação do actual director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura foi feita sob proposta do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura, organismo do Vaticano, acrescenta uma nota da Pastoral da Cultura.

As nomeações para este conselho incluem ainda o arquitecto e engenheiro espanhol Santiago Calatrava, o compositor estoniano Arvo Pärt e o filósofo francês Jean-Luc Marion, discípulo de Jacques Derrida.

De acordo com a nota da Pastoral, José Tolentino Mendonça diz que a nomeação para consultor reconhece trabalho desta entidade em Portugal.

O poeta, autor de Os Dias Contados e A Estrada Branca, também biblista, que escreveu As estratégias do desejo: um discurso bíblico sobre a sexualidade, diz que recebeu a notícia “com alegria”, na nota divulgada pela Pastoral portuguesa, uma vez que a nomeação “também é um reconhecimento por todo o trabalho que está realizado em Portugal há uma década e que vai ganhando uma expressão cada vez maior”.

O director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura disse que encara a missão com “sentido de responsabilidade” e vontade “de estar disponível e ser útil para assessorar naquilo que for necessário”, ainda segundo a mesma nota.

Se eu quiser falar com Deus, textos pastorais, Baldios e De Igual para Igual são algumas das obras de Tolentino Mendonça, reunidas na colectânea A Noite abre os meus Olhos. in Público

domingo, 11 de dezembro de 2011

Encontro inter-religioso - Papa Bento XVI em Assis


Trata-se do Vigário de Cristo, com alguns líderes religiosos (não sei dizer se estavam aqui todos presentes) no fim do encontro, na cripta de São Francisco, a rezar diante do Santíssimo Sacramento.

O senhor de púrpura à esquerda da foto é o Dr. Rowan Williams, chefe da Igreja Anglicana, prostrado de joelhos diante de Cristo Eucarístico. Ecumenismo de verdade é este! É claro que, provavelmente, os diversos líderes religiosos aí presentes estão apenas a fazer de "bons rapazes" diante do Rei dos Reis; mas a foto tem a força de um programa, de um objectivo a ser buscado, dum fim almejado pelo qual vale a pena trabalhar. 

Sim, queremos todos os homens reunidos, mas assim: reunidos aos pés de Cristo! E, como o estar sob o sol queima a pele ainda que não se atente para isso, oxalá o colocar-se diante do Sol da Justiça possa conceder algumas graças para estes homens que estão diante de Cristo e ao lado do Seu vigário – ainda que não o saibam. in Deus lo vult

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Frase do dia

"A melhor profissão de fé é a que, no relampejar da tormenta, te levanta e te conduz a Deus."

S. Pio de Pietrelcina

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Homoparentalidade vs filiação - Pe. Gonçalo Portocarrero

A ideologia do género, na sua escalada contra a família natural, obteve no ano passado uma importante vitória, com a aprovação parlamentar do casamento legal entre pessoas do mesmo sexo. Uma tal reforma subverteu, em termos legais, o matrimónio civil, agora equiparado à união de duas pessoas do mesmo sexo. Mas, como a lei em vigor não permite que estas uniões possam adoptar, está em curso uma tentativa de substituir o conceito de filiação pela volátil noção de «homoparentalidade».

A homoparentalidade significa, em termos práticos, que é pai ou mãe não apenas quem gera biologicamente, mas também – e esta é a novidade – o seu cônjuge. Assim sendo, nada obsta a que uma infeliz criança possa ter duas mães ou dois pais e, a bem dizer, até alguns mais.

São recorrentes o uso e o abuso do princípio da igualdade, como fundamento jurídico desta pretensão. Mas o casal natural – homem e mulher – está legitimado para adoptar não só por estar casado mas, sobretudo, por ser realmente um potencial pai e uma possível mãe. Ora tal não acontece quando são duas pessoas do mesmo sexo. Por isso, é lógico que não se lhes permita a adopção, que frustraria a legítima expectativa do menor, o qual não precisa de vários tutores, mas de uma verdadeira família, ou seja, de um pai e de uma mãe.

As uniões do mesmo sexo querem o privilégio de um estatuto parental não fundado na geração biológica, mas na sua relação conjugal. Como se o facto de ser casado com o pai, ou a mãe, concedesse a alguém o direito de ser mãe, ou pai, dos seus filhos!

Mas se, por absurdo, se viesse a concretizar esta ameaça contra a família e se concedesse esta aberrante benesse às uniões de pessoas do mesmo sexo, seria então necessário, por razão do dito princípio da igualdade, dar esse mesmo direito aos casais de pessoas de diferente sexo. Com efeito, se o marido do pai também é pai, com mais razão o deveria ser o marido da mãe. E se a mulher da mãe é mãe, também o deve ser a mulher do pai.

Mais: se o filho do progenitor é também, juridicamente, filho do cônjuge deste, tem de ser igualmente herdeiro dos ascendentes da pessoa que casou com seu pai ou mãe. Portanto, se o príncipe herdeiro do Reino Unido tivesse a infelicidade de «casar» com Elton John, o filho deste passaria a ser filho do príncipe e, como tal, herdeiro do trono britânico, apesar de não ter nenhuma relação de parentesco com os referidos monarcas! Seria cómico, se não fosse dramático.

Na realidade, a homoparentalidade, ao substituir a filiação natural, destrói as noções de paternidade e maternidade. Porque ou a filiação legal está fundada na geração, ou então as palavras «pai» e «mãe» deixam de fazer sentido e nem sequer se distinguem. De facto, por que razão o marido do pai, ou a mulher da mãe, têm que ser, respectivamente, pai e mãe do filho do marido ou da mulher? Se pode ser pai, ou mãe, quem de facto não gerou tal filho, o marido do pai poderia ser mãe – na realidade, não sendo progenitor, não é mais pai do que mãe … – como a mulher da mãe deveria poder ser pai. No limite, o filho de dois indivíduos do mesmo sexo poderia ser legalmente filho de dois pais, de duas mães ou até – quem diria! – de um pai e de uma mãe!

«Se se põe de parte o Direito, que distingue o Estado de um grande bando de salteadores?», perguntava Santo Agostinho (De civitate Dei, IV, 4, 1), recentemente citado por Bento XVI. Se se ignora a ecologia familiar, se se falsifica a noção de casamento, equiparando-o às uniões entre pessoas do mesmo sexo, e se se substitui a filiação pela «homoparentalidade», que resta senão uma fraude e uma mentira?! Se à família se nega o seu fundamento natural, é a sua identidade que é negada e, na realidade, nada mais seria do que a factualidade de uma qualquer aventura em comum.

E não é preciso ser bruxo para adivinhar que as principais vítimas da destruição da família natural, em que tanto se empenha a ideologia do género, são, como sempre, as mais vulneráveis: as crianças.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Frase do dia

"As pequenas coisas permanecem pequenas, mas ser fiel nas pequenas coisas é uma grande coisa." 

St.Agostinho

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Lei do aborto nunca deveria ter sido aprovada - Lorde Windsor

A lei que legaliza o aborto da Grã-Bretanha jamais deveria ter sido aprovada”. É o que afirma o sobrinho da rainha, Lorde Nicholas Windsor, num artigo publicado no jornal britânico mais vendido, o “Daily Telegraph”. Lord Windsor, que se converteu ao catolicismo e renunciou assim ao direito ao trono, o primeiro da casa real a dar este passo depois de Charles II, em 1685, apresentou na Câmara dos Lordes os artigos de San José, um documento assinado por intelectuais que foi apresentado na semana passada na ONU e que visa impedir que o direito ao aborto seja incluído nas leis internacionais. 

A posição do filho mais jovem do Duque de Kent, sobrinho da Rainha, criou alarde na Grã-Bretanha porque se trata de um membro da família do Chefe de Estado que critica viementemente uma lei do País. Na época, a conversão da mãe de Lorde Windsor, a duquesa de Kent, esposa do primo da Rainha, chocou o Reino Unido, pois é um país anglicano onde a “Igreja da Inglaterra” nasceu como igreja de Estado, de uma decisão do rei Henrique VIII que se separou de Roma, e onde uma lei impede ainda hoje que algum católico ocupe o trono. “Nasci em 1970”, escreve Lorde Windsor no “Telegraph”, “quantos não têm aquelas irmãs e aqueles irmãos que a lei deveria ter protegido! 

in verbonet

domingo, 4 de dezembro de 2011

T.S. Eliot, ou o cristão no circo pagão - Henrique Raposo

Em Ensaios Escolhidos, podemos encontrar um texto muito atual de T.S. Eliot: "A ideia de uma sociedade cristã". Este ensaio de 1939 é um ótimo buraco da fechadura para observarmos os dilemas do cristão na sociedade de 2011.

Eliot dizia que o cristão tem de tentar influenciar a sociedade do seu país a um nível pré-político. Ou seja, não estamos perante a defesa de um Estado cristão, mas ante a defesa de uma sociedade cristã, uma sociedade com o seu centro vital amarrado a valores cristãos. Eliot, aliás, afirmava que é mais importante a existência de uma sociedade cristã do que a existência de governantes cristãos. Porquê? Numa sociedade cristã, um político pagão não consegue impor leis anti-cristãs, porque o tecido social não o permite. Ao invés, numa sociedade pós-cristã e pagã, um governo de políticos cristãos já não tem hipótese, pois está rodeado por uma sociedade que despreza o moral cristã.

Portanto, Eliot afirmava que um cristão deve actuar na sua sociedade, porque o cristianismo é a última linha de resistência contra o mau governo, contra o "governo totalitário pagão". Tudo bem? Tudo mal. Eliot já tinha o problema que aflige os cristãos europeus de hoje: a sua sociedade já era pagã. Eliot queixava-se da ausência de fé nas massas, e, como se sabe, esta queixa é recorrente na atualidade. Em 2011, tal como em 1939, a sociedade já não é cristã, logo, o Estado projecta-se através de leis que ferem a ética cristã. Sim, tal como no tempo de Eliot, ainda existe uma "Comunidade de Cristãos", mas já não existe uma "Comunidade Cristã". O processo de descristianização das sociedade europeias, que estava a atingir a maturidade no tempo de Eliot, é hoje uma realidade mais do que madura. Maduríssima. Há muito que não existe um ethos cristão a limitar a ação do Estado e dos governantes.

Ora, quer em 1939, quer neste século XXI, o afastamento das sociedades em relação ao ethos cristão não se deveu apenas às investidas das hordas pagãs. A preguiça, digamos assim, dos cristãos também deve ser considerada enquanto causa da decadência da fé. Em Portugal, por exemplo, há muito católico de sofá e de teclado. Julgo mesmo que os católicos portugueses esqueceram o conselho de Eliot, isto é, pensaram que as leis do Estado protegeriam para sempre o ethos católico. Como todos os portugueses, os católicos portugueses encostaram-se ao Estado, e negligenciaram um ponto fundamental: é preciso fazer catolicismo todos os dias, na rua, nas paróquias, nos bairros, nas associações, no voluntariado, junto das pessoas. A lei não chega.

PS: uma nova geração de católicos portugueses (ainda mais nova do que a minha) está a desbravar caminho neste sentido. Ainda bem.

Presépio anuncia que uma nova humanidade é possível - Aura Miguel

A ideia surgiu pela primeira vez em 1223. Nesse ano, Francisco de Assis, em vez de festejar o Natal dentro da Igreja, resolveu fazê-lo num ermitério da floresta de Greccio: levou para lá uma vaca, um burro e uma manjedoura… para assim explicar melhor o mistério do Natal às pessoas comuns.
Francisco terá explicado aos seus amigos que ver “com os olhos do corpo” o Menino Jesus humildemente deitado numa manjedoura, ajuda a acreditar “com os olhos do espírito” na sua divindade.

Desde então, o costume espalhou-se pelo mundo cristão e Portugal é dos países onde a tradição é mais antiga e popular. Aliás, a variedade dos presépios portugueses é de uma fascinante riqueza – de Estremoz a Braga; de Machado de Castro aos santeiros populares, presépios de bolso, e outros gigantes, com figuras e cenas da vida quotidiana - uns mais bonitos que outros, mas todos culminam na manjedoura, sinal maior da nossa esperança. E esperança que nunca desilude.

É que o presépio anuncia a todos que uma nova humanidade é possível, porque Deus se fez homem, entrou na história e habita entre nós, para estar connosco até ao fim dos tempos.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Oração a São Francisco Xavier

Amabilíssimo e amantíssimo Santo,
em união convosco adoro reverentemente a Divina Majestade
e pelo muito que me regozijo dos especialíssimos dons da graça
com que vos favoreceu durante a vossa vida mortal
e pela glória que gozais agora,
eu rendo-lhe afetuosíssimas graças
e peço-lhe do fundo de minha alma
e por vossa poderosa intercessão
me conceda a graça importantíssima de viver e morrer santamente.
E vos suplico também... (aqui o pedido especial)
e se o que peço não convier à glória de Deus
e ao proveito de minha alma,
quero alcançar aquilo que a uma e outra seja mais conforme. 

Amém!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Frase do dia

"Ofendemos a Deus quando, sabendo que uma acção é pecado, ainda assim a fazemos com deliberada e plena vontade." 

S. Pio de Pietrelcina

Sim, é possível a esperança! - http://www.esposiblelaesperanza.com/

Recebi hoje pela manhã esta bonita notícia sobre o apoio que um ateu homossexual resolveu prestar, publicamente, a um sacerdote espanhol – mais, a um bispo espanhol – que, na sua diocese [aliás, pelo que eu entendi é mais especificamente no site da sua diocese], está a promover um espaço de ajuda para as pessoas homossexuais que estão dispostas a lutar para abandonar os seus vícios e para levar uma vida da maneira que o Todo-Poderoso deseja. Não deixem de ler as palavras do jovem venezuelano, que são bonitas; mas o que é ainda mais bonito nesta história toda é a mensagem de esperança que Dom Juan Antonio Reig Pla publicou no site da Diocese de Alcalá

Es posible la esperanza! Estas palavras são um verdadeiro alento para as tantas pessoas que, sofrendo na sua carne os males das inclinações homossexuais, vêem-se abandonadas e privadas do acesso a informações e a pessoas que lhes possam ajudar a enfrentar com dignidade a cruz que aprouve à Divina Providência que lhes coubesse. Porque a Ideologia Gay tampouco admite que haja um homossexual insatisfeito com a sua condição e desejoso de mudar. A famosa “liberdade de escolha”, que até há bem pouco tempo ressoava em nossos ouvidos em defesa dos homossexuais, virou rapidamente uma liberdade de uma escolha só e portanto, por definição, uma não-liberdade. O Carlos Ramalhete falava exatamente sobre isto na sua coluna na Gazeta do Povo

Não sobre homossexuais, mas sobre escolhas, e sobre os males que advêm quando terceiros tomam sob si a “responsabilidade” de decidir o que é melhor para alguém. Não é muito diferente a (hipotética) proibição do açúcar no café da (concreta) proibição dos programas de ajuda à pessoa homossexual: em um e em outro caso, temos burocratas ou ideólogos decidindo por si próprios o que é melhor para as pessoas, pouco importando o que estas pessoas pensem ou queiram. Em última instância, ninguém pode forçar um pecador a converter-se. Mas é fundamental – é uma exigência da Caridade inegociável – que os pecadores desejosos de se converterem possam receber de nós todo o apoio do qual necessitarem. 

Outra, no entanto, é a ideia (e a prática) do Movimento Gay: ao pregare abertamente contra a irreversibilidade do comportamento homossexual, ao desacreditar as iniciativas que se propõem a oferecer verdadeira ajuda às pessoas que padecem destes vícios e ao até mesmo atacarem abertamente (por via judicial, se necessário for) as pessoas ou entidades dispostas a oferecerem uma alternativa à entrega animalesca aos imundos pecados contrários à natureza, o que o Movimento Gay quer na verdade é impôr uma terrível escravidão a todas as pessoas que padecem de tendências homossexuais. Negando-lhes a possibilidade de escolher (ou, ainda pior, negando que haja escolhas), transforma-as em escravos [afinal, «a incapacidade de escolha é a maior característica do escravo», como disse o Ramalhete] de seus torpes desejos. Isto sim é degradante, e isto sim deveria ser objeto de censura dos poderes públicos – não os convites à liberdade dos filhos de Deus. Não deixem de ver o site do Es posible la esperanza

(sim, contra tudo o que dizem os baluartes da Ideologia Gay e a despeito das tentativas da Gaystapo de silenciar as vozes dissidentes, é sempre possível a esperança). E, em particular, não deixem de ver as mensagens de agradecimento ao bispo de Alcalá; o preito de gratidão por um bispo que não se rendeu à agenda gay e que está, sozinho, fazendo infinitamente mais pelos homossexuais do que todo o Movimento Gay do mundo inteiro.

Jorge Ferraz

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Frase do dia

"Responde-me: Se tivesses as mãos manchadas em esterco atrever-te-ias a tocar com elas nas vestes do rei? Nem sequer os teus próprios vestidos tocarias com as mãos sujas; antes lavá-las-ias e secá-las-ias cuidadosamente, então os tocarias. Pois, porque não dá a Deus essa mesma honra que concedes a uns vis vestidos?" 

S. Atanásio Sinaíta

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Frase do dia

"Para impregnar de rectas normas e princípios cristãos uma civilização, não basta gozar da luz da fé e arder no desejo do bem. É necessário para tanto inserir-se nas suas instituições e trabalhá-las eficientemente por dentro." Beato João XXIII

Orar sempre, sem desfalecer - Isaac, o Sírio

Feliz o homem que conhece a própria fraqueza. Porque esse conhecimento é nele o fundamento, a raiz, o princípio de toda a bondade. [...] Quando um homem se sente desprovido de socorro divino, reza muito. E, quanto mais reza, mais o seu coração se torna humilde. [...] Tendo compreendido realmente isto, guarda a oração na sua alma como um tesouro. E, sendo a sua alegria tão grande, faz da oração uma acção de graças. [...] Assim, guiado por este conhecimento e admirando a graça de Deus, eleva a voz e louva-O e glorifica-O, exprime a sua gratidão, nos píncaros do seu maravilhamento.

Aquele que conseguiu, verdadeiramente e não em imaginação, alcançar tais sinais e conhecer tal experiência, sabe do que estou a falar e que nada pode impedir isso. Mas que ele cesse de então em diante de desejar coisas vãs. Persevere em Deus, através da oração contínua, no temor de ser privado da abundância do socorro divino.

Todos estes bens são dados ao homem quando este reconhece a sua fraqueza. No seu grande anseio pelo socorro divino, aproxima-se de Deus, permanecendo em oração. E, quanto mais se aproxima de Deus com esta determinação, mais Deus o aproxima dos Seus dons e não lhe retira a Sua graça, devido à sua grande humildade. Pois tal homem é como a viúva que não cessa de pedir ao juiz que lhe faça justiça contra o seu adversário. Deus compassivo retém a Suas graças para que essa reserva incite o homem, que tanta precisão tem d'Ele, a aproximar-se d'Ele e a e a permanecer junto d'Aquele que é a fonte do seu bem. in Discursos Ascéticos

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Rebeldes católicos desafiam bispos austríacos

Dissidentes católicos austríacos anunciaram que leigos começarão a celebrar missas quando um sacerdote não estiver disponível, um claro apelo à desobediência num momento em que os bispos do país realizam sua conferência de outono.

Um manifesto adotado por dezenas de ativistas no fim de semana disse que os leigos vão pregar, consagrar e distribuir a comunhão nas paróquias sem padre, disse Hans Peter Hurka, chefe do grupo "Nós Somos a Igreja".

"A lei da Igreja proíbe isso. A pergunta é, pode a lei da Igreja se sobrepor à Bíblia? Somos da opinião, com base nos achados do Concílio Vaticano 2o, que esta (proibição) não é possível", disse ele na segunda-feira.

A Igreja Católica só permite que padres ordenados presidam missas.

Hurka disse que dissidentes tinham planejado há muito tempo a reunião, mas estavam felizes que ela aconteça pouco antes de uma sessão de quatro dias da conferência dos bispos católicos, a partir de segunda-feira.

Ele disse que queria bispos, liderados pelo cardeal de Viena Christoph Schoenborn, para responder ao documento, o mais recente em uma série de desafios feitos por reformadores de base católica na Áustria.

"Nós basicamente esperamos isso, porque as exigências de reforma não são especialmente novas", disse ele. Os bispos receberam uma cópia do manifesto, no sábado, acrescentou.

Bispos planejam discutir iniciativas e reformas propostas que foram apresentadas, de acordo com seu site, embora o tema principal da sessão foi a preparação para as eleições do conselho paroquial, em março.

Schoenborn, um ex-aluno e colaborador próximo do papa Bento 16, descartou a possibilidade de mudanças radicais exigidas pelos sacerdotes dissidentes liderado por seu ex-vice, Helmut Schueller.

Apontado como um possível futuro papa, o cardeal disse que não levaria sua diocese a romper com o Vaticano, deixando o clero desrespeitar regras da Igreja Católica depois que um grupo de sacerdotes divulgou um "Chamado à Desobediência" para tentar pressionar pela reforma.

O grupo, que afirma representar cerca de 10 por cento do clero austríaco, tem desafiado o ensinamento da Igreja sobre temas tabu, como o celibato sacerdotal e ordenação de mulheres.

Os sacerdotes dissidentes, que têm o apoio público em geral nas pesquisas de opinião, também dizem que vão quebrar as regras da Igreja dando a comunhão a protestantes e católicos divorciados novamente casados.

Reformistas católicos austríacos há décadas desafiam as políticas conservadoras de Bento 16 e de seu predecessor João Paulo 2o.

Grupos de reforma católica na Alemanha, Irlanda e Estados Unidos têm feito exigências semelhantes.
in terra.com.br

A questão de Deus é a "questão de todas as questões" - Bento XVI

Nunca nos deveríamos cansar-nos de voltar a propor a "questão de Deus", de "recomeçar a partir de Deus", para devolver ao homem a totalidade das suas dimensões, a sua plena dignidade. De facto, a mentalidade que se foi difundindo no nosso tempo, que renuncia a toda a referência ao transcendente, demonstrou-se incapaz de compreender e preservar o homano.

A difusão desta mentalidade gerou a crise que hoje vivemos, que é crise de sentido e de valores, antes de ser uma crise económica e social. O homem que procura existir apenas positivisticamente, dentro do que é calculável do que é mensurável, no fim fica sufocado. Neste contexto, a questão de Deus é, em certo sentido, «a questão de todas as questões».

Refere-se à pergunta de fundo do homem, aos desejos de verdade, de felicidade e de liberdade que há no seu coração, e que procuram tornar-se realidade. O homem que desperta dentro de si a pergunta sobre Deus abre-se à esperança, a esperança confiável, pela qual vale a pena enfrentar o cansaço do caminho no presente.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O ser humano é redimido pela cruz - Joseph Ratzinger

O ser humano é redimido pela cruz; o crucificado é, em sua abertura total, a verdadeira salvação do ser humano. Em outro contexto já tentamos explicar para mentalidade atual essa afirmação central da fé cristã. Analisando-a agora não pelo lado do conteúdo e sim a partir da estrutura, percebemos que ela exprime uma preferência pelo receber em detrimento do fazer e do realizar próprios quando está em jogo a razão última do ser humano.

Talvez se localize aí a diferença mais profunda entre o princípio cristão da esperança e o seu homônimo marxista. É verdade que o princípio marxista também baseia uma idéia de passividade, pois afirma que o proletariado sofredor será a salvação do mundo. Mas esse padecimento do proletariado que deverá desencadear a reviravolta de uma sociedade sem classes precisa realizar-se concretamente pela forma ativa da luta de classes. Essa é a única maneira de o padecimento se tornar "salvífico", destituindo do poder a classe dominante e introduzindo a igualdade de todos os homens.

Se a cruz de Cristo é um sofrer "em prol de", a paixão do proletariado é, na visão marxista, uma luta contra; se a cruz é essencialmente a obra do indivíduo em prol do todo, a outra paixão é essencialmente a tarefa que uma massa organizada em forma de partido realiza em proveito próprio. Vê-se, portanto, que os dois caminhos correm em direções opostas, apesar de estar próximos em seu ponto de partida.

Na perspectiva cristã é esta a situação de fato: o ser humano não chega verdadeiramente a si próprio por meio do que ele faz e sim por meio do que ele recebe. Ele precisa aguardar o dom do amor, pois o amor só pode ser recebido como dom. Não se pode "produzi-lo" sem a participação do outro; é necessário esperar até que o outro nos dê amor. E só existe uma única maneira de se tornar totalmente ser humano: ser amado, permitir que sejamos amados.

O facto do amor ser a maior possibilidade e a mais profunda necessidade do ser humano, e o fato de essa condição mais necessária ser ao mesmo tempo a mais livre e incoercível, significa que o ser humano necessita de um recebimento para ser "salvo". Quando ele se recusa a receber esse dom, ele destrói a si próprio. Uma atividade que se coloca a si mesma como absoluta e que pretende realizar a condição humana exclusivamente por suas próprias forças está em contradição com a sua natureza. Louis Evely conseguiu expressar essa verdade de uma forma esplêndida:

"Toda a história da humanidade foi desvirtuada e sofreu uma ruptura por causa da idéia falsa que Adão tinha de Deus. Ele queria ser igual a Deus. Espero que vocês nunca tenha identificado o pecado de Adão nessa pretensão... Não fora o próprio Deus que o convidara a pensar assim? Adão apenas se enganou no modelo. Ele pensou que Deus fosse um ser independente, autônomo, auto-suficiente; e foi para ser como ele que ele se revoltou e desobedeceu. Mas quando Deus se revelou, quando Deus quis mostrar quem ele era, ele se manifestou como amor, carinho, como derramamento de si próprio, como agrado infinito num outro. Afeto, dependência. Deus se mostra obediente, obediente até a morte. Pensando em tornar-se Deus, Adão se desvirtuou completamente dele. Ele se isolou na solidão, enquanto Deus era comunhão." in Introdução ao Cristianismo

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Frase do dia

"A caridade que não tem por base a verdade é diabólica." 

S. Pio de Pietrelcina

Permaneçamos vigilantes - Rui Corrêa d’ Oliveira

Jesus chamava os Seus discípulos a vigiar e a estar atentos,
pois conhecia bem a fraqueza humana
tão atreita à distracção.

Só vigia quem espera
e quanto mais certa é a espera mais atenta é a vigília.
Quando a minha espera é feita apenas de desejos,
depressa me assaltam o cansaço e o desalento.

Mas quando ela se centra na certeza
não há cansaço que a vença, nem desespero que a esmoreça.

A minha certeza é Cristo. E Cristo não é uma ideia minha.
Esta certeza recebia-a dos meus pais como testemunho certo,
passado de geração em geração desde aqueles primeiros
que viram, ouviram e tocaram esse Homem
a quem reconheceram como o Filho de Deus.

Mas se Cristo já veio, porque espero eu?
Espero exactamente por aquilo que ainda não tenho:
a pureza de alma, o olhar limpo e a liberdade de coração
que só o Perdão e a Graça me podem conseguir.

E para quê?
Para que cada instante meu seja já hoje tempo de Deus
até àquele último que será o primeiro
do tempo sem tempo da plenitude do Seu abraço.