quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Peregrinação Militar a Lourdes (1958)



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Considerações sobre o Tempo

Não tenho tempo para nada, é lamento que inúmeras vezes me sai. No entanto não se pode dizer que não faça nada. Mas o que faço, faço-o sem tempo. E como, creio eu, o tempo acaba por ser a medida de todas as coisas, as coisas sem tempo não se podem medir. É como se não existissem.

É paradoxal que tenha sido no tempo finito que a Eternidade infinita Se revelou. Isso diz muito do tempo. O próprio tempo é resgatado da sua finitude, e como que enxertado naquele que não tem ocaso. Como o homem. Um homem sem tempo é um homem sem eternidade.

No Salmo 90 cantamos: "Senhor, Tu tens sido o nosso refúgio de geração em geração(…)Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos a sabedoria de coração".

O tempo da nossa vida precisa de voltar a tornar-se sagrado, de voltar ao ritmo das horas litúrgicas, de voltar a parar ao toque das Avé-Marias, de voltar a ser marcado pela passagem das estações e das festas populares e dos santos.

O nosso tempo tornou-se informe, a nossa vida por isso disforme.

Os avanços tecnológicos, longe de nos pouparem tempo para o ócio que é raiz da nossa civilização, transformaram-nos em máquinas insensíveis e insensatas que correm sem origem e sem destino, com uma única finalidade: a de não parar.

Há uma tendência no homem para a mudança; mas noutro tempo desejavam essa mudança para se aproximarem d’Aquele que não muda, ao passo que hoje querem mudar para se adaptar ao que muda continuamente.

Vamos assim perdendo os laços que o tempo foi construindo e que nos atavam ao nosso lugar e à nossa gente. Ao nosso Deus.

Sem tempo não há raiz que se afunde e que se estenda, perdendo-se o alimento austero mas amoroso que sempre dela corria. Vivemos numa época, como dizia Saint-Exupery, em que o homem morre de sede. E escreveu também: “É belo o movimento que nos leva a alcançar as nossas metas, mas também o é a imobilidade, a estabilidade do património, esse lento costume chamado religião que pouco a pouco dá cor a todas as coisas. É preciso repouso para que a alma se nutra, e o sermão da montanha seja escutado através dos séculos. A mobilidade não é outra coisa que ausência.”

As antigas formas da sociedade, ao impregnar de sagrado quase todas as manifestações da vida temporal, tornavam o tempo permeável ao eterno e a Deus presente na história (Gustave Thibon).Um homem com tempo contempla. E a contemplação leva-nos inevitavelmente a Deus, onde está a nossa origem, onde está o nosso fim.

John Senior– um Pai espiritual que aconselho vivamente nesta época em que tão órfão nos sentimos - deixou dito: “há qualquer coisa de destrutivo – destrutivo do próprio humano – no separar-nos da terra de onde provimos e das estrelas, dos anjos e do próprio Deus para onde vamos”.

Naquele tempo onde havia tempo, era possível que florescesse o amor pela pátria e pela família. Um amor que demorou e que durou séculos. Um amor com tempo que permitia ir fazendo uma casa para várias gerações, que fecundava uma terra onde as nossas raízes se podiam nutrir e espraiar.

Precisamos, meus amigos, de recriar pacientemente e de novo este tempo. Parece-me ser a principal missão de quem, com todo o tempo, tem a dita de participar nestes demorados e tão bem preparados almoços mensais.

Ante os conservadores que criam obstáculos ao futuro e aos progressistas que renegam o passado, devemos ser antes de mais homens do eterno – como mo revelou Gustave Thibon, um outro mestre que descobri neste ano que passou -, os homens que renovam, a partir duma fidelidade atenta e incessante, todos os dias posta à prova e todos os dias renascida, aquilo que há de melhor no passado.

Assim podemos viver no tempo todo, passado, presente e futuro, experimentando a Eternidade onde queremos chegar.

Sancte Michael Archangele, defende nos in proelio

Pedro de Castro Pernas


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quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Missa de Natal à porta da igreja

Os fiéis de Saint-Germain-en-Laye (diocese de Versalhes, França) tiveram a Missa de meia-noite, no Natal, à porta da igreja. Nem o frio nem a chuva os demoveu de ouvir a Santa Missa no meio da rua. O Bispos não lhes permite o acesso à igreja, que permanece fechada, por quererem a Missa Tradicional.





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terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Como irão contar o Natal aos vossos filhos e netos

Estava Jerusalém inundada de luminárias que faziam da noite, dia, quando sobre ela se abateu uma escuridão sombria, trevas tremendas e pavorosas, das quais se arrancavam guinchos lúgubres, gritos lancinantes, sonoras iras raivosas entoando: glória a lúcifer nas profunduras e prazer irrestrito aos homens de vontade autónoma; anunciamos-vos uma grande dor, nasceu-vos hoje um desprotegedor, que o será para todo o povo; isto vos servirá de sinal, encontrareis um menino, adorado por um homem e pela mulher.
 
Imediatamente, os sacerdotes do género e os príncipes dos ambientalistas acorreram aos campos até encontrarem num estábulo tudo como lhes tinha sido dito. Os géneristas escandalizados com aquela discriminação claramente homofóbica, logo substituíram o homem por uma mulher, mas ao saberem que a primeira era Virgem, prontamente a vituperaram e expulsaram por constituir um péssimo e devastador exemplo para toda a gente ao renegar tão obstinadamente os ensinamentos dos doutores do género –havia a máxima urgência em retirar a criança àqueles pais, uma vez que era óbvia a sua incapacidade de lhe assegurarem uma formação sexual adequada, livre de preconceitos e discriminações. 
 
Os príncipes dos ambientalistas, por seu turno, ao repararem na vaca, cuja emissão de gazes intestinais constituía um factor alarmante para o aquecimento global e consequente iminente fim do nosso planeta, logo dela se apoderaram para a matar ali mesmo, oferecendo-a como um sacrifício propício à mãe terra, intentando aplacar assim a sua ira – é certo que houve uma grande disputa até tomarem a resolução, pois alguns advogavam que se não se podia matar cães (dentro ou fora de canis), muito menos uma vaca, uma vez que era muito maior pois, de facto, argumentavam, se todos podemos fulminar melgas por serem pequenas, então não se pode aniquilar um bovino por ser muito maior; os sectários da matança do boi (pois, uma vez que a identidade de género não passa de uma construção social, tanto monta uma nomeação feminil como masculina) convenceram, no entanto, os seus adversários, provando que o impacto ambiental do cão era insignificante em comparação com a vaca. 
 
Quanto ao burro, que tinha suportado tão grandes humilhações, sendo compelido violentamente, como se fora uma mísera besta, a percorrer tão longo caminho suportando a intolerável carga daqueles humanos – os terríveis predadores da natureza –, a mãe grávida e seu filho, era absolutamente imperativo reconhecer a sua eminente dignidade divina, para reparar uma injúria tão blasfema e sacrílega. Por isso, encaminhando-o para fora daquele reles presépio, de pronto lhe construíram um altar, adorando-o e ofertando-lhe oblações e sacrifícios dignos de tão magnificente divindade, a qual correspondia aos louvores e adorações com jubilosos zurros. 

Exaustos da cerimónia orgiástica, o frenesim foi diminuindo até que se dirigiram de novo ao presépio onde depararam com gentes esfarrapadas entoando, diante da criança envolta em paninhos, uma estranha antífona: Baixíssimo, impotente, grosseiro escravo,  a ti todo o aviltamento, o desprezo, a desonra e toda a maldição. A ti só, baixíssimo, se hão de prestar e todo o ser humano é digníssimo de te nomear.
 
De súbito, um estardalhaço de trovão ribombante atroou os campos articulando palavras retumbantes: Sou o vosso Deus, o vosso Pai, que vos tem conduzido através da história operando prodígios de amor e Este é o Meu Filho humanado que vos enviei para vos resgatar.
 
Imediatamente, à uma, os sacerdotes do género e os príncipes dos ambientalistas desataram numa gritaria estridente enquanto tapavam os ouvidos, não fossem escutar blasfémias maiores.
 
Espumando raivas incontidas e ódios viscerais desenfaixaram a criança e enquanto o faziam os príncipes dos ambientalistas logo pontificaram que a ser verdade ou ao menos que houvesse uma suspeita razoável da criança ser deus incarnado seria então necessário condená-lo, sem demora, à morte, uma vez que esse deus era malvado, um perigo extremo para o desenvolvimento sustentável.  Não tinha ele arrasado as fertilíssimas terras de Sodoma e de Gomorra, tornando-as totalmente estéreis e matando toda a fauna marítima no mar, que por isso mesmo se chama morto? A esta indignação se ajuntou a ira descontrolada dos sacerdotes do género, acusando esse deus de homofobia, de discriminação, de coração duro, mente fechada, alheio a qualquer tipo de misericórdia. 
 
Entretanto, desenfaixada a criança, verificaram se tratava de um varão, de um menino. Este horror veio irritar e transtornar ainda mais os sacerdotes do género, que, imediatamente, em cóleras desenfreadas acusaram a divindade de ser uma fraude, um resquício de uma projecção patriarcal, pois era evidente que o verdadeiro deus, caso se fizesse homem traria no seu corpo simultaneamente todas as características da sua identidade, a saber, lgbtqi. Aliás, a única divindade era a terra e os que naquela diversidade a habitavam.
 
Sem mais hesitações, num arrebatamento de indignação, desfizeram a manjedoura, e aproveitando os pregos e as tábuas da mesma, com ela formaram uma pequena cruz. Unanimemente o consideraram culpado, um engano do maligno, e todos concordaram que deveria ser crucificado. Como os pregos se mostraram demasiado grossos para prender os pulsos e os pés do Menino, arranjaram uns alfinetes especiais que serviam o propósito. Alguns dos que o escarneciam, impacientes com a demora da sua morte, recorreram a um canivete suíço para lhe trespassar o coração, do qual brotou sangue e água.
 
Verificada a sua morte, todos se regozijaram e a celebraram com um grande banquete, pois tinham conseguido salvar o planeta e o prazer promíscuo sem freio.

Padre Nuno Serras Pereira


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segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

O Deus Na Caverna, uma descrição magnífica do Natal – G.K. Chesterton

Este esboço da história humana começou numa caverna: a ciência popular associou o conceito de caverna ao de cavernícola. Nas cavernas descobriram-se desenhos arcaicos de animais. A segunda metade da História humana, que equivale a uma nova criação do mundo, começa, também, numa caverna.

E para que a semelhança seja maior, também existem animais nesta caverna. Porque se trata de uma cova usada como estábulo pelos montanheses que habitavam as terras altas dos arredores de Belém e que, ainda hoje, recolhem, ao cair da noite, os seus gados a esses lugares. A ela chegou, uma noite, um casal sem lar, que teve de compartilhar, com as bestas, daquele refugio subterrâneo, depois de todas as portas das casas da povoação se lhes terem fechado, surdas às suas súplicas.

Foi aí, debaixo da terra pisada pelos indiferentes, que nasceu Jesus Cristo. Mas, nesta segunda Criação havia, sem dúvida, alguma coisa de simbólico como nas rochas primitivas. Deus foi, também, um cavernícola; também Ele desenhou figuras estranhas de criaturas, de caprichoso colorido sobre os muros do mundo, porém, a estas figuras lhe deu Ele vida desde logo.

A lenda e a literatura, inesgotáveis, repetem, à saciedade, as variantes deste paradoxo: que as mãos que fizeram as estrelas e o sol foram tão pequenas que não alcançaram, sequer, à cabeça das bestas que cercavam o seu berço. Sobre este paradoxo, sobre esta pilhéria, diríamos melhor, se funda toda a literatura da nossa Fé. O gracejo escapa à toda a crítica científica, tem todas as virtudes da verdade, salvo a de não ser verdade.

O contraste entre a criação cósmica e o nascimento infantil e minúsculo foi repetido, reiterado, sublinhado, cantado e salmodeado em centenas de milhares de hinos, de ritos, de cânticos, de poemas, de descrições e de pinturas. Por ele, necessita-se de um espírito crítico muito superior para emancipar-se da sugestão constante da associação de ideias. 

Os críticos modernos dão uma grande importância à educação na vida e à psicologia na educação. Estão fartos de dizer-nos que as primeiras impressões são as que fixam o caráter, assinalando, como exemplos angustiosos o do rapaz que perturba seu sentido visual com as cores falsas de um prisma, ou cujos nervos são prematuramente sacudidos por um exterior cacofônico. Nós fundamos, precisamente nisto, a nossa afirmação de que há uma diferença entre o nascer cristão e o nascer judeu, muçulmano ou ateu.

As crianças católicas, em vez disso, aprenderam tudo nos cadernos e nas estampas. As protestantes nas narrativas, e uma das primeiras impressões recebidas pela sua imaginação foi esta combinação terrível de ideias em contraste. Não se trata simplesmente de uma diferença teológica, mas sim de uma diferença psicológica. 

Os agnósticos e os ateus, que na sua juventude conheceram o Nascimento, que assistiram a esta festa cristã, não poderão nunca impedir, por maiores esforços que façam, que na sua mente se opere esta associação de ideias: a ideia de um menino e a ideia de uma força desconhecida capaz de sustentar as estrelas. O seu instinto fará, imediatamente, esta associação de ideias, por mais que a sua razão procure convencer-se de que não há necessidade de realizar-la. 

Mais ainda: a simples visão de um quadro que representa uma mãe com um filho terá para ele como que um sabor de religião, e, da mesma maneira, experimentará uma sensação de piedade e de ternura com a tão só menção do nome de Deus. Ainda que ambas estas ideias não necessitem estar combinadas. Naturalmente que não seriam associadas para a imaginação de um grego ou de um chinês antigos, fossem eles Aristóteles ou Confúcio.

Não obstante se hão arraigado em nossa mente, porque somos cristãos, e em consequência da Natividade. Quer isso dizer que psicologicamente somos cristãos, ainda que teologicamente não queiramos sê-lo. Há uma grande diferença entre o homem que sabe e o que não sabe. É indispensável que esta diferença exista entre o muçulmano, o judeu e nós mesmos, para que no nosso horóscopo particular se verifique essa cruz de duas luzes particulares, essa conjunção de duas estrelas. Omnipotência e impotência, ou divindade e infância, formam, definitivamente, uma espécie de epigrama que não se pode apagar nem desfigurar por milhões e milhões de vezes que se repita. Belém é, enfaticamente, o lugar onde os extremos se tocam.

Aqui começa — não é necessário dizê-lo — uma nova influência para a humanização do Cristianismo.
Se o mundo necessitasse tomar um aspecto do Cristianismo que não desse lugar a controvérsias, seguramente escolheria o Natal. E não é necessário falar do que se poderia estimar um aspecto controvertível (não quero em um só instante de meu raciocínio imaginar porque): o respeito unânime à Santíssima Virgem. Quando eu era pequeno, uma geração mais puritana opôs-se à colocação de uma estátua, numa igreja paroquial, representando a Virgem e o Menino Jesus. Depois de muitas discussões, transigiu-se em que se suprimisse o Menino. Acreditava-se que a Mãe tornava-se menos perigosa despojando-a do que lhe era uma espécie de defesa.

Tudo inútil. Não se pode arrancar dos braços da estátua de uma Mãe a figura do seu recém-nascido. Não se pode separar dela. Da mesma maneira, não se pode suspender no ar a ideia de um recém-nascido, isola-la, esmiúça-la. A ideia da Mãe vai, forçosamente, unida, associada. Não se pode chegar ao filho senão através da Mãe. Se pensamos em Cristo, neste aspecto, a ideia segue, como segue a história. Não se pode separar a ideia de Cristo da ideia da Natividade, e, como nos quadros antigos, compreender que estas duas sagradas cabeças estão demasiado juntas, demasiado unidas, para que seja possível estabelecer uma separação entre os halos luminosos que as circundam.

O Universo reencontra-se. No meu entender, todos os olhares de poderio e de esforço esparramados por fora, pelas coisas grandes, voltam-se, agora, para dentro, para as coisas menores. As imagens multiplicam ante esta maravilha de múltiplos olhares convergentes que dão às imagens católicas tantas cores como as que tem a cauda do pavão real. Deus, que fora, sempre, uma circunferência, é considerado como um centro, e um centro é infinitamente pequeno. A espiral espiritual vem de fora para dentro não de dentro para fora. É, neste sentido, centrípeta, não centrífuga. A fé se converte, em muitíssimos aspectos, numa religião de coisas pequenas. Mas, as suas tradições, consagradas na arte, na literatura e nas lendas populares, justificam, suficientemente, esse maravilhoso paradoxo que significa a Divindade no berço. Talvez não se tenha concebido, ainda, com tanta clareza, a significação da Divindade na Caverna.

Tem se procurado reproduzir a cena de Belém com a maior pontualidade de tempo e de espaço, de paisagem e de arquitetura. Mas, enquanto todos coincidem em que se trata de um estábulo, poucos sabem que se trata, também, de uma caverna. Alguns críticos têm querido encontrar uma contradição entre estas duas coisas, de forma que demonstram saber muito pouco dos costumes da Palestina. E, como tenham visto diferenças em onde não as há, bom será assinalar essas diferenças onde elas existem. 

Porque um crítico bem conhecido disse, por exemplo, que Cristo, nascido numa caverna rochosa, é como Mitra, saindo de uma rocha. Fez, assim, uma paródia de religião comparativa, comparando uma mentira com uma história. Isto, à parte da ideia de Palas saindo amadurecido do cérebro de Zeus, é o que mais se pode opor à ideia de um Deus nascido como um menino qualquer e em situação de dependência absoluta da sua mãe. É estúpido procurar equipará-las apenas pela repetição do conceito pedra. Tão estúpido como comparar o castigo do Dilúvio com o baptismo no Jordão, porque em ambos os acontecimentos intervém a substância água.

O evidente é, como dizia antes, que a caverna não foi interpretada tão comum e claramente como um símbolo, como as demais realidades que cercam a primeira Natividade. A explicação pode ser encontrada na dificuldade que apresenta o achado de uma nova dimensão. Cristo nasceu não só na superfície do mundo, mas, dentro do mundo. O primeiro acto do drama divino desenvolveu-se não no cenário superficial, à vista dos que o olhavam, senão num cenário escondido e escuro, distante da luz; e é esta uma ideia muito difícil de expressar-se de uma maneira artística. Os artistas de todos os tempos, quanto mais sabiam de realismo e de perspectiva, menos podiam pintar, ao mesmo tempo, os Anjos no Céu e os rebanhos nas colinas, e a glória da obscuridade, debaixo e dentro dessas colinas.

Seria inútil procurar dizer nada de original, nada de novo, acerca da concepção de uma divindade nascida como um Jesus Cristo, como um caído sem lar e sem lei, e, precisamente, com os atributos da máxima lei e do máximo dever para os pobres e para os sem lei. Naquele momento é quando adquire profunda e verdadeira significação a verdade de que já não há mais escravos. Haverá, não obstante, gente que carregue com este título legal, enquanto a Igreja não tiver poder suficiente para extirpá-lo; mas, já não existirá o estado de servilismo dos pagãos. O indivíduo adquire uma importância nova. Um homem não pode já ser um simples meio para um fim. De nenhuma maneira, o meio para o fim de outro semelhante. 

Este facto popular e fraternal tem sua analogia com a história dos Pastores que se encontraram, tête-a-tête, um dia, falando com o Rei dos Céus. Os homens do povo, os homens humildes, como os pastores, foram, em todas as partes, os criadores dos mitos. Foram eles os criadores das ideias venturosas, da mitologia, que foi bem como um afã de investigação. Souberam decifrar que a alma de uma paisagem é uma história e a alma de uma história é uma personalidade.

O racionalismo destroçara já estes tesouros de imaginação, realmente irracionais, do homem rústico, ao qual se arrancava do lar com um procedimento sistemático de escravidão. Sobre todas estas ingenuidades caiu um crepúsculo de desilusão. As Arcádias desaparecem ao tirarem-nas do bosque. Pan morreu, e os pastores esparramaram-se com as suas ovelhas. E, no entanto, a hora estava próxima em que tudo ia mudar. Ainda que ninguém o ouvisse, estava próxima a hora em que das montanhas partiria um grito de libertação, numa língua desconhecida. 

Os pastores encontravam, afinal, o seu pastor. O que encontravam, então, estava de acordo com as coisas que viam todos os dias. O populacho equivocou-se em muitas coisas, mas não se equivocou crendo que as coisas sagradas teriam uma habitação, e que a Divindade não necessita desdenhar dos limites do tempo e do espaço. Os bárbaros que conceberam a fantástica ideia do sol captado e encerrado numa caixa, ou o mito selvagem daquele deus que era resgatado com a pedra com que abatia a seu inimigo, estavam mais aproximados do sublime segredo da caverna e sabiam mais das vicissitudes do mundo que todos os habitantes das cidades que circundavam o Mediterrâneo e que se contentaram com frias abstrações ou com generalizações cosmopolitas; mais que todos os que fiavam delgadíssimo o pensamento na troca do transcendentalismo de Plauto ou do orientalismo de Pitágoras.

Todos sabemos que na representação da história popular dos pastores, em autos e comédias, atribui-se a eles o vestido, o idioma e a paisagem, separadamente das comarcas de Europa e da Inglaterra. Sabemos, também, que, desses pastores, uns falam o dialeto de Somerset, e outros nos dizem que levam o seu gado de Conway para Clyde. Muitos sabemos, não obstante, quanta verdade encerra este erro, quão sábio, quão artístico, quão intensamente cristão e católico é este anacronismo. Por isso é lamentável que alguns críticos modernos vejam só um classicismo forçado no facto de que homens como Crashaw e Herrick concebessem os pastores de Belém sob a forma dos pastores virgilianos. E, não obstante, eles estão certos, e, convertendo sua comédia de Belém em uma égloga latina, não fizeram mais do que unir os dos mais importantes degraus da história humana. Virgílio, como já vimos, representa o paganismo sensato, enfrentando o paganismo insensato que sacrifica o homem; mas, as virtudes virgilianas e o seu paganismo sensato estavam em incurável decadência, delineando um problema cuja solução não chegou a revelar-se aos Pastores.

Se o mundo houvesse feito uma escolha, ao cansar-se de ser demoníaco, se teria curado, simplesmente, com o ser sensato. Mas, também, se tivesse se cansado de ser sensato, o que teria acontecido? O sucesso esperado é o que alegra aos pastores da égloga arcadiana. Uma das églogas é considerada uma profecia do que ia acontecer. Mas onde encontramos maior identificação com o grande acontecimento é no tom e na dicção acidental do grande poeta, e, mais ainda, nas próprias frases humanas dos pastores virgilianos: incipe, parve puer, risu cognoscere matrem… Nele encontram o melhor que existe nas remotas tradições dos latinos. Alguma coisa mais que um ídolo de madeira presidindo para sempre a família humana: um Deus e um Lar. A mitologia tem muitos erros, porém não andou muito mal em ser tão carnal como a Encarnação. Com voz parecida à que se supõe ressoou nas grutas, pode gritar outra vez: “Vimos, Ele nos viu, um Deus visível!”, a cuja voz os pastores dançam alegremente nos cimos sobre a frieza dos filósofos. Mas os filósofos também ouviram o grito.

Entretanto, fica, ainda, outra história estranha e bela. Os filósofos chegaram às terras do Oriente, coroados com a majestade de reis e vestidos com o mistério dos magos. Seu mistério é tão melodioso como seus nomes: Melchor, Gaspar, Baltasar. Acompanha-os toda a sabedoria que tem olhado as estrelas da Caldeia e o sol da Pérsia. Nele vemos a mesma curiosidade que impulsiona a todos os sábios. Anima-os o mesmo ideal humano, como se fossem seus nomes Confúcio, Pitágoras ou Platão.

Eram dos que indagavam, não a lenda, mas a verdade das coisas. A sua sede de verdade, era sede de Deus, e tiveram a sua recompensa. O prémio foi ver completo o que estava incompleto. Nas suas próprias traduções e nos seus próprios raciocínios encontravam confirmado que aquilo era a Verdade. Confúcio teria encontrado uma nova fundação da família na Sagrada Família. Buda veria novas renúncias: de estrelas mais que de jóias, de divindade melhor do que realezas. Buda desceria do seu paraíso impessoal para adorar a uma pessoa. Confúcio deixaria os seus templos de adoração ao passado para vir adorar a uma criança, a um Menino.

O novo cosmos era mais amplo que o velho, porque o Cristianismo é maior que a Criação, tal e como era antes de Cristo, porque nele se incluem as coisas que eram e as que não eram. Vale a pena insistir neste ponto, estabelecendo uma comparação com a crença piedosa dos chineses, que é semelhante à virtude de outras crenças pagãs. Ninguém ignora que forma parte das nossas doutrinas um razoável respeito aos pais, do qual Deus mesmo participou, durante a sua meninice, com respeito aos seus pais da terra. Mas, no respeitante ao amor dos pais, para Ele, a ideia é completamente distinta à da crença confuciana. O menino Cristo nunca é semelhante ao menino Confúcio; o nosso misticismo concebe-o numa eterna infância. A Confúcio não se lhe aparecera nunca o Menino como chegou aos braços de S. Francisco.

A Igreja contém o que o mundo não contém. A própria vida não atende tão bem como a Igreja a todas as necessidades de viver. A Igreja pode orgulhar-se da sua superioridade sobre todas as religiões e sobre todas as filosofias.

Onde têm os estóicos e os adoradores do passado um Menino Jesus? Onde está a Nossa Senhora dos muçulmanos, a mulher que não foi feita para nenhum homem e que está sentada por cima de todos os anjos? Qual é o S. Miguel dos monges de Buda, cavaleiro e clarim que guarda para cada soldado a honra da espada? Quem poderia representar S. Tomás de Aquino na mitologia do bramanismo, ele que restabeleceu a ciência e o raciocínio da Cristandade?

E o mesmo nas filosofias ou heresias modernas. Como passaria Francisco, o Trovador, entre os calvinistas e, ainda, entre os utilitaristas da escola de Manchester? Como passaria Joana d’Arc, uma mulher, esgrimindo a espada que conduzia os homens à guerra, entre os Quakers ou a seita toltoiana dos pacifistas? E, entretanto, homens como Bossuet e Pascal são tão lógicos e tão analistas como qualquer calvinista ou utilitarista, e inumeráveis santos católicos passaram suas vidas predicando a paz e evitando as guerras. Outro tanto sucede com as ultra-modernas tentativas de novas religiões. Nenhuma foi capaz de fazer uma coisa que, ainda em sendo maior que o Credo, não deixasse algo de fora.

Os teosofistas edificam um panteon, mas um panteon só para panteístas. Chamam, ostensivamente, Parlamento de Religiões ao que não é mais do que um parlamento de pedantes. Elevou-se um panteon fazem dois mil anos nas margens do Mediterrâneo e convidou-se os cristãos a colocarem a imagem de Cristo ao lado das de Júpiter, de Mitra, de Osíris, de Átis e de Amon. A negação dos cristãos foi o que mudou o curso da História. Se os cristãos tivessem aceitado, eles e o mundo inteiro, teriam caído — se nos permite a grotesca metáfora — no grande caldeirão onde se liquidavam já, em cosmopolita corrupção, todos os outros mitos e mistérios.

Há a registrar o importante facto de que os Magos, que representam no Nascimento o mistério e a filosofia, foram levados pelo desejo de indagar alguma coisa nova, e encontraram, realmente, alguma coisa inesperada. Porque, nesta ideia de investigação e de descobrimento que inspira a Natividade, chega-se, com efeito, à descoberta de uma verdade científica.

Nas outras figuras místicas da milagrosa comédia — no Anjo e na Mãe, nos pastores e nos soldados de Herodes — poderão ver-se os aspectos, às vezes, mais simples e mais sobrenaturais, porém, elementares ou mais emocionantes. Mas, aos Reis do Oriente há que considerá-los no seu desejo de sabedoria; a luz que vão receber dirige-se, directamente, ao intelecto. E a luz é esta: que o credo católico é o único católico e nada mais que católico. A filosofia da Igreja é universal. A filosofia dos filósofos não o é. 

Se Platão ou Pitágoras ou Aristóteles houvessem podido receber por um instante a luz saída da pequena cova, se convenceriam, eles mesmos, de que sua própria luz não era universal. O descobrimento desta grande verdade é o que dá a sua tradicional majestade e mistério às figuras dos três Reis; o descobrimento de que a religião abarca mais do que a filosofia, e que esta Religião é a que mais abarca de todas as religiões. O grande paradoxo do grupo que contemplamos na caverna é que, enquanto a nossa emoção tem uma simplicidade infantil, nossos pensamentos enlaçam-se com uma complexidade infinita. Contentemo-nos em dizer que a mitologia apareceu com os pastores, e a filosofia, com os Magos, e que ambas se fundaram no reconhecimento da religião.

Houve um terceiro elemento que não deve ser ignorado. Esteve presente, com efeito, desde as primeiras cenas do drama aquele Inimigo que sujou as legendas com o pecado e congelou as teorias do ateísmo. Este Inimigo não tardou em ter uma intervenção imediata. Herodes, alarmado com os rumores de que surgira um misterioso rival, revive o gesto selvagem dos caprichosos déspotas da Ásia, e ordena o assassinato da nova geração popular. Toda a gente conhece a história, mas nem todos perceberam o seu significado, nem, ainda, o flagrante contraste em que está com as colunas corintias e com as calçadas romanas daquele mundo superficialmente civilizado. Quando o tenebroso plano começou a fazer brilhar os olhos de Herodes, pode-se ele aperceber de que uma sombra pardacenta se lhe projectava por detrás, olhando por cima dos seus ombros. A mirada era a do Moloch dos cartagineses. Era a do demónio que, neste primeiro festival da Natividade queria celebrar, também, a sua própria festa.

Se não compreendemos bem a presença do Inimigo, estamos expostos a falsear a significação da Natividade. A Natividade para nós, no Cristianismo, chegou a ser uma coisa doce, aprazível, singela, quando, na realidade é uma coisa muito complexa. Não é uma nota única, senão o som resultante e simultâneo de muitas notas juntas: a humildade, a alegria, a gratidão, o medo místico; mas, ao mesmo tempo, o alarma e o drama. Não é só uma comemoração para os pacifistas e para os romeiros; não é só uma conferência da paz entre judeus, nem só uma festa de inverno escandinavo. 

Há nela, também, algo de luta e de desafio. Alguma coisa que faz com que quando os sinos tangem, à meia-noite, o seu tangido seja horrível como o troar do canhão numa batalha, numa batalha que se acaba de ganhar. A atmosfera de festa que respiramos nas Natividades, como uma reminiscência da festa daquele sagrado dia, não nos pode fazer esquecer que a festa do Nascimento celebrou-se numa masmorra, numa como fortaleza subterrânea adiantada no campo inimigo, cujas hordas pisavam por cima. Herodes, inquieto, sentia que o ataque vinha de baixo da terra e se desmoronava como se desmoronava um palácio. O significado é bem clara: de baixo viria a força que sacudiria e abateria o orgulho das torres e dos palácios.

Os homens, que, até então, tinham dirigido as suas vistas para o alto, hão de olhar para baixo, agora, se quiserem descobrir o Céu. O Olimpo permanecia suspenso no firmamento como uma nuvem branca e quieta de formas suntuosas. A filosofia estava, ainda, encimada mais alto, nos tronos reais, enquanto Cristo nascia numa cova e a cristandade nas catacumbas. A realeza, a majestade hão de ser recuperadas pelo seu verdadeiro possuidor, por alguma coisa que indubitavelmente é uma revolução.

O grande paradoxo da caverna é esse: por um lado, é um buraco, um recanto desprezível onde os sem-pátria se amontoam como escórias; por outro, é como um palácio encantado, algo mui valioso que os tiranos procuram como um tesouro. Os falsos reis mandam para esse recanto os párias, porque não querem recordá-los; mas, também, porque, com pesar seu, querem tê-los sempre presentes. Este paradoxo é a iniciação da vida da Igreja. Era importante ao mesmo tempo que insignificante e impotente. E era importante porque era intolerável, e justo é dizer que era intolerável porque, por sua vez, era intolerante.

Herodes tem o seu papel na comédia milagrosa de Belém, porque significa a ameaça à Igreja militante e no-la apresenta, desde o princípio, perseguida e obrigada a lutar por sua vida. E isto é o que nos propúnhamos neste lugar. Reunir a combinação de ideias que edificam a ideia cristã e católica, e fazer notar que todas elas cristalizaram na bela história da Natividade. Há duas coisas distintas que formam, entretanto, uma só coisa. A primeira é a intenção humana de que um céu há de ser, assim, alguma coisa tão local e tão retraída como um lar. É a ideia que perseguem todos os poetas e todos os mitos pagãos: que uma paragem qualquer pode ser o altar de um deus ou a habitação dum bem-aventurado. Eu não compreendo por que razão o racionalismo se nega a satisfazer esta necessidade. O paganismo é, neste ponto, menos absurdo, pois o caso de Belém e de Jesus está na história de Delos e Delfi, e não está em todo o universo de Lucrécio, nem em todo o universo de Spencer.

O segundo elemento deste estudo é a realização de uma filosofia mais vasta que as outras filosofias: mais vasta que a de Lucrécio e infinitamente mais vasta que a de Spencer. Por ela observamos o mundo através de mil janelas, enquanto que os antigos estóicos e os modernos agnósticos não dispunham senão de uma. Olha a vida com milhares de olhos, correspondentes às mil e mil classes de gente, ali onde os estóicos e os agnósticos não têm mais que um ponto de vista individual. Esta filosofia tem alguma coisa para cada categoria de homem; interpreta os segredos de cada psicologia; é cauta ante as tentações do Demónio; é capaz de distinguir entre as maravilhas autênticas e falsas e resolve os casos mais árduos e mais diversos, tudo com uma multiplicidade e um subjetivismo e uma compreensão de todas as variedades da vida, que nenhuma das filosofias antigas nem modernas foram capazes de alcançar.

O terceiro ponto é que, ao mesmo tempo que reúne a localização da poesia e a maior amplitude da mais ampla filosofia, é, também uma luta e um repto. Porque se deliberadamente está disposta a abraçar qualquer aspecto da verdade, está inflexivelmente disposta a batalhar contra qualquer aspecto do erro. Requer de todo o homem que lute por ela, e toda a classe de armas para essa luta. Proclamava a paz na terra, porém, não esquece nunca porque houve guerra nos Céus. Essa é a trindade de verdades simbolizadas aqui por três personagens da velha história da Natividade: os pastores, os Reis e aquele outro rei que assassinou os meninos.

Não é verdade que as outras religiões sejam, neste aspecto, suas rivais. Não é verdade, tampouco, que qualquer delas reúna essa combinação de caracteres. O budismo jacta-se de ser místico em igual grau, porém, não aspira ser, em grau igual, militante. O islamismo também se jacta de ser em grau igual militante, porém, não quer aspirar a ser em igual grau metafísico e subtil. O confucionismo jacta-se de satisfazer a sede de ordem e de razão dos filósofos, mas não pode satisfazer a sede dos místicos de milagre e de sacramento e de consagração de coisas concretas. São muitas as seguranças da presença de um espírito ao mesmo tempo universal e único.

Resumindo o que é o símbolo e o tema deste capítulo: que não há nenhum motivo na lenda pagã, nem no anedotário filosófico, nem no acontecimento histórico, capaz de impressionar-nos tão profundamente como a palavra Belém; que nenhum nascimento ou infância de um deus ou de um sábio pôde emocionar-nos como a Natividade. Porque aqueles serão, sempre, ou demasiado frios e frívolos, ou demasiado formais e clássicos ou, ainda, demasiadamente simples e selvagens ou ocultos e complicados. Ninguém, quaisquer que sejam as suas ideias, pode ver esses factos como algo íntimo e próprio.

A verdade é esta: que neste episódio da natureza humana, que é o Nascimento, há um caráter individual e peculiarissímo, psicologicamente substancial que não se pode interpretar como uma mera lenda ou a simples história da vida de um grande homem. Porque não incluía as nossas mentes, sistematicamente, para a grandeza, para essa admiração empolada e exagerada dos reis e dos deuses a que, em todas as idades, encontrou propícia a mente humana, senão que é alguma coisa substancial em nós, que nos surpreende de dentro do nosso próprio ser, como se, explorando a nossa habitação espiritual, déramos, de pronto, com um aposento ignorado, até então, do qual saíra uma clara luminosidade. 

Alguma coisa que, ainda aos mais endurecidos corações, atraiçoa, com uma irresistível atração para o bem. Alguma coisa que não está feita com o que o mundo chamaria “matéria forte”. Alguma coisa que é tudo o que existe em nós de ternura eterna. Alguma coisa que é a palavra quebrada e a razão perdida, que se concretizam e se fazem positivas. Alguma coisa, por fim, pela qual os reis exóticos vieram de um país distante, os pastores deixaram as suas correrias na montanha e a noite e a caverna imperaram sós, recebendo algo que era mais humano do que a própria Humanidade.

G.K. Chesterton in 'The Everlasting Man'


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A obra prima de São João Evangelista

São João evangelista começou o seu evangelho com um texto que encantou todas as gerações. O prólogo é duma beleza e profundidade tais que é lido no final de todas as Missas em Rito Romano Tradicional. Vale a pena ler e rezar.

Latim:

In princípio erat Verbum, et Verbum erat apud Deum, et Deus erat Verbum. Hoc erat in princípio apud Deum. Omnia per ipsum facta sunt: et sine ipso factum est nihil, quod factum est: in ipso vita erat, et vita erat lux hóminum: et lux in ténebris lucet, et ténebræ eam non comprehendérunt. 

Fuit homo missus a Deo, cui nomen erat Joánnes. Hic venit in testimónium, ut testimónium perhibéret de lúmine, ut omnes créderent per illum. Non erat ille lux, sed ut testimónium perhibéret de lúmine. Erat lux vera, quæ illúminat omnem hóminem veniéntem in hunc mundum. In mundo erat, et mundus per ipsum factus est, et mundus eum non cognóvit. 

In própria venit, et sui eum non recepérunt. Quotquot autem recepérunt eum, dedit eis potestátem fílios Dei fíeri, his, qui credunt in nómine ejus: qui non ex sanguínibus, neque ex voluntáte carnis, neque ex voluntáte viri, sed ex Deo nati sunt. (Hic genuflectitur) Et Verbum caro factum est, et habitávit in nobis: et vídimus glóriam ejus, glóriam quasi Unigéniti a Patre, plenum grátiæ et veritátis.

Português:

No princípio existia o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Este estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram por Ele criadas, e nada daquilo que foi criado teria sido criado sem Ele. N’Ele havia vida, e a vida era a luz dos homens. A luz resplandeceu nas trevas, mas as trevas a não receberam. 

Apareceu um homem, mandado por Deus, e o seu nome era João, o qual veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que por ele todos acreditassem. Ele não era a luz, mas aquele que havia de dar testemunho da luz. Existia a luz verdadeira, a luz que ilumina todo o homem que vem a este mundo. Ele estava no mundo, e o mundo, embora houvesse sido criado por Ele, O não conheceu. 

Veio ao que era seu, e os seus O não receberam. Porém, Ele a todos quantos O receberam e aos que acreditaram no seu nome deu o poder de serem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem do desejo da carne, mas somente da vontade de Deus. E o Verbo fez-se carne (genuflecte-se) e habitou entre nós; e contemplamos a sua glória, como era própria do Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade.


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domingo, 26 de dezembro de 2021

A árdua tarefa de iluminar a Basílica de São Pedro para o Natal

Nestas imagens dos anos 30, percebemos a dificuldade, e os perigos, que os "sanpietrini" corriam para acender as 900 tochas e 5000 lanternas no exterior da Basílica de S. Pedro, no Vaticano. Faziam-no por devoção.


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Festa de Santo Estêvão, Protomártir

Santo Estêvão foi o primeiro que seguiu os passos de Cristo com o martírio; morreu, como o divino Mestre, perdoando e rezando pelos seus algozes (Act 7, 60). 

Nos primeiros quatro séculos do cristianismo, todos os santos venerados pela Igreja eram mártires. Trata-se de uma multidão inumerável, a que a liturgia chama «o cândido exército dos mártires». 

A sua morte não incutia receio nem tristeza, mas entusiasmo espiritual, que suscitava sempre novos cristãos. Para os crentes, o dia da morte, e ainda mais o dia do martírio, não é o fim de tudo, mas a «passagem» para a vida imortal, o dia do nascimento definitivo, em latim «dies natalis». 

Compreende-se então o vínculo que existe entre o «dies natalis» de Cristo e o «dies natalis» de Santo Estêvão. Se Jesus não tivesse nascido na terra, os homens não teriam podido nascer no Céu. Precisamente porque Cristo nasceu, nós podemos «renascer»! 

Papa Bento XVI, Angelus (26/XII/2006)


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sábado, 25 de dezembro de 2021

Por que razão o Natal é no dia 25 de Dezembro?

Já no século I a Igreja celebrava a Anunciação do Anjo a Zacarias, pai de S. João Baptista, a 23 de Setembro, e o nascimento deste a 24 de Junho. A descoberta dos manuscritos do Mar Morto e as investigações subsequentes nas grutas circundantes que levaram ao achamento de rolos manuscritos em muito bom estado veio confirmar, com o livro dos jubileus, esta antiga tradição da Igreja. 

De facto, por este manuscrito ficamos a saber que a semana em que entravam de serviço, no Templo, os Sacerdotes da classe de Abias, à qual pertencia Zacarias, tinha o seu início a 23 de Setembro e terminava a 30 do mesmo mês. Acrescentando 9 meses temos o 24 de Junho. Ora, pelos Evangelhos, nós sabemos, que logo após a Anunciação do Anjo à sempre Virgem Maria, portanto da Encarnação do Verbo no seu seio, ela se dirigiu “à pressa” para auxiliar sua prima Santa Isabel, grávida de seis meses (“ … já está no sexto mês aquela que é tida por estéril” – Lc 1, 37), que vivia a três dias de jornada. 

Seis meses depois da última semana de Setembro é a última semana de Março. A Igreja celebra a Encarnação de Jesus, Deus filho, acontecida aquando da Anunciação do Anjo, por virtude do Espírito Santo, a 25 de Março. Ora 25 de Dezembro é 9 meses depois de 25 de Março. 

Pe. Nuno Serras Pereira


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O Natal descrito pelos Padres da Igreja

«Reconheçamos o verdadeiro dia e tornemo-nos dia! Éramos, na verdade, noite quando vivíamos sem a fé em Cristo. E uma vez que a falta de fé envolvia, como uma noite, o mundo inteiro, aumentando a fé a noite veio a diminuir. Por isso, com o dia de natal de Jesus nosso Senhor a noite começa a diminuir e o dia cresce. Por isso, irmãos, festejemos solenemente este dia; mas não como os pagãos que o festejam por causa do astro solar; mas festejemo-lo por causa daquele que criou este sol. Aquele que é o Verbo feito carne, para poder viver, em nosso benefício, sob este sol: sob este sol com o corpo, porque o seu poder continua a dominar o universo inteiro do qual criou também o sol. Por outro lado, Cristo com o seu corpo está acima deste sol que é adorado, pelos cegos de inteligência, no lugar de Deus que não conseguem ver o verdadeiro sol de justiça». 
Santo Agostinho

«Ele está deitado numa manjedoura, mas contém o universo inteiro; mama num seio materno, mas é o pão dos anjos; veio em pobres panos, mas reveste-nos de imortalidade; é amamentado, mas é também adorado; não encontrou lugar na estalagem, mas constrói para si um templo no coração dos seus fiéis. Tudo isto para que a fraqueza se tornasse forte e a prepotência se tornasse fraqueza. Por isso, não só não menosprezamos, mas mais admiramos o seu nascimento corporal e reconhecemos neste acontecimento quanto a sua imensa dignidade se humilhou por nós». 
Santo Agostinho

«Chama-se dia do Natal do Senhor a data em que a Sabedoria de Deus se manifestou como criança e a Palavra de Deus, sem palavras, imitou a voz da carne. A divindade oculta foi anunciada aos pastores pela voz dos anjos e indicada aos magos pelo testemunho do firmamento. Com esta festividade anual celebramos, pois, o dia em que se realizou a profecia: A verdade brotou da terra e a justiça desceu do céu (Sl 84,12)». 
Santo Agostinho

«Neste dia, o Verbo de Deus revestiu-se de carne e nasceu de Maria virgem. Nasceu de modo admirável... Donde veio Maria? De Adão. Donde veio Adão? Da terra. Se Adão veio da terra e Maria de Adão, também Maria é terra. E se Maria é terra, entendemos quando cantamos: a verdade brotou da terra». 
Santo Agostinho

«Jesus é o novo sol que atravessa as paredes, invade os infernos, perscruta os corações. Ele é o novo sol que com os seus espíritos faz reviver o que está morto, restaura o que está velho, levanta o que está decadente e purifica ainda, com o seu calor, aquilo que é impuro, aquece o que está frio e consome o que o que não presta». «Preparemo-nos pois, irmãos, para acolher o natal do Senhor, adornemo-nos com vestes puras e elegantes! Falo, claro está, das vestes da alma, não do corpo… Adornemo-nos não com seda, mas com obras boas! Pois as vestes elegantes ornam o corpo, mas não podem adornar a consciência; pois seria muito vergonhoso trazer sob elegantes vestes elegantes, uma consciência contaminada. Procuremos acima de tudo embelezar os nossos afectos íntimos, e poderemos então vestir belas roupas; lavemos as manchas da alma para usarmos dignamente roupas elegantes! Não adianta dar nas vistas pelas vestes se estamos sujos em pecados, porque quanto a consciência está escura, todo o corpo fica nas trevas. Temos, porém, com que lavar as manchas da nossa consciência. Pois está escrito: Dai esmola e tudo será puro em vós (Lc 11,41). É importante este mandamento da esmola: graças a ele, ao operarmos com as mãos ficamos lavados no coração». 
São Máximo, bispo de Turim

«Nasceu hoje, irmãos, o nosso Salvador. Alegremo-nos! Não pode haver tristeza quando nasce a vida; a qual, destruindo o temor da morte, nos enche com a alegria da eternidade prometida. Ninguém está excluído da participação nesta alegria; a causa desta alegria é comum a todos, porque nossos Senhor, aquele que destrói o pecado e a morte, não tendo encontrado ninguém isento de pecado, a todos veio libertar. Exulte o santo porque está próxima a vitória; rejubile o pecador, porque é convidado ao perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida… Por isso é que, quando o Senhor nasceu, os anjos cantaram em alegria ‘glória a Deus nas alturas’ e anunciaram ‘paz na terra aos homens de boa vontade’. Porque vêem a Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo, obra inexprimível do amor divino, que, se dá tanto gozo aos anjos nas alturas do céu, que alegria não deverá dar aos homens cá na terra?». 
São Leão Magno

«Esta é a nossa festa, isto celebramos hoje: a vinda de Deus ao meio dos homens, para que, também nós cheguemos a Deus… celebremos, pois, a festa: não uma festa popular, mas uma festa de Deus, não como o mundo quer, mas como Deus quer; não celebremos as nossas coisas mas as coisas daquele que é nosso Senhor…». «Não embelezemos as portas das casas, não organizemos festas, nem adornemos as estradas, não demos banquetes em nosso proveito nem concertos para mero agrado dos ouvidos, não exageremos nos adornos nem nas comidas… e tudo isto enquanto outros padecem fome e necessidades, esses que nasceram do mesmo barro que nós». 
São Gregório de Nazianzo


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sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Origens e significados da Missa do Galo

A Missa do Galo é a que se celebra na Véspera de Natal, começando à meia-noite de 24 para 25 de Dezembro.
 
O nome “Missa do Galo” deriva da tradição segundo a qual à meia-noite do dia 24 de Dezembro um galo cantou como nunca se tinha ouvido de outro animal semelhante, anunciando a vinda do Messias, filho de Deus vivo, Jesus Cristo.
 
Um costume da província de Toledo, na Espanha, consistia em que, antes de baterem as 12 badaladas da meia-noite de 24 de Dezembro, cada lavrador matava um galo em memória daquele que cantou três vezes quando Pedro negou Jesus. A ave era depois levada para a Igreja a fim de ser oferecida aos pobres, que viam assim o seu Natal melhorado.
 
Era costume, em algumas aldeias espanholas e portuguesas, levar o galo para a igreja, a fim de que este cantasse durante a missa, significando um prenúncio de boas colheitas.
 
A Missa do Galo foi instituída no século V, após o Concílio de Éfeso (431 d.C.), começando a ser celebrada na basílica do monte Esquilino, erigida pelo o Papa Sisto III em honra de Nossa Senhora.
Trata-se da famosíssima Basílica de Santa Maria Maggiore. O galo foi escolhido como símbolo desta celebração porque representa vigilância, fidelidade e testemunho cristão.
 
Nos primeiros séculos, as vigílias festivas eram dias de jejum. Os fiéis reuniam-se na igreja e passavam a noite rezando e cantando. A igreja era toda iluminada com lâmpadas de azeite e tochas. Para iluminar a Missa havia círios e tochas junto ao altar, enquanto as paredes eram revestidas de panos e tapetes. O templo era perfumado com alecrim, rosmaninho e murta. Em alguns locais mais frios, era costume deitar palha no chão para aquecer o ambiente.
 
Dada a sua importância, pois anuncia o nascimento do Deus vivo – eis que o verbo se fez carne (Jo, 1, 14) –, o próprio Papa, bispo de Roma, deve conduzir a celebração pessoalmente, pois ele é sucessor de Pedro, o apóstolo que Jesus mesmo designou como primeiro dirigente da Igreja (Mt 16, 18).

Ao entrar na Igreja, a grande curiosidade era o presépio. A vigília de Natal começava com uma oração, com a leitura das Sagradas Escrituras, pregação e com um canto. Antes de o sol nascer, rezava-se a Missa do Galo ou da aurora. Seguia-se a representação de um auto de Natal, dentro da igreja. Na metade da manhã do dia 25, celebrava-se a missa da festa.
 
A missa de Natal começava com um cântico natalício. No momento do “Gloria in excelsis Deo”, as campainhas tocavam para assinalar o nascimento do Redentor. No fim da missa, todos iam oscular o Menino. Em algumas igrejas, o presépio estava velado até à altura do cântico.
 
Hoje, tradicionalmente, depois da missa, as famílias voltam para as suas casas, colocam a imagem do Menino Jesus no Presépio, realizam cânticos e orações em memória do Messias, Filho de Deus, confraternizam-se e compartilham a Ceia de Natal, com eventual distribuição de presentes.


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quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Evitar a malícia nos juízos e suspeitas

Certas pessoas convertem em maus humores todos os alimentos que absorvem, mesmo que sejam alimentos de boa qualidade. A responsabilidade não é dos alimentos, mas do temperamento dessas pessoas, que altera os alimentos. 

Da mesma maneira, se a nossa alma tiver uma disposição má, tudo lhe fará mal; até as coisas vantajosas serão por ela transformadas em coisas prejudiciais. Não é verdade que, se deitarmos umas ervas amargas num pote de mel, as ervas alteram todo o conteúdo do pote, tornando amargo o mel? É isso que nós fazemos: espalhamos um pouco do nosso azedume e destruímos o bem do próximo, olhando para ele a partir da nossa má disposição. 

Há outras pessoas que têm um temperamento que transforma tudo em bons humores, incluindo os alimentos nocivos. Os porcos têm uma excelente constituição. Comem cascas, caroços de tâmaras e lixo. Contudo, transformam estes alimentos em viandas suculentas. Também nós, se tivermos bons hábitos e um bom estado de alma, tudo poderemos aproveitar, incluindo aquilo que não é aproveitável. Muito bem diz o Livro dos Provérbios: «Quem olha com doçura obterá misericórdia» (12, 13). Mas também: «Todas as coisas são contrárias ao homem insensato» (14, 7). 

Ouvi dizer de um irmão que, quando ia visitar outro irmão e encontrava a cela descuidada e desordenada, pensava: «Que feliz que é este irmão, que está completamente desprendido das coisas terrenas, elevando totalmente o seu espírito para o alto, de tal maneira que nem tem tempo para arrumar a cela!» 

Quando ia visitar outro irmão e encontrava a cela arrumada e em boa ordem, pensava: «A cela deste irmão está tão arrumada como a sua alma. Tal como a sua alma, assim é a sua cela.» E nunca dizia de nenhum deles: «Este é desordenado», ou: «Este é frívolo.» 

Graças ao seu excelente estado de alma, de tudo tirava proveito. Que Deus, na sua bondade, nos dê também um estado bom para que possamos tudo aproveitar, sem nunca pensarmos mal do próximo. Se a nossa malícia nos inspirar juízos e suspeitas, transformemo-os rapidamente. Pois não ver o mal do próximo engendra, com a ajuda de Deus, a bondade.

Doroteu de Gaza in Carta 1 


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À espera






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Quem nega a validade da Missa de Paulo VI? Preparem-se para uma surpresa

No seu novo (e impressionante) documento, que aumenta as restrições à Missa Tradicional, a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramento (CCDDS) acusa muitos católicos tradicionais de não reconhecerem a validade da Missa de Paulo VI (Novus Ordo). Por causa disso, dizem, a adesão à liturgia tradicional representa uma séria ameaça à unidade da Igreja.

Mas a CCDDS não fornece qualquer evidência para apoiar essa acusação contra os "tradicionalistas" - assim como, no motu proprio Traditionis Custodes, o Papa Francisco não forneceu qualquer evidência de que o inquérito dirigido aos Bispos tivesse descoberto uma preocupação generalizada sobre os atritos supostamente causado pelo movimento tradicional. 

Pessoas de dentro do Vaticano revelam que, nas suas respostas ao inquérito, a maioria dos Bispos não revelou qualquer dificuldade com os "tradicionalistas". E os católicos familiarizados com o movimento tradicional raramente encontram fanáticos que negam a validade da liturgia nova. Mas, ainda que a acusação da CCDDS fosse verdadeira, as medidas apresentadas no novo documento seriam desproporcionais. Deixem-me explicar.

Os católicos que frequentam regularmente a liturgia tradicional constituem apenas cerca de 1% da população católica geral do mundo. Se 1% desses "tradicionalistas" rejeitarem o Novus Ordo (e acho que essa estimativa seria muito alta), então o problema está confinado a uma minoria quase irrisória.

No entanto, entre os católicos que assistem à Missa regularmente nas paróquias "normais", uma esmagadora maioria rejeita a validade da liturgia Novus Ordo!

Pesquisa após pesquisa demonstra que mais de 70% desses católicos não acreditam que Jesus Cristo Se torna verdadeiramente presente - Corpo, Sangue, Alma e Divindade - na Missa. Mas, se Jesus não estiver presente então a Missa não é válida. Portanto, a maioria dos fiéis numa paróquia católica comum acredita que a Missa é inválida. QED.

Claro que poucos desses católicos “comuns” diriam que a Missa é inválida, porque não reconheceriam o o silogismo que fiz no parágrafo anterior. As mais recentes gerações de ​​catequeses miseráveis deixaram milhões de católicos apenas com uma vaga ideia do que é a Eucaristia, do que realmente acontece na Missa. Ainda assim, é evidente que a maioria dos católicos rejeita - ou talvez, mais precisamente, seja indiferente a - esse dogma central da Fé. Se são indiferentes, mais uma razão pela qual se afastam da Igreja. Se rejeitam a doutrina católica, minam a unidade dos fiéis.

Felizmente, a maioria incrédula está enganada, como qualquer tradicionalista que negue a validade da nova liturgia. O Novus Ordo é válido; a Eucaristia é a presença real de Jesus Cristo. Mas, para o bem da unidade da Igreja - para não falar da clareza da doutrina - o facto de que mais de 70% dos fiéis negarem efectivamente os ensinamentos da Igreja sobre a Eucaristia, a "fonte e ápice da vida cristã", é certamente um preocupação mais urgente do que a alegação de que 0,01% nega a validade da nova liturgia.

Phil Lawler in Catholic Culture


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quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Carta do Papa Bento XVI ao Menino Jesus quando tinha 7 anos de idade




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Bispo tenta acabar com Missa Tradicional mas IBP resiste

Quem estudou Direito sabe que uma das formas de injustiça é a arbitrariedade; uma decisão por parte da autoridade que não tem em conta os seus deveres e os direitos dos súbditos. Infelizmente, hoje em dia na Igreja Católica, o Direito é atropelado a torto e a direito pelos que o deveriam fazer cumprir.

Foi o caso do Arcebispo de Curitiba, que decidiu, sem mais nem ontem, acabar com um apostolado sólido cujos bons frutos estão à vista de todos. O Instituto Bom Pastor decidiu não acatar a ordem injusta, que vai contra a salvação das almas, e resistir à tirânica, com base na Lei da Igreja. Esperemos que outros sigam esse exemplo.

Comunicado do Superior do Distrito da América Latina

Brasília/DF, 20 de Dezembro de 2021

1. Informamos a existência de um decreto extrajudicial de Sua Excelência, Dom José Antônio Peruzzo, Arcebispo de Curitiba, proibindo o exercício de todo o ministério sacerdotal ao reverendíssimo Padre Thiago Bonifácio, IBP, no território dessa mesma Arquidiocese. Consideramos o decreto inválido e nulo segundo o direito canónico e a lei natural. Foi interposto o devido recurso canônico suspensivo do decreto.

2. Asseguramos aos fiéis de nosso apostolado em Curitiba de que não serão abandonados pelo Instituto Bom Pastor.

Permanecemos na fidelidade à Igreja Católica, ao Santo Padre, e à hierarquia católica. O Bom Pastor não abandona as suas ovelhas.

Pe. Daniel Pinheiro, IBP Superior do Distrito da América Latina

Abaixo-assinado pela manutenção do Apostolado do Instituto Bom Pastor em Curitiba-PR: https://chng.it/gyLZV64Z


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segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Santa Missa no ponto mais alto do continente Africano


Os padres Antony Sumich e Greg Bartholomew celebraram a Santa Missa no topo do Monte Kilimanjaro. Colocaram a cruz de Cristo a quase 6000 metros acima do nível do mar. Stat crux!


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