sábado, 29 de maio de 2021

O Bispo que ensinava hinos católicos a comunistas

O Cardeal Van Thuan foi ontem declarado venerável Servo de Deus, as suas virtudes heróicas foram reconhecidas pela Igreja. O Bispo vietnamita foi preso pelos comunistas, e esteve mais de 10 anos em várias prisões. Durante esse tempo converteu muitos dos guardas prisionais.

Numa noite em que estou doente, na prisão de Phú Khánh, vejo passar um polícia e grito: "Por caridade, estou muito doente, dê-me um pouco de remédio!" Ele responde-me: "Aqui não há caridade nem amor, apenas responsabilidade."

Essa é a atmosfera que respiramos na prisão.

Quando fui colocado no isolamento, fui confiado a um grupo de cinco guardas: dois deles estão sempre comigo. Os chefes mudam-nos de duas em duas semanas com os de outro grupo, para que não sejam "contaminados" por mim. Depois, decidiram não mudar mais, pois de outra forma todos ficariam contaminados!

No início, os guardas não falavam comigo, respondiam apenas "yes" e "no". É muito triste; quero ser gentil, cortês com eles, mas é impossível, evitam falar comigo. Não tenho nada para lhes dar de presente: sou prisioneiro, todas as roupas são marcadas com grandes letras "cai-tao", isto é, "campo de reeducação". Que devo fazer?

Uma noite, vem-me um pensamento: "Francisco, tu és ainda muito rico. Tens o amor de Cristo no teu coração. Ama-os como Jesus te ama." No dia seguinte, comecei a amá-los, a amar Jesus neles, sorrindo, trocando palavras gentis. Começo a contar histórias das minhas viagens ao exterior, como vivem os povos na América, Canadá, Japão, Filipinas, Singapura, França, Alemanha… a economia, a liberdade, a tecnologia. Isso estimulou a curiosidade dos guardas, e excitou-os a perguntarem-me muitas outras coisas. Pouco a pouco, tornamo-nos amigos. Querem aprender línguas estrangeiras: francês, inglês… Os meus guardas tornam-se meus alunos! A atmosfera da prisão mudou muito.

Até com os chefes da polícia. Quando viram a sinceridade do meu relacionamento com os guardas, não só pediram para continuar a ajudá-los no estudo de línguas estrangeiras, mas ainda me mandaram novos estudantes.

Um dia, um cabo perguntou-me:

- O que é que pensa do jornal 'O Católico'?

- Este jornal não fez bem nem aos católicos nem ao governo, antes alargou o fosso da separação.

- Porque se expressa mal; usam mal os vocábulos religiosos e falam de maneira ofensiva. Como remediar essa situação?

- Primeiro, é preciso entender exactamente o que significa tal palavra, tal terminologia religiosa…

- Pode ajudar-nos?

- Sim, proponho-lhes escrever um vocabulário de linguagem religiosa, de A a Z. Quando tiverem um momento livre, explicar-vos-ei. Espero que, assim, possam compreender melhor a estrutura, a história, o desenvolvimento da Igreja, as suas actividades…

Deram-me papel, e escrevi esse vocabulário de 1500 palavras, em francês, inglês, italiano, latim, espanhol, chinês, com explicações em vietnamita. Assim, pouco a pouco, com a explicação - as minhas respostas às perguntas sobre a Igreja, e aceitando também as críticas -, esse documento torna-se uma "catequese prática". Há muita curiosidade por saber o que é um abade, um patriarca; qual a diferença entre ortodoxos, católicos, anglicanos, luteranos; de onde provêm os recursos financeiros da Santa Sé…

Este diálogo sistemático, de A a Z, ajuda a corrigir muitas confusões, muitas ideias preconceituosas; torna-se dia-a-dia mais interessante, até mesmo fascinante.

Naquela época, ouvi que um grupo de vinte jovens da polícia estudava latim com um ex-catequista, para estar em condições de entender os documentos eclesiásticos. Um dos meus guardas pertence a esse grupo. Um dia, perguntou-me se lhe podia ensinar um cântico em latim.

- São tantos e tão belos, respondi-lhes.

- Você canta e eu escolho, propôs.

Cantei a Salve Regina, o Veni Creator, a Ave Maris Stella… Podem adivinhar que canto escolheu? O Veni Creator.

Não posso dizer quanto é comovente escutar todas as manhãs um polícia comunista, descendo pela escada de madeira, pelas sete horas, para fazer ginástica e depois lavar-se, cantando o Veni Creator na prisão.

in Cardeal Van Thuan, Cinco pães e dois peixes: Do sofrimento do cárcere, um alegre testemunho da fé

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Há 44 anos era sagrado Bispo Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI

No dia 28 de Maio de 1977, o Padre Joseph Ratzinger foi sagrado Bispo. Passou então a ser Arcebispo de Munique e Freising. 

Este vídeo incluiu também o momento em que recebeu o barreto cardinalício das mãos do Papa Paulo VI e também o momento em que, já como Papa, numa viagem apostólica à Baviera em 20226, Bento XVI depositou o seu anel episcopal aos pés da Virgem de Altötting.

Chesterton destrói o Marxismo com a 'História de vacas'

Penso que a maioria dos seguidores de Karl Marx acredita numa doutrina chamada a teoria materialista da História. A teoria é, grosso modo, a seguinte: todas os acontecimentos da História encontram-se radicados numa causa económica. Em resumo, a História é uma ciência, a ciência da busca pela comida.

É verdade que a busca por comida é universal. Aliás, tão universal que nem é exclusivamente humana. As vacas têm um motivo económico; quase diria um motivo exclusivamente económico. A vaca preenche os requerimentos da teoria materialista da História. É por isso que a vaca não tem História. Uma História de vacas seria a coisa mais simples e mais enfadonha do mundo!

Dizer que os motivos do homem se resumem à motivação económica é como dizer que o homem só tem pernas, porque um homem suporta-se em comida como se suporta em pernas. Mas nenhuma teoria económica explica como é que debaixo de fogo, um homem se apoia nas pernas para combater enquanto que outro se apoia nas pernas para fugir.

Em suma, não existiria nenhuma História se o homem apenas se resumisse à teoria económica da História.

G.K. Chesterton in 'O Adorador do Sol'

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Hino ao Espírito Santo escrito por Santa Teresa Benedita da Cruz

I. Quem és tu, Doce luz que me preenche e ilumina a obscuridade do meu coração? Conduzes-me como a mão de uma mãe E se me soltasses, não saberia nem dar mais um passo. És o espaço que envolve todo meu ser e o encerra em si. Se Fosse abandonado por ti cairia no abismo do nada, de onde tu o elevas ao Ser. Tu, mais próximo de mim que eu mesmo e mais íntimo que minha intimidade, E, sem dúvida, permaneces inalcançável e incompreensível, E que faz brotar todo nome: Espírito Santo — Amor eterno! 

II. Não és Tu O doce maná que do coração do Filho flui para o meu, alimento dos anjos e dos bem aventurados? Aquele que da morte à vida se elevou, Também a mim despertou a uma nova vida Do sono da morte. E nova vida me doa Dia após dia. E um dia me cumulará de plenitude. Vida de minha Vida. Sim, Tu mesmo, Espírito Santo, – Vida Eterna! 

III. Tu és o raio que cai do Trono do Juiz eterno e irrompe na noite da alma, que nunca se conheceu a si mesma? Misericordioso e impassível penetras nas profundezas escondidas. Se ela se assusta ao ver-se a si mesma, Concedes lugar ao santo temor, princípio de toda sabedoria que vem do alto, e no alto com firmeza nos unes à tua obra, que nos faz novos, Espírito Santo — Raio penetrante! 

IV. Tu és a plenitude do Espírito e da força com a qual o Cordeiro rompe o selo do segredo eterno de Deus? Impulsionados por ti os mensageiros do Juiz cavalgam pelo mundo e com espada afiada separam o reino da luz do reino da noite. Então surgirá um novo céu E uma nova terra, e tudo retorna ao seu justo lugar graças a teu alento: Espírito Santo — Força triunfante! 

V. Tu és o mestre construtor da catedral eterna que se eleva da terra aos céus? Por ti vivificadas as colunas se elevam Para o alto e permanecem imóveis e firmes. Marcadas com o nome eterno de Deus se elevam para a luz sustentando a cúpula, que cobre, qual coroa, a santa catedral, tua obra transformadora do mundo, Espírito Santo — Mão criadora! 

VI. Tu és quem criou o claro espelho, Próximo ao trono do Altíssimo, como um mar de cristal aonde a divindade se contempla amando? Tu te inclinas sobre a obra mais bela da criação, e resplandecente te ilumina com teu mesmo esplendor. E a pura beleza de todos os seres, Unida à amorosa figura da Virgem, tua esposa sem mancha: Espírito Santo — Criador do Universo! 

VII. Tu és o doce canto do amor e do santo recato, que eternamente ressoa diante do trono da Trindade, e desposa consigo os sons puros de todos os seres? A harmonia que une os membros com a Cabeça, onde cada um encontra feliz o sentido secreto de seu ser, e jubilante irradia, livremente desprendido em teu fluir: Espírito Santo — Júbilo eterno!

quarta-feira, 26 de maio de 2021

20 importantes conselhos de São Filipe Neri

1. Existem tentações, como as da carne, que apenas podem ser vencidas fugindo; outras, como as da raiva, resistindo-lhes, e outras, como a vã glória, desprezando-as.

2. Quando Deus envia tribulações a uma alma dá-lhe um sinal de grande afecto.

3. Aquele que gosta de ser desprezado e se considera como nada é um discípulo perfeito da escola de Jesus Cristo.

4. Entre as graças que devemos pedir a Deus, uma delas deve ser a perseverança.

5. Não há nada mais perigoso na vida espiritual do que querer dirigir-se sozinho.

6. A ociosidade é uma calamidade para o cristão. Devemos fazer sempre alguma coisa, para que o diabo não venha e nos faça cair nas suas armadilhas.

6. Nada ajuda mais o homem do que a oração.

7. Vamos lançar-nos nos braços de Deus e ter certeza de que se Ele quiser algo de nós dar-nos-á forças para fazer o que Ele quiser que façamos.

8. Temos de rejeitar os escrúpulos, porque eles perturbam a alma e geram tristeza.

9. Não há nada mais desagradável a Deus do que uma alma orgulhosa de si mesma.

10. Não devemos odiar ninguém, porque Deus não vem para estar numa alma que não ama o próximo.

11. Na comunhão devemos pedir a cura desse vício a que estamos sujeitos.

12. O demónio, que é muito orgulhoso, tem muito medo da confissão humilde.

13. Vamos separar os nossos corações das coisas deste mundo; perguntemos muitas vezes: e depois? e depois?.

14. Não sejamos precipitados em julgar os outros: primeiro pensemos em nós mesmos.

15. Para estar em paz com os outros, nunca pense nos seus defeitos naturais.

16. Nem sempre estamos interessados no melhor.

17. O servo de Deus não deve querer receber neste mundo a recompensa pelo seu serviço.

18. Quem foge de uma cruz encontrará outra mais pesada no seu caminho.

19. Antes de se confessar, será bom pedir a Deus a vontade de ser santo.

20. A Deus agrada a alma humilde que acredita que ainda não começou a fazer o bem.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Jesus nasceu em Belém ou em Nazaré?

S. Mateus disse, de maneira explícita, que Jesus nasceu em “Belém de Judá, no tempo do rei Herodes” (Mt 2, 1; cf. 2, 5.6.8.16) e o mesmo referiu S. Lucas (Lc 2, 4.15). O quarto evangelho menciona-o de uma maneira indirecta. Gerou-se uma discussão a propósito da identidade de Jesus e “uns diziam: «Este é verdadeiramente o Profeta». Outros diziam: «Este é o Messias». 

Alguns, porém, diziam: «Porventura é da Galileia que há-de vir o Messias? Não diz a Escritura que o Messias há-de vir da descendência de David e da aldeia de Belém, donde era David?»” (Jo 7, 40‑42). O quarto evangelista serve-se aqui de uma ironia: ele e o leitor cristão sabem que Jesus é o Messias e que nasceu em Belém. Alguns oponentes a Jesus querem demonstrar que Ele não é o Messias dizendo que, para sê-lo, teria nascido em Belém e, pelo contrário, eles sabem (pensam saber) que nasceu em Nazaré. Este procedimento é habitual no quarto evangelho (Jo 3, 12; 6, 42; 9, 40-1). 

Por exemplo, quando a mulher samaritana pergunta: “És Tu, porventura, maior do que o nosso pai Jacob?” (Jo 4, 12). Os ouvintes de João sabem que Jesus é o Messias, Filho de Deus, superior a Jacob, de modo que a pergunta da mulher era uma afirmação dessa superioridade. Portanto, o evangelista prova que Jesus é o Messias, inclusivamente com as afirmações dos seus oponentes.

Este foi o consenso comum entre crentes e investigadores durante mais de 1900 anos. Contudo, no século passado, alguns investigadores afirmaram que Jesus é considerado em todo o Novo Testamento como “o nazareno” (aquele que é, ou que provém de Nazaré) e que a referência a Belém como lugar do nascimento não passa de uma invenção dos dois primeiros evangelistas, que revestem Jesus com uma das características que, naquele momento, se atribuíam ao futuro Messias: ser descendente de David e nascer em Belém. O certo é que uma argumentação como esta não prova nada. 

No século I diziam-se bastantes coisas sobre o futuro Messias e que não se cumprem em Jesus, mas, tanto quanto sabemos – apesar do que possa parecer (Mt 2, 5; Jo 7, 42) – não parece que a do nascimento em Belém tenha sido umas das que se invocaram mais frequentemente como prova. É antes preciso pensar de modo contrário: é pelo facto de Jesus, que era Nazaré (ou seja, tendo sido criado lá), ter nascido em Belém que os evangelistas descobrem nos textos do Antigo Testamento que se cumpre n´Ele essa qualidade messiânica.

Todos os testemunhos da tradição confirmam, além disso, os dados evangélicos. S. Justino, nascido na Palestina por volta do ano 100 d.C., menciona, uns cinquenta anos mais tarde, que Jesus nasceu numa gruta próxima de Belém (Diálogo 78). Orígenes também dá testemunho disso (Contra Celso I, 51). Os evangelhos apócrifos testemunham o mesmo (Pseudo-Mateus, 13; Proto evangelho de Tiago,17ss; Evangelho da infância, 2-4).

Em resumo, o parecer comum dos estudiosos de hoje, é que não há argumentos fortes para ir contra o que afirmam os evangelhos e nos foi transmitido por toda a tradição: Jesus nasceu em Belém da Judeia no tempo do rei Herodes.

Bibliografia: A. Puig, Jesús. Una biografía, Destino, Barcelona 2005; J. González Echegaray, Arqueología y evangelios, Verbo Divino, Estella 1994; S. Muñoz Iglesias, Los evangelios de la infancia. IV, BAC, Madrid 1990.

in adtelevavi.blogspot.pt

A Majestade Gloriosa de DEUS, desprezada e ofendida

Não saberei dizer se me devo desculpar ou, pelo contrário, afirmar sem pejos nem respeitos humanos alguns dos aspectos do estado deplorável a que chegou o Culto Divino, em especial o Santíssimo Sacrifício da Eucaristia, a Sagrada Comunhão, e a Sua Presença no Sacrário, em grande parte de Portugal.
 
O cenário é rigorosamente aterrador. O latão e pechisbeque, disfarçando-se, por vezes, de aparências reluzentes, tomaram de assalto as Igrejas: os Sacrários, os cálices, as patenas, as píxides, etc.: um absurdo tanto maior quanto frequentemente tudo isto em prata, ou prata dourada, é menos caro do que o pechisbeque.
 
Uma das irreverências ignóbeis e maiores em relação ao SENHOR JESUS CRISTO GLORIOSO não consiste somente em colocá-lo em Sacrários indignos mas a de virar-lhe as costas e não Lhe fazer as devidas Reverências e Adorações durante a Celebração da Eucaristia - O DEUS GLORIOSO, o SENHOR RESSUSCITADO, está lá realverdadeira e substancialmente presente, e nós, em nome de um rubrica idiota, como já houve tantas outras nos últimos 50 anos, fingimos que não está, e prestamos reverências a coisas que O simbolizam, mas não a ELE. Como se houvera alguma incompatibilidade entre o SENHOR presente no Sacrário e o mesmo SENHOR na Eucaristia! É caso para dizer que a imbecilidade humana, e por vezes a eclesial-clerical, é infinita.
 
Como explicar o absurdo sacrílego numa Igreja em que o Sacrário está igualmente descoberto e virado para o corpo da Igreja e para a sacristia? No corpo da Igreja é Reverenciado e Adorado, no lado oposto é totalmente ignorado e consequentemente desprezado. Ali pode-se virar as costas contra o SENHOR, contar gracejos, fumar, discutir, etc. No corpo da Igreja tudo isso é inconcebível. Há, é verdade, uma diferença, que me fizeram notar para o justificar, é que a porta do Sacrário está virada para o corpo da Igreja não acontecendo o mesmo no sentido contrário - confesso que quando me fizeram essa observação pensei que ou estavam a brincar comigo ou me estavam a tentar envenenar com enxofro.
 
Numa outra Igreja, cujo ambão obriga a estar de costas para Nosso SENHOR no Sacrário, que está perto e ao nível das costas de quem usa o mesmo, alguém propôs, várias sugestões que poderiam, ainda que provisoriamente, remediar essa grave afronta a Nosso SENHOR; mais ainda, ofereceu-se, sabendo que poderia recolher as ofertas necessárias, mudar aquele Sacrário de latão por um de prata ou prata dourada, igual no aspecto ao mesmo. Os projectos foram imediatamente rejeitados.
 
Antepõem-se sempre e sistematicamente outras coisas ao Sacrário: ou é o ambão ou a estética que se pretende na Igreja ou outras coisas quaisquer - não há ideia ou proposta alguma que possa, mesmo que só provisoriamente, dar prioridade ao Sacrário. Tudo é perentória e imediatamente recusado. Não afirmo categoricamente que o seja, mas parece mesmo influência do Maligno.
 
Importa lembrar que esta mentalidade que penetrou com acutilância inusitada, mesmo em muitos jovens Padres ditos tradicionais, é de origem protestante. Não digo que eles disso tenham consciência, mas que disso são vítimas, para além do que foi dito acima, não há dúvida. Mas, enfim, têm sempre alguns Padres, eminentemente considerados pelos próprios, que os justifique e os confirme nos seus erros.
 
À Honra e Glória de Cristo. Ámen.

Padre Nuno Serras Pereira

terça-feira, 18 de maio de 2021

Tolkien disse que o Senhor dos Anéis é uma obra Católica

2 Dezembro 1953

Penso que sei exatamente o que quer dizer com a ordem da Graça; e, claro, com as referências a Nossa Senhora, na qual toda a minha pequena percepção de beleza, quer em majestade quer em simplicidade, está fundada. “O Senhor dos Anéis” é, claro, uma obra fundamentalmente religiosa e Católica; inconscientemente à primeira vista, mas conscientemente quando revista. 

É por isto que eu não incluí, ou tive que cortar, praticamente todas as referências a qualquer coisa como “religião”, cultos ou práticas, no mundo imaginário. Porque o elemento religioso é absorvido para dentro da história e do simbolismo.

De facto, eu planeei muito pouco; e deveria estar principalmente agradecido por ter sido educado (desde os oito anos) na Fé que me nutriu e me ensinou todo o pouco que sei; e isso devo-o à minha mãe, que se agarrou à sua conversão e morreu jovem em grande parte pelas dificuldades da pobreza que daí resultaram*.

in JRR Tolkien (ed H Carpenter & C Tolkien), The Letters of J.R.R. Tolkien, Harper Collins Publishers, Londres, 2006.

*Mabel Tolkien converteu-se ao Catolicismo aos 30 anos (quando JRR Tolkien tinha 8 anos de idade), apesar de fortes protestos de familiares que deixaram de a apoiar financeiramente. Morreu quatro anos mais tarde. JRR Tolkien sempre considerou que este último período de vida da mãe como um lento martírio pela fé, testemunho este que moldou profundamente a sua vida cristã.

Da Vida de S. Frei Junípero

Frei Junípero, entrando em Viterbo, desnudou-se totalmente com o propósito de ser escarnecido, como Cristo desnudado na Cruz o foi. Pondo as cuecas na cabeça, amarrou o hábito com o cordão e pendurou-o no pescoço. E assim foi nu até à praça pública da cidade. Quando ali se assentou, a malta nova, cuidando que era um louco, mas ignorando que o era por Cristo, atacaram-no com injúrias, zombarias, barro e pedregulhos.

Tendo sido assim destratado e afligido por muito tempo, voltou nu para o convento. Quando os frades o viram ficaram aturdidos e escandalizados. Irados, setearam-no com duríssimas repreensões, injúrias e ofensas (não se recordando de S. Francisco, fundador da Ordem, que se tinha igualmente despojado das suas vestes diante do Bispo de Assis e toda a multidão) julgando alguns, no seu desvario, que ele merecia ser preso ou enforcado ou mesmo queimado. 

Frei Junípero ouvia tudo isto com uma alegria tamanha chegando ao ponto de não só dar sonoras gargalhadas de contentamento, mas adiantando que confirmava o merecimento de todas aquelas penas propostas e até muito maiores por tão grande escândalo.

Suponho que esta atitude possa ser esclarecida por outro episódio da sua Santa vida, a saber:

Tendo Frei Junípero (um simples frade leigo) sido arrebatado durante a Missa, os frades não sabendo (ou não podendo) o que fazer deixaram-no sozinho.

Porém sucedeu que, quando ele voltou a si, foi ao encontro dos frades exclamando: “Quem será tão enobrecido nesta terra que não aceitasse levar de boa vontade um cesto de lama sobre a cabeça por toda esta região se lhe dessem uma casa cheia de ouro?” E dizia: “Ai! de mim! Por que não queremos suportar um pouco de vergonha para poder ganhar a vida eterna?”

À honra de Cristo. Ámen.

Padre Nuno Serras Pereira

domingo, 16 de maio de 2021

Papa Bento XVI fala sobre o 'segredo' de Fátima

«Queria, no fim, tomar uma vez mais outra palavra-chave do “segredo” que justamente se tornou famosa: “O meu Imaculado Coração triunfará”. Que significa isto? Significa que este Coração aberto a Deus, purificado pela contemplação de Deus, é mais forte que as pistolas ou outras armas de qualquer espécie. O ‘fiat’ de Maria, a palavra do seu Coração, mudou a história do mundo, porque introduziu neste mundo o Salvador: graças àquele “Sim”, Deus pôde fazer-Se homem no nosso meio e tal permanece para sempre. 

Que o maligno tem poder neste mundo, vemo-lo e experimentamo-lo continuamente; tem poder, porque a nossa liberdade se deixa continuamente desviar de Deus. Mas, desde que Deus passou a ter um coração humano e deste modo orientou a liberdade do homem para o bem, para Deus, a liberdade para o mal deixou de ter a última palavra. O que vale desde então, está expresso nesta frase: “No mundo tereis aflições, mas tende confiança! Eu venci o mundo” (Jo 16, 33). A mensagem de Fátima convida a confiar nesta promessa».
Cardeal Joseph Ratzinger - Comentário teológico ao segredo de Fátima, 26 de Junho de 2000

«Apraz-me pensar em Fátima como escola de fé com a Virgem Maria por Mestra; lá ergueu Ela a sua cátedra para ensinar aos pequenos Videntes e depois às multidões as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar. Na atitude humilde de alunos que necessitam de aprender a lição, confiem-se diariamente, a Mestra tão insigne e Mãe do Cristo total, todos e cada um de vós e os sacerdotes vossos directos colaboradores na condução do rebanho, os consagrados e consagradas que antecipam o Céu na terra e os fiéis leigos que moldam a terra à imagem do Céu».
Papa Bento XVI, 10 de Novembro de 2007

«Todos juntos, com a vela acesa na mão, lembrais um mar de luz à volta desta singela capelinha, amorosamente erguida em honra da Mãe de Deus e nossa Mãe, cujo caminho da terra ao céu foi visto pelos pastorinhos como um rasto de luz. Contudo nem Ela nem nós gozamos de luz própria: recebemo-la de Jesus. A sua presença em nós renova o mistério e o apelo da sarça ardente, o mesmo que outrora atraiu Moisés no monte Sinai e não cessa de fascinar a quantos se dão conta duma luz particular em nós que arde sem nos consumir (cf. Ex 3, 2-5).

Por nós, não passamos de mísero silvado, sobre o qual pousou a glória de Deus. A Ele toda a glória, a nós a humilde confissão do próprio nada e a submissa adoração dos desígnios divinos que estarão cumpridos quando “Deus for tudo em todos” (cf. 1 Cor 15, 28). Serva incomparável de tais desígnios é a Virgem cheia de graça: “Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).

Sinto que me acompanham a devoção e o afecto dos fiéis aqui reunidos e do mundo inteiro. Trago comigo as preocupações e as esperanças deste nosso tempo e as dores da humanidade ferida, os problemas do mundo e venho colocá-los aos pés de Nossa Senhora de Fátima».
Papa Bento XVI, 12 de Maio de 2010

«Irmãs e irmãos muito amados, também eu vim como peregrino a Fátima, a esta “casa” que Maria escolheu para nos falar nos tempos modernos. Vim a Fátima para rejubilar com a presença de Maria e sua materna protecção. Vim a Fátima, porque hoje converge para aqui a Igreja peregrina, querida pelo seu Filho como instrumento de evangelização e sacramento de salvação.

Vim a Fátima para rezar, com Maria e tantos peregrinos, pela nossa humanidade acabrunhada por misérias e sofrimentos. Enfim, com os mesmos sentimentos dos Beatos Francisco e Jacinta e da Serva de Deus Lúcia, vim a Fátima para confiar a Nossa Senhora a confissão íntima de que “amo”, de que a Igreja, de que os sacerdotes “amam” Jesus e n’Ele desejam manter fixos os olhos ao terminar este Ano Sacerdotal, e para confiar à protecção materna de Maria os sacerdotes, os consagrados e consagradas, os missionários e todos os obreiros do bem que tornam acolhedora e benfazeja a Casa de Deus.

Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída. Na Sagrada Escritura, é frequente aparecer Deus à procura de justos para salvar a cidade humana e o mesmo faz aqui, em Fátima, quando Nossa Senhora pergunta: “Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele mesmo é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?” (Memórias da Irmã Lúcia, I, 162).

Então eram só três, cujo exemplo de vida irradiou e se multiplicou em grupos sem conta por toda a superfície da terra, nomeadamente à passagem da Virgem Peregrina, que se votaram à causa da solidariedade fraterna. Possam os sete anos que nos separam do centenário das Aparições apressar o anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria para glória da Santíssima Trindade».
Papa Bento XVI, 13 de Maio de 2010

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Quão Antigo é o Ensinamento da Igreja sobre Contracepção?

Muitos católicos pensam que a discussão sobre contracepção remonta à encíclica Humanae Vitae de Paulo VI, de 1968. Mas isso não é bem verdade, uma vez que as raízes desse ensinamento vêm bastante detrás. Em larga medida, Paulo VI estava meramente a reiterar, nas suas palavras, um ensinamento anterior. Alguns católicos poderão recordar-se (ou ter aprendido sobre) a encíclica Casti Connubii de Pio XI de 1930. Também esta é importante, mas não é a fonte original.

Então exactamente quão antiga é a oposição da Igreja à contracepção? 1920? 1900? 1880? Afinal de contas, a contracepção é um fenómeno relativmente recente, certo?

Acontece que não. Quem se der ao trabalho de dar uma vista de olhos nos detalhes, por vezes grotescos, do livro “Contraception: AHistory of its Treatment by the Catholic Theologians and Canonists”, escrito por John T. Noonan – algo que, a propósito, e por várias razões, não recomendo – verá que as pessoas andam a enfiar substâncias terríveis pelas mulheres a dentro para tentar evitar que tenham filhos há muito tempo. Há quanto, precisamente? De acordo com Noonan, “cinco papiros diferentes, todos de entre os anos 1900 e 1100 A.C. (Sim, antes de Cristo), incluem receitas para preparações contraceptivas a serem usadas…” – bem, digamos que, de formas que eu preferia não ter de descrever.

Tendo em conta os ingredientes – bosta pulverizada de crocodilo em mucilagem fermentada? Mel com carbonato de sódio? Estas mistelas dificilmente poderiam fazer bem às mulheres que eram obrigadas a tomá-las. Digo “obrigadas”, porque estamos a falar da época antes de os homens terem conseguido convencer as mulheres que a contracepção é uma expressão potente da sua autonomia e não o resultado evidente dos desejos sexuais vorazes daqueles.

Pode-nos parecer que estas misturas eram nojentas, mas seriam assim tão diferentes da prática moderna de encher a mulher de hormonas para convencer o seu corpo de que está gravida? E o estrogéneo todo que usam, de onde acham que vem? Se for ver à internet que é sintetizado, terá de perguntar, sintentizado a partir de quê? Como? Com que químicos? Como é que é “cultivado”? De que animais é extraído? Quando se começa a ver a questão com mais atenção, percebemos que a ideia de bosta pulverizada de crocodilo em mucilagem fermentada afinal não é uma coisa assim tão estranha. Mas fosse qual fosse o ingrediente, muitas civilizações antigas tinham métodos ou mezinhas que acreditavam poder prevenir uma mulher de engravidar depois de ter relações sexuais. Nós, claro, temos os nossos.

E como é que a Igreja primitiva via tudo isto? Enfrentada por uma cultura romana que na maior parte não tinha qualquer problema com contracepção e aborto, tanto quanto conseguimos perceber os cristãos primitivos opunham-se a ela. No importante texto do primeiro século, o “Didaqué”, ou “O ensinamento dos Doze Apóstolos”, o autor, cujo nome desconhecemos, distingue a Via da Vida da Via da Morte.

A Via da Morte, como podemos supor, estava recheada de pecados, um dos quais incluía fazer uso de pharmakeia que são “assassinos de crianças, corruptores da imagem de Deus”. Parece ser uma referência a drogas abortivas ou contraceptivas. O mesmo ensinamento surge na Epístola de Barnabé, do século primeiro. Encontramos ainda na Paedagogus, de Clemente de Alexandria, a admoestação moral: “Por causa da sua instituição divina para a propagação do homem, a semente não deve ser ejaculada em vão, nem deve ser danificada, nem deve ser desperdiçada”.

Para além destas condenações expressas, o que é mais revelador é a insistência repetida, entre todos os padres da Igreja, da inseperabilidade do acto sexual e do propósito procriativo. Trata-se de uma preocupação constante e de um tema repetido nas pregações e no ensinamento. “Nós cristãos”, escreveu o apologista Justino Mártir, “ou casamos para poder produzir filhos ou, se nos recusamos a casar, somos absolutamente continentes”. De igual forma, o bispo Atenágoras, do século II, afirmou numa carta escrita ao imperador no ano 177 que os cristãos não praticam o coito para satisfazer os desejos. Antes, “a procriação de filhos é a medida do desejo dos nossas apetites.”

Naturalmente, o que temos aqui é um mero resumo simplificado destes textos. Cada um deve ser lido no seu contexto original. Nem cheguei ao desenvolvimento mais sério destes ensinamentos noutros padres como Agostinnho, Aquino e muitos outros, ao longo dos séculos. Acredito que é seguro dizer-se que o ensinamento que vemos reflectido no Humanae Vitae e nos desenvolvimentos posteriores levados a cabo por João Paulo II – de que não se deve separar as dimensões procriativa e unitiva do acto conjugal – remonta ao início da Igreja e que tem sido constantemente reafirmada desde então.

Mas sabem como é… Agostinho, Aquino, os primeiros padres da Igreja e 2000 anos de pensamento moral sobre esta questão de um lado e 141 “académicos”, na maior parte da Europa, onde a Igreja está morta (uma das signatárias é uma baronesa de verdade) a apresentar um documento numa reunião da ONU do outro lado,

Ena, é difícil saber que posição, a favor ou contra, devemos tomar sobre esta questão. Talvez o melhor seja atirar uma moeda ao ar.

Randall Smith in 'Catholic Thing' (Traduzido no blog 'Actualidade Religiosa')

40 anos do atentado contra o Papa João Paulo II

No dia 13 de Maio de 1981, na Praça de São Pedro, Mehmet Ali Ağca disparou dois tiros que atingiram o Papa João Paulo II. O Papa tombou de imediato e não morreu por milagre. Um ano depois, no dia 13 de Maio de 1982, foi a Fátima agradecer a Nossa Senhora ter-lhe salvado a vida.

quarta-feira, 12 de maio de 2021

O significado extraordinário da mensagem profética de Fátima

A inefável sabedoria e misericórdia da Divina Providência dá a cada época da história humana e da história da Igreja aqueles meios de ajuda mais necessários para curar as feridas espirituais e salvar os homens dos grandes desastres espirituais e materiais. Deus intervém normalmente nos momentos mais críticos da história humana e sagrada através dessas profecias autênticas, que são examinadas e aceitas pela Igreja. Tais intervenções divinas ocorreram no decurso da história da Igreja e ocorrerão até o fim dos tempos.

O Magistério da Igreja diz no Catecismo da Igreja Católica: “A economia cristã, como nova e definitiva aliança, jamais passará, e já não se há-de esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo. No entanto, apesar de a Revelação já estar completa, ainda não está plenamente explicitada. E está reservado à fé cristã apreender gradualmente todo o seu alcance, no decorrer dos séculos. No decurso dos séculos tem havido revelações ditas ‘privadas’, algumas das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja. Todavia, não pertencem ao depósito da fé. O seu papel não é ‘aperfeiçoar’ ou ‘completar’ a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o sentir dos fiéis sabe discernir e guardar o que nestas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos seus santos à Igreja” (n° 66-67).

As aparições ocorridas em Fátima no ano de 1917 podem ser consideradas como um dos exemplos mais proeminentes dos dons e carismas proféticos na história da Igreja. Deus enviou Sua Mãe Imaculada em Fátima em 1917, e a santa Mãe de Deus fez ressoar seus urgentes apelos maternos tendo em vista os graves perigos espirituais nos quais se encontrava toda a família humana no início do século XX. Os avisos da Santa Virgem se revelaram verdadeiramente proféticos à vista do estado inaudito de incredulidade, ateísmo e revolta direta contra Deus e Seus mandamentos até nossos dias. Durante o século XX, a vida privada e pública se caracterizaram por uma vida sem Deus e contra Deus, especialmente através das ditaduras ateístas da Maçonaria (por exemplo, aquela do México nos anos vinte), do nacional-socialismo de Hitler na Alemanha, do comunismo soviético (em países da antiga União Soviética) e do comunismo maoísta na China.

Neste início do século XXI está sendo travada, em nível quase global, a guerra contra Deus e Cristo, e contra os mandamentos divinos, particularmente por meio do ataque blasfemo à criação divina do ser humano como masculino e feminino, utilizando-se para isso o ataque da ditadura da ideologia de gênero e da legitimação pública de toda espécie de degradação sexual.

No século XX a Rússia era comunista e o instrumento mais poderoso e de longo alcance na difusão do ateísmo da guerra contra Cristo e Sua Igreja. Este ataque era explícito e frontal. Por meio da Revolução Bolchevique de outubro de 1917, satanás começou a usar o maior país do mundo e a maior nação cristã oriental para lutar abertamente contra Cristo e Sua Igreja. Em 13 de julho de 1917, quando a Virgem Maria falou sobre o perigo iminente que constituiria a Rússia na divulgação de seus erros pelo mundo, ninguém podia imaginar o cenário realmente apocalíptico da perseguição da Igreja e da propaganda do ateísmo que a Rússia começaria alguns meses mais tarde, até o final de outubro de 1917. Com isso, as aparições em Fátima demonstraram seu caráter extraordinariamente profético.

Como principal remédio contra o ateísmo teórico e prático no qual a humanidade entrou na atual época histórica, a Santíssima Virgem Maria indicou a recitação do Santo Rosário, o culto e a devoção ao seu Imaculado Coração com a prática dos cinco primeiros sábados, e a consagração da Rússia ao seu Coração Imaculado, consagração que deveria ser feita pelo Papa em união com todo o episcopado.

O desprezo pelos mandamentos de Deus significa impiedade e a impiedade leva muitas almas à condenação eterna. Em sua mensagem de Fátima a Mãe de Deus indicou os pecados contra a castidade e o desprezo pela santidade do casamento como as causas mais frequentes da condenação eterna das almas. A Virgem Maria disse à Beata Jacinta que “os pecados que levam mais almas para o inferno são os pecados da carne e que serão introduzidas certas modas que ofenderão muito a Nosso Senhor. Aqueles que servem a Deus não deveriam seguir essas modas. A Igreja não tem modas: Nosso Senhor é sempre o mesmo”. Além disso, Nossa Senhora disse que “muitos casamentos não são bons; eles não lhe agradam e não são de Deus”. São João Maria Vianney, o Cura d'Ars, falava de forma análoga em seus sermões: “Qão pouco a pureza é conhecida no mundo; quão poucos a apreciam; quão poucos se esforçam para preservá-la; quão pouco zelo temos em pedi-la a Deus, pois não podemos tê-la por nós mesmos. A pureza não é conhecida daqueles notórios e endurecidos libertinos que se abandonam às suas depravações. Em que estado estará uma alma assim, quando aparecer diante de Deus! Pureza! Ó Deus, quantas almas esse pecado arrasta para o inferno!”.

O caráter profético das palavras de Nossa Senhora tornou-se tão evidente em nossos dias, que até na vida de algumas igrejas católicas particulares os pecados da carne e as uniões adúlteras são na prática aprovados através do ministério chamado “pastoral” da admissão à Sagrada Comunhão das pessoas divorciadas que intencionalmente continuam a ter relações sexuais com alguém que não é seu cônjuge legítimo. Tal pseudo-pastoral será responsável pela condenação eterna de muitas almas, porque tal prática incentiva os homens a continuarem a pecar, ofendendo a Deus e desprezando os Seus mandamentos. A Bem-aventurada Virgem Maria disse à Beata Jacinta: “Se os homens soubessem o que é a eternidade, fariam qualquer coisa para mudar suas vidas. Os homens se perdem porque não pensam na morte de Jesus e não fazem penitência”.

A Mãe de Deus veio a Fátima sobretudo para fazer um apelo urgente e materno, a fim de salvar as almas da condenação eterna. Ela mostrou, portanto, às crianças a realidade indizivelmente horrível do inferno. Ao mesmo tempo, apontou o caminho da penitência como o único meio de evitar o inferno. Esta via da penitência tem uma dupla dimensão: atos de penitência como meio para doravante cessar de pecar, e como atos de reparação pelos próprios pecados e atos de penitência vicária em reparação pelos pecadores com vista à sua conversão. Na terceira parte do segredo de Fátima Deus nos dá a seguinte imagem chocante, com o convite de fazer penitência: “Vimos no lado esquerdo de Nossa Senhora, um pouco acima, um anjo com uma espada de fogo na mão esquerda; cintilando, despedia chamas que pareciam incendiar o mundo; mas se apagavam [spegnevano] em contato com o esplendor que Nossa Senhora irradiava de sua mão direita para ele: o Anjo, apontando para a terra com a mão direita, disse em alta voz: ‘Penitência, Penitência, Penitência!’.

A Igreja deve em nossos dias proclamar novamente com vigor a verdade divina sobre a realidade da condenação eterna e do inferno, para salvar as almas imortais que poderiam do contrário perder-se por toda a eternidade. A existência de um inferno eterno é uma verdade de fé definida pela Igreja nos concílios, nos símbolos da fé e nos documentos do Magistério. Nossa Senhora de Fátima considerou essa verdade de tal modo importante e pastoralmente eficaz, que mostrou às pequenas crianças o inferno. Irmã Lúcia disse: “Esta visão durou apenas um instante, graças à nossa boa Mãe do Céu, que em sua primeira aparição tinha prometido nos levar para o Céu. Sem essa promessa, acho que teríamos morrido de terror e medo.” Nossa Senhora disse então às crianças: “Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Coração Imaculado.”

A Irmã Lúcia continua a narrar em seguida: “Jacinta continuava sentada na pedra, pensativa, e perguntou: – Essa senhora também disse que vão muitas almas para o lnferno! O lnferno nunca termina. E nem o Céu. Quem vai para o Céu não sai mais de lá. E tampouco aqueles que vão para o lnferno. Não vê que são eternos, que nunca terminam? Façamos, então, pela primeira vez, a meditação sobre o Inferno e a Eternidade. O que mais impressionou Jacinta foi a Eternidade” (Irmã Lúcia, Memórias, 45-46). Jacinta, pouco antes de morrer, disse: “Se os homens soubessem o que a eternidade, eles fariam todo o possível para mudar suas vidas. Mortificação e sacrifícios agradam muito ao nosso Divino Senhor.”

O exemplo da Beata Jacinta, mostrado na seguinte citação, deveria nos mover profundamente, e em primeiro lugar a todos os sacerdotes e fiéis, empurrando-nos para as palavras e ações concretas: “A visão do inferno lhes havia causado tanto horror, que todas as penitências e mortificações lhes pareciam nada, para conseguirem libertar algumas almas de lá.” Jacinta com frequência se sentava no chão ou em alguma rocha, e pensativa começava a dizer: “O inferno! O inferno! Como me causam dor as almas que vão para o inferno!” Voltando-se para mim e o Francisco, dizia: “Francisco! Francisco! Não estais a rezar comigo? Precisamos rezar muito para salvar as almas do inferno. Tantos vão para lá, tantos.” Outras vezes, perguntava: “Mas por que Nossa Senhora não faz ver o inferno aos pecadores? Se eles o vissem, não pecariam mais para não se condenarem. Por pouco que aquela Senhora fizesse ver o inferno a todas aquelas pessoas (referindo-se aos que estavam na Cova da Iria no momento da aparição), veríeis como se converteriam”. 

Às vezes perguntava simplesmente: – Mas que pecados serão aqueles que fazem essas pessoas irem para o inferno? – Não sei. Talvez o pecado de não ir à missa no domingo, de roubar, de falar palavrões, de desejar o mal, de jurar... Como tenho dó dos pecadores Se eu pudesse mostrar-lhes o inferno! De repente às vezes agarrava-se a mim e dizia: – Eu vou para o céu, mas tu ficas aqui. Se Nossa Senhora permitir, dize a todos como é o inferno, para que não cometam mais pecados e não vão para lá. Outras vezes, após estar um pouco pensativa, dizia: – Tanta gente que vai para o inferno! Tanta gente no inferno! – Não tenhas medo, tu vais para o céu! – dizia-lhe para tranquilizá-la. – Eu, sim, vou – dizia com calma –, mas desejo que toda aquela gente também vá.”

Um significado particularmente importante da mensagem de Fátima consiste em lembrar a Igreja e os homens do nosso tempo a realidade do pecado e suas catastróficas e destrutivas consequências. Por que possui o pecado intrinsecamente tal gravidade e tragédia? Porque o pecado ofende a Deus, ofende Sua infinita majestade, Sua infinitamente santa e sábia vontade. Esta é precisamente a causa da malícia inconcebível do pecado. Nossa Senhora dizia às crianças em Fátima: “Os homens devem se arrepender de seus pecados, emendar suas vidas e pedir perdão por seus pecados. Eles não devem ofender a Deus, que já está muito ofendido.” A Irmã Lúcia escreveu: “A parte da última aparição que atingiu o meu coração é o pedido da nossa Mãe celeste para pararmos de ofender a Deus, que já está muito ofendido.” Nossa Senhora disse à Irmã Lúcia: “O bom Deus se deixa aplacar, mas queixa-se amarga e dolorosamente do número em extremo limitado de almas em estado de graça, dispostas a renunciar a tudo que a observância de sua lei exige delas.” 

É conhecida uma afirmação do Papa Pio XII, dizendo: “O maior pecado no mundo de hoje consiste certamente no fato de que os homens começaram a perder o sentido do pecado” (Radiomensagem aos participantes do Congresso Nacional Catequético dos Estados Unidos, Boston, 26 de outubro de 1946). Um dos principais apelos da mensagem de Fátima e do exemplo comovente do Beato Francisco e da Beata Jacinta pode ser expresso na seguinte pergunta: “Estou realmente pronto para aparecer perante o tribunal de Deus? Estou em estado de pecado?”.

Sendo o pecado – e, em primeiro lugar, o pecado mortal – o maior desastre espiritual, uma das principais tarefas pastorais da Igreja consiste em admoestar os homens sobre o perigo do pecado, em pregar sobre a sua real gravidade, em conduzir a uma penitência autêntica pela graça de Deus, em salvar os pecadores da morte eterna através das orações de intercessão e atos de reparação vicária.

Os ministros da Igreja nunca deveriam minimizar o pecado, nem jamais falar de modo ambíguo sobre ele; nunca deveriam, explícita ou implicitamente, confirmar um pecador em seu estilo de vida pecaminoso, como por exemplo no caso dos divorciados ditos “recasados”. Tal atitude seria extremamente anti-pastoral e comparável a uma mãe que, vendo seu filho correndo em direção a um precipício, lhe falasse de modo ambíguo. Na verdade, tal atitude não seria de uma mãe, mas de uma madrasta. Portanto, esses clérigos que, mais frequentemente em nosso tempo, confirmam os divorciados ditos “recasados” para continuarem a praticar o adultério, se comportam como madrastas.

A chamada nova pastoral da misericórdia para com os divorciados “recasados”, propagada especialmente pelo cardeal Kasper e por seus aliados clericais, e até mesmo por conferências episcopais inteiras, é em última análise cruel, um método madrasta em relação aos pecadores. A atitude comovente do Beato Francisco e da Beata Jacinta face ao pecado e aos pecadores enche de vergonha tal método anti-pastoral, o qual está se propagando em nossos dias sob a máscara de misericórdia.

A realidade do pecado exige necessariamente penitência e reparação. Também isso pertence às partes centrais da mensagem dada pela Mãe de Deus em Fátima para o nosso tempo. Já em 1916, o Anjo falava às crianças no mesmo espírito no qual Nossa Senhora falará em 1917. Ele lhes dizia: “Oferecei incessantemente orações e sacrifícios ao Altíssimo. Em tudo aquilo que vos for possível, oferecei a Deus um sacrifício de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e em ato de súplica pela conversão dos pecadores. Acima de tudo, aceitai e suportai com submissão os sofrimentos que o Senhor vos enviará.” No dia 13 de julho de 1917, Nossa Senhora disse: “Continuai a vir aqui. Em outubro direi quem eu, o que quero e farei um milagre para que todos possam ver para crer Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes, especialmente fazendo algum sacrifício: Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria”.

Devemos deixar-nos comover e inspirar no exemplo dos pastorinhos de Fátima, para crescermos no espírito de expiação e reparação pelos pecados. Eles sofriam sede, pois não havia uma gota de água perto do local. Em vez de reclamar, Jacinta, de sete anos, parecia estar feliz. “Como é bom” – dizia ela. “Tenho sede, mas ofereço tudo para a conversão dos pecadores.” Lúcia, a mais velha das três crianças, sentia-se responsável por cuidar de seus primos, e assim ela foi a uma casa próxima para pedir um pouco de água. A Irmã Lúcia conta: “Dei a jarra de água ao Francisco, e lhe disse que bebesse.” “Eu não quero beber”, respondeu o menino de nove anos, “Quero sofrer pelos pecadores.” – “Bebe-o, Jacinta”. – “Quero oferecer um sacrifício pelos pecadores.” 

Derramei, então, a água na concavidade de uma rocha, para fazê-la beber às ovelhas, e fui para devolver o jarro à senhora. O calor tornou-se mais intenso. As cigarras e os grilos uniam seu canto ao das rãs do pântano vizinho e faziam um barulho insuportável. Jacinta, debilitada pela fraqueza e pela sede, me disse, com aquela simplicidade que lhe era natural: – Diga aos grilos e às rãs que se calem! Fazem-me tão mal à cabeça! Então, Francisco perguntou: – Não queres sofrer isso pelos pecadores? A pobre criança, segurando a cabeça entre as mãos, respondeu: – Sim, quero, deixa-os cantar”.

Comentando o exemplo de Francisco e Jacinta, a Irmã Lúcia dizia: “Muitas pessoas, pensando que a palavra penitência implica severas austeridades, e sentindo que não têm força para grandes sacrifícios, desanimam e continuam uma vida de tibieza e de pecado.” A Irmã Lúcia diz que Nosso Senhor lhe explicou: “O sacrifício exigido de cada pessoa consiste no cumprimento das próprias obrigações de vida e na observância da Minha Lei. Esta é a penitência que Eu hoje busco e peço.”

As aparições e as mensagens de Nossa Senhora de Fátima não podem ser adequadamente compreendidas sem considerar as aparições do Anjo às três crianças em 1916. Ambas aparições prepararam a mensagem central de Nossa Senhora em Fátima: “Em tudo que vos for possível, oferecei a Deus um sacrifício em reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão pecadores.” Mas o significado mais importante das aparições é a sua mensagem referente ao mistério eucarístico do Corpo e do Sangue de Cristo. Já em 1916, o anjo falava que Cristo é “horrivelmente ultrajado” nesse mistério. 

Quase ninguém na Igreja naquele tempo podia imaginar os horríveis ultrajes a Cristo no sacramento da Eucaristia que seriam perpetrados, em um nível espantoso e amplamente generalizado, até mesmo no meio da vida da Igreja, como é o caso de nossos dias, principalmente devido à prática de dar sagrada Comunhão na mão e, ao mesmo tempo, a admissão indiscriminada de pecadores impenitentes, e até de acatólicos, à sagrada Comunhão. Nunca na história o sacramento eucarístico foi objeto de tão horríveis sacrilégios da parte do clero e dos fiéis como em nossos dias. Mais uma vez, as aparições em Fátima revelam de modo impressionante seu caráter altamente profético.

A Igreja em nossos dias pode aprender, com a missão profética das aparições de Fátima, a conexão intrínseca e inseparável existente entre a veneração da Sagrada Eucaristia e a devoção à Santíssima Virgem Maria, especificamente ao seu Coração Imaculado. A propagação da devoção ao Imaculado Coração é simultânea e conexa a uma verdadeira renovação do culto de adoração eucarística. Concretamente falando, deve estar relacionada com a restauração do culto também externo da sacralidade e reverência na celebração da Missa, especialmente no tocante ao rito e à disciplina de recepção da sagrada Comunhão. Só quando o reino de Cristo – o Rei eucarístico – voltar a ser restaurado em todo o seu esplendor em todo o mundo católico, é que virá o reino e o triunfo do Coração Imaculado de Maria. O reinado do Coração Imaculado é intrinsecamente eucarístico e pré-requisito para uma verdadeira paz no mundo.

Um dos maiores devotos de Nossa Senhora de Fátima e um dos mais zelosos promotores de seu cutlo foi o piedoso e corajoso leigo brasileiro Dr. Plinio Corrêa de Oliveira. Já em 1944, ele apresentou de modo profundo e perspicaz atualidade as aparições de Fátima, uma apresentação totalmente aplicável à atual situação histórica:

“Reuniram-se os técnicos – que são hoje os reis da terra, juntamente com os banqueiros – ‘et convenerunt in unum adversus Dominus’. Construíram uma paz sem Cristo, uma paz contra Cristo. O mundo se afundou ainda mais no pecado, a despeito da mensagem de Nossa Senhora. Em Fátima, os milagres se multiplicavam às dezenas, às centenas, aos milhares. Ali estavam eles, acessíveis a todos, podendo ser examinados por todos os médicos de qualquer raça e religião. As conversões já não tinham número. E tudo isto não obstante, ninguém dava ouvidos a Fátima. Uns duvidavam sem querer estudar. Outros negavam sem examinar. Outros criam mas não tinham coragem de o dizer. A voz da Senhora não se ouviu. Passaram-se mais de vinte anos. 

Um belo dia, sinais estranhos se viram no céu... era uma aurora boreal, noticiada por todas as agências telegráficas da terra. Do fundo de seu convento, Lúcia escreveu a seu Bispo: era o sinal, e dentro em breve a guerra viria. A guerra veio dentro em breve. Ela está aí, e hoje se cuida novamente de ‘reorganizar o mundo’, aos últimos clarões desta luta potencialmente já vencida. ‘Si vocem ejus hodie audieritis, nolite obdurare corda vestra’ – se hoje ouvirdes Sua voz, não endureçais vossos corações, diz a Escritura. Inscrevendo a festa de Nossa Senhora de Fátima no rol das celebrações litúrgicas, a Santa Igreja proclama a perenidade da mensagem de Nossa Senhora dada ao mundo através dos pequenos pastores. No dia de sua festa, mais uma vez a voz de Fátima chegou a nós: não endureçamos nossos corações, porque só assim teremos achado o caminho da paz verdadeira.” (Legionario, São Paulo, 14 de maio de 1944).

A Irmã Lúcia considerou a nossa época como sendo próxima dos últimos tempos, e isso pelas três seguintes razões, que ela explicou ao padre Augustin Fuentes durante uma entrevista em 26 de dezembro de 1957. Vale a pena citá-la:

“A primeira razão é que Ela me disse que o demônio está prestes a travar uma batalha decisiva contra a Virgem. E essa batalha decisiva é o confronto final, do qual um lado sairá vitorioso e o outro derrotado. Devemos escolher a partir de agora que lado tomar, seja com Deus ou com o demônio. Não há outra possibilidade. A segunda razão é que Ela disse a mim e a meus primos, que o Senhor tinha decidido dar ao mundo os dois últimos remédios contra o mal, que são o Santo Rosário e devoção ao Imaculado Coração de Maria. Esses são os dois últimos remédios possíveis, o que significa que não haverá outros. A terceira razão é que, nos planos da Divina Providência, quando Deus é impelido a punir o mundo, antes de o fazer tenta corrigi-lo com todos os outros remédios possíveis. Agora, quando vê que o mundo não presta atenção à sua mensagem, então, como dizemos em nossa linguagem imperfeita, Ele nos oferece ‘com certo temor' a última chance de salvação, a intervenção de Sua Mãe Santíssima. Ele o faz ‘com certo temor' porque, se imclusive esse último recurso não tiver sucesso, não poderemos mais esperar nenhum tipo de perdão do Céu, porque estaremos manchados por aquilo que o Evangelho chama de pecado contra o Espírito Santo. 

Este pecado consiste na aberta rejeição, plenamente consciente e voluntária, da salvação que nos é oferecida. Não nos esqueçamos que Jesus Cristo é um filho muito bom e não nos permitirá ofender e desprezar Sua Mãe Santíssima. A história secular da Igreja conserva o testemunho dos terríveis castigos infligidos a quantos ousaram atacar a honra de Sua Mãe Santíssima, demonstrando como Nosso Senhor Jesus Cristo sempre defendeu a honra de Sua Mãe. Os dois instrumentos que nos foram dados para salvar o mundo são a oração e o sacrifício. Vede, Padre, a Virgem Santíssima quis dar, nesses últimos tempos em que vivemos, uma nova eficácia à recitação do Santo Rosário. Ela tem de tal modo reforçado a sua eficácia, que não há problema, por mais difícil que seja, de natureza material e especialmente espiritual, na vida privada de cada um de nós ou de nossas famílias, das famílias de todo o mundo, das comunidades religiosas ou mesmo na vida dos povos e das nações, que não possa ser resolvido pela oração do Santo Rosário. 

Não há problema, eu vos digo, por mais difícil que seja, que não possa ser resolvido pela recitação do Santo Rosário. Com o Santo Rosário, salvar-nos-emos, nos santificaremos, consolaremos Nosso Senhor e obteremos a salvação de muitas almas. Finalmente, a devoção ao Imaculado Coração de Maria, nossa Mãe Santíssima, consiste em consideraá-La como sede da misericórdia, da bondade e do perdão, e como o caminho seguro através do qual entraremos no Paraíso.”

Possa a Igreja em nossos dias ouvir o que o Espírito lhe diz (cf. Apoc. 2, 11) por meio de palavras do Anjo de Fatima, através do heróico exemplo de vida do Beato Francisco e da Beata Jacinta e, em primeiro lugar, por meio das palavras de Nossa Senhora, a Mãe de Deus, nossa Mãe e Mãe espiritual de toda a humanidade. A atualidade de Fátima consiste em preparar a Igreja do nosso tempo para uma impávida confissão da Fé católica e até mesmo o martírio, como podemos perceber na terceira parte do segredo de Fátima. No entanto, Fátima permanece um verdadeiro sinal profético de esperança, porque Nossa Senhora prometeu um tempo de paz e o triunfo do Seu Coração Imaculado.

O significado profético da mensagem de Fátima no seu conjunto inclui as aparições do Anjo, as palavras e o heroico exemplo de vida dos três pastorinhos e principalmente as exortações maternas da própria Bem-aventurada Virgem Maria. Na oração com a qual o Papa João Paulo II consagrou em 24 de março de 1984 o mundo ao Imaculado Coração de Maria, ele deixou para a Igreja e a humanidade do nosso tempo a seguinte súplica ardente, na qual resumiu as questões mais importantes do significado profético da mensagem de Fátima:

“Oh, Imaculado coração! Ajudai-nos a vencer a ameaça do mal, que tão facilmente se enraíza no coração destes homens de hoje e cujos efeitos incomensuráveis já pesam sobre o mundo contemporâneo! Dos pecados contra a vida humana desde o seu início, livrai-nos! Do ódio e do aviltameento da dignidade de filhos de Deus, livrai-nos! Da prontidão em pisar os mandamentos de Deus, livrai-nos! Dos pecados contra o Espírito Santo, livrai-nos! livrai-nos! Que se revele, mais uma vez, na história do mundo, o poder infinito do Amor misericordioso! Que ele termine o mal! Transforme as consciências! No Teu Coração Imaculado revele para todos a luz da esperança!”

+ Athanasius Schneider, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Maria Santissima em Astana