quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Como é que os Padres devem andar vestidos - Pe. Fernando António SJ

Começo por mim…no meu caso, que sou sacerdote da Companhia de Jesus, basta seguir o que S.Inácio determinou na Fórmula do Instituto:

«No que se refere […] ao vestuário […] sigam o uso comum e aprovado dos sacerdotes honestos». 
(Santo Inácio de Loyola, Fórmula do Instituto)

Embora a batina tradicionalmente usada pelos jesuítas seja ligeiramente diferente da batina hoje em uso pelo clero secular, a origem, significado e função é a mesma. Sublinho que S.Inácio fala do uso comum e aprovado.

Ora, para saber qual é o uso comum e aprovado vai-se ao Direito Canónico, a outros documentos da Santa Sé, e aos documentos promulgados e pelas Conferências Episcopais. É muito claro. Basta ler e obedecer com alegria e muito proveito para o povo de Deus e para o próprio sacerdote.

Código de Direito Canónico  
(Decreto da Conferência Episcopal Portuguesa de 18 de Dezembro de 1984)

Cân. 284 – Os clérigos usem trajo eclesiástico conveniente, segundo as normas estabelecidas pela Conferência episcopal, e segundo os legítimos costumes dos lugares.
Conferência Episcopal Portuguesa

Em conformidade com o cân.284, a Conferência Episcopal Portuguesa determina:
1. Usem os sacerdotes um trajo digno e simples de acordo com a sua missão.
2. Esse trajo deve identifica-los sempre como sacerdotes, permanecendo disponíveis para o serviço do povo de Deus.
3. Esta identificação far-se-á, normalmente, pelo uso:
a) da batina;
b) ou do fato preto ou de cor discreta com cabeção.

Congregação para o clero, Directório para o ministério e a vida dos presbíteros
(Sua Santidade o Papa João Paulo II, dia 31 de Janeiro de 1994 aprovou o presente Directório e autorizou a sua publicação)

66. Obrigação do hábito eclesiástico
 
Numa sociedade secularizada e de tendência materialista, onde também os sinais externos das realidades sagradas e sobrenaturais tendem a desaparecer, sente-se particularmente a necessidade de que o presbítero — homem de Deus, dispensador dos seus mistérios — seja reconhecível pela comunidade, também pelo hábito que traz, como sinal inequívoco da sua dedicação e da sua identidade de detentor dum ministério público. O presbítero deve ser reconhecido antes de tudo pelo seu comportamento, mas também pelo vestir de maneira a ser imediatamente perceptível por cada fiel, melhor ainda por cada homem, a sua identidade e pertença a Deus e à Igreja.

Por este motivo, o clérigo deve trazer um hábito eclesiástico decoroso, segundo as normas emanadas pela Conferência Episcopal e segundo os legítimos costumes locais. Isto significa que tal hábito, quando não è o talar, deve ser diverso da maneira de vestir dos leigos e conforme à dignidade e à sacralidade do ministério. O feitio e a cor devem ser estabelecidos pela Conferência dos Bispos, sempre de harmonia com as disposições do direito universal.

Pela sua incoerência com o espírito de tal disciplina, as praxes contrárias não se podem considerar legítimas e devem ser removidas pela autoridade eclesiástica competente.
Salvas excepções completamente excepcionais, o não uso do hábito eclesiástico por parte do clérigo pode manifestar uma consciência débil da sua identidade de pastor inteiramente dedicado ao serviço da Igreja.
(Fim de citação)

O não uso da batina ou do cabeção é claramente um acto público de desobediência. Por isso, no melhor uso da caridade cristã, e no exercício das obras de misericórdia (corrigir os ignorantes), no caso dos padres desobedientes, os fiéis têm o direito e dever de exigir que os seus padres andem vestidos e identificados como a Igreja determina. Não existem padres camuflados ou por conta própria: os padres entregaram toda a sua vida e todo o seu tempo ao serviço da Igreja. 

Para além disso, pode ser a possibilidade para um primeiro encontro… para uma primeira conversa com quem nem sequer é cristão. 

Eu tenho já imensas experiências que comprovam o valor de andar identificado segundo as normas da Igreja: conversas inesperadas, aproximação à Igreja de quem andava afastado, confissões nos lugares mais improváveis, e até já tive quem me tivesse confessado ter iniciado um caminho de discernimento vocacional para o sacerdócio, simplesmente por me ter encontrado na rua vestido segundo as normas da Igreja, e de, por isso, ter tido a oportunidade de falar com um padre, o que nunca aconteceria se eu não andasse identificado…

Existem mil razões para que os fiéis exijam que os seus sacerdotes andem identificados, mas bastaria uma: a obediência. Isto é fundamental, é a chave. Não nos esqueçamos que o que move à desobediência é a soberba ou orgulho, a via larga que é na verdade a autoestrada do inferno.

Basta seguir as normas da Igreja com amor e fidelidade, para o bem do povo de Deus.
A obediência não é um peso que temos que carregar, é o dom mais precioso que Deus nos dá para acertarmos o caminho…http://www.santidade.net/folhetos/Habito_eclesiastico.pdf

Ataques de orgulho - S. Pio de Pietrelcina

A humildade é a verdade, e a verdade é que eu sou somente nada. Portanto, tudo o que é bom em mim vem de Deus. Ora, acontece muitas vezes que desperdiçamos o que Deus pôs de bom em nós. Quando as pessoas me perguntam qualquer coisa, acontece-me não pensar no que posso dar-lhes, mas no que não sou capaz de dar, e consequentemente, tantas almas permanecem na sua sede, porque eu não tenho sabido transmitir o dom de Deus.

A ideia de que, em cada dia, o Senhor vem a nós e nos dá tudo deveria tornar-nos humildes. Ora, é o oposto que acontece, porque o demónio faz brotar dentro de nós ataques de orgulho. Isso em nada nos honra. Temos de lutar contra o nosso orgulho. Quando não pudermos mais, paremos um instante e façamos um acto de humildade; então Deus, que ama os corações humildes, virá ao nosso encontro.

O que é a verdade? - Rui Corrêa d'Oliveira

«O que é a verdade?»
Foi esta a reacção de Pilatos no curto diálogo que manteve com Jesus
em resposta à Sua surpreendente afirmação de que
«Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz».

Por estranho que pareça, 
a pergunta de Pilatos é a mesma que eu faço todos os dias.
Sei bem que a resposta total tem um só nome: Cristo!

Mas a questão permanece no quotidiano da minha vida:
bem no concreto de cada instante,
em cada desafio, em cada decisão, em cada juízo.
O que é a verdade? Em que é que consiste?
Como é que eu a descubro no correr dos meus dias?

A vida não é feita a preto e branco, mas cheia de matizes
e de mentiras disfarçadas de verdade.
Posso sempre encontrar perspectivas e argumentos contraditórios
sobre a mesma realidade.

Mas Deus não me deixou só neste dilema.
Deu-me critérios na Palavra ensinada,
deu-me Pastores a quem seguir,
e deu-me a Igreja como morada,
onde a verdade brilha para todos os que a procuram de coração sincero.

Pilatos tinha a verdade diante de si e não A reconheceu?
E eu…?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Um belíssimo texto de Teófilo de Antioquia

Deus é visível para aqueles que são capazes de O ver, porque têm abertos os olhos da alma. Todos têm olhos; mas alguns têm-nos velados e não vêem a luz do sol. Se os cegos não vêem, nem por isso se conclui que não brilha a luz do sol; a si mesmos e a seus olhos devem atribuir a falta de visão. É o que se passa contigo: tens os olhos da alma velados pelos teus pecados e acções perversas. 

A alma do homem deve ser pura como um espelho resplandecente. Quando um espelho está baço, não pode o homem contemplar nele o seu rosto; do mesmo modo, quando há pecado no homem, não lhe é possível ver a Deus. Mas se quiseres, podes curar-te: entregar-te nas mãos do médico, e ele tratará os olhos da tua alma e do teu coração. Quem é este médico? É Deus, que pelo seu Verbo e Sabedoria dá vida e saúde a todas as coisas.

Se compreenderes tudo isto, ó homem, se a tua vida for santa, pura e piedosa, poderás ver a Deus; se deres preferência no teu coração à fé e ao temor de Deus, então compreenderás.

O Ateísmo é uma escolha racional?

A pergunta que colocamos aqui deve ser bem entendida: não perguntamos se os ateus são racionais, coisa que seria absurda; nem mesmo perguntamos se os ateus são inferiores aos teístas, ou se a crença em Deus “não necessariamente torna uma pessoa melhor”, como apareceu numa recente pesquisa no Brasil. O que questionamos agora é se o ateísmo, enquanto sistema de pensamento seja coerente. Mais precisamente, perguntamos se é sensato afirmar a não existência de Deus e o relativismo. Poderá ser verdade que não exista nenhuma verdade e, ao mesmo tempo, ser verdade que Deus não exista?

Talvez haja quem pense que a questão aqui proposta seja absurda. E pode vir à mente do leitor a recordação do jovem Ivan, personagem de Irmãos Karamázov, que defendia que se Deus e as religiões não existissem, tudo passaria a estar permitido. Aquela personagem manifestava assim o desejo de uma liberação: ao livrar-se da crença em Deus, o homem ficaria livre de todo dogmatismo, tanto teórico, quanto moral. A negação de Deus traria o fim da “lei natural” e do dever de amar o mundo e ao próximo. 

A mesma libertação quis experimentar F. Nietzsche ao declarar a morte de Deus, ou melhor, ao dizer que os homens o haviam assassinado. De modo que para eles a negação ou “morte” de Deus não estaria fundamentada no relativismo, mas seria a origem do relativismo. A afirmação da não existência de Deus seria uma escolha, algo indiscutível e impossível de ser demonstrado a partir de verdades anteriores. E aceitá-lo seria assumir a crença num novo dogma que faria desmoronar todos os demais dogmas. O ateísmo fundaria assim o relativismo na moral e no conhecimento humano. 

Embora isto seja claro, é comum pensar que o relativismo funda o ateísmo; que as pessoas que não aceitam Deus, fazem-no porque não querem aceitar a existência da verdade, à qual deveriam submeter-se. Isso é um absurdo. O ateísmo parte de uma afirmação que tem valor de verdade absoluta: Deus não existe. Se essa afirmação não fosse tomada pelos ateus como verdade, eles simplesmente deixariam de ser ateus. O relativismo para eles se dá somente nas “verdades” inferiores e todos deveriam submeter-se ao imperativo único da nova moral: é proibido estabelecer regras morais. 

O interessante é que F. Nietzsche e outros conhecidos filósofos ateus reconheceram que afirmar o relativismo cognoscitivo e o ateísmo é em si mesmo contraditório. O motivo seria que o relativismo implica a afirmação da não existência de verdades absolutas; mas isso baseia-se, por sua vez, numa verdade absoluta: a não existência de Deus. Sendo assim, a afirmação da não existência de Deus implica a afirmação da sua existência. 

Outros pensadores ateus que perceberam bem as contradições do ateísmo contemporâneo foram M. Horkheimer e Th. Adorno. De facto, diziam numa obra conjunta, A Dialética do Iluminismo, citando a Nietzsche: «Percebemos “que também os não conhecedores de hoje, nós, ateus e antimetafísicos, alimentamos ainda o nosso fogo no incêndio de uma fé antiga dois milênios, aquela fé cristã que era já a fé de Platão: ser Deus a verdade e a verdade divina”. Sendo assim, a ciência cai na crítica feita à metafísica. A negação de Deus implica em si uma contradição insuperável, enquanto nega o saber mesmo». 

Esses autores, ateus e relativistas, que se reconhecem como “não conhecedores e antimetafísicos” alimentam a verdade de sua fé ateia naquela cristã, já presente em Platão: a fé na existência da verdade divina. De modo que só pode afirmar a não existência de Deus, quem aceita que há uma verdade absoluta, divina. Em outras palavras, só pode negar a Deus quem previamente o afirma. Por isso, o ateísmo, ao negar a Deus e a verdade das coisas (que é sempre relativa ao sujeito que a conhece e é progressiva), reinvindica para si mesmo o caráter absoluto, próprio do mesmo Deus, estabelecendo assim um novo dogmatismo. Portanto, o ateísmo não existe; nada mais é do que uma espécie de idolatria que consiste no colocar-se a si mesmo e as próprias convicções pessoais, por mais contraditórias que possam ser, no lugar de Deus, o único que garante toda a verdade.

Pe. Anderson Alves in Zenit

Que grandeza é a Sua? - Santo Agostinho

Cristo tinha de vir na nossa carne: não um outro, anjo ou embaixador, era Cristo Quem tinha de vir, em pessoa, para nos salvar (Is 35,4). Teve de nascer em carne mortal: eis pois um menino, deitado numa manjedoura, envolto em panos, alimentado ao peito, que havia de crescer com os anos e, por fim, de morrer cruelmente. Tantos testemunhos de profunda humildade. Quem nos dá tais exemplos de humildade? O Altíssimo.

Que grandeza é a Sua? Não a procures na terra, sobe à altura dos astros. Quando chegares às legiões dos anjos, ouvirás dizer: «Sobe mais alto, acima de onde estamos». Quando tiveres subido até aos Tronos, Dominações, Principados e Potestades (Col 1,16), ouvi-los-ás ainda dizer: «Sobe mais alto, que nós próprios somos ainda criaturas», «por Ele é que tudo começou a existir» (Jo 1,3). Eleva-te pois acima de todas as criaturas, de tudo o que foi formado, de tudo o que recebeu existência, de todos os seres que mudam, corporais ou incorporais, numa palavra, acima de tudo. A tua vista não alcança ainda tais alturas; é pela fé que tens de te elevar até lá, é a fé que te deve conduzir ao Criador. Lá, contemplarás o Verbo, que era no princípio. 

Ora esse Verbo que estava em Deus, esse Verbo que era Deus, por Quem todas as coisas foram feitas, sem Quem nada teria sido feito, e em Quem estava a vida, desceu até nós. Que éramos nós? Mereceríamos que Ele descesse até nós? Não, nós éramos indignos de que Ele tivesse compaixão de nós, mas Ele era digno de ter piedade de nós.

O Dress Code para o Vaticano: Devia ser universal?


O dress code de modéstia obrigatório para entrar na Basílica de S. Pedro proíbe:

  • chapéus para leigos dentro da basílica
  • calções/saias acima dos joelhos
  • camisas/camisolas sem mangas
  • camisas/camisolas que expõem o umbigo
  • camisas/camisolas para as mulheres que apresentem relevo
  • camisas/camisolas com coisas profanas
  • excesso de jóias
  • o uso de telemóveis também é proibido, assim como fumar.
Na minha humilde opinião de leigo, este mesmo dress code devia ser impresso e afixado na porta de todas a Igrejas Católicas na Terra... O vestuário imodesto que se vê  aos Domingos passa o limite.

O pior é que as pessoas (especialmente as mães) costumavam ter um sentido culto de decência. Hoje em dia isto perdeu-se de tal modo que os homens e mulheres crescidos não vêem nada de mal em entrar numa igreja meio vestidos. A solução não é julgar e envergonhar os outros, mas trazer uma reeducação sobre o que é modesto e apropriado.

PS: Palavras de Nossa Senhora de Fátima em 1917: "Certos estilos e modas estão a ser introduzidos que ofendem gravemente o Meu Divino Filho." by Taylor Marshall

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O trabalho da Congregação para a Doutrina da Fé

A Congregação para a Doutrina da Fé é um dicastério da cúria romana, ou seja, um organismo eclesiástico que assiste o papa no governo da Igreja. A incolumidade da fé cristã é um bem imensurável. Salvaguardar a doutrina de Jesus, pregada há mais de dois mil anos, é uma das principais obrigações da Igreja católica. Afinal de contas, é a guardiã do depositum fidei. O que adianta ouvirmos discursos aparentemente bonitos, mas que veiculam teses carcomidas e impuras? É a mesma história do sepulcro caiado... Precisamos da verdade; alimentamo-nos dela.

Entre os misteres da Congregação para a Doutrina da Fé, destaca-se a análise de livros sob suspeita. No passado não muito remoto, houve casos em que livros com heresias chegaram a circular na forma de manuais em seminários e institutos de teologia. Que desgraça! Vicissitude assaz triste, pois conspurcou-se a sagrada palavra de nosso Senhor Jesus Cristo, deixando abstrusas as mentes dos jovens estudantes.

O povo de Deus não está interessado na quimera e “originalidade” de certas teorias. Com efeito, ele anela pela sã doutrina, que efectivamente o libertará do jugo opressor do relativismo.  No fundo, os católicos sempre quiseram saber apenas o que o magistério infalível ensina. Por este motivo, determinadas obras literárias que comunicam a posição do autor, em detrimento da ortodoxia, são denunciadas pela Congregação. É imprescindível defender sobretudo o crente simples e vulnerável, que não dispõe de conhecimentos teológicos para separar o joio do trigo, vale dizer, para diferençar um ensinamento cristão autêntico de um reles parecer arbitrário.  

Temos de ponderar que realmente não é agradável assumir a tarefa de chamar a atenção dos teólogos, professores e escritores que desbordam do catolicismo e, às vezes, puni-los com medidas canonicas medicinais. Todavia, como se costuma dizer: alguém tem de fazer o serviço! E é um serviço que não há de ser adiado, sob pena de ocorrerem grandes estragos na cabeça das pessoas incautas.

De quando em quando, é salutar darmos uma olhada no site da Congregação (www.doctrinafidei.va), com o intuito de verificar se existem novas notas doutrinais ou disciplinares  a respeito de livros que destoem do magistério eclesial.

   
Rezemos, pois, pelos membros da Congregação para a Doutrina da Fé, de modo especial pelo atual prefeito, dom Gerhard Ludwig Muller, impetrando a Deus que este dicastério continue impávido na missão de auxiliar o sucessor de são Pedro a confirmar os cristãos na verdadeira e inconcussa fé.

Edson Sampel in Zenit

Graças à conversão de São Paulo temos este belo hino (1Cor 13)

1Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,
se não tiver amor, sou como um bronze que soa
ou um címbalo que retine.
2Ainda que eu tenha o dom da profecia
e conheça todos os mistérios e toda a ciência,
ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas,
se não tiver amor, nada sou.
3Ainda que eu distribua todos os meus bens
e entregue o meu corpo para ser queimado,
se não tiver amor, de nada me aproveita.
4O amor é paciente,
o amor é prestável,
não é invejoso,
não é arrogante nem orgulhoso,
5nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse,
não se irrita nem guarda ressentimento.
6Não se alegra com a injustiça,
mas rejubila com a verdade.
7Tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.
8O amor jamais passará.
As profecias terão o seu fim,
o dom das línguas terminará
e a ciência vai ser inútil.
9Pois o nosso conhecimento é imperfeito
e também imperfeita é a nossa profecia.
10Mas, quando vier o que é perfeito,
o que é imperfeito desaparecerá.
11Quando eu era criança,
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.
Mas, quando me tornei homem,
deixei o que era próprio de criança.
12Agora, vemos como num espelho,
de maneira confusa;
depois, veremos face a face.
Agora, conheço de modo imperfeito;
depois, conhecerei como sou conhecido.
13Agora permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e o amor;
mas a maior de todas é o amor.

Os mais Infelizes e Miseráveis - Pe. Nuno Serras Pereira

O povo na sua rudeza diz verdades como punhos embora, não poucas vezes, de um modo desajeitado. É o caso, por exemplo, quando sentencia: se a vida eterna não existe, Deus para que é que serve? Literalmente esta interrogação poderá parecer um disparate ou uma blasfémia. Mas se atentarmos bem, o que ela significa é que se Deus não é eterno então não é Deus; e se não é Deus é então um ídolo vão que podemos e devemos repudiar. Porém, se Deus existe, então não só é eterno como nos pode fazer participantes dessa Sua vida. Não só livrando-nos da mortalidade definitiva, mas redimindo-nos da morte segunda, isto é, da condenação, ou perdição, eterna. Esse resgate que o mundo antigo ansiava com ardor aconteceu de um modo que superou qualitativamente tudo quanto os povos e os sábios poderiam esperar. Esse acontecimento impensável deu-Se quando o Imenso, o Omnipotente, o Infinito, Se fez um de nós, minúsculo, mínimo, no seio de uma Virgem, para, uma vez Dela nascido, passar fazendo o bem, combatendo os demónios, e finalmente, carregando com os nossos pecados e misérias, dar a Sua vida, passando para nós a sua Inocência, numa Cruz, ser sepultado e Ressuscitar ao terceiro dia.

Isto que todo o cristão teoricamente sabe, de facto, na vida prática parece ignorá-lo inteiramente. Sinais eloquentes desta necedade consistem, a meu ver, numa profusão de documentos episcopais cuja atenção sistemática parece concentrar-se nos problemas político-sociais da vida presente, à margem de considerações, de fundo, de ordem teológico-espirituais, que tenham em conta as consequências eternas das atitudes e decisões, conscientes e livres, dos cristãos a quem se dirigem. Dá a impressão que muitos membros da Igreja vêem a sua missão como meramente política e social, esquecendo ou relegando para segundo plano, a Evangelização explícita de Jesus Cristo Redentor, o Ressuscitado, que morrendo aniquilou a morte e ressuscitando restaurou a vida.

Fruto venenoso desta mentalidade meramente mundana é claramente a indiferença e a culpabilidade com que se distribui a Sagrada Comunhão a políticos e outros personagens públicos que manifestamente vivem em pecado grave. Estes sacrilégios consentidos se não mesmo promovidos são fruto de um calculismo e de uma negociação, ainda que implícita, em vista de proveitos eclesiais de índole temporal. Mas chegados aqui importa perguntar: que aproveita à Igreja ganhar o mundo inteiro se vier perder-se a si mesma? Ou então lembrar o que afirma S. Paulo: Se nós temos esperança em Cristo apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. 

Enquanto, todos nós, pensarmos que a nossa Fé não é mais do que uma sabedoria para viver neste mundo em vista de um maior bem-estar estaremos a atraiçoá-la e a cavar a nossa infelicidade e miséria.

Importa, pois, viver permanentemente à luz da eternidade que nos espera, para não sermos contados entre os mais infelizes e miseráveis. Todos os que fomos justificados pela Fé seremos julgados pelo Amor verdadeiro e efectivo que praticámos.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Pensamentos sobre o Canto Gregoriano


Deixem-me começar com uma história biográfica.

Em 2010, a Joy e eu levámos as nossas cinco crianças à Missa em Latim. Eu já tinha ido à Missa em Latim algumas vezes. A Joy ainda só tinha ido uma vez, penso eu. As nossas crianças nunca a tinha visto.

Deixem-me contar-vos uma coisa. Eles portaram-se tão bem na Santa Missa daquela manhã. Quero dizer, absolutamente excelentes. Pareciam aqueles meninos bonitos representados no Baltimore Catechism. Assim tão bom. Estávamos entusiasmados pela liturgia rigorosa, a homilia, a música gloriosa... e com o comportamento dos nossos filhos naquele Domingo de manhã. O que se tinha passado?

Eu não tenho a certeza, mas penso que tinha a ver com a música. Claro que os nossos filhos viram os acólitos e isso significava que havia negócio. (Já agora, os nossos filhos quiseram ser acólitos desde que viram aqueles acólitos-Marines da Missa em Latim.) Eles viram e cheiraram o incenso. Ouviram os sinos. Eles já tinham visto isto ocasionalmente em algumas Missa Novus Ordo, mas aqui na Missa em Latim tudo estava tão bem empacotado. O efeito completo projectava santidade. Mais importante, a música não eram as cançõezinhas dos anos 70 cantadas por uma senhora no microfone. O coro estava na parte de trás da igreja, sem microfones, e os cânticos flutuavam sobre a liturgia como o incenso a pairar no ar.

O canto Gregoriano, como o Vaticano II ensinou, é essencial ao Rito Romano. É a banda sonora oficial do Santo Sacrifício da Missa. Só se pode dançar a valsa propriamente se a música for uma valsa. Uma valsa, então, tem o seu próprio género de música. O Santo Sacrifício também tem a sua música própria.

O canto Gregoriano é uma música diferente de qualquer outra. Como Martin Mosebach escreveu, "O canto Gregoriano não é arte musical. Existe para ser cantado em todas as igrejas das aldeias e em todas as igrejas suburbanas, apesar do facto de que algum é difícil e requer  prática - e as pessoas praticavam-no de facto, ouvindo-o todos os Domingos das suas vidas.

O quê? O cântico soa estranho? Precisamente. Este é precisamento o ponto. Mosebach outra vez: "O que os bispos esqueceram foi que esta música soou estranho mesmo aos ouvidos de Carlos Magno e de Tomás de Aquino, Monteverdi e Haydn: era pelo menos tão distinto da sua vida contemporânea como é da nossa."

O cântico da Igreja é trascendental. Esse é o ponto. Porque é que alguns Jesuítas pensaram que podiam substituir o cântico com músicas que soam a números rejeitados de musicais da broadway? E porque é que as paróquias começaram a comprar esta "música" litúrgica? A maior parte das paróquias Católicas têm música terrível. Ainda assim existe uma solução óbvia, simples (e barata) para o problema.

Eis o texto do Vaticano 2 da Sacrosanctum Concilium:
116. A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana o canto gregoriano; terá este, por isso, na acção litúrgica, em igualdade de circunstâncias, o primeiro lugar.
Não se excluem todos os outros géneros de música sacra, mormente a polifonia, na celebração dos Ofícios divinos, desde que estejam em harmonia com o espírito da acção litúrgica, segundo o estatuído no art. 30.
Uma pessoa pode dizer, mas o Concílio não obriga canto Gregoriano exclusivo. Têm razão, tem uma excepção... para a polifonia. Por isso se optarem além do canto, não se virem para os Jesuítas de St. Louis, abracem Palestrina em vez disso.
A vossa paróquia Novus Ordo não dá ao canto Gregoriano o primeiro lugar entre os outros? Se não dá, não estão a ser fiéis ao Concílio. Isto pode irritar alguns mornos, mas eu não vejo volta a dar. O canto é judaico e tem uma tradição de 2000 anos na Igreja fundada pela Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Se são anti-canto Gregoriano, também são anti-Tradição... e anti-Vaticano II.

Temos que concordar com Platão que a música é muito importante na formação das almas. Eu acredito que é essencial para os meus filhos crecerem a ouvir um certo tipo de música na Santa Missa - a música aprovada pelo magistério. Por amor aos vossos filhos e à sua formação, vão a uma paróquia com música litúrgica que é dignum et justum.

São Gregório Magno, rogai por nós.
Santa Cecília, rogai por nós. by Taylor Marshall

Frase do dia

"Quando te custar fazer um favor, prestar um serviço a uma pessoa, pensa que é filha de Deus; lembra-te de que o Senhor nos mandou amar-nos uns aos outros." 

S. Josemaria Escrivá

Senza, o voto útil!

É verdade, todos gostamos muito do blog SENZA e por isso mesmo vamos votar 'nele' UMA VEZ POR DIA até ao próximo Sábado, na categoria "Religião e Espiritualidade": http://aventar.eu/blogs-do-ano-2012/blogs-do-ano-2012-votacoes-2a-fase/

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Frase do dia

"O ócio mata o corpo, a indiferença mata a alma, no entanto, o exercício das virtudes embeleza a um e a outro"  

S. João Crisóstomo

Poderá um rico salvar-se? - Papa Bento XVI

A passagem do evangelho de S.Marcos, Mc 10, 17-39, tem como tema principal a riqueza. Jesus ensina que para um rico é muito difícil entrar no Reino de Deus, mas não impossível; de facto, Deus pode conquistar o coração de uma pessoa que possui muitos bens e levá-la à solidariedade e à partilha com quem está em necessidade, com os pobres, isto é, a entrar na lógica da doação. Deste modo ela põe-se no caminho de Jesus Cristo, o qual — como escreve o apóstolo Paulo — «sendo rico, fez-se pobre por vós, para que vos tornásseis ricos por meio da sua pobreza» (2 Cor 8, 9).

Como acontece com frequência nos Evangelhos, tudo se inspira num encontro: o de Jesus com um tal que «possuía muitos bens» (Mc 10, 22). Ele era uma pessoa que desde a sua juventude observava fielmente todos os mandamentos da Lei de Deus, mas ainda não tinha encontrado a verdadeira felicidade; e por isso pergunta a Jesus como fazer para «ter em herança a vida eterna» (v. 17). Por um lado ele sente-se atraído, como todos, pela plenitude da vida; por outro, estando habituado a contar com as suas riquezas, pensa que também a vida eterna se possa de alguma forma «comprar», talvez cumprindo um mandamento especial. Jesus capta o desejo profundo que há naquela pessoa, e — escreve o evangelista — fixa nele um olhar cheio de amor: o olhar de Deus (cf. v. 21). Mas Jesus compreende também qual é o ponto frágil daquele homem: precisamente o seu apego aos muitos bens que possui; e por isso propõe-lhe que dê tudo aos pobres, de modo que o seu tesouro — e por conseguinte o seu coração — já não esteja na terra, mas no céu, e acrescenta: «Vem e segue-Me!» (v. 22). Mas aquele homem, em vez de aceitar com alegria o convite de Jesus, vai-se embora entristecido (cf. v. 23), porque não consegue desapegar-se das suas riquezas, que nunca lhe poderão dar a felicidade e a vida eterna.

E a este ponto Jesus dá aos discípulos — e também a nós hoje — o seu ensinamento: «Como é difícil, para aqueles que possuem riquezas, entrar no reino de Deus!» (v. 23). Ouvindo estas palavras, os discípulos ficaram desapontados; e ainda mais quando Jesus acrescentou: «É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no reino de Deus». Mas, vendo-os admirados, disse: «Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois a Deus tudo é possível» (cf. vv. 24-27). Assim comenta são Clemente de Alexandria: «A parábola ensina aos ricos que não devem descuidar a sua salvação como se fossem já condenados, nem devem abandonar a riqueza nem condená-la como insidiosa e hostil à vida, mas devem aprender de que modo usar a riqueza e conquistar a vida» (Os ricos poderão salvar-se?, 27, 1-2). A história da Igreja está cheia de exemplos de pessoas ricas, que usaram os próprios bens de modo evangélico, alcançando também a santidade. Pensemos apenas em são Francisco, em santa Isabel da Hungria ou em são Carlos Borromeu. A Virgem Maria, Sede da Sabedoria, nos ajude a acolher com alegria o convite de Jesus, para entrar na plenitude da vida. in Angelus 14/X/2012

sábado, 19 de janeiro de 2013

Frase do dia

"O maior milagre, que impressionava os discípulos todos os dias, não eram as pernas curadas, a pele purificada, a visão readquirida. O maior milagre era um olhar revelador do humano ao qual era impossível subtrair-se. Não há nada que convença mais um homem do que um olhar que o atinja e reconheça o que ele é, que revele o homem a si mesmo. Jesus via o homem por dentro, ninguém se podia esconder diante dele, diante dele a profundidade da consciência não tinha segredos." 

D. Luigi Giussani

A nova revolução francesa - Pe. Gonçalo Portocarrero

Confesso que estou escandalizado com a França. Três notícias dão azo a este desconforto de soixante-huitard desiludido com a filha primogénita da Igreja e a pátria por excelência de todas as revoluções. A saber: o exílio de Gérard Depardieu, a entrada numa ordem religiosa de uma modelo e a manifestação de um milhão de franceses a favor do casamento natural. Mas vamos por partes.

Gérard Depardieu, se é que ainda não se chama Igor Ivanovitch ou coisa que o valha, deu com os pés à sua terra natal para se instalar com armas e bagagens na Rússia. Vladimir Putin, o actual czar, ofereceu-lhe a nacionalidade e o passaporte russo e talvez, como brinde, uma datcha na Crimeia.

Ora a França era a pátria da liberdade, pelo que parece um contra-senso que um francês se exile precisamente por entender que já não há liberdade no seu país. Aliás, a moda de princípios do século xx era a inversa: os milionários perseguidos pela revolução bolchevique procuravam nas margens do Sena a segurança e o conforto que lhes era negado na sua terra. Se agora o movimento migratório é o inverso e até um indefectível guerreiro gaulês como Obélix se vê obrigado a emigrar antes que os impostos o esmaguem, forçoso é admitir que há algo de podre no reino da Gália.

A revista “Marie-Claire”, ultrapassando todos os limites da decência laica e republicana, publicita a entrada na vida religiosa de uma ex-modelo, Lauren Falko, aliás Irmã Maria Teresa do Sagrado Coração. Pior ainda: quase elogia o gesto da anacrónica beldade voluntariamente enclausurada, em vez de vituperar o obscurantismo religioso, que impede de brilhar nas passerelles este prodígio da beleza feminina.

Qualquer dia, por este andar, a Marianne, o ex-líbris da República Francesa, ver-se-á obrigada a ocultar o impudico seio e a cobrir o seu escandaloso decote com um modesto hábito religioso e, talvez até, a trocar o seu lendário barrete frígio pelas abas esvoaçantes do véu religioso. É caso para perguntar: onde pára a França laica de Voltaire e Rousseau? Onde paira o espírito de Simone de Beauvoir, precursora da revolucionária ideologia do género? Onde estão as femininistas e as suas revindicações de liberdade para as mulheres?

Mais grave ainda é que perto de um milhão de pessoas – a polícia francesa, que sofre de miopia política quando se trata de manifestações não alinhadas com o governo, só viu trezentas mil – se manifestou pelo casamento natural e contra a outorga do estatuto matrimonial às uniões de pessoas do mesmo sexo. Infelizmente, nem sequer foi um protesto caricato de umas quantas velhotas piedosas empunhando terços, nem uma procissão de padres e religiosas disfarçados, mas de milhares de trabalhadores, de jovens, de famílias, de mulheres e homens de todas as condições sociais e de todos os recantos da geografia francesa.

Que os clérigos ultramontanos e os fanáticos integristas se manifestem é uma coisa que até tem a graça de uma marcha folclórica, mas que um milhão de cidadãos saia à rua é outra muito diferente, sobretudo quando a iniciativa parte nada mais nem nada menos que de uma humorista, que dá pelo nome artístico de Frigide Barjot, e de Xavier Bongibault, um jovem homossexual. Diga-se de passagem que tem o seu quê de curioso que sejam uma artista e um gay a liderar um movimento de massas contra os casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Os humoristas cá da terra não têm essa graça, nem consta que os homossexuais lusitanos tenham tido o bom senso de reconhecer que, por razões óbvias, às suas uniões não é aplicável o regime matrimonial.

Quer isto dizer que a França já não é a pátria das revoluções e traiu a sua vocação histórica? De modo nenhum! A França continua fiel à sua gloriosa tradição e na vanguarda da revolução social, mas agora contra o antigo regime libertário, socialista e laico. A nova revolução francesa é um grito de mudança e de esperança, em nome da verdade, da liberdade e da família. in jornal i

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O inferno do ponto de vista de um condenado

O meu nome é Fulano de Tal. Estou no inferno, ou melhor, sou no inferno, porque se trata de uma condição permanente. Que horror! Não adianta rezar por mim. Na situação perene em que me encontro, não há mais esperança. A propósito, vi uma placa na porta do inferno, com os seguintes dizeres escabrosos, escritos em italiano: “Lasciate ogne speranza, voi ch’ intrate!”: “Deixai toda esperança, vós que entrais!” (Divina Comédia, canto III, 9).

Os que padecemos neste estado não podemos comunicar com os que  padecem no purgatório ou com os que ainda vivem (Lc 16,26). Mandei esta carta, sub-repticiamente, por um foguete.

Ouço choro e ranger de dentes o “tempo”  todo (Mt 8,12). Mas, o que mais me atormenta é a saudade de Deus, por este motivo, também choro e ranjo os meus dentes. Vêm-me à mente as palavras de santo Agostinho: “Fizeste-nos para ti, Senhor, e nosso coração estará inquieto, enquanto não descansar em ti .” (Confissões, livro I, cap. 1). O inferno é a angústia da ausência de Deus.

Nem sequer posso me arrepender, pois, no momento de minha morte, a minha vontade petrificou-se no mal, no pecado. Os anjos que nos atenazam, conhecidos como demónios, são milhões, bilhões, talvez. Há um fogo inexaurível que nos queima a todos os réprobos ininterruptamente. Não é um fogo simbólico ou imaterial; é um fogo mesmo, que incinera, mas que não aniquila o corpo.

Percebo que o estado de inferno não começou com meu óbito. Ainda quando estava vivo, o inferno se instalou no meu dia a dia, muito mais do que o céu ou o purgatório. Erradamente, acreditava que só se pecava por acção: matando alguém, roubando, ferindo etc. Dizia a mim mesmo e aos meus contemporâneos: não faço mal a ninguém. Que engano ledo, mas catastrófico! Mea culpa

Se sou torturado neste estado horripilante, isto se deve igualmente ao bem que eu não fiz. Jesus estava na prisão; não o visitei. Ele estava doente; não fui ao hospital para confortá-lo. Deparou-se-me completamente nu na minha frente; entretanto, não o vesti. Esteve com fome, com sede; contudo, eu não o alimentei. Era um imigrante; não o acolhi (Mt 25, 31-46). Não imaginava que a minha omissão fosse já o inferno na terra, malgrado eu vivesse bastante infeliz, fechado no meu egoísmo.

A Igreja sempre me ensinou o caminho do céu. Desafortunadamente, fiz ouvidos moucos ao magistério dos papas e dos bispos. Que pena! E é propriamente uma pena o que sofro neste estado sem fim.

Edson Sampel in Zenit

O que é a religião? S. Josemaria responde

A religião é ligar, ligar o homem a Deus,
a intimidade do homem com Deus.
E, como é a religião?
A religião é formada por uma série de preceitos,
de coisas de fé dogmáticas,
de outras de conduta moral,
e que foram reveladas por Deus ao homem,
primeiro através dos profetas,
depois através de Cristo Nosso Senhor,
para isso veio à terra.
E a Igreja, nossa Mãe, tem essa revelação em depósito;
e é inalterável:
de tal maneira que agora é como há vinte séculos,
e dentro de vinte séculos será como foi há vinte séculos e como é agora.
Os teus amigos não podem escolher
a religião que lhes apetecer,
porque é Deus quem escolhe
E Deus indicou-nos,
porque tem esse direito,
qual é o caminho
que nos conduz a Ele.
E a nossa Mãe a Igreja...

Frase do dia

“Show me your hands. Do they have scars from giving? Show me your feet. Are they wounded in service? Show me your heart. Have you left a place for divine love?” 

Venerable Fulton J. Sheen

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Santo Inácio de Loyola aos Jesuítas que iam para Concílio de Trento

Eu não teria pressa para falar e fá-lo-ia duma maneira séria e amigável... Para me ajudar a mim mesmo ouviria sossegadamente, de modo a apreciar e a perceber o ponto de vista e a disposição dos que falam, de forma a poder responder bem, ou a ficar calado. 

Quando falasse sobre temas em debates ou outras questões, as razões de ambos os lados devem ser dadas para não parecerem preconceituosos, e devem ter cuidado para não contrariar ninguém. 

Se os temas discutidos são tão óbvios que não se deve ficar calado, devem dar a vossa opinião com a maior calma e humildade possível, concluindo com deferência para melhor julgamento.

A maior glória de Deus é o objectivo dos nosso padres em Trento, e isto será adquirido pregando, ouvindo confissões, dando palestras, ensinando as crianças, visitando os pobres nos hospitais, e exortando o próximo, de acordo com os talentos de cada um, para mover as pessoas à devoção e à oração, de modo a que possamos todos rezar e suplicar a Deus que derrame o Seu Espírito Divino em todos aqueles envolvidos com os trabalhos do Concílio.

Ao pregar eu não tocaria de todo nas diferenças entre Protestantes e Católicos, mas simplesmente exortaria a bons costumes e devoções, movendo as pessoas a conhecerem-se a si mesmas verdadeiramente e a adquirir maior conhecimento e amor do seu Criador e Senhor. Estaria constantemente a falar sobre o Concílio nos meus sermões e a acabar cada um deles com orações por isso. 

Do mesmo modo, também, ao dar palestras (o meu desejo seria inflamar as almas com amor ao seu Criador e Senhor), acabaria com orações pelo Concílio. Ao ouvir confissões falaria de tal modo que o que eu dissesse pudesse ser repetido em público e, por penitência, daria orações pelo Concílio. 

Os hospitais devem ser visitados às horas mais indicadas para a saúde e vocês deviam confessar e confortar as pessoas pobres, e também levar-lhes algo sempre que conseguirem, não esquecendo de obter orações pelo Concílio...

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Secretário do Papa na capa da Vanity Fair

Graças a esta revista ficamos a saber que ser bonito (afinal) não é pecado. Ufa, que alívio!

Frase do dia

“Os ateus querem fazer-nos crer que não somos mais do que uma colecção aleatória de moléculas, um produto final de um processo sem uma orientação. Se esta concepção fosse verdadeira, colocaria em causa a racionalidade de que necessitamos para fazer ciência. Se o cérebro fosse, na realidade, apenas o resultado de um processo sem orientação, então não existiriam razões para acreditar na sua capacidade de nos revelar a verdade. 

Para mim, a beleza das leis científicas só reforça a minha fé de uma maneira inteligente. Quanto mais compreendo a ciência, mais creio em Deus pela maravilha da sua amplitude, sofisticação e integridade da Sua criação. Longe de estar em desacordo com a ciência, a fé cristã tem um sentido científico perfeito”.

John Lennox, matemático e filósofo das ciências, professor em Oxford

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Não temos vinho: Uma devoção para casais


Às vezes a vida pode abanar o vosso casamento. Factores externos. Factores internos. O Matrimónio é uma vocação. As vocações santificam as nossas almas e não há santificação sem esforço. O que é que fazem durante esses tempos em que o casamento se torna difícil? A quinta gravidez. Talvez sem gravidezes.  Aborto espontâneo. Desemprego. Alcoolismo. Depressão. Doença. Desacordos. Desencorajamentos. Claro, o casamento é um grande dom e cheio de alegria. Mas o que se passa quando o vinho acaba e a única coisa que têm é água?

Durante a oitava da epifania, recordamos Cristo Nosso Senhor a transformar a água em vinho no casamento de Caná. Foi nesta ocasião que Cristo, através da intercessão da Santíssima Mãe, elevou o matrimónio à dignidade de sacramento. Eis a passagem para refrescar a vossa memória:
3 E, faltando vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho. 4 Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. 5 Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser. 6 E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam dois ou três almudes. 7 Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima. 8 E disse-lhes: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E levaram. 9 E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo. 10 E disse-lhe: Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho. 11 Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele. (João 2:3-11)
Às vezes simplesmente só têm que se virar para a Santíssima Virgem e dizer, "Não temos vinho. A alegria acabou. Tudo o que temos aqui é água. Por favor transforma-a!"

Esta é uma aproximação sobrenatural ao Santo Matrimónio. Temos que perceber que todos os bens do matrimónio jorram do Sagrado Coração de Jesus através do Imaculado Coração de Maria. Independentemente de quão difícil ficar, Jesus e Maria podem transformar a água em vinho. Jesus pode transformar os acontecimentos aborrecidos, desinteressantes e medíocres das nossas vidas numa época de vindímas emocionantes que fazem o coração feliz.

Honestamente, as pessoas no Casamento de Caná não esperavam que Cristo e a Sua Mãe fizessem algo tão doce. Isto demonstra a magnanimidade de Cristo e de Maria para com a humanidade e especialmente para aqueles que são casados. Eles transformarão a água em vinho. Simplesmente peçam-lhes com humildade. No entanto, se não encherem os jarros, isto é, se não cumprirem os vossos deveres naturais no casamento, não esperem um milagre. Quanto mais água nos jarros, mais eles vão transformar em vinho. by Taylor Marshall

domingo, 13 de janeiro de 2013

O "Zico" e os bebezitos

Era uma vez um cãozinho, de seu nome “Zico”. O “Zico” gostava de rebolar pelos campos, cantando música ligeira e à noite ficava deitado de barriga para cima a admirar as estrelas. Mas o Zico era arraçado de Pitbull, uma raça naturalmente disposta para o combate, conhecida pela agilidade e por morder e não largar. O “Zico” atacou uma criança de 18 meses, de seu nome Dinis, que viria a morrer no hospital. A lei portuguesa estabelece que num caso destes o cão que atacou deve ser abatido, porque não se sabe quando vai voltar a atacar alguém.

Em reacção ao cumprimento da lei, surgiu uma peticão (sem cedilha) que pede a suspensão da lei, para que o “Zico” possa viver. Estas 60 mil pessoas dizem que o “Zico” não tem culpa, a culpa é do dono (e muitos defendem que se mate este). Ora que o “Zico” não tem culpa já nós sabemos, porque um animal não distingue o bem do mal, o certo do errado, o verdadeiro do falso, por isso nunca pode ter culpa. Não existem cães bons e cães maus, existem cães com mais ou menos propensão natural para atacar, ou que foram mais ou menos treinados para não atacar.

Quando no circo vemos um leão que deixa o tratador meter a cabeça na sua boca não dizemos “Ai que boa pessoa aquele leão, é mesmo simpático, deixar o senhor meter a cabeça na boa dele.” O leão foi treinado para que tal acontecesse, não é uma decisão tomada em consciência “Ora deixa-me cá ajudar aqui o meu chefe a fazer uns trocos, e assim dá-me bifes do lombo.” O instinto do leão não é deixar pessoas meterem a cabeça na boca dele, é meter a boca na cabeça das pessoas. E não pode ser julgado por isso, mas pode ser abatido se existir o risco real de matar alguém no meio da rua.

Existe uma confusão generalizada entre a dignidade duma pessoa e a dignidade dum animal. Infelizmente é preciso reafirmar o básico: a vida duma pessoa não se compara e vale sempre sempre mais do que a dum animal, mesmo que seja a Lassie.

Cá para mim acho que a culpa disto tudo é da Disney. Põem os animaizinhos a falar, a cantar, a dizer piadas, a serem amorosos, e temos toda uma multidão que transporta isso para a vida real. Por mais que seja uma figura de estilo muito simpática (e boa pessoa), a personificação tem limites!

Para compensar, temos aqui uma petição para acabar com a matança de bebés abortados (55 por dia em Portugal), e que existe há vários meses. Neste momento contamos com 2929 signatários, ou seja 4,9% do que a petiCÃO do “Zico” conseguiu em 3 dias. Vale a pena pensar nisto…
João Silveira

sábado, 12 de janeiro de 2013

An Indecorous Incident - Brother Charles Shonk, O. P.

Contrition, compassion, mercy - these, Tolstoy seems to suggest, are the graces without which death becomes incomprehensible and unbearable.
Ivan Ilyich saw that he was dying, and he was in continual despair. In the depth of his heart he knew he was dying, but not only was he not accustomed to the thought, he simply did not and could not grasp it. The syllogism he had learnt from Kiesewetter's Logic, "Caius is a man, men are mortal, therefore Caius is mortal," had always seemed to him correct as applied to Caius, but certainly not as applied to himself. That Caius — man in the abstract — was mortal, was perfectly correct, but he was not Caius, not an abstract man, but a creature quite, quite separate from all others.
- Leo Tolstoy, The Death of Ivan Ilyich
It's short, and it's all about death. Maybe that's why we read it in high school. Tolstoy's classic novella about the slow, terminal decline of an ordinary, middle-aged lawyer continues to fascinate both young and old, though in different ways. In the young, Ivan Ilyich tends to elicit a certain amount of pert amusement or dignified scorn. He's so obviously a fool, a hypocrite, and a coward, and Tolstoy so expertly probes the depths of his folly, that it's easy to sit back, analyze, and, in general, hug tight the warm fuzzies of moral or intellectual superiority. Having done as much myself, I don't begrudge others the opportunity.

Later in life, however, when we come back to the story, we find something unaccountable has happened. Somehow, the shoe has gone to the other foot. Somehow, we have become Ivan Ilyich. That ordinary, middle-aged fool now bears a striking resemblance, if not in all respects, at least in certain definite and disturbing ways, to me. The wry smile fades. Self-satisfaction takes to its heels. We're sorry for our smugness — and we're sorry for Ivan Ilyich. We start reading the story in a whole new light — the light of contrition and compassion.

Like most of us (when it comes right down to it), Ivan Ilyich can't believe he has to die. He's tormented by the fact, and he can't understand, since he has always done what is "proper" and "correct," why this horrible thing must happen to him. More than once, though, he entertains what seems to him an impossible notion: that his death would at least be comprehensible and bearable, if only he could bring himself to admit that he had not led a good life.
It occurred to him that what had appeared perfectly impossible before, namely that he had not spent his life as he should have done, might after all be true. It occurred to him that his scarcely perceptible attempts to struggle against what was considered good by the most highly placed people, those scarcely noticeable impulses which he had immediately suppressed, might have been the real thing, and all the rest false.
This idea, which at first Ilyich finds so "morbid," is reinforced by the disgust he begins to feel for the very people with whom he used to live and work. Suddenly, the sophisticated civility that bound him to them, and them to him, becomes an impregnable barrier to all meaningful communication — a mask for their selfish refusal to suffer with a dying man:
The awful, terrible act of his dying was, he could see, reduced by those about him to the level of a casual, unpleasant, and almost indecorous incident (as if someone entered a drawing room defusing an unpleasant odor), and this was done by that very decorum which he had served all his life long. He saw that no one felt for him, because no one even wished to grasp his position.
Ilyich longs to be comforted and petted "like a sick child," but when a respected colleague comes to visit, he prefers to assume "a serious, severe, and profound air," and "by force of habit" delivers his judgment on some legal matter, "stubbornly insisting" upon his opinion.

Only one person is able to console Ilyich — the peasant Gerasim, his servant. Unlike everyone else, whose insincerity drives Ilyich to the point of madness, Gerasim frankly acknowledges the imminence of his master's death, and sees it as something in which he himself must share. He willingly stays up whole nights, supporting his master's legs on his shoulders, and, when questioned, replies cheerfully, "We shall all of us die, so why should I grudge a little trouble?"

Toward the end, a priest comes to hear Ilyich's confession. The gift of divine mercy, along with the contrition it elicits, brings him a measure of peace, but, interestingly, it's not until the hour of his death that this grace fully flowers, enabling him to extend the mercy he himself has received to those around him:
. . . with a look at his wife he indicated his son and said: "Take him away . . . sorry for him . . . sorry for you, too . . ." He tried to add, "Forgive me," but said "Forego" and waved his hand, knowing that He whose understanding mattered would understand.
Contrition, compassion, mercy — these, Tolstoy seems to suggest, are the graces without which death becomes incomprehensible and unbearable. During this month of November, then, when nature itself joins the Church in bidding us have a "seasonable regard" for our mortality, let us take such wisdom to heart. And let us remember that those who strive to know and love God in this life, need not fear meeting him in the next.