quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Santa Missa durante a Segunda Guerra Mundial

Missa rezada na ilha de Leyte (Filipinas), durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A Catedral estava a ser usada como hospital improvisado, o que explica a presença das macas e do soldado americano com queimaduras graves.

terça-feira, 17 de setembro de 2024

O dia em que São Francisco recebeu os estigmas

O Santo não temia a morte. Tinha cortado, pelo seu despojamento total, os vínculos que o ligavam à terra; tinha, a exemplo do Apóstolo, conquistado o domínio sobre o seu corpo: a sua alma devia desprender-se sem dilaceramentos do seu invólucro físico.

Se não tremia perante a aproximação do momento fatal, queria pelo menos preparar-se para comparecer diante do Soberano Juiz. Partiu, pois, rumo à solidão, para se recolher por algum tempo.

Durante o Verão de 1224 esteve no pequeno convento de Alverne. Era uma clausura rústica, construída precariamente no cimo de uma montanha escarpada. As grutas abertas nas rochas, os bosques povoados de pássaros, o afastamento dos centros habitados tornavam o sítio encantador e particularmente propício aos exercícios da contemplação.

O Santo amava esta morada que outrora lhe tinha sido dada pelo Conde Orlando, senhor de Chiusi. Logo que chegou ao lugar do seu retiro, Francisco iniciou um jejum de 40 dias em honra de São Miguel.  Consagrava o tempo à oração, que lhe propiciava delícias que nunca lhe pareceram tão saborosas.

Suplicou ao Senhor  que lhe desse a conhecer as obras às quais deveria consagrar os últimos dias da vida. Como resposta, Deus cumulou-o com abundância de suavidades interiores. Então o Santo recorreu ao seu procedimento habitual: abriu o Evangelho ao acaso, por diversas vezes, esperando encontrar ali uma indicação.

Por diversas vezes caiu no relato da Paixão. Esta coincidência surpreendeu-o: concluiu que o Salvador queria uni-lo mais intimamente aos seus sofrimentos.

Os calores estivais declinavam; o Alverne já se revestia com os esplendores do Outono. Debaixo das grandes árvores, cuja folhagem se tornava dourada, Francisco pensava na adorável imolação de Cristo, quando subitamente lhe apareceu um Serafim resplandecente de luz. O Anjo aparentava uma semelhança admirável como Salvador pregado no patíbulo.

O Santo reconheceu estupefato os traços do divino Crucificado; a sua alma inflamou-se com amor tão ardente e tão doloroso, que o seu débil corpo não aguentou: caiu em profundo arrebatamento. Que aconteceu durante este êxtase? Os mistérios de amor não se divulgam: São Francisco guardou ciosamente este segredo. Confessou, no entanto, que recebera nessa altura revelações sublimes, mas nunca quis comunicá-las.

Quando a visão se desvaneceu, uma transformação tinha-se operado nele: na sua carne  estavam gravados os sagrados estigmas da Paixão. Grandes feridas lhe rasgavam as mãos e os pés: nas cicatrizes percebiam-se nitidamente as cabeças negras dos pregos. Uma chaga mais larga abria o seu costado e deixava filtrar algumas gotas de sangue. Francisco tornara-se um crucificado vivo.

Um prodígio assim não podia passar inadvertidamente. Apesar de todos os esforços para afastar as curiosidades indiscretas, o Santo não conseguiu esconder inteiramente os estigmas. O seu prestígio, já tão grande, aumentou ainda mais: a sua vida terminava numa espécie de apoteose.

O Serafim que imprimira no seu corpo as chagas de Cristo, também as enterrara no seu coração. A partir daquele dia, Francisco não fez mais do que esmorecer lentamente no duplo martírio da dor e do amor.

Ainda percorria penosamente os caminhos da Úmbria, a pregar menos pela palavra do que pelo exemplo. Deixava, ao caminhar, irradiar da sua alma o imenso amor pelo divino Mestre; manifestava-o em termos tão veementes, que sentia por vezes a necessidade de se desculpar.

“Não fostes Vós  que nos destes – dizia ele ao Salvador – o exemplo desta sublime loucura? Vós vos lançastes á procura da ovelha desgarrada; caminhastes como um escravo, como um homem inebriado de amor”.

Para adornar sua coroa, Deus mandava-lhe as últimas provações. O Santo notava que alguns religiosos, embora poucos, desejavam restringir a pobreza da Ordem: previa que os seus filhos atravessariam, depois da sua morte, uma crise perigosa. A esta tristeza acrescentava-se o peso da doença. A saúde declinava, a vista apagava-se; os remédios mais fortes só lhe davam umas melhoras precárias.

São Francisco mantinha, apesar das dores, uma alegria apaziguadora. Mas o seu espírito desprendia-se cada vez mais das preocupações terrenas; o seu recolhimento tornava-se mais profundo. Os que estavam à sua volta percebiam a aproximação da hora da recompensa.

Pe. Thomas de Saint-Laurent in 'São Francisco de Assis'

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Pe. Gabriele Amorth faz revelações surpreendentes sobre Fátima

O famoso exorcista morreu há 8 anos, no dia 16 de Setembro de 2016.

Só existe uma religião verdadeira

"[Os encontros inter-religiosos] podem dar a ideia que se tratam de supermercados de religiões. E isto não é bom porque só existe uma religião verdadeira, a Igreja Católica, fundada por Deus."

D. Athanasius Schneider

sábado, 14 de setembro de 2024

Crux Fidelis - Música da autoria de D. João IV, Rei de Portugal

Ó Cruz fiel, entre todas a árvore mais nobre:
Nenhum bosque produz igual, em ramagens, frutos e flores.
Ó doce lenho, que os doces cravos e o doce peso sustentas.

Canta, ó língua, o glorioso combate (de Cristo),
e, diante do troféu da Cruz, proclama o nobre triunfo:
a vitória conseguida pelo Redentor, vítima imolada para o mundo.

O Criador teve pena do primitivo casal,
que foi ferido de morte, comendo o fruto fatal,
e marcou logo outra árvore para curar-se do mal.

Glória e poder à Trindade, ao Pai e ao Filho louvor,
honra ao Espírito Santo, eterna glória ao Senhor,
que nos salvou pela graça e nos reuniu no amor.

Dia da Exaltação da Santa Cruz

Santa Teresinha do Menino Jesus no Carmelo, em Lisieux

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

França: Traditionis Custodes não é respeitado

Christian Marquant (Veilleurs-Paris.fr) constata que “a diocese de Paris está isenta da Traditionis custodes”. Em pelo menos quatro igrejas paroquiais são celebradas Missas “oficiais”: Saint-Eugène-Sainte-Cécile, Sainte-Jeanne-de-Chantal, Sainte-Odile e Saint-Roch. Uma outra missa “oficial” é celebrada em Notre-Dame du Lys, que não é uma igreja paroquial.

A celebração de missas nas paróquias exigiria a autorização do Dicastério para a Liturgia. Mas esta autorização nunca foi dada. É também o caso da maior parte das numerosas igrejas paroquiais em França, onde a Santa Missa é “oficialmente” celebrada sem autorização romana.

Esta questão foi levantada num artigo publicado pela Notitiae, o órgão oficial do Dicastério para o Culto Divino. Na sua edição de 2 de Agosto de 2024, apresenta uma lista dos decretos pelos quais autorizou a celebração da Santa Missa nas igrejas paroquiais entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2022, ou seja, na altura em que a Traditionis custodes foi introduzida.

De acordo com a lista de decretos, o Dicastério para a Liturgia “autorizou” a celebração da Santa Missa em 56 igrejas paroquiais de 10 países do mundo (34 nos Estados Unidos, 5 na Alemanha, 3 na Polónia, 5 na Grã-Bretanha, 4 no Canadá, 1 na Lituânia, 1 na Itália, 1 na Hungria e 1 na Áustria). Mas nenhum em França, nem sequer em Paris.

Durante a visita ad limina dos bispos franceses após a Traditionis Custodes em 2021, Mosn. Ulrich, arcebispo de Paris, chegou a apresentar esta solução parisiense a Francisco, que a aprovou.

É claro que os responsáveis romanos pela supressão da Santa Missa, liderados pelo Cardeal Roche, Prefeito para o Culto Divino, e Mons. Viola, Secretário, estão particularmente fora de contacto com a realidade no terreno, conclui Marquant:

“A Traditionis custodes é uma lei em grande parte inaplicável, como vários bispos franceses admitiram em privado”.

in gloria.tv

Aparição de Nossa Senhora de Fátima a 13 de Setembro

A Irmã Lúcia, nas suas Memórias, descreve do seguinte modo a aparição de Nossa Senhora a 13 de Setembro de 1917:

Ao aproximar-se a hora, lá fui, com a Jacinta e o Francisco, entre numerosas pessoas que a custo nos deixavam andar. As estradas estavam apinhadas de gente. Todos nos queriam ver e falar. Ali não havia respeito humano.

Numerosas pessoas, e até senhoras e cavalheiros, conseguindo romper por entre a multidão que à nossa volta se apinhava, vinham prostrar-se, de joelhos, diante de nós, pedindo que apresentássemos a Nossa Senhora as suas necessidades. Outros, não conseguindo chegar junto de nós, chamavam de longe:

– Pelo amor de Deus! peçam a Nossa Senhora que me cure meu filho, que é aleijadinho!
Outro:
– Que me cure o meu, que é cego!
Outro:
– O meu, que é surdo!
– Que me traga meu marido...
– ... meu filho, que anda na guerra!
– Que me converta um pecador!
– Que me dê saúde, que estou tuberculoso!
Etc., etc.

Ali apareciam todas (as) misérias da pobre humanidade. E alguns gritavam até do cimo das árvores e paredes, para onde subiam, com o fim de nos ver passar. Dizendo a uns que sim, dando a mão a outros para os ajudar a levantar do pó da terra, lá fomos andando, graças a alguns cavalheiros que nos iam abrindo passagem por entre a multidão.

Quando agora leio, no Novo Testamento, essas cenas tão encantadoras da passagem de Nosso Senhor pela Palestina, recordo estas que, tão criança ainda, Nosso Senhor me fez presenciar, nesses pobres caminhos e estradas de Aljustrel a Fátima e à Cova de Iria, e dou graças a Deus, oferecendo-Lhe a fé do nosso bom Povo português. E penso: se esta gente se abate assim diante de três pobres crianças, só porque a elas é concebida misericordiosamente a graça de falar com (a) Mãe de Deus, que não fariam, se vissem diante de si o próprio Jesus Cristo?

Bem; mas isto não era nada chamado para aqui. Foi mais uma distracção da pena que me escapou para onde eu não queria. Paciência! Mais uma coisa inútil; não na tiro, para não inutilizar o caderno. Chegámos, por fim, à Cova de Iria, junto da carrasqueira e começamos a rezar o terço com o povo.

Pouco depois, vimos o reflexo da luz e a seguir Nossa Senhora sobre a azinheira.

 – Continuem a rezar o terço, para alcançarem o fim da guerra. Em Outubro virá também Nosso Senhor, Nossa Senhora das Dores e do Carmo, S. José com o Menino Jesus para abençoarem o Mundo. Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer que durmais com a corda; trazei-a só durante o dia.

– Têm-me pedido para Lhe pedir muitas coisas: a cura de alguns doentes, dum surdo-mudo.
– Sim, alguns curarei; outros não. Em Outubro farei o milagre, para que todos acreditem. E começando a elevar-se, desapareceu como de costume.

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Festa do Santíssimo Nome de Maria

Veneramos o nome de Maria porque pertence àquela que é a Mãe de Deus, a mais santa das criaturas, a Rainha do Céu e da Terra, a Mãe da Misericórdia.

O objecto da festa é a Santa Virgem que traz o nome de Mirjam (Maria). A festa comemora todos os privilégios dados a Maria por Deus e todas as graças que temos recebido através da sua intercessão e mediação. 

História da Festa

A festa foi instituída em 1513, em Cuenca (Espanha), e estabelecida no dia 15 de Setembro com Ofício próprio, o dia da oitava da Natividade de Maria. Depois da reforma do Breviário de São Pio V, por um decreto de Sixto V (16 de Janeiro de 1587), foi transferida para 17 de Setembro. Em 1622, foi estendida para a Arquidiocese de Toledo pelo Papa Gregório XV. 

Depois de 1625, a Congregação dos Ritos hesitou durante algum tempo antes de autorizar que se estendesse mais (cf. os sete decretos "Analecta Juris Pontificii", LVIII, decr. 716 sqq.). Mas era celebrada pelos trinitarianos espanhóis em 1640 (Ordo Hispan., 1640). A 15 de Novembro de 1658, a festa foi concedida ao oratório do Cardeal Berulle sob o título: Solemnitas Gloriosae Virginis, dupl. cum. oct., em 17 de Setembro. Trazendo o título original, "SS. Nominis B.M.V.", a festa concedida a toda a Espanha e ao Reino de Nápoles em 26 de Janeiro de 1671.

Após o cerco de Viena e a gloriosa vitória do Rei João III Sobieski da Polónia [e da República das duas Nações] sobre os Turcos (12 de Setembro de 1683), a festa foi estendida para a Igreja Universal por Inocêncio XI, e marcada para o Domingo depois da Natividade de Maria por um decreto de 25 de Novembro de 1683 (duplex majus). 

A festa foi concedida à Áustria como duplex II classis a 1 de Agosto de 1654. Segundo um Decreto de 8 de Julho de 1908, sempre que esta festa não puder ser celebrada no próprio Domingo, por causa da ocorrência de alguma festa de maior grau, deve-se mantê-la a 12 de Setembro, o dia em que a vitória de Sobieski é comemorada no Martirológio Romano. O calendário das Irmãs da Adoração Perpétua, O.S.B., em França, do ano de 1827, possui a festa com um Ofício especial a 25 de Setembro. 

A Festa do Santíssimo Nome de Maria é a festa patronal dos Cônegos Regulares das Escolas Pios (padres escolápios) e da Sociedade de Maria (Maristas), em ambos os casos com um ofício próprio. No ano 1666, os Carmelitas Descalços receberam a faculdade de recitar o Ofício do Nome de Maria quatro vezes por ano (duplex). Em Roma, uma das igrejas gémeas no Fórum de Trajano é dedicada ao Nome de Maria. No Calendário Ambrosiano de Milão, a festa está marcada para o dia 11 de Setembro. 

É interessante como a Santíssima Virgem é honrada de forma especial no aniversário de duas batalhas entre cristãos e maometanos, nas quais saímos vencedores: 
07/10 - Nossa Senhora do Rosário - Batalha de Lepanto, 1571
12/09 - Santíssimo Nome de Maria - Batalha de Viena, 1683

Que a Bem-aventurada Sempre Virgem Maria, chamada por Pio XII de "vencedora de todas as grandes batalhas de Deus", abençoe a Cristandade e toda a Humanidade nestes tempos em que a paz é duramente ameaçada e a perseguição aos cristãos pelos muçulmanos está cada dia mais feroz e incessante.

A festa de hoje é ocasião de recordarmos que ao Nome de Maria, como ao Nome de Jesus, durante as celebrações litúrgicas, faz-se inclinação de cabeça. Pela inclinação manifesta-se a reverência e a honra que se atribuem às próprias pessoas ou aos seus símbolos. 

Há duas espécies de inclinação, ou seja, de cabeça e de corpo. Faz-se inclinação de cabeça, quando se nomeiam juntas as três Pessoas Divinas, ao Nome de Jesus, da Virgem Maria e do Santo em cuja honra se celebra a Missa. É uma prática exterior que deve ser motivada pelo interior reconhecimento da grandeza da Serva do Senhor.

in O Segredo do Rosário

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

11 de Setembro e a derrota do Império Otomano na Batalha de Viena

O dia 11 de Setembro (de 2001) não foi escolhido por acaso. Alguns séculos atrás, a 12 de Setembro de 1683, sucedeu a mais vergonhosa e definitiva derrota que sofreu o Império Otomano, quando a Santa Liga Católica, uma união de estados do Sacro Império Romano-Germânico, liderada pelo rei polaco João III Sobieski, derrotou o exército do vizir otomano Kara Mustafa Paşa e impediu a dominação islâmica da Europa Cristã.

Por causa da sua posição estratégica como porta de entrada para os Estados Papais, os muçulmanos atacaram a Áustria com o objetivo de terminar a sua conquista da Europa pelo Sudeste, afim de construir uma mesquita no local da Catedral de São Pedro, no Vaticano.

A Batalha de Viena foi o auge de uma história de centenas de anos de guerra entre o mundo cristão e o islâmico, motivo pelo qual um dos jogadores mais importantes no tabuleiro era o Beato Marco D'Aviano, um monge capuchinho que teve a sua vida marcada pela luta na tentativa de proteger a Civilização Cristã e, finalmente, converter os islâmicos.

Depois de derrotados em Viena, os Otomanos foram sendo sucessivamente derrotados até à sua derrota final e dissolução do Império Otomano em 1918, quando acabou a Primeira Guerra Mundial. No entanto, o fim do avanço Otomano foi definitivamente conquistado pelos portugueses no mar e pela Liga em terra.

in Tradutores de Direita

Sincretismo religioso

No vôo papal de Timor para Singapura foram distribuídos estes cartões de “oração” para as diferentes religiões. Incluindo a “oração” muçulmana, que omite a referência à Trindade e cita o Corão. No vôo papal…

terça-feira, 10 de setembro de 2024

São Nicolau de Tolentino, Taumaturgo

Nicolau nasceu nas Marcas, em Itália, no ano de 1245, fruto das preces de seus pais a São Nicolau de Bari. Como São Zacarias e Santa Isabel, eles já estavam avançados em anos e não tinham filhos. Fizeram então a promessa àquele Santo de ir visitar seu santuário no reino de Nápoles, se suas preces fossem ouvidas. O que ocorreu no mês de Setembro de 1245 com o nascimento de um menino, que recebeu o nome de seu protector.

Ainda pequeno, Nicolau fugia de tudo o que fosse efeminado, mundano, e mesmo dos divertimentos das outras crianças. A sua pureza era angélica. Fugia das mulheres imodestas e dos meninos maliciosos, e aplicava-se em imitar as virtudes que brilhavam nos bons cristãos. Servia os pobres na casa paterna com as suas próprias mãos. A sua devoção profunda e o seu porte, faziam os fiéis crerem que ele via a Cristo com os olhos corporais. “Se Deus conservar a vida deste menino – diziam – será, um dia, um grande Santo”.

Nicolau era puro e tão piedoso, que o Menino Jesus lhe aparecia na hóstia no momento da elevação. Jovem ainda, mas já senhor de uma prebenda de cônego, um dia ficou tão tocado pelo sermão de um eremita de Santo Agostinho, que decidiu entrar para a Ordem.

Ordenado sacerdote em 1270, apesar de já ser um religioso consumado, Nicolau mostrou bem o muito que pode a graça do Sacramento da Ordem em uma alma bem disposta. Sendo já santo, o novo sacerdote logo deixou ver, quando estava no altar, brilhar a virtude com novo esplendor. O seu rosto se inflamava com o fogo do amor divino, e escorriam lágrimas de amor de seus olhos.

Enviado para o eremitério de Pésaro, uma vez, quando ia celebrar o Santo Sacrifício, apareceu-lhe uma alma do Purgatório pedindo que celebrasse a Missa por ela. Como Nicolau estava encarregado da Missa conventual, e só se podia então celebrar uma Missa por dia, respondeu que não lhe era possível atendê-la. Viu então uma multidão de almas que esperavam por uma Missa sua para se livrar do Purgatório.

Nicolau foi apresentar o problema ao seu Superior, e obteve dele licença para, durante uma semana, celebrar o Santo Sacrifício por intenção dessas santas almas. Aquela primeira alma apareceu-lhe de novo, vindo agradecer-lhe a caridade. Junto com ela vinham várias outras almas do purgatório que tinham sido libertadas graças às celebrações do santo.

Enviado para Tolentino, Nicolau aí passou os últimos 30 anos de sua vida, edificando a todos. Foi assaltado pelo demónio numa guerra contínua, sendo por ele tão maltratado, inclusive fisicamente, que ficou semi-inválido para o resto da vida.

Narram-se muitos prodígios operados pelo Santo. Um deles foi,  como Santo Elias, multiplicar a farinha de generosa mulher que lhe dera tudo o que tinha, ficando na miséria. Outra mulher, que só dava à luz a nados-mortos, recorreu a ele, e Deus fez com que, depois disso, fosse mãe de numerosa prole. Curou também outra mulher da cegueira e muitas pessoas de várias doenças. O remédio ordinário que São Nicolau usava nessas curas era fazer o Sinal da Cruz sobre a pessoa enferma.

Por fim, o Santo foi favorecido nos últimos seis meses de vida com a visão e a música harmoniosa dos Anjos. Via muitas vezes a Santíssima Virgem e Santo Agostinho, que lhe davam a gozar antecipadamente as doçuras celestiais.

O Santo expirou no dia 10 de Setembro de 1306, nos braços de Nossa Senhora e de Santo Agostinho, e foi canonizado no dia 1 de Fevereiro de 1446. Foi incluído no Martirológio em 1585.

in IPCO

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Mons. Georg Gänswein tomou posse como Núncio Apostólico na Lituânia




Em Vilnius, o ex-secretário do Papa Bento XVI apresentou as suas credenciais ao presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda. Mons. foi também nomeado Núncio na Letónia e na Estónia.

São Pedro Claver, o escravo dos escravos

Evangelizar os pobres, sarar os corações atribulados, proclamar a redenção dos cativos

Ontem, 30 de Maio deste ano de 1627, festa da Santíssima Trindade, saíram de uma grande nau muitos negros trazidos das margens dos rios de África. Fomos ter com eles, levando dois cestos de laranjas, limões, bolachas e outras coisas; e dirigimo-nos para as suas barracas. Parecia que entrávamos noutra Guiné.

Tivemos de atravessar por entre grande multidão até chegar aos doentes, que eram muito numerosos e estavam deitados no chão húmido e lamacento. Alguém se lembrou de o entulhar com fragmentos de telhas e tijolos para diminuir a humidade. Tal era a cama destes infelizes, que além disso estavam nus, sem qualquer roupa que os protegesse.

Tirámos as nossas capas e fomos buscar tábuas para fazer um estrado. Depois, forçando o caminho por entre os guardas, para ali transportámos os doentes. Em seguida distribuímo-los em dois grupos: de um grupo encarregou-se o meu companheiro com um intérprete; do outro encarreguei me eu. 

Entre eles havia dois quase a morrer: estavam frios e mal se lhes sentia o pulso. Levámos brasas numa telha para junto dos moribundos, deitámos perfumes nas brasas, até esvaziar duas sacas que tínhamos trazido. Depois, cobrindo-os com as nossas capas – pois eles nada tinham com que se cobrir e não podíamos perder tempo a pedir roupas aos seus senhores – conseguimos que fizessem uma inalação daqueles vapores e recuperassem o calor e a respiração. Era de ver a alegria com que nos olhavam!

Assim lhes falámos, não com palavras mas com obras; e na verdade, estando eles persuadidos de que tinham sido trazidos para ali a fim de serem comidos, de nada teriam servido outros discursos. Sentámo-nos depois, ou ajoelhámo-nos junto deles, lavámos-lhes os rostos e os corpos com vinho, procurando alegrá-los com carinho e fazer lhes o que naturalmente se faz para levantar o moral dos doentes.

Depois tratámos de os preparar para o Baptismo. Explicámos-lhes os admiráveis efeitos deste sacramento para o corpo e para a alma. E quando, respondendo às nossas perguntas, deram mostras de terem compreendido, passámos a um ensino mais completo sobre um só Deus que premeia ou castiga segundo os merecimentos de cada um, etc. Exortámo-los a fazer o acto de contrição e a manifestar o arrependimento dos pecados que tivessem cometido, etc.

Finalmente, quando já pareciam suficientemente preparados, falámos dos mistérios da Santíssima Trindade, da Encarnação e da Paixão; e, mostrando-lhes num quadro a imagem de Cristo crucificado sobre uma pia baptismal, para a qual correm os rios de sangue provenientes das chagas de Cristo, rezámos com eles, na sua língua, o acto de contrição.

São Pedro Claver in 'Carta de 31 de Maio de 1627' (A. Valtierra, S.I., San Pedro Claver, Cartagena, 1964, pp. 140-141)

domingo, 8 de setembro de 2024

Família Francesa compra e restaura uma capela em ruínas

Em criança, Armelle Lepeltier passava frequentemente pela capela de Saint-Joseph em Molières (Mayenne). O edifício estava abandonado, degradado e coberto de vegetação. Em 2018, com o seu marido Raphaël, decidiram restaurá-la com os seus filhos, a fim de a devolver ao culto. O apelo a donativos para a Chapelle Saint-Joseph de Molières em Chemazé ainda está aberto no site da Fondation du Patrimoine.

Vídeo: Le Figaro

Festa da Natividade da Virgem Santíssima. Onde nasceu Nossa Senhora?

Para entender a escassez de informações nos primeiros séculos da Igreja, sobre a vida de Nossa Senhora, convém levar em conta as particularidades daquela época.

O mundo pagão, por efeito da decadência em que se encontrava, era politeísta, ou seja, os homens adoravam simultaneamente vários deuses. Os pagãos não achavam ilógico nem absurdo que existissem várias divindades, ou que elas não fossem perfeitas. Pior ainda. Consideravam normal que os deuses dessem exemplo de devassidão moral, sendo, por exemplo, adúlteros, ladrões ou bêbados. Obviamente, nem todos os deuses eram apresentados como subjugados por esses vícios, mas o facto de haver vários deles nessas condições dificultava que os pagãos entendessem a noção católica do verdadeiro e único Deus, de perfeição infinita.

Por isso a primitiva Igreja teve muito cuidado ao apresentar Nossa Senhora como Mãe de Deus, pois aqueles povos, com forte influência do paganismo, rapidamente tenderiam a transformá-la numa deusa. Apenas após a queda do Império Romano do Ocidente e a sucessiva cristianização dos povos começou a Igreja – que nunca negou a importância fundamental da Virgem Santíssima na história da salvação – a colocar Nossa Senhora na evidência que lhe compete e a exaltar as suas maravilhas. E com isso, a fazer um bem indescritível às almas dos fiéis.

É fácil compreender por que nesse longo período, cerca de 400 anos, muitas informações a respeito da Santíssima Virgem se tenham perdido e outras se encontrem em fontes não inteiramente confiáveis. Não obstante, a Tradição da Igreja conservou fielmente aqueles atributos d’Ela que eram necessários para a integridade da fé dos católicos. O essencial foi transmitido, e, para um filho que ama a sua Mãe, qualquer dado a respeito d’Ela é importante.

Entre esses dados, sobre os quais um véu de mistério permaneceu, está o local em que nasceu Nossa Senhora.

Belém, Seforis, ou Jerusalém

Três cidades disputam a honra de ter sido o local de nascimento da Mãe de Deus.(1)

A primeira é Belém. Deve-se essa tradição ao facto de Nossa Senhora ser de estirpe real, da casa de David. Sendo Belém a cidade de David, foi essa a razão pela qual São José e a Virgem Santíssima – ambos descendentes do Profeta-Rei – dirigiram-se àquela localidade, por ocasião do censo romano que ordenava que todos se registrassem no lugar originário das suas famílias. Por isso, o Menino Jesus nasceu em Belém, e é aclamado, no Evangelho, como Filho de David. O principal argumento dos que sustentam a tese de que Nossa Senhora nasceu em Belém encontra-se num documento intitulado 'De Nativitate S. Mariae', incluído na continuação das obras de São Jerónimo.

Outra tradição assinala a pequena localidade de Seforis, poucos quilómetros ao norte de Belém, como o local do nascimento da Virgem. Tal opinião tem como base que já na época do Imperador Constantino, no início do século IV, foi construída uma igreja nessa localidade para celebrar o facto de ali terem residido São Joaquim e Santa Ana, pais de Nossa Senhora. Santo Epifânio menciona tal santuário. Os defensores de outras hipóteses assinalam que o facto de os genitores da Virgem Santíssima terem morado lá não indica necessariamente que Nossa Senhora tenha nascido naquela localidade.

A hipótese que congrega maior número de adeptos é a de que Ela nasceu em Jerusalém. São Sofrónio, Patriarca de Jerusalém (634-638), escrevendo no ano 603, afirma claramente ser aquela a cidade natal de Maria Santíssima.(2) São João Damasceno defende a mesma posição.

A festa da Natividade

Na Igreja católica celebramos numerosas festas de santos. Havendo, felizmente, milhares de santos, comemoram-se milhares de festas. Ocorre que não se celebra a data de nascimento do santo, mas sim a da sua morte — correspondendo ao dia da entrada dele na vida eterna. Apenas em três casos comemoram-se as festas no dia do nascimento: Nosso Senhor Jesus Cristo (Natal); o nascimento de São João Baptista; e a natividade da Santíssima Virgem.

A festa da Natividade era celebrada no Oriente católico muito antes de ser instituída no Ocidente. Segundo uma bela tradição, tal festa teve início quando São Maurílio a introduziu na diocese de Angers, na França, em consequência de uma revelação, no ano 430. Um senhor de Angers encontrava-se na pradaria de Marillais, na noite de 8 de Setembro daquele ano, quando ouviu os anjos cantando no Céu. Perguntou-lhes qual o motivo do cântico. Responderam-lhe que cantavam em razão da sua alegria pelo nascimento de Nossa Senhora durante a noite daquele dia.(3)

Em Roma, já no século VII, encontra-se o registro da comemoração de tal festa. O Papa Sérgio tornou-a solene, mediante uma grande procissão.

Posteriormente, Fulberto, Bispo de Chartres, muito contribuiu para a difusão dessa data em toda a França. Finalmente, o Papa Inocêncio IV, em 1245, durante o Concilio de Lyon, estendeu a festividade a toda a Igreja.

Comemoração na actualidade

Por uma série de motivos curiosos, a festa da Natividade é celebrada muito especialmente em Itália e em Malta. Sendo o povo italiano muito vivo e propenso a celebrações familiares, isso não surpreende.

Em Malta, a principal comemoração da festa consiste numa solene procissão na localidade de Xaghra.(4)

Na cidade de Florença, no dia da festa, numerosas crianças dirigem-se ao rio Arno levando pequenas lanternas, que são colocadas na água e lentamente vão atravessando a cidade.

Na Sicília, na localidade de Mistretta, a população celebra a festa representando um baile entre dois gigantes. À primeira vista, pareceria que isto nada tem a ver com a natividade. Mas corresponde a uma tradição: foi encontrada uma imagem de Santa Ana com Nossa Senhora ainda menina. Levada à cidade, a imagem misteriosamente retornou ao local onde havia sido achada, e os habitantes julgaram que só poderia ter sido levada por gigantes. Proveio daí esse costume.

Em Moliterno, ao contrário, existe o lindo e pitoresco costume de as meninas da localidade fixarem pequenas candeias nos chapéus de seus trajes típicos. Em determinado momento desaparecem as outras luzes e só permanecem as das meninas, que executam uma dança regional.

Curiosamente, em muitas localidades as luzes desempenham papel determinante na festa. Podemos conjecturar uma razão: a Natividade de Nossa Senhora representou o prenúncio da chegada ao mundo da Luz de Justiça, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Valdis Grinsteins in catolicismo.com.br

Notas:

2. Nuevo Diccionario de Mariologia, Ediciones Paulinas.
3. La fête angevine N.D. de France, IV, Paris, 1864, 188.

Bispo suíço: A Missa em latim tem orações profundas, exprime melhor a centralidade de Cristo

Monsenhor Marian Eleganti, antigo bispo auxiliar de Chur, na Suíça, deu uma entrevista ao Kath.ch, o portal dos meios de comunicação social dos bispos suíços. Pontos principais.

- Sou muito crítico em relação ao processo sinodal. Vejo o perigo de que certas agendas, já estabelecidas, o determinem e controlem desde o início. Isto não é uma verdadeira escuta.

- Creio que em tais processos, os editores que formulam os documentos finais são o fator decisivo - não necessariamente o Espírito Santo.

- Hoje, a chamada ‘realidade da vida’ é usada como outra ‘fonte de revelação’.

- Embora o Papa Francisco tenha escrito sinodalidade na sua bandeira, ele tem um estilo de liderança muito autoritário.

- Intervém no processo sinodal e dirige-o, por exemplo, retirando questões importantes da assembleia plenária e delegando-as em comissões que trabalham de forma autónoma.

- Muitos vêem as acções do Papa como contraditórias.

- Quando era acólito, vim a conhecer a Missa Tridentina e, depois do Concílio, fui treinado no Novus Ordo. Por tal, o rito antigo não me é estranho. Quando era miúdo, aprendi todas as orações em latim e estava sempre nervoso para não cometer erros. Celebro a Missa em Novus Ordo”.

- A Fraternidade Sacerdotal de São Pedro (FSSP) aproximou-se de mim. O Padre Martin Ramm, de Thalwil, que eu respeito muito, procurava um bispo para administrar o Crisma em Rito Antigo. Aprendi de novo este rito. É por isso que agora estão a chegar mais pedidos. Porque é que os hei-de recusar?

- A liturgia tridentina não é um 'workshop' e exprime muito mais a centralidade de Deus e de Jesus Cristo. Tem orações muito profundas que eu gosto muito de rezar em termos de conteúdo. Gosto muito das orações que acompanham sacerdote enquanto reza.

- Não percebo porque é que as orações foram abandonadas na reforma litúrgica, porque ajudam o padre a sintonizar-se com este mistério, a entrar nele e a celebrá-lo.

in gloria.tv

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

São Macário derrotou o Demónio através da Humildade

Certo dia, São Macário regressava à sua cela, trazendo consigo umas folhas de palmeira. Pelo caminho, o demónio veio ao seu encontro com uma foice de ceifeiro, e tentou atacá-lo, mas não conseguiu. 

Disse-lhe então o demónio: «Macário, sofro muitos tormentos por tua causa, porque não consigo vencer-te. Contudo, faço tudo o que tu fazes: tu jejuas, e eu não como; tu velas, e eu não durmo. Há só um aspecto em que me vences.» «Qual?» «A tua humildade. É ela que me impede de te vencer.» 

in 'Sentenças dos Padres do Deserto'

D. Fernando Rifan celebra Missa Pontifical na Catedral de Montes Claros

A convite do Bispo local, D. Fernando Rifan, Superior da Administração Apostólica São João Maria Vianney, deslocou-se até à diocese de Montes Claros para uma Missa Pontifical na Catedral. O objectivo foi celebrar o 12º aniversário do apostolado de Missa Tradicional naquela diocese, organizado pela Sociedade da Santíssima Virgem Maria.






quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Santuário de Fátima organiza um encontro com a controversa teóloga espanhola Cristina Inogés

A polémica e heterodoxa teóloga espanhola Cristina Inogés, formada numa faculdade protestante, é a próxima convidada dos 'Encontros da Basílica' organizados pelo Santuário de Fátima em Portugal.

“Através da palavra, da música ou de ambas, os Encontros da Basílica são uma oportunidade de aprendizagem e um convite à introspeção. A próxima sessão não será diferente e terá lugar no dia 8 de Setembro, tendo como oradora a teóloga Cristina Inogés Sanz. “Fizeste-mo a mim (Mt 25,40): imperativos da dignidade do outro“ é o tema da palestra que começa às 15h30, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, em Fátima”, lê-se no site do santuário mariano português.

Como se não houvesse bons teólogos católicos, o Santuário de Fátima escolheu convidar e promover Cristina Inogés Sanz que “propõe uma reflexão sobre o imperativo moral cristão de respeitar a dignidade e os direitos dos outros. Muitas vezes aliviamos a nossa consciência acreditando que basta pertencer à Igreja, mas não é assim. Para dizer que pertencemos à Igreja, temos, antes de mais, de ser Igreja na nossa vida quotidiana. Não é por respeito, mas para não pôr em risco a dignidade de ninguém”, diz a nota que acompanha o anúncio do encontro.

Quem é Cristina Inogésé conhecida pelas suas posições heréticas em muitos domínios. Esta teóloga, formada numa universidade protestante, expressou repetidamente o seu desejo de que a Igreja aceitasse e abençoasse a homossexualidade e deixasse de considerar os seus actos como pecaminosos. A “mãe” sinodal nomeada pelo Papa Francisco para participar no Sínodo também deseja que, no futuro, as mulheres se vistam como padres.

Num exercício de omnipotência, chegou mesmo a dizer que a Igreja deveria rever a teologia de todos os sacramentos.

in infovaticana

terça-feira, 3 de setembro de 2024

São Pio X denuncia os inimigos da Igreja

Nestes últimos tempos cresceu sobremaneira o número dos inimigos da Cruz de Cristo, os quais, com artifícios de todo ardilosos, se esforçam por baldar a virtude vivificante da Igreja e solapar pelos alicerces, se dado lhes fosse, o mesmo reino de Jesus Cristo. Por isto já não Nos é lícito calar para não parecer faltarmos ao Nosso santíssimo dever, e para que se Nos não acuse de descuido de nossa obrigação, a benignidade de que, na esperança de melhores disposições, até agora usamos.

E o que exige que sem demora falemos, é antes de tudo que os fautores do erro já não devem ser procurados entre inimigos declarados; mas, o que é muito para sentir e recear, se ocultam no próprio seio da Igreja, tornando-se destarte tanto mais nocivos quanto menos percebidos.

Aludimos, Veneráveis Irmãos, a muitos membros do laicato católico e também, coisa ainda mais para lastimar, a não poucos do clero que, fingindo amor à Igreja e sem nenhum sólido conhecimento de filosofia e teologia, mas, embebidos antes das teorias envenenadas dos inimigos da Igreja, vangloriam-se, postergando todo o comedimento, de reformadores da mesma Igreja; e cerrando ousadamente fileiras se atiram sobre tudo o que há de mais santo na obra de Cristo, sem pouparem sequer a mesma pessoa do divino Redentor que, com audácia sacrílega, rebaixam à craveira de um puro e simples homem.

Pasmem, embora homens de tal casta, que Nós os ponhamos no número dos inimigos da Igreja; não poderá porém, pasmar com razão quem quer que, postas de lado as intenções de que só Deus é juiz, se aplique a examinar as doutrinas e o modo de falar e de agir de que lançam eles mão. Não se afastará, portanto, da verdade quem os tiver como os mais perigosos inimigos da Igreja. Estes, em verdade, como dissemos, não já fora, mas dentro da Igreja, tramam seus perniciosos conselhos; e por isto, é por assim dizer nas próprias veias e entranhas dela que se acha o perigo, tanto mais ruinoso quanto mais intimamente eles a conhecem. Além de que, não sobre as ramagens e os brotos, mas sobre as mesmas raízes que são a Fé e suas fibras mais vitais, é que  meneiam eles o machado.

Batida pois esta raiz da imortalidade, continuam a derramar o vírus por toda a árvore, de sorte que coisa alguma poupam da verdade católica, nenhuma verdade há que não intentem contaminar. E ainda vão mais longe; pois pondo em obra o sem número de seus maléficos ardis, não há quem os vença em manhas e astúcias:  porquanto, fazem promiscuamente o papel ora de racionalistas, ora de católicos, e isto com tal dissimulação que arrastam sem dificuldade ao erro qualquer incauto; e sendo ousados como os que mais o são, não há consequências de que se amedrontem e que não aceitem com obstinação e sem escrúpulos. 

Acrescente-se-lhes ainda, coisa aptíssima para enganar o ânimo alheio, uma operosidade incansável, uma assídua e vigorosa aplicação a todo o ramo de estudos e, o mais das vezes, a fama de uma vida austera. Finalmente, e é isto o que faz desvanecer toda esperança de cura, pelas suas mesmas doutrinas são formadas numa escola de desprezo a toda autoridade e a todo freio; e, confiados em uma consciência falsa, persuadem-se de que é amor de verdade o que não passa de soberba e obstinação. Na verdade, por algum tempo esperamos reconduzi-los a melhores sentimentos e, para este fim, a princípio os tratamos com brandura, em seguida com severidade e, finalmente, bem a contragosto, servimo-nos de penas públicas.

Papa São Pio X in Carta Encíclia 'Pascendi dominici gregis'