segunda-feira, 26 de maio de 2008

Experiências que nos marcam (III)

Há dois dias vi pela primeira vez o Fiel Jardineiro. Se alguém não viu não se preocupe que não vou contar o fim, nem nada de relevante do filme. Lá para o meio, enquanto o Justin Quayle, o principal, está a visitar uma pequena aldeia no Sudão onde está um médico a prestar (gratuitamente) cuidados de saúde, aparecem uns homens com metralhadoras a cavalo (os homens não as metralhadoras), vindos de outra aldeia, com o objectivo de raptarem crianças e matarem os adultos. Enquanto via aquelas pessoas a serem mortas, e pensando também noutros filmes como o “Hotel Ruanda” (baseados em factos verídicos) e o “Diamante de Sangue”, nos quais acontecem massacres ainda piores, pensei: espera aí, mas Deus ama tanto cada um destes como a mim. Aquele é um lugar remoto, nada do que ali acontece aparece nas notícias.

Fazendo um parentesis, hoje vi mais ou menos um minuto do “Regresso à Lagoa Azul”, e quando chegam europeus (ingleses) à ilha onde estão eles dois, perguntam: “o que fazem neste sítio esquecido por Deus?”. E ela responde, que aquele sítio não era nada esquecido por Deus. Eles tinha sido ensinados pela “mãe” a celebrar o Natal, o dia de Acção de Graças, e tinham Deus bem presente, apesar do que julgavam os sabichões da metropole. E mesmo que não O conhecessem, Ele estaria presente, e nunca os esqueceria. “Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria.” dizia o profeta Isaías na primeira leitura deste Domingo. E aquelas crianças violentadas e os pais mortos naquela aldeia do Sudão, supostamente “esquecida por Deus”, são-Lhe afinal eternamente queridos. E quem diz as vítimas, diz quem as matou, o que é ainda mais difícil de perceber.

Mas parece-me que é o grande segredo para a verdadeira caridade. Por exemplo, costumo ler imensos textos de ateus/agnósticos, e muitos deles não são de falinhas mansas. Insultam da maneira mais vil a Igreja toda, a começar pelo Papa e acabar nos comuns fiéis, e quase sempre as acusações são injustas, baseadas em falsidades. E eu leio aquilo, percebo que não é verdade, e fico mais ou menos descansado, nós estamos certos, eles estão errados. Mas depois começo a pensar que Deus os ama tanto como a mim, e isso é que verdadeiramente me desafia. Mostrar que eles estão errados, até pode ser fácil, mas amá-los como Deus os ama, justamente os que me insultam e me acusam falsamente, é que não é pêra doce. Mas é esse o passo necessário para uma discussão não se tornar apenas numa luta, num esmagar o outro, mas sim num levantar o outro, por amor ao seu destino.

Sinceramente olho para a quantidade de pessoas que há no mundo, e para as que já existiram, e não consigo acreditar que Deus as ame todas, não consigo pronto. Não vou desistir de tentar perceber isso, mas por enquanto ainda não consigo, o meu coração é pequeno demais para O perceber, e à Sua infinita misericórdia. Mas tentar amar cada um que me rodeia como Ele o ama já é um belo desafio...suficiente para ocupar toda uma vida.

João Silveira

6 comentários:

  1. Gostei! (em especial o "segredo" e o "desafio")

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  2. Peço desculpa pela intromissão senzas, mas não resisti...

    Esse, de facto, é um dos desafios de uma vida, mas o que mais me magoa, o que mais me "revolta" é pensar que esses não sabem que Aquele contra Quem dizem todos aqueles disparates, todas aquelas coisas horríveis e a Quem ofendem de boca cheia, os ama infinitamente, assim como me ama a mim e a ti, que vamos à missa todos os dias, que rezamos o terço e que ainda pretendemos retribuir um bocadinho, no meio de tantas cabeçadas (cá está, falo por mim..) (das cabeçadas, entenda-se)

    Não é triste ver que o Deus que amamos (com este coração pequeno e traidor - pelo menos o meu) é continuamente ofendido e ultrajado e, século após século, permanece fiel e misericordioso?..

    Beijinhos,
    marta c.o.

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  3. Marta, falas de intromissão como se este não fosse um blog público, e não tivessemos todo o gosto em que as pessoas comentem. Até havia uma altura que andava para aí um a comentar que se chamava qq coisa como: "ei lucia gandas oculos". A partir do momento em que permitimos a participação de doidos varridos, como é o caso desse senhor, quanto mais pessoas que contribuem para o nosso crescimento.

    Mas já chega de graxa! É realmente triste, mas que a tristeza nunca ganhe uma dimensão maior do que a que deve ter, ou seja de algo momentaneo, que é destruído pela confiança. Porque a persistência na tristeza destrói a esperança, e sem esperança a malta não vai lá (ler a última encíclica do Papa).

    Olhando para tudo o que se passa e se passou, podemos perguntar: será que vale a pena? Será que Deus não devia ter estado quieto em vez de criar o Homem?

    A resposta a isso parece-me que é: claro que valeu a pena! E como o Senhor não mede as coisas como nós medimos, estou convencido que basta um momento de amor verdadeiro para apagar uma vida inteira de pecado.

    Beijinhos

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  4. "ei lucia gandas óculos" volta, estás perdoado!!

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  5. ahh, que saudades

    ainda irei à procura de comentarios antigos

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