sábado, 21 de janeiro de 2012

É ocioso estar sempre a discutir a alternativa da razão e da fé - G.K. Chesterton

A mente humana corre perigo, um perigo tão prático como a ladroagem; foi como barreira contra esse perigo que a autoridade religiosa se constituiu, bem ou mal. E é absolutamente necessário que alguma coisa se constitua como barreira contra esse perigo, pois de outra maneira é toda a raça que corre o risco de se afundar.

O perigo consiste no facto de o intelecto humano ter a liberdade de se destruir a si mesmo. Assim como uma geração pode impedir que a geração seguinte venha a existir – entrando em massa para um convento, ou lançando-se ao mar –, assim também um conjunto de pensadores pode, até certo ponto, impedir que haja pensamento, ensinando à geração seguinte que o pensamento humano é totalmente desprovido de valor.

É ocioso estar sempre a discutir a alternativa da razão e da fé. A razão é, ela própria, uma questão de fé. É um acto de fé afirmar que os nossos pensamentos têm alguma relação com a realidade.

Um céptico acabará, mais cedo ou mais tarde, por perguntar a si mesmo: «Por que motivo hão-de a observação e a dedução ser correctas? Por que motivo não há-de a lógica ser tão enganadora como a falta de lógica? Não é verdade que uma e outra mais não são do que movimentos do cérebro de um macaco desorientado?»

Ao que o jovem céptico responde: «Eu tenho o direito de pensar por mim mesmo.»

Já o velho céptico, o céptico perfeito, prefere afirmar: «Eu não tenho o direito de pensar por mim mesmo. Eu não tenho absolutamente direito nenhum de pensar.»

Há um tipo de pensamento que põe fim ao pensamento. E esse é o único pensamento a que é necessário pôr fim. Esse é o mal definitivo ao qual se opõe a autoridade religiosa, um mal que só se manifesta no termo de épocas decadentes como aquela que estamos a viver.

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