O ódio de Bryon Widner começou a diminuir quando viu o filho nascer. “Nesse dia vi Deus”, afirma ele. A partir daí, as bebedeiras, a pancadaria e o racismo pareceram-lhe um grande disparate. Tinha uma família e, pela primeira vez na vida, quis trabalhar. Mas o passado perseguia-o: ninguém lhe dava emprego por causa das tatuagens na cara. Precisava de as apagar a qualquer custo. O processo foi filmado pelo canal norte-americano MSNBC e está no documentário Erasing Hate (apagando o ódio).
Bryon entrou num gangue de skinheads aos 14 anos. A avó alcoólica com quem vivia repetia vezes sem conta que ele nunca seria ninguém -acreditou nela. Durante os 16 anos seguintes dedicou-se a esmurrar negros, a embebedar-se e a tatuar o corpo com caveiras, suásticas e outros símbolos. Era um dos mais perigosos skinheads dos EUA, mas em 2006 casou com Julie, também ela skinhead, e tiveram um filho. Tudo mudou: “A primeira vez que se pega num bebé... É um tipo de amor que é difícil expressar”, resume. Diz que o racismo deixou de fazer sentido.
Bryon abandonou o movimento e mudou de cidade, mas as tatuagens tornaram-se um pesadelo. “Agora sei o que os negros sentem quando são discriminados pela cor da pele”, diz no documentário. Sem dinheiro para cirurgias, em 2007 ponderou usar ácido na cara. A mulher decidiu pedir ajuda.
Daryle Jenkins, um activista negro, dirigiu o casal à Southern Poverty Law Center, uma organização que investiga e luta em tribunal contra os skinheads. “Foi como se o Bin Laden tivesse pedido ajuda”, recorda o director, Joseph Roy.
A organização angariou os 25 mil euros necessários para a remoção das tatuagens. Uma benemérita exigiu apenas que Bryon se inscrevesse na faculdade ou num curso profissional. As 25 sessões, iniciadas em 2009 pelo cirurgião plástico Bruce Shack, duraram 16 meses.
No fim de cada uma, Bryon gemia de dor com a pele queimada pelo laser. Nunca nada lhe tinha doído tanto – nem mesmo quando na cadeia o fecharam numa cela cheia de negros, que o espancaram à vontade. in Sábado
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