7. Desejo de morte
Deve o padre desejar muitas vezes o Paraíso, e por consequência a morte, para ir em breve para o Céu amar a Jesus Cristo, com todas as suas forças e por toda a eternidade, sem receito de jamais o perder. Entretanto, procederá sem reservas para com Deus, nada lhe recusando, do que souber que lhe é mais agradável, e estará sempre atento a afastar do seu coração tudo o que não é Deus nem para Deus.
8. Devoção à santíssima Virgem
Esforce-se por conceber uma grande confiança e terna devoção para com a santíssima Virgem. Todos os santos têm alimentado em seus corações uma piedade filial para com a Mãe divina. Cuide de fazer todos os dias uma leitura nalgum livro, que trate das suas glórias e da confiança que devemos ter na sua poderosa proteção. Não deixe de jejuar aos sábados em sua honra, o melhor que possa, e em todas as suas novenas, pratique ao menos alguma abstinência e mortificação. Não deixe de visitar todos os dias alguma imagem sua. Quanto puder, falará da confiança que se deve ter na proteção de Maria, e procurará aos sábados fazer aos fiéis uma pequena instrução na igreja, para os afervorar na devoção a esta compassiva Soberana.
Pelo menos, fale dela em cada um dos seus sermões, e recomende a mesma devoção a todos os seus penitentes, assim como a todas as demais pessoas que possa. Quanto mais se amar a Maria, tanto mais se amará a Deus; porque Maria atrai a Deus os que a amam. Quia tota ardens fuit, diz S. Boaventura, omnes se amantes, eamque languentes, incendit (De B. M. V. s.1).
9. Ser humilde do coração
Esforce-se por ser humilde do coração. Muitos há que são humildes de palavras, mas não do coração; dizem que são os maiores pecadores do mundo, que merecem mil infernos; apesar disso, querem ser preferidos, estimados e louvados. Quando ninguém os aplaude, a si próprios se louvam; ambicionam os empregos mais altos, e não podem sofrer uma palavra de desprezo.
Não procedem assim os humildes de coração: nunca falam dos seus talentos, da sua nobreza, das suas riquezas, nem de coisa alguma que os distinga.
Amará pois os empregos e serviços mais humildes e obscuros. Receberá as afrontas sem se perturbar, e até interiormente se comprazerá nelas, por se tornar assim semelhante a Jesus Cristo, que foi saturado de opróbrios.
Nas contradições que ferirem e irritarem o seu orgulho, faça-se violência para nada dizer nem fazer naquela ocasião, ainda mesmo que seja superior e como tal obrigado a reprimir a insolência de quem o ultraja. Enquanto sentir os nervos exaltados, deve calar-se até que eles acalmem. De contrário, o fumo da perturbação lhe ofuscará a vista; olhará como justo o que diz e faz, ao passo que tudo será falta e desordem. Além disto, quando a correção se faz no momento da exasperação, o inferior não a recebe como reprimenda merecida, mas como efeito da impaciência da parte do superior, o que a torna inútil ou pouco menos. Pela mesma razão, quando o superior conhece que o seu inferior está perturbado, deve diferir a admoestação, esperando que ele acalme; doutro modo, o inferior cego pela sua paixão, longe de receber a repreensão, romperá em maiores excessos.
Santo Afonso-Maria de Ligório in A Selva
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