segunda-feira, 7 de maio de 2012

Conhecer o sentido da nossa vida – Pe. Rodrigo Lynce de Faria

Ele era muito despistado. Viajava há horas num comboio submergido na leitura dum romance policial. Estava de tal modo concentrado, que não apreciava a magnífica paisagem que aparecia na sua janela. Num determinado momento, passou o revisor. Com muita delicadeza, chamou-o à realidade deste mundo e pediu-lhe, por favor, que lhe mostrasse o bilhete. Ele começou a procurá-lo em todos os bolsos. Não o conseguia encontrar. 

Os outros passageiros olhavam para a cena com uma certa apreensão. Aquele cavalheiro, tão elegante no modo de vestir, não aparentava nem remotamente estar a viajar de graça. Ele parecia estar desorientado. Fechou o livro sem lhe deixar uma marca. Suava por todos os poros e tinha muitos, porque era corpulento. O revisor ficou com pena. Era evidente que aquele senhor não o estava a enganar. Tantas vezes tinha lidado com situações dessas. Aquela era diferente. «Não se preocupe. Quando encontrar o bilhete, diga-me alguma coisa. Vou continuar o meu trabalho. Não lhe farei pagar outra vez». «Não é pagar outro bilhete que me preocupa. O que de verdade me preocupa é que eu já não me lembro para onde é que vou». 

Uma pessoa não pode viajar sem saber antes para onde é que se dirige. Tal afirmação é tão óbvia que parece ridícula. No entanto, hoje em dia, vemos muitas pessoas que viajam nesta vida sem saberem muito bem para onde é que vão. A pergunta pelo sentido da vida parece-lhes própria de pessoas mais velhas. Própria de quem não soube aproveitar a juventude vivendo-a intensamente. Uma pergunta teórica, que não muda nada, e que nunca terá uma resposta séria. Como as respostas não se podem provar cientificamente, todas elas são válidas. Logo, nenhuma pode considerar-se verdadeira. Logo, a própria pergunta não tem muito sentido. 

Quem viaja por esta vida sem um norte, acaba por pensar que o que verdadeiramente tem sentido é viver intensamente o momento presente. Conhecer a vida e tudo aquilo que ela tem para nos dar. Acumular experiências. Quanto mais experiências, melhor. Dentro de pouco acaba-se o tempo e seria uma pena sair deste mundo sem ter experimentado tudo. Seria um verdadeiro fracasso. Um fracasso, além disso, irremediável. 

Existe algo mais importante do que conhecer profundamente esta vida? Do que conhecer tudo o que ela tem para nos dar? Sim. Existe. Conhecer o sentido que ela tem. Que este conhecimento não seja científico nem experimental, não significa que não seja verdadeiro. E muito menos que nos seja inútil. Este sentido só se pode descobrir com um pouco de silêncio. E pode continuar a ignorar-se depois de muitas experiências variadas. Nem sempre o conhecimento que provém da experiência é o melhor. Se assim fosse, como disse alguém de um modo ousado, uma pessoa de má vida saberia melhor o que é o amor humano do que qualquer pessoa casada. E não parece que seja assim.

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