Daquela vez era mesmo a sério: Colton estava a morrer. Os sorrisos dos médicos tinham-se transformado numa sentença de morte e já nem a amabilidade das enfermeiras, sempre tão solícitas e atenciosas, conseguia disfarçar o drama que Sónia e Todd estavam a viver, enquanto o seu pequeno filho de quatro anos agonizava. Depois de um apertado abraço, que apenas serviu para que ambos se sentissem ao mesmo tempo reconfortados e oprimidos pela mesma dor, pediram orações a todos os seus amigos. Como depois Todd reconheceu, «estava desesperado por orações, desesperado para que outros crentes batessem às portas do Céu e implorassem pela vida do nosso filho».
Depois, como já nada mais havia a fazer, Todd e Sónia sentaram-se e rezaram juntos, «com medo de ter esperança e com medo de a não ter». Como é difícil esperar, quando a voz das nossas súplicas parece impotente ante a realidade! Como é penoso, depois de esgotados, sem êxito, todos os meios humanos, cruzar os braços, olhar o Céu com temor e tremor e esperar, «esperando contra toda a esperança» (Rm 4, 18)!
Na aflição daquela agonia do pequeno Colton, os seus pais tiveram medo de não ter esperança, porque sabiam que o milagre não se poderia produzir senão pela sua fé no poder de Deus e no seu infinito amor. Como cristãos, tinham presente que a intervenção celestial requer uma atitude de confiança por parte do fiel que, de outro modo, não poderia receber a impetrada graça divina. Por isso, rezaram e pediram orações. Baterem às portas do céu com as suas lágrimas e as suas vozes e, ainda, com as lágrimas e as vozes de muitos outros seus amigos, também crentes e, portanto, solidários com a sua dor.
Mas Todd e Sónia tiveram também um outro medo: o medo de ter esperança. Parece estranho este temor, sobretudo se referido como concomitante com o seu contrário, ou seja, o medo de a não ter. Mas é verdade que, muitas vezes, este receio nos acomete, sobretudo em momentos de grande aflição. É como que uma voz que se insinua na nossa mente e no nosso coração e nos convida a sermos razoáveis, a não pedirmos o impossível, a não desejarmos o que está para além do poder humano. É a força de um argumento cheio de razão, mas também a voz de uma vontade que não se quer ver ferida pela desilusão de uma expectativa defraudada. Para quê desejar o infinito, se outra é a nossa condição? Não será cruel acreditar num sonho que, inexoravelmente, se desfará quando se tiver que acordar para a realidade? De que serve essa piedosa alienação, se a realidade dos factos se impõe por si mesma, com toda a sua crueza? Não será, afinal, mais sensato, não levantar esses castelos no ar e resignar-se ante a dor e a morte, em vez de esperar?!
Os apóstolos sentiram este medo de ter esperança quando lhes chegou a boa nova da ressurreição de Cristo. Não quiseram acreditar, porque temeram que, se não fosse verdadeira a tão auspiciosa notícia, mais terrível seria o seu já imenso sofrimento. Não se quiseram agarrar a uma ilusão que, talvez por uns momentos, os pudesse reconfortar, mas que depois os deixaria irremediavelmente ainda mais prostrados e abatidos.
Há, decerto, esperanças a não alimentar, porque carecem de fundamento sobrenatural. Cristo a ninguém prometeu a riqueza, o poder, a saúde, o bem-estar ou uma vida longa e prazenteira. Por isso, quem o desejar, para si ou para os outros, não o pode fazer em nome da sua fé cristã. Mas há uma esperança de que não há que ter medo, uma esperança que não engana: a certeza que nasce da ressurreição de Jesus, que não foi apenas percepcionada ou intuída pelos seus discípulos, mas por eles comprovada, vista pelos seus incrédulos olhos e tocada pelas suas mãos tementes e trementes.
Colton não só não morreu, como parece ter sido protagonista de uma revelação surpreendente, embora o seu conteúdo nada tenha de extraordinário para quem crê. Quando acordou do coma, aquele menino norte-americano de quatro anos sorriu e disse que tinha visto o Céu, onde Cristo vive (Todd Burpo e Lynn Vincent, O Céu existe mesmo, A história real do menino que esteve no Céu e trouxe de lá uma mensagem, 7ª edição, Ed. Lua de Papel, 2011).
Outros ajuizarão acerca do valor dessa singular experiência, mas a sua conclusão não poderia ser mais certeira, porque, de facto, Cristo vive e nós vivemos no seu amor. «Porque eu estou certo que nem a morte, nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem as coisas presentes, nem as futuras, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem nenhuma outra criatura nos poderá separar do amor que Deus nos manifestou em Cristo Jesus, Senhor nosso» (Rm 8, 38-39).
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