Andam por aí alguns improvisados teólogos muito preocupados e com
razão: então não é que, no seu último livro, o Papa Bento XVI, se calhar
à conta da lei do arrendamento, deu ordem de despejo do presépio à vaca
e ao burro?! Há quem diga também, talvez ao abrigo da generosa
ideologia da igualdade de género, que a vaca afinal era boi. Mas o
burro, por mais que lhe chamem jumento, de burro não passa. E ainda bem.
Este burburinho dos diabos – e nunca melhor dito! – seria
irrelevante se não fosse a maldosa intenção de perverter o que Joseph
Ratzinger afirma no último volume da sua magnífica trilogia sobre Jesus
de Nazaré. Pior ainda: pretende-se infundir nos ânimos menos avisados a
ideia de que nada é certo, nem histórico, nos relatos bíblicos do
nascimento de Cristo, e portanto tudo se pode pôr ou tirar, ao gosto do
freguês. Se tudo fosse discutível, o Natal não passaria na realidade de
uma piedosa lenda, de um conto digno dos irmãos Grimm ou, à conta da
vaca e do burro, de uma fábula à La Fontaine.
Desenganem-se os agitadores das consciências cristãs. Bento XVI não
brinca ao Farmville com o presépio de Nosso Senhor e por isso, muito
embora afirme que os relatos evangélicos não referem – nem neguem,
acrescente-se – a presença das duas bestas, entende que a mesma se
justifica em termos hermenêuticos, bíblicos e da mais genuína tradição
católica. Ao ponto de concluir que por isso “nenhuma representação do
presépio prescindirá do boi e do jumento”. Também diz, como a Igreja
sempre disse e a ciência histórica confirma, que é verdadeiro e real o
nascimento de Jesus Cristo, o filho de Deus e da Virgem Maria, esposa de
José, em Belém de Judá, há pouco mais de 2 mil anos.
Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade… e
aos burros do costume, que, também este ano, poderão contemplar, embora
sem nada compreender, a encantadora beleza do Natal.
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