quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Alocução "Vi ringrazio" (aos Padres) - São Pio X

Distraídos com muitas ocupações, é fácil esquecer as coisas que levam à perfeição na vida sacerdotal; é fácil [para o padre] iludir-se a si mesmo e acreditar que, ocupando-se com a salvação das almas de outros, ele trabalha consequentemente para a sua própria santificação. Infelizmente, não deixem esta ilusão levar-vos ao erro, porque nemo dat quod nemo habet [ninguém dá aquilo que não tem]; e, em ordem a santificar os outros, é necessário não negligenciar nenhum dos caminhos propostos para a própria santificação.

O Papa é o guardião dos dogmas e da moral; ele é o custódio dos princípios que fazem boas famílias, grandes nações e almas santas; ele é o conselheiro dos princípes e dos povos; ele é a cabeça sob a qual ninguém se sente tiranizado porque ele representa o Próprio Deus; ele é o pai supremo que une em si tudo o que existe e que é amoroso, carinhoso e divino.

Parece incrível, e mesmo doloroso, que existam padres para quem esta recomendação tenha que ser feita, mas infelizmente estamos na nossa era, nesta situação infeliz e difícil, de ter que dizer aos padres: amem o Papa!

E como é que o Papa deve ser amado? Non verbo neque lingua, sed opere et veritate. [Não em palavras, nem na língua, mas em obras e em verdade (1Jo 3,18)] Quando alguém ama uma pessoa, tenta aderir em tudo aos seus pensamentos, fazer a sua vontade, satisfazer os seus desejos. E se Nosso Senhor Jesus Cristo disse de si mesmo, "si quis diligit me, sermonem meum servabit", [se alguém me ama guardará a minha palavra (Jo 14,23)] então, em ordem a demonstrar o nosso amor pelo Papa, é necessário obedecer-lhe.

Assim, quando amamos o Papa, não discutimos relativamente ao que ele ordena ou pede, ou até que ponto a nossa obediência deve ir, e em que coisas é que ele deve ser obedecido; quando amamos o Papa, não dizemos que ele não foi suficientemente claro, quase como se ele fosse obrigado a repetir ao ouvido de cada um a vontade claramente expressa tantas vezes não só pessoalmente, mas com cartas e outros documentos públicos; não colocamos as suas ordem em questão, acrescentando o falso pretexto daqueles que não querem obedecer - de que não é o Papa que governa, mas aqueles que o rodeiam; não limitamos o campo em que ele deve e tem que exercer a sua autoridade; não colocamos por cima da autoridade do Papa a de outras pessoas que divergem do Papa, por muito inteligentes que sejam, e que, mesmo que inteligentes, não são santos, porque quem é santo não pode divergir do Papa.

Este é o grito de um coração cheio de dor, que com profunda tristeza eu exprimo, não por vocês, queridos irmãos, mas para lamentar, convosco, a conduta de muitos padres, que não só se permitem a debater e a criticar os desejos do Papa, mas que não se embaraçam de chegar a uma desobediência descarada e sem vergonha, com tanto escandâlo para o bem e tanto mal para as almas.

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