Não sei se são só os meus filhos que são socialistas ou se são todas as
crianças que sofrem do mesmo mal. Mas tenho a certeza do que falo em
relação aos meus. E nada disto é deformação educacional – eles têm sido
insistentemente educados no sentido inverso. Mas a natureza das
criaturas resiste à benéfica influência paternal como a aldeia do
Astérix resistiu culturalmente aos romanos. Os garotos são estóicos e
defendem com resistência a bandeira marxista sem fazerem ideia de quem é
o senhor.
Ora o primeiro sintoma desta deformação ideológica tem que
ver com os direitos. Os meus filhos só têm direitos. Direitos
materiais, emocionais, futuros, ambíguos e todos eles adquiridos. É
tudo, absolutamente tudo, adquirido. Ele dão como adquirido o
divertimento, as férias, a boleia para a escola, a escola, os ténis
novos, o computador, a roupinha lavada, a televisão e até eu. Deveres,
não têm nenhum. Quanto muito lavam um prato por dia e puxam o edredão da
cama para cima, pouco mais. Vivem literalmente de mão estendida sem
qualquer vergonha ou humildade. Na cabecinha socialista deles não existe
o conceito de bem comum, só o bem deles. Muito, muito deles.
O
segundo sintoma tem que ver com o aparecimento desses direitos. Como
aparecem esses direitos. Não sabem. Sabem que basta abrirem a torneira
que a água vem quente, que dentro do frigorífico está invariavelmente
leite fresquinho, que os livros da escola aparecem forradinhos todos os
anos, que o carro tem sempre gasolina e que o dinheiro nasce na parede
onde estão as máquinas de multibanco. A única diferença entre eles e os
socialistas com cartão de militante é que, justiça seja feita, estes
últimos já não acreditam na parede – são os bancos que imprimem dinheiro
e pronto, ele nunca falta.
Outro sintoma alarmante é a visão de
futuro. O futuro para os meus filhos é qualquer coisa que se vai passar
logo à noite, o mais tardar. Eles não vão mais longe do que isto. Na sua
cabecinha não há planeamento, só gastamento, só o imediato. Se há,
come-se, gasta-se, esgota-se, e depois logo se vê. Poupar não é com
eles. Um saco de gomas ou uma caixa de chocolates deixada no meio da
sala da minha casa tem o mesmo destino que um crédito de milhões
endereçado ao Largo do Rato: acaba tudo no esgoto. E não foi ninguém...
O
quarto tique socialista das minhas crianças é estarem convictas de que
nada depende delas. Como são só crianças, acham que nada do que fazem
tem importância ou consequências. Ora esta visão do mundo e da vida faz
com que os meus filhos achem que podem fazer todo o tipo de asneiras que
alguém irá depois apanhar os cacos. Eles ficam de castigo é certo (mais
ou mesmo as mesma coisa que perder eleições), mas quem apanha os cacos
sou eu. Os meus filhos nasceram desresponsabilizados. A responsabilidade
é sempre de outro qualquer: o outro que paga, o outro que assina, o
outro que limpa. No caso dos meus filhos o outro sou eu, no caso dos
socialistas encartados o outro é o governo seguinte.
Por fim, o
último mas não menos aterrorizador sintoma muito socialista dos meus
filhos é a inveja: eles não podem ver nada que já querem. Acham que têm
de ter tudo o que o do lado tem quer mereçam quer não. São autênticos
novos-ricos sem cheta. Acham que todos temos de ter o mesmo e se não dá
para repartir ninguém tem. Ou comem todos ou não come nenhum. Senão vão à
luta. Eu não posso dar mais dinheiro a um do que a outro ou tenho o
mesmo destino que Nicolau II. Mesmo que um ajude mais que outro e tenha
melhores notas, a “cultura democrática” em minha casa não permite essa
diferenciação. Os meus filhos chamam a esta inveja disfarçada, justiça,
os socialistas deram-lhe o nome de justiça social.
A minha sorte é que os meus filhos crescem. Já os socialistas são crianças a vida inteira.
Inês Teotónio Pereira in ionline
Inês Teotónio Pereira in ionline
5 estrelas
ResponderEliminarOs filhos desta senhora, felizmente não são socialistas, como diz, mas sim animaizinhos de estimação, educados no mais profundo individualismo e total ausência de solidariedade, a viver numa jaula em que ela (mãe) desempenha o papel de tratadora.
ResponderEliminarOh António! Também não é preciso descer a esse nível. A autora apenas está a comparar a atitude que ela vê nos filhos com a atitude que ela observa nos sucessivos governos socialistas. E se for honesto vai ver que a comparação até está muito boa! Não seja criança/socialista e aprecie o humor e inteligência deste artigo
ResponderEliminarMuito bem escrito!!
ResponderEliminarGrande lucidez!
ResponderEliminarNão sabia que ser Católico era o oposto de ser Socialista, ou que eram mutuamente exclusivos... sempre a aprender com o preconceito dos outros
ResponderEliminarAcho que a comparaçao estava muito exagerada e muito levada para o nivel politico, isso da inveja, percebo, mas acho que tambem á a busca de uma certa igualdade por parte dos socialistas, e nao só o facto de quererem o que é do outro. Em Portugal como se sabe á muita corrupçao e muitas das fortunsa que existem nao se devem a merito de quem as tem mas a desmerito e crime, e isso nao deve ser esquecido e desculpado, ao acusar os socialistas( que tomam forma de comunistas neste texto) de invejosos, mesmo que alguma inveja lá esteja
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