Entre as formidáveis características da vasta maioria do povo português (para não dizer europeu) que se tem como católico, e tal se diz, há duas que se destacam sobremaneira: a boçalidade e a desumanidade. Estas propriedades espantosas são louvadas, encorajadas e mesmo abençoadas por amplos sectores da Hierarquia que parecem ver nelas instrumentos e sinais essenciais de comunhão, de unidade e de paz.
Muitos cuidam que desimitando a exemplaridade de Jesus Cristo, anunciando e afirmando tão só “coisas positivas”, descurando a denúncia e a oposição ao mal, ao erro e ao pecado sossegam os anticristos que por aí pululam ferozmente organizados, quando na verdade lhes abrem as portas à progressão, ao avantajamento, ao domínio implacável das consciências e de um criminoso poder totalitário. Outros descansam no dito de Jesus Cristo que se O perseguiram a Ele também nos perseguirão a nós. Asserção, de facto, infalível mas o que daí inferem é uma alarvice. De feito, concluem que nada lhes resta senão conformarem-se à perseguição entregando-se ao martírio; sem reflectirem que não são somente eles que estão em perigo mas também o bem das suas famílias, da sociedade, dos mais fracos e desfavorecidos, dos indefesos e dos inocentes, enfim o Bem-comum, pelo qual têm o dever estrito e grave de combater com todas as veras, prudência (não timoratamente, mas escolhendo os meios mais adequados fim que se propõem) e inteligência. Há ainda quem olhe para o presente com a mesma distância neutra e fria com que se consideram acontecimentos trágicos e nefastos de séculos passados, esquecendo que se nada podem fazer em relação ao que já sucedeu, têm a obrigação rigorosa de evitar que as mesmas catástrofes se repitam.
Talvez se possa afirmar que os que assim pensam e procedem padecem de um embrutecimento comum: não aprenderem nada com o passado. De facto, temos aí todos os sinais e mais alguns que precederam os mais cruéis terrores e perseguições a que os povos e a Igreja foram submetidos – a revolução francesa, o socialismo, o comunismo, o fascismo (Mussolini), o nazismo -: o jacobinismo maçónico, a ideologia lgbt, a ideologia do género, a devastação da família fundada no matrimónio, a vigilância universal, a destruição da inocência das crianças nas escolas, a perversão das mentalidades pelas séries e telenovelas nas tevês, o eugenismo, o controlo demográfico, a matança sistemática, sem precedentes, dos inocentes, a experimentação descabelada, faustiana, nas pessoas na etapa inicial das suas vidas, a eutanásia, o efeminizar dos homens, o aniquilamento da maternidade e da nupcialidade, a fantasia de “parentalidades” canalhas, o rapto por parte do estado de crianças a seus pais, etc., etc.
Os exemplos atrás que ilustram a cretinice e indiferença de tantos perante a malignidade que nos acomete e abocanha mostra outrossim o desprezo frio e cruel para com todas as vítimas, não só actuais mas futuras, das trevas que vertiginosamente se vão adensando. O carácter profundamente egoísta e inumano destas gentes revela-se com uma clarividência meridiana quando topamos com a reacção veemente e colérica da classe média e alta perante os cortes no bolso próprio, e o insensível marasmo displicente quando em relação aos pequeninos: os nascituros, as vítimas do divórcio, as crianças produzidas- congeladas-eliminadas-e-pouquíssimas-nascidas por processos técnico-laboratoriais, a co-adopção-adopção-plena por parelhas do mesmo sexo; e tudo o mais que já anteriormente foi referido.
O Senhor ensinou que quem procurar salvar a sua própria vida perdê-la-á mas quem a perder por Sua causa salvá-la-á. Também poderíamos parafrasear afirmando que quem procurar salvar a Igreja (espertezas saloias, diplomacias humanas, etc.) perdê-la-á (recordemos que historicamente ela já foi perdida em vários sítios do mundo, como lembrou o Papa Bento XVI) mas quem a perder (quem não recear a loucura da Cruz) por caus ade Jesus salvá-la-á. A Igreja é Cristo em nós. Nós somos o Corpo de Cristo. À honra e Glória do mesmo e de Sua e nossa Mãe a Imaculada Virgem Maria. Ámen.
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