sábado, 5 de outubro de 2013

Descrição da criação do mundo do Senhor dos Anéis, JRR Tolkien

Só para contextualizar:

Ilúvatar é o criador de tudo o que existe na saga do Tolkien. Como Deus.

Os Valar são criaturas eternas e excelsas criadas por Ilúvatar e que o ajudaram na criação do mundo até ao aparecimento dos homens.

Melkor é um Valar que caiu e traiu Ilúvatar, era o mais poderoso de todos. Como Satanás.

Manwe é o segundo maior dos Valar e permaneceu sempre fiel a Iluvatar. Como São Miguel Arcanjo.

"Diz-se que depois da partida dos Valar houve silêncio e que durante uma era Ilúvatar esteve sozinho, a pensar. Depois falou e disse: "Olhai, eu amo a Terra, que será uma mansão para os Quendi [Elfos] e para os Atani [Homens]! Mas os Quendi serão as mais belas de todas as criaturas terrenas e terão, conceberão e produzirão mais beleza do que todos os meus filhos; e terão a maior bem-aventurança deste mundo. Mas aos Atani darei um novo dom." Por isso, quis que os corações dos Homens procurassem para além do mundo, para lá da música dos Ainur, que é como o destino para todas as outras coisas; e do seu procedimento tudo seria, em forma e acção, completado e o mundo cumprido até ao útimo e mais ínfimo dos pormenores.

Mas Ilúvatar sabia que os Homens, colocados entre as convulsões dos poderes do mundo, frequentemente se desviariam do caminho e não utilizariam os seus dons de harmonia; então disse: "Também estes a seu tempo descobrirão que tudo quanto fizeram redundará no fim somente para a glória do meu trabalho." No entanto, os Elfos crêem que os Homens são muitas vezes um tormento para Manwe, que conhece quase todos os pensamentos de Ilúvatar, pois parece aos Elfos que os Homens se assemelham a Melkor, mais do que todos os Ainur, embora ele os tenha sempre receado e odiado, mesmo os que o serviram.

É de acordo com este dom de liberdade que os filhos dos Homens só habitam vivos no mundo um curto espaço e não estão presos a ele; partem em breve, para onde não é do conhecimento dos Elfos, ao passo que os Elfos permanecem até ao fim dos tempos, e o seu amor pela Terra e por todo o mundo é mais singular e mais pungente e, à medida que os anos aumentam, cada vez mais magoado."
in O Silmarillion
Nuno CB

2 comentários:

  1. Bom, a comparação não está muito boa, ou não está completa.
    Só para contextualizar:

    Ilúvatar é sim o mais poderoso e o criador dos Valar, mas não se pode comparar o poder dele, pois ele só cria, deixa toda sua obra nas "mãos" dos Valars. Melkor é o mais poderoso de todos os Valars, e não traiu Ilúvatar, tecnicamente falando ele é um efeito destoante na criação do mundo. Ilúvatar fez ele assim. Manwe é o segundo mais poderoso, dos Valar e só pode enfrentar Melkor com ajuda dos outros Valar (é uma referência da luta do bem e o mal). Melkor, no final, trai sim a "ordem", mas a traição foi contra Manwe e não contra Ilúvatar. Essa mitologia é muito mais parecida com as religiões africanas do que com a concepção católica. =)

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  2. Caro Marco,

    A mitologia do Tolkien é parecida com várias mitologias criadas por seres humanos.

    Aliás, a ser, será especialmente parecida com as mitologias nórdicas e não com as africanas, pois era nos povos anglo-saxónicos que o Tolkien tinha as suas áreas de estudo (de linguística).

    São todas parecidas porque todas estão nos corações dos homens: todos os homens têm o mesmo no coração. É interessante ler o Tolkien e ver que mesmo esta ideia está presente nos "homens" por ele criados na Terra Média: todos têm no coração um desejo de ir para o Ocidente.

    Entre todas estas mitologias criadas pelos homens, há uma que verdadeiramente não é mito, mas verdade e, quando submetida a muito estudo, nenhum erro se encontra nela.
    É a filosofia cristã, a descrição cristã (e, mais especificamente, Católica) do mundo.

    Ora, a coerência filosófica, ausente em tantas dessas mitologias que existem, está presente no mundo do Tolkien.
    Um bom exemplo é de que o criador de tudo o que existe é apenas um (Ilúvatar) e não vários (como os deuses gregos, egípcios, ...).

    Também na filosofia cristã, Deus criou o mundo e, enquanto o sustenta com a Sua vontade, deixa-o correr segundo as suas regras (as leis da física). No mundo do Tolkien também o mundo é criado por Ilúvatar, que depois o deixa desenvolver através da sua música (é assim que o Tolkien diz).
    É interessante ver que também o C.S. Lewis cria Narnia através da música de Aslan.

    Esta música é "tocada" pelos Valar, algo que os anjos do Cristianismo, não fizeram.
    E também acho ir longe demais chamar S. Miguel a Manwe e Satanás a Melkor, mas não podemos negar as semelhanças.

    Os anjos, no Cristianismo, são os seres mais superiores de todos, pelo menos do que o homem tem conhecimento.
    Satanás também foi o anjo mais poderoso de todos e desviou-se do caminho do bem, que é a vontade de Deus. É neste contexto que se diz que Satanás "traiu" Deus.
    E foi exactamente isto que Melkor fez, seguir uma música, um "tema" (como diz o Tolkien), diferente daquele previsto por Ilúvatar.

    Mais ainda, é impressionante ver como o conceito de liberdade se mantém muitíssimo coerente tanto no Cristianismo como no mundo do Tolkien.
    Isto é, apesar de Satanás se ter desviado do caminho do bem, Deus permite a sua existência, porque ele era um ser livre.
    Ora, Ilúvatar faz exactamente o mesmo com Melkor.

    E, no Cristianismo, quem faz frente a Satanás não é Deus directamente, mas os exércitos dos anjos, liderados por S. Miguel.
    No mundo do Tolkien, quem faz frente a Melkor são os Valar, liderados por Manwe.

    Óbvio que depois a história continua e o Cristianismo é claramente diferente do mundo do Tolkien, e ainda bem.

    O Senhor dos Aneis e os outros livros não são sobre o Catolicismo, isso é óbvio, nem nunca pretenderam ser.
    São é um reflexo daquilo que o Tolkien sabia e compreenia, aplicado à sua imaginação.

    Um Santo Natal,
    Nuno

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