Muitos estranharam o grande destaque - página inteira e foto - do PÚBLICO, de 16-7-2013, a um estudo, que "indica que casais gay são menos stressados a cuidar dos filhos".
A bem dizer, não é propriamente um estudo científico porque, como se afirma logo na primeira linha, "ainda não está concluído". Ora, de uma análise que não está terminada, não se podem retirar, como é lógico, ilações, porque, como diria La Palice, só um estudo concluído é, efectivamente, conclusivo. Contudo, o seu autor já chegou a uma conclusão. Talvez com receio do previsível desfecho da sua investigação, antecipa um resultado apriorístico: a excelência da co-adopção. É o que se chama, em termos científicos, gato escondido com o rabo de fora, ou seja, política mascarada de psicologia, mas não tanto que não se lhe veja a cauda ideológica.
Não se trata, portanto, de um parecer científico, mas de uma mera opinião, certamente legítima, mas cientificamente infundada. Mas um cientista não tem direito a manifestar as suas opções políticas? Sim, claro, excepto quando intervém como investigador. Ora a entrevista era ao psicólogo e não ao militante partidário e, por isso, as afirmações políticas sobram. Ou talvez não, porque evidenciam a sua parcialidade, a qual compromete a idoneidade científica da análise e contraria o artigo 8.º, n.º 1, do respectivo código deontológico: "Quando fazem declarações públicas, (...) os/as psicólogos/as devem observar o princípio do rigor e da independência, abstendo-se de fazer declarações falsas ou sem fundamentação científica".
Apenas quarenta pessoas, casadas ou em união de facto, foram interrogadas para esta investigação. A insuficiência da amostragem é também significativa da insignificância do "estudo". Imagine-se um inquérito aos lendários quarenta companheiros de Ali Babá: a conclusão "científica" seria a de que todos os homens são ladrões!
É estranho que se diga que a família deve ser estável, mas depois não se compare a estabilidade nos dois tipos de uniões. Porquê? Será porque, como consta, as uniões naturais, ao contrário das estabelecidas entre pessoas do mesmo sexo, são mais duradouras e pacíficas e, portanto, mais aptas para a saudável educação dos filhos?
Muito embora este seu "estudo" seja inconclusivo, o não foi, contudo, o que o mesmo investigador realizou em 2010. A grande maioria dos então inquiridos - 1288 universitários finalistas portugueses - manifestou o seu "receio de que uma criança, adoptada por um casal do mesmo sexo, venha a apresentar um desenvolvimento psicossexual não-normativo" e, por isso, entende que se deve atribuir, "com maior probabilidade, a custódia de uma criança a uma família heteroparental do que a uma família homoparental". Tal qual, sem tirar nem pôr.
Se esta é, de facto, a opinião da maioria da população, como expressamente reconhece um psicólogo adepto da tese contrária, e não há nenhuma evidência científica no sentido oposto, só a decisão parlamentar que inviabiliza a co-adopção é legítima, por ser a única que serve o superior interesse da criança, e democrática, por reflectir a vontade esclarecida da maioria dos cidadãos. Outra coisa seria, sem dúvida, dar ao país gato por lebre. in Publico
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