segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Ecumenismo - Pe. Hugo Santos, Capelão da UCP

De 4 a 6 de Janeiro de 1964, enquanto ainda continuavam os trabalhos do Concilio Vaticano II, o Papa Paulo VI peregrinou rumo à Terra Santa inaugurando, na época moderna, aquelas que seriam as mediáticas viagens apostólicas internacionais dos Sumos Pontífices. No dia 5 de Janeiro, em Jerusalém, o Papa encontrou-se com o Patriarca Atenágoras de Constantinopla, o bispo que preside na honra a todos os fiéis ortodoxos, e cujo predecessor, Miguel Cerulário, tinha sido excomungado pelos enviados de Roma a Constantinopla, no século XI, dando início formal ao Cisma do Oriente que progressivamente foi separando cristãos católicos e ortodoxos ao longo dos séculos. 

Deste encontro resultou um abraço fraterno e uma conversa em que Paulo VI, nas palavras que então dirigiu ao Patriarca, convida a um diálogo ecuménico que não seja marcado por “nenhuma questão de prestígio, de primado, que não seja aquele estabelecido por Cristo. Sem nenhuma ambição humana de prevalecer, de ter glória, vantagens. Mas de servir.” Estava iniciado o caminho que conduziria ao levantamento mútuo das excomunhões no dia 7 de Dezembro de 1965 ao terminar o Concílio Vaticano II.

Este foi o passo necessário que teve como desenvolvimento, em 1979, o estabelecimento da Comissão Internacional Conjunta da Igreja Católica e da Igreja Ortodoxa, pelo Papa João Paulo II e o Patriarca Demétrio de Constantinopla e cuja missão é o aprofundar de ambas as partes do conhecimento mútuo do património doutrinal, litúrgico e tradicional das Igrejas em ordem ao caminho da unidade que se manifesta sempre como dom de Deus.

Desde então, uma das dificuldades encontradas neste percurso é o entendimento comum sobre a missão do Papa, o chamado ministério petrino, visto que os ortodoxos reconhecem no sucessor de Pedro um primado de honra e de caridade, mas não de jurisdição, ou seja o Papa, para os ortodoxos, não teria um poder imediato, pleno e universal sobre todas as Igrejas particulares, como aquele que o Papa tem na Igreja Católica em relação a todas as dioceses, e por isso, na concepção ortodoxa do primado, o Papa teria apenas um poder representativo como sinal de unidade entre todas as Igrejas.

Já na sua encíclica Ut Unum Sint (1995) o Beato Joao Paulo II reconhece ser esta uma dificuldade no caminho da unidade e, por isso, sente uma “solicitação que me é dirigida para encontrar uma forma de exercício do primado que, sem renunciar de modo algum ao que é essencial da sua missão, se abra a uma situação nova.” (n. 95)

Em pleno Jubileu do Ano 2000, num clima de certa tensão e uma vez mais por causa do debate em torno do primado papal e do lugar que ocupam as Igrejas Orientais unidas a Roma, os trabalhos da Comissão Internacional são suspensos e adiados. Só voltam a ser retomados em 2006, no Pontificado de Bento XVI, o qual muito contribuiu com o seu empenho aquando da visita que este Papa fez a Istanbul, nome da antiga Constantinopla, ao actual Patriarca Bartolomeu.


Na sua exortação apostólica Evangelii Gaudium o Papa Francisco afirma que “pouco temos mudado nesse sentido” e que permance “aberto às sugestões tendentes a um exercício do meu ministério que o torne mais fiel ao significado que Jesus Cristo pretendeu dar-lhe e às necessidades actuais da evangelização.” (n.32)

O encontro anunciado para Maio, em Jerusalém, entre o Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeu de Constantinopla, cuja finalidade principal é comemorar o histórico encontro dos seus predecessores há 50 anos no mesmo local, pode servir de estímulo para recuperar um entusiasmo renovado no caminho da unidade visível das Igrejas e à reflexão do tipo de primado nelas exercido. O Papa afirma “que será uma peregrinação de oração”. De certo, também pela causa do ecumenismo.

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