sexta-feira, 4 de abril de 2014

Carta Aberta a Henrique Raposo

Caríssimo Henrique Raposo,

Sou leitora frequente das suas crónicas. Louvo o seu raciocínio e a honestidade intelectual que lhe é habitual, e que escasseia nos comentadores da actualidade, mas que infelizmente me parece ter faltado no seu texto recente: "Os bispos e o sexo, calem-se sff". Por esta mesma razão não posso deixar de apontar algumas coisas:


Em primeiro lugar, quando se refere ao "vazio da Igreja em relação à sexualidade", fá-lo na ignorância certa do que a Igreja diz sobre este assunto. Podia falar nas 129 catequeses que o Papa João Paulo II dedicou sobre o assunto - e que até deram origem à chamada "Teologia do Corpo", ou nos diversos documentos do Magistério que foram sendo publicados ao longo do tempo e que não só explanam bem a ideia de que nada há de vazio quanto a este assunto, como ainda para mais se dedicam a estudá-lo com profundidade.

Em segundo lugar, expressões como "discurso ultra-defensivo em relação ao desejo", a "diabolização" da sexualidade e o "mundo assexual da Igreja" enquanto caracterizadoras da visão da Igreja sobre o sexo são de uma total desconexão com a realidade. Podíamos falar sobre isto horas a fio, latim que se dispensa, quando se pega no Catecismo e lê-se ipsis verbis "a sexualidade é fonte de alegria e de prazer. (...) foi o próprio Criador quem estabeleceu que, nesta função, os esposos experimentassem prazer e satisfação do corpo e do espírito."

Em terceiro lugar, relativamente à acusação de que a Igreja não soube reagir à sociedade "pós-pílula", eu diria que a sociedade nunca soube reagir à sexualidade. Aliás, o "mundo ultra-sexualizado e encharcado de pornografia" revela bem que quando não compreendemos algo, e não sabemos que "uso" lhe dar, as más escolhas são uma certeza. 
Dizer que o Homem é um fim em si mesmo e não um objecto de desejo, que a sexualidade é parte integrante de um corpo -que não temos, que somos-, e que por isso é uma dimensão que deve ser vivida com toda a verdade da nossa existência não me parecem conselhos de gente assexuada que diaboliza o desejo.

Da minha parte, descobrir as catequeses que lhe referi há pouco mudou a minha vida. Para melhor, porque descobri quem sou, porque razão sou este corpo. 
Sei que o sexo não é bom, é óptimo, e ajudo, com o meu marido, outros casais a perceberem o mesmo: a relação sexual é a expressão máxima do amor entre um Homem e uma Mulher; e isto tem tanto de humano, como de divino.

Por ultimo, e para não me alongar, deixe-me que lhe diga que quem escreve é uma mulher católica, de 24 anos, que se casou aos 20, mãe, jovem de jeans e t-shirt que passa mais tempo no facebook do que devia. E sou mesmo, mesmo feliz.

Catarina de Nicolau Campos

3 comentários:

  1. Excelente artigo. Há que não ficar calado perante tantos e tão graves disparates que certos "opinion makers" vão espalhando pelo ciberespaço e nos média. Parabéns pela coragem, objetividade e frontalidade.

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  2. Eu, mulher casada, com 53 anos, com 4 filhos concordo inteiramente com esta jovem

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