O jornalista Andrea
Tornielli conseguiu bisbilhotar a zona onde as câmaras da televisão já não
entram e tirou a fotografia. A notícia tem três dias, no momento em que
escrevo.
Junto à porta do quarto 201
da Casa de Santa Marta (o quarto do Papa Francisco), dorme um S. José de
madeira, em cima de uma mesa. Entalados, por baixo, os bilhetinhos que o Papa
lhe escreve.
Toda a gente sabe que o
Papa Francisco tem uma confiança total em Nossa Senhora e em S. José. O
entusiasmo acabou por contagiar toda a casa, dos monsenhores aos guardas suíços.
Um dos colaboradores conta que o Papa lhe disse:
‒ «Sabes, é preciso ter
paciência com estes carpinteiros: dizem que fazem um móvel em duas semanas e
depois demoram um mês. Mas fazem-no e trabalham bem! É preciso é ter
paciência...».
A imagem mede 40 cm e foi
das poucas coisas que o Papa mandou vir de Buenos Aires. Aparentemente, S. José
dorme, mas a imagem representa uma outra actividade, relatada no Evangelho:
mais do que dormir, S. José escuta a voz de Deus durante a noite e dispõe-se a
cumpri-la. É isso que interessa ao Papa.
Aliás, para uma figura
que dorme, a imagem não pára quieta na sua mesa. Às vezes, quando o trabalho de
S. José aperta, isto é, quando o número de bilhetinhos aumenta, a estátua fica empoleirada
num monte de papelada.
‒ «O Santo Padre dá muito
trabalho a S. José. A devoção já se pegou a todos os que trabalham à volta da
residência de Francisco, incluindo os Guardas Suíços…».
Bento XVI tinha decidido
introduzir em todas as orações eucarísticas uma referência a S. José, logo a
seguir à invocação de Nossa Senhora, mas preferiu deixar o assunto ao seu
sucessor. O Papa Francisco não perdeu tempo a confirmar a decisão.
No dia 5 de Julho de
2013, o Papa Francisco, acompanhado por Bento XVI, foi consagrar o Estado do
Vaticano a S. José. A cerimónia também já estava programada no pontificado
anterior, mas nem por isso teve menos significado:
‒ «S. José, (…)
consagramos-te as fadigas e as alegrias de cada dia; consagramos-te as
expectativas e as esperanças da Igreja; consagramos-te os pensamentos, os
desejos e as obras: tudo se cumpra no Nome do Senhor Jesus».
O início deste
pontificado deu-se a 19 de Março de 2013, festa de S. José, e, na homilia da
Missa, o Papa Francisco sublinhou o significado dessa circunstância.
‒ «Nunca esqueçamos que o
verdadeiro poder é o serviço e que, para exercer o poder, também o Papa se deve
meter cada vez mais naquele serviço que culmina na Cruz. Deve olhar para o
serviço humilde, concreto, rico de fé, de S. José e abrir os braços, como ele,
para guardar todo o povo de Deus e acolher com afecto e ternura a humanidade
inteira, especialmente os mais pobres, os mais débeis, os mais pequenos… só
quem serve com amor sabe guardar!».
Há poucos dias, a crónica
de Andrea Tornielli sobre o Primeiro de Maio no Vaticano centrou-se nesta mesa
rústica, junto à porta 201 da Casa de Santa Marta, onde dorme um Papa e
trabalha um S. José ‒ que parece dormir mas, afinal, trabalha bastante. Ai trabalha, trabalha!
José Maria C. S. André
in «Correio dos Açores», «Verdadeiro Olhar» (11-V-2014)
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