quinta-feira, 8 de maio de 2014

"Procura-se tudo, mas não se procura Deus" - Papa Paulo VI

Hoje os homens têm a tendência de não O procurar. Procura-se tudo, mas não se procura Deus. Aliás, nota-se até o propósito de O excluir, de extirpar o Seu nome e a Sua recordação de todas as manifestações da vida, do pensamento, da ciência, da actividade e da sociedade. 

Tudo deve ser laicizado, não só para dar ao saber e às acções do homem o seu campo próprio, governado pelos seus princípios específicos, mas também para reivindicar a autonomia absoluta do homem, uma suficiência aplacada unicamente com os limites humanos, orgulhosa de uma liberdade que não admite qualquer princípio vinculante e orientador. Procura-se tudo, mas não se procura Deus. Deus morreu, diz-se. Já não nos ocupamos d'Ele. Mas Deus não morreu. Perdemo-l'O. Foram os homens do nosso tempo que O perderam. Mas não valeria a pena procurá-l'O?

Procura-se tudo: as realidades novas e as antigas, as difíceis e as inúteis, as boas e as más, em suma, tudo. Pode-se dizer que a procura define a vida moderna. Então, porque não procuramos Deus? Não é um « Valor » que merece a nossa procura? Não é, talvez, uma realidade que exige um conhecimento melhor do que o puramente nominal de uso corrente? 

Não é melhor do que o conhecimento supersticioso e fantástico de certas formas religiosas, que devemos rejeitar exactamente porque são falsas, ou devemos purificar porque são imperfeitas? Não é melhor do que aquele conhecimento que se julga bastante informado e esquece que Deus é inefável, é mistério, e que o facto de conhecer Deus é para nós motivo de vida, de vida eterna ? (cfr. Jo 17, 3).

Deus não é, porventura, um problema, se assim lhe quisermos chamar, que interessa de perto o nosso pensamento, a nossa consciência e o nosso destino? E se, um dia, fosse inevitável o nosso encontro pessoal com Ele? Ainda mais: e se Ele estivesse escondido, como num interessantíssimo jogo, para nós decisivo, precisamente porque temos que O procurar (cfr. Is 45, 19) ? Ou melhor, ouvi: e se fosse Ele, Deus, o próprio Deus, que estivesse à nossa procura?

Audiêncial Geral, 26 de Agosto de 1970

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