Três anos depois de ser eleito, e depois de ter criado uma
“comissão para a natalidade”, o nosso governo percebeu o seguinte silogismo:
- O Estado social precisa de ser sustentado pelas novas
gerações;
- A taxa de natalidade em Portugal é a mais baixa da Europa,
cerca de 1,2 filhos por mulher em idade fértil (muito longe nível de
substituição de 2,1);
- Se isto continua assim Portugal pode dizer adeus ao Estado
social porque não vai haver ninguém para pagar as contas.
Mesmo que não fosse a coisa mais óbvia do mundo, este
panorama já tinha sido anunciado há muito tempo, e repetido até à exaustão na
campanha contra a legalização do aborto, em 2007.
Para tentar remediar esta previsível catástrofe, o governo
deverá brindar os progenitores com uma vasta panóplia de (pequenas) vantagens
económicas por gerarem descendência, esperando que sirvam como um incentivo à
natalidade.
Qualquer incentivo fiscal que ajude as famílias,
especialmente as que generosamente têm mais filhos, é de salutar. O problema é
que estas medidas são “peaners”.
O desenvolvimento económico ocidental que nos acompanha,
mais crise menos crise, desde o fim da segunda guerra mundial foi incentivando o consumo
privado, privilegiando o “ter de ter”, o materialismo, o individualismo, em
última análise o egoísmo.
Com o Maio de 68, e a “revolução sexual”, patrocinada pelo
aparecimento da pílula anticoncepcional, sexo e casamento divorciaram-se, passou a ser sempre que se quisesse, com quem se quisesse, sem um compromisso de vida.
O casamento foi menosprezado e o seu valor
diminuído, entrando em crise, com cada vez menos pessoas a querer
casar-se, e um aumento constante na taxa de divórcio. Generalizou-se o “viver
junto” e a “união de facto”.
O aborto começou a ser visto como um direito, e legalizado
praticamente em todos os países, onde se matam hoje em dia milhões de bebés por
ano.
Os mesmos que atacaram o casamento até passar a ser visto
como uma “tradição sem sentido” exigiram que duas pessoas do mesmo sexo se
pudessem casar, dizendo que sem isso não haveria igualdade. Com um lobby
poderosíssimo conseguiram o seu intento em tempo recorde, dando mais uma
machadada na já frágil instituição casamento.
Isto tudo para dizer que a falta de filhos não existe por
causa da crise, mas provém da mentalidade anti-família e anti-compromisso que se foi instalando na
sociedade ocidental. Um dos grandes culpados pela propagação desta doutrina em
Portugal foi o governo de José Sócrates, que conseguiu a proeza de legalizar o
aborto, aprovar o divórcio-expresso e sem culpa, e o “casamento gay”.
Enquanto nada disto mudar, o governo bem pode arranjar umas
promoções jeitosas, que vão apenas fazer ricochete e o problema de fundo irá
continuar. É uma questão de mentalidade, de maneira de encarar a vida e o que
andamos cá a fazer, e isso não se muda com descontos no IRS.
João Silveira
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