quinta-feira, 3 de julho de 2014

Quando a Igreja cede ao mundo

Há um pormenor no Evangelho segundo S. Mateus (16, 13-19) que é lido na Festa de S. Pedro e S. Paulo, que muito poucas vezes tenho visto (ou ouvido) ser explorado. Provavelmente devido ao seu aspecto pouco simpático em relação ao que o mundo diz.

Nosso Senhor pergunta aos Apóstolos o que dizem os outros sobre Ele, e os Apóstolos repetem o que diz o “mundo”: disparates!

E quando pergunta aos Apóstolos o que dizem eles d’Ele, é Pedro quem toma a iniciativa, mas, como diz Nosso Senhor, movido pela ciência divina e não humana, e dá a resposta correcta, mesmo sem a perceber, porque, logo a seguir, seguindo os critérios humanos, Pedro “desdiz” a sua confissão ao querer “mundanizá-la”. Este é um risco constante para a Igreja!

Sempre que na Igreja se utiliza a linguagem do mundo para se dialogar com ele, ou falar no seu interior de uma forma “mais compreensível”, o resultado é disparate. É certo que Nosso Senhor utiliza as armas do inimigo para o vencer.

Mas nós, na nossa humana fraqueza, sempre que tentamos “jogar” com as armas do “inimigo” para nos defendemos, o convertermos, dialogar com eles, acabamos sempre por cair na esparrela e saímos perdedores. E não só nós, mas também aqueles que temos diante de nós.

Precisamos perceber a linguagem do mundo, precisamos perceber os problemas do mundo, precisamos perceber as inquietações do mundo, mas nunca para respondermos com a mesma moeda ou linguagem. Sempre que não nos deixamos inspirar, mesmo sem perceber a totalidade do mistério, pela Graça, a nossa resposta será sempre vazia.

Não podemos cair na tentação de reduzir a nossa linguagem sobre a Igreja, sobre o mundo, sobre o homem, a uma linguagem mundana, pois assim iremos sempre defraudar os que temos diante de nós. Podemos correr o risco de não sermos percebidos, mas não podemos correr o risco de faltarmos à verdade em detrimento da compreensão e de um pretenso sucesso.

Quando a Igreja cede ao mundo na sua linguagem, nos seus gestos, na sua verdadeira identidade, não é apenas a Igreja que perde, é o mundo!

Com este episódio do Santo Evangelho e o que se lhe segue (Mt, 16, 21-23), somos alertados para que, sempre que nos deixamos influenciar pela mentalidade ou linguagem do mundo, podemos facilmente tornarmo-nos instrumentos do inimigo.

Não basta professar a nossa fé em Nosso Senhor Cristo e mantermos os nossos critérios mundanos, ou, pior ainda, reduzir Cristo a categorias mundanas. Sempre que o fizermos, numa pretensa ideia de melhor diálogo com o mundo, estamos a “abjurar” a nossa fé e a defraudar o mundo, a Igreja, a Deus.

Quando a Igreja cede ao mundo, o mundo invade a Igreja e esta deixa de poder exercer a sua missão tal como devia. Quando a Igreja cede ao mundo, perde o mundo, não o ganha. Quando a Igreja cede ao mundo, é conquistada por ele, em vez de o conquistar para Cristo!


Dominus nos benedicat, et ab omni malo defendat, et ad vitam perducat aeternam. Amen.



Um Padre

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