Conta a lenda, mas não a Bíblia, que um belo dia Adão, ainda no paraíso, chegou tarde a casa. Eva, criada por Deus de uma costela marital, quis saber das razões da demora, mas Adão não soube justificar de forma convincente o seu atraso que, a bem dizer, não se devia a nenhum motivo especial. Como Eva não ficasse satisfeita com as explicações conjugais, depois de o marido ter adormecido, foi-lhe contar as costelas. Se faltasse mais alguma, seria de supor a existência no Éden de mais alguma criatura feminina, eventualmente de má vida!
Há quem diga que a profissão da hipotética concorrente de Eva é a mais antiga do mundo. Mas não é verdade, porque o mais antigo ofício é o de Adão, que foi guarda florestal, ou jardineiro, na medida em que foi incumbido de guardar e cultivar o jardim do paraíso. A segunda profissão mais antiga também não foi a dos rumores infamantes, porque Eva, criada logo depois de Adão, foi doméstica. As seguintes são a de pastor e caçador, que seus filhos Abel e Caim exerceram, respectivamente.
Aliás, não só não é a mais antiga, como também não é profissão nenhuma. Por muito peritos que sejam nas suas actuações, um burlão ou um homicida não são, em sentido próprio, profissionais. O acto de mercadejar com o próprio corpo também não tem, nem pode ter, a dignidade de uma profissão, precisamente pelo carácter degradante dessa acção. Nenhum direito civilizado pode admitir tal comércio, nem reconhecer, a quem o exerce, qualquer estatuto laboral. Também não deve haver qualquer protecção legal para quem tem a indignidade de a ele recorrer ou, pior ainda, para quem criminosamente se dedica à sua exploração.
Contudo, há quem fale de ‘quem trabalha na indústria do sexo’ (PÚBLICO, 18-8-2014)! Assim, como se se tratasse de uma ‘indústria’ qualquer! Ou seja, há quem trabalhe na indústria do calçado, quem trabalhe na indústria têxtil, quem trabalhe na indústria da restauração, quem trabalhe na indústria cinematográfica e … quem trabalhe na indústria do sexo! Quem aí ‘trabalha’ estaria, portanto, equiparado, para efeitos sociais e laborais, aos ‘colegas’ que prestam serviço nas outras indústrias. Sendo uma ‘indústria’ como outra qualquer, não seria ofensiva a suposição de alguém aí exercer como funcionária, ou ter uma tal mãe, e até seria honroso ser um industrial, ou empresário, do ramo. Por este andar, pouco faltaria para que se criasse uma ordem profissional da falsamente dita mais antiga profissão do mundo …
O discurso de quem reivindica direitos para estas ‘trabalhadoras’ é uma falácia, porque uma tal exigência, embora finja uma louvável preocupação social, esconde uma inadmissível cumplicidade com a infamante realidade em que são obrigadas a viver essas mulheres. O problema da escravatura não se resolve com a sua aceitação social, nem com a outorga de alguns direitos sociais aos seres humanos que são privados da sua liberdade, mas com a irradicação total dessa infra-humana condição e a perseguição de todos os que, desse modo, atentam contra a dignidade humana. O drama da prostituição não tem, também, outra possível solução.
Se não é aceitável que os meios de comunicação social colaborem no branqueamento da exploração sexual, mesmo que sob a aparência de uma mera investigação antropológica, também não é compreensível que os agentes políticos tolerem esta realidade social. De facto, parece que as entidades oficiais pouco fazem para ajudar estas mulheres, ou para punir os ‘empresários’ desta tão rendosa ‘indústria’, cujo ‘material’, ao contrário da droga, é sempre reutilizável. As instituições da Igreja católica são, praticamente, as únicas que, no terreno, prestam um serviço efectivo às vítimas desta chaga social.
Não é possível fazer da terra o paraíso que já foi mas, como a Adão, também nos foi dada a missão de guardar e cultivar este jardim. Importa preservar a natureza mas, mais importante é a defesa da ecologia humana: qualquer ser humano deve ser respeitado na sua liberdade e dignidade pessoal. Porque todas as pessoas são, sem excepção, imagem e semelhança do Criador.
Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada in Voz da Verdade
Nunca houve tanta protecção e promoção da mulher como no nosso tempo mas paradoxalmente nunca se promoveu tanto a prostituição como agora. Uma vergonha e epidemia mundial.
ResponderEliminarE se "indústria do sexo" se referir à indústria pornográfica? A expressão, aliás, refere-se sobretudo à indústria pornográfica e não à prostituição. Não é nesse sentido que é usada no texto citado, mas é esse o seu sentido principal. Há alguma diferença, nesse caso? É que, ajnda que uma prostituta não esteja protegida pelos mesmos estatutos laborais de outros trabalhadores, uma actriz pornográfica está. São actividades diferentes e diferentemente consideradas de modo legal. Pode não se gostar de nenhuma delas, mas não se pode falar das duas como se não fossem diferentes. Nesse caso, como considera a actividade laboral de uma actriz pornográfica?
ResponderEliminarA abordagem do assunto está extremamente bem conseguida, concordo plenamente, sabendo contudo que a prostituição nunca será erradicada, pobres sempre os teremos, prostitutas é impossível a irradicação total da infra-humana do sexo! Também a indignidade e a degradação não é vista, nem sentida igualmente por todos. As protecções sociais, na impossibilidade de colmatar a raiz do problema procuram minimizar os seus danos na pessoa humana... mas poderiam fazer muito mais é evidente...
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