Pelo menos doze morreram no ataque ao jornal francês satírico Charlie Hebdo. O escândalo veio antes do luto, como talvez deva ser. Foi assim que também vieram as várias explicações do ataque. Dentro das mais previsíveis e desprezíveis estão os comentários que terminam quase antes de dizerem que os que morreram já estavam a pedi-las.
Tenho a certeza que os autores em questão não acreditam verdadeiramente nisso e é por isso que se deviam preocupar por os seus comentários estarem tão perto de implicar isso. Se uma amiga vossa fosse violada, não lhe deviam dizer que a saia dela era demasiado curta ou que o seu vestido era demasiado "provocante." Se um jornalista foi assassinado, a vossa primeira resposta também não devia ser sobre a linha editorial do seu empregador.
Tony Barber, um autor do Financial Times, discorda:
O Charlie Hebdo tem um longo historial de fazer troça, atrair e espicaçar os muçulmanos franceses. Ainda que a revista acabe os seus textos no ponto antes de começar aos insultos, não é de maneira nenhuma nenhuma campeã do princípio da liberdade de expressão. A França é a terra de Voltaire, mas disparates editoriais prevaleceram demasiadas vezes no Charlie Hebdo.
Isto não implica de todo que se desculpe os assassinos, que devem ser apanhados e punidos, ou para sugerir que a liberdade de expressão não se deve extender a retratos satíricos da religião. Simplesmente quer dizer que algum bom senso teria sido útil em publicações tais como o Charlie Hebdo ou o Jyllands-Posten da Dinamarca, que se propõem dar um golpe pela liberdade quando provocam os muçulmanos, mas na verdade estão a ser estúpidos.
Os problemas não desaparecem pela especial ressalva ("Não estou a desculpar o homocídio, a sério!"). Porque primeiro há a culpa do estatuto da vítima, a implicação de que o Charlie Hebdo estava a merecer. Segundo é a sugestão de que os assassinos são de alguma forma representativos dos muçulmanos, um grupo que Barber - na sua abundante condescendência liberal - aparentemente vê como fáceis de provocar para matar.
No Twitter, Adam Kotsko [famoso teólogo protestante] foca o mesmo ponto num tweet que o fez, rapidamente e correctamente, voltar atrás:
[Já não é surpreendente alguém atacar um jornal dedicado ao "discurso de ódio", tal como alguém agredir os protestantes de Westboro.]
[Eu não "apoio" atacar um jornal dedicado ao "discurso de ódio" ou agredir os aderentes de Westboro, mas por amor de Deus!]
Estou contente com este retratamento, mas dificilmente me conformo com a razão dele para o ter feito:
[Fiquei com a impressão de que o jornal atacado era um farrapo de ódio da extrema direita.]
Sim, como se nesse caso o comentário fosse justificável.
Os nossos princípios serão postos à prova na defesa de vítimas que não nos são queridas. As velhas complacência e condescendência ("Oh, a saia dela era demasiado curta." ou "Oh, ele não conseguia não o fazer.") não vão ser suficientes.
Matthew Schmitz, editor chefe da First Things.
in First Things
http://blogconsciente.com/2015/01/09/antes-de-ser-charlie-eu-sou/
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