quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Segunda catequese do Papa Francisco sobre ser Pai

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de apresentar a segunda parte da reflexão sobre a figura do pai de família. Na última catequese falei sobre o perigo dos pais «ausentes», e hoje quero considerar acima de tudo o aspecto positivo. Também são José teve a tentação de deixar Maria, quando descobriu que ela estava grávida; mas interveio o anjo do Senhor, que lhe revelou o desígnio de Deus e a sua missão de pai putativo; e José, homem justo, «recebeu em casa a sua esposa» (Mt1, 24), tornando-se o pai da família de Nazaré.

Todas as famílias têm necessidade do pai. Hoje meditamos sobre o valor do seu papel, e gostaria de começar com algumas expressões que se encontram no Livro dos Provérbios, palavras que um pai dirige ao próprio filho, dizendo assim: «Meu filho, se o teu espírito for sábio, o meu coração alegrar-se-á contigo! Os meus rins estremecerão de alegria, quando os teus lábios proferirem palavras rectas» (Pr 23, 15-16). Não se poderia expressar melhor o orgulho e a emoção de um pai que reconhece que transmitiu ao seu filho aquilo que realmente conta na vida, ou seja, um coração sábio. 

Este pai não diz: «Sinto-me orgulhoso de ti, porque és precisamente igual a mim, repetes as palavras que pronuncio e aquilo que faço». Não, não se limita simplesmente a dizer-lhe algo. Diz-lhe uma coisa muito mais importante, que poderíamos interpretar assim: «Serei feliz cada vez que te vir agir com sabedoria e comover-me-ei todas as vezes que te ouvir falar com rectidão. Foi isto que desejei deixar-te, para que se tornasse algo teu: a atitude de ouvir e agir, de falar e julgar com sabedoria e rectidão. E para que pudesses ser assim, ensinei-te coisas que não sabias, corrigi erros que não vias. Fiz-te sentir um afago profundo e ao mesmo tempo discreto, que talvez não tenhas reconhecido plenamente quando eras jovem e incerto. 

Dei-te um testemunho de rigor e de firmeza que talvez não entendesses, quando só querias cumplicidade e tutela. Fui o primeiro que tive de me pôr à prova da sabedoria do coração e velar sobre os excessos do sentimento e do ressentimento, para poder carregar o peso das incompreensões inevitáveis e encontrar as palavras certas para me fazer entender. Agora — continua o pai — comovo-me quando vejo que tu procuras comportar-te assim com os teus filhos e com todos. Estou feliz por ser teu pai!». É isto que diz um pai sábio, um pai maduro.
Um pai sabe bem quanto custa transmitir esta herança: quanta proximidade, quanta meiguice e quanta firmeza. No entanto, que consolação e recompensa se recebe, quando os filhos honram esta herança! É uma alegria que compensa todos os esforços, que supera qualquer incompreensão e cura todas as feridas.

Portanto, a primeira necessidade é precisamente esta: que o pai esteja presente na família. Que se encontre próximo da esposa, para compartilhar tudo, alegrias e dores, dificuldades e esperanças. E que esteja perto dos filhos no seu crescimento: quando brincam e quando se aplicam, quando estão descontraídos e quando se sentem angustiados, quando se exprimem e quando permanecem calados, quando ousam e quando têm medo, quando dão um passo errado e quando voltam a encontrar o caminho; pai presente, sempre. Estar presente não significa ser controlador, porque os pai demasiado controladores anulam os filhos e não os deixam crescer.

O Evangelho fala-nos da exemplaridade do Pai que está nos céus — o único, diz Jesus, que pode chamar-se verdadeiramente «Pai bom» (cf. Mc 10, 18). Todos conhecem a extraordinária parábola denominada do «filho pródigo», ou melhor, do «pai misericordioso», que se lê no capítulo 15 do Evangelho de Lucas (cf. 15, 11-32). Quanta dignidade e quanta ternura na expectativa daquele pai que está à porta de casa, à espera do regresso do filho! Os pais devem ser pacientes. Muitas vezes nada se pode fazer, a não ser esperar; rezar e esperar com paciência, doçura, generosidade e misericórdia.

Um pai bom sabe esperar e perdoar, do profundo do coração. Sem dúvida, também sabe corrigir com firmeza: não se trata de um pai fraco, complacente, sentimental. O pai que sabe corrigir sem aviltar é o mesmo que sabe proteger sem se poupar. Certa vez ouvi numa festa de casamento um pai dizer: «Às vezes tenho que bater um pouco nos filhos... mas nunca no rosto, para não os humilhar». Que bonito! Tem o sentido da dignidade. Deve punir, mas fá-lo de modo correcto e vai em frente.

Por conseguinte, se alguém pode explicar até ao fundo a oração do «Pai-Nosso» ensinada por Jesus, é precisamente quem vive pessoalmente a paternidade. Sem a graça do Pai que está nos céus, os pais perdem a coragem e abandonam o campo. Mas os filhos têm necessidade de encontrar um pai que os espera quando voltam dos seus fracassos. Farão de tudo para não o admitir, para não o revelar, mas precisam dele; quando não o encontram, abrem-se-lhes feridas difíceis de cicatrizar.

A Igreja, nossa mãe, está comprometida em apoiar com todas as suas forças a presença boa e generosa dos pais nas famílias, porque para as novas gerações eles são guardiões e mediadores insubstituíveis da fé na bondade, da fé na justiça e da salvaguarda de Deus, como são José.

in Audiência Geral, Sala Paulo VI (04/II/2015)

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