O Papa Francisco continua a sua
catequese sobre a família. Em vez de criticar, propõe a grandeza da vocação
familiar; em vez do peso das tentações, prefere falar das exigências
maravilhosas do amor. Alguns jornalistas só perguntam se é proibido, mas em
muitos ambientes a mensagem profunda e optimista da Igreja vai passando.
Neste contexto positivo, os desafios
ganham sentido: «a fidelidade ao Evangelho da vida e ao respeito da vida como
dom de Deus, às vezes exigem escolhas corajosas e contracorrente» – diz o Papa (15-XI-2014).
O plano de Deus é tão maravilhoso que é uma pena deixarmo-nos enganar; não podemos
olhar as tentações como quem suspira por um paraíso proibido; as tentações são
uma miragem de felicidade: «Às vezes o pensamento dominante propõe uma “falsa
compaixão”: como se favorecer o aborto fosse ajudar a mulher; ou a eutanásia
fosse um acto de dignidade; ou “fabricar” um filho fosse uma conquista
científica, em vez de se acolher o filho como um dom; ou usar vidas humanas
como material de laboratório com o pretexto de eventualmente curar alguém» (ibid.).
A mensagem sobre a misericórdia e o
Sacramento da Confissão permite entender muitas coisas. Explica o Papa, «é
importante que [as pessoas divorciadas e recasadas] frequentem a igreja. Então
simplificam e concluem “ah! vamos dar a Comunhão aos divorciados”. Isso não
resolve nada. Aquilo que a Igreja pretende é que eles se integrem na vida da
Igreja». E se as pessoas só querem mesmo comungar? O Papa é claro: «...Ora! Um
colar ao peito, uma condecoração. Não. O que precisas é de te reintegrar. As
pessoas em segundas uniões não estão em condições de fazer algumas coisas»
(14-III-2015). Importa acolher, «acompanhar os processos interiores»
(14-III-2015), ajudar as pessoas a superar alguma situação, até ficarem em
condições de receber a absolvição sacramental.
O Papa Francisco acaba de nomear duas
figuras importantes para o apoiarem nesta catequese de promover a exposição
clara da doutrina da Igreja. É interessante perceber essas escolhas. Uma delas
é o recém-nomeado Arcebispo de Sydney, Anthony Fisher OP. Tem 54 anos,
formou-se em Direito, exerceu advocacia, estudou Teologia, doutorou-se em
Oxford, foi professor na universidade e ganhou fama na Austrália pela simpatia
e frontalidade da sua catequese. Este estilo levou muita gente a converter-se e
aumentou as entradas no seminário. O seu lema episcopal é «Veritatem facientes
in caritate» (dizer a verdade com amor) e, realmente, vai direito aos assuntos,
com o dom da simpatia.
Papa Francisco com o Arcebispo de Sydney, Novembro de 2014. |
Declara abertamente que «a nossa única
função é ensinar o Evangelho de Jesus Cristo, não estamos aqui para construir a
nossa própria religião de acordo com as modas ou com o que o “New York Times”
pretende». A verdade é que este estilo directo cai bem entre os jornalistas,
incluindo os do NYT, e a juventude australiana adoptou-o como uma espécie de
ídolo. A sintonia do Arcebispo de Sydney com o Papa é particularmente evidente:
ambos gostam da perspectiva positiva e de propor grandes desafios.
Fisher sabe provocar sem ofender: «No
fundo, acho que muitas pessoas não sabem amar muito bem. Falta-lhes o
sacrifício de amar, têm medo do compromisso do amor, da vulnerabilidade de quem
ama, das consequências do fracasso».
Facilidades? «Esperamos, ansiamos grandeza
para ambos, e heroísmo para ambos, e felicidade para ambos». «Não basta
contribuir para um certo equilibrismo de “bem” e de “mal” (...). Queremos mesmo
que as pessoas façam coisas grandiosas». Para explicar o amor, dá o exemplo da
mãe que se levanta a meio da noite quando o bebé chora, embora lhe custe, porque
sabe que tem uma missão a cumprir. «Afinal, aquilo é amor, por isso a mãe
persevera nesse sacrifício».
«Muitas vezes se reduziu o amor, ao torná-lo
romântico, sentimental, explorando-o comercialmente de várias maneiras. Por
isso, às vezes as pessoas têm uma perspectiva do amor cheia de emoções, de
calor, de um sentimento nebuloso cá dentro, quentinho e nebuloso, focado
obsessivamente numa pessoa, retirando determinadas satisfações dessa relação. Anda-se
a vender essa visão de “dia dos namorados” como se fosse amor. Totalmente ao
contrário do amor que Cristo nos mostrou na Cruz».
A ideia a transmitir é que um amor a
sério vale a pena. Um momento de dificuldade pode ser um momento de grandeza.
Deus ajuda. Vale a pena.
Segundo o Arcebispo, o sínodo vai
servir para os católicos apreciarem o amor na família. «Esse amor até ao
sacrifício de si mesmo, personificado por Jesus Cristo na sua Semana Santa e na
sua Páscoa por nós, esse é o tipo de amor que precisamos de reaprender e
ensinar ao mundo».
Aos poucos, a mensagem vai passando, na
medida em que cada um se dispõe a ouvi-la.
José
Maria André
in «Correio
dos Açores», «Verdadeiro Olhar», «ABC Portuguese Canadian Newspaper», 24-V-2015
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