domingo, 13 de setembro de 2015

A festa de anos e o sonho de Deus

O Papa escolheu o dia de anos de Nossa Senhora (o dia 8 de Setembro) para vários momentos importantes e para dedicar mais atenção ao nosso país. Na Eucaristia que celebrou essa manhã, adivinhava-se que Francisco se preparava para um dia em cheio. Na homilia, comentou que «o nosso Pai Deus tem sonhos, e sonha coisas belas para o seu povo, para cada um de nós, porque é Pai e sendo Pai pensa e sonha o melhor para os seus filhos».

Não é a primeira vez que o Papa fala assim de Deus. Francisco está mesmo convencido de que Deus nos quer completamente felizes e, quando precisa de nos ralhar um pouco, Francisco explica que estamos a estragar os planos de Deus. Deixamo-nos enganar pelo medo, julgamos que a generosidade vai ser difícil e acabamos por deitar a perder o plano fantástico de Deus.
Papa Francisco com paramentos especiais (azuis) porque se celebrava a festa de anos de Nossa Senhora
Esta semana, Portugal marcou presença no Vaticano, porque os bispos portugueses estiveram lá. Com a viagem já marcada para vir a Portugal, o Papa disse-lhes qual era o seu propósito principal: «Tenho profundo desejo de ir a Fátima!».

No dia 8, de manhã, o tal aniversário de Nossa Senhora, o Papa deu uma entrevista à jornalista Aura Miguel, que será transmitida pela Renascença na segunda-feira, 14 de Setembro, às 9 horas e, novamente, no mesmo dia às 19 horas. A história imprevista da entrevista (porque ultrapassou completamente os procedimentos habituais) foi contada pela própria Aura Miguel. O Papa já tinha falado do assunto noutras ocasiões, mas agora tirou do bolso um envelope e disse-lhe: «Veja lá se está de acordo com a data e a hora... porque, se não for conveniente para a sua agenda, não hesite em avisar-me, que eu arranjo outra solução». Aura Miguel diz que, atordoada, com o papel na mão, olhou para aquela folha. A letra miudinha do Papa lá estava, com a data e a hora escolhidas por Francisco: 8 de Setembro, 11h30.

Pouco depois desta entrevista, perante uma praça de S. Pedro que transbordava de peregrinos pelas ruas circundantes, o Papa falou de generosidade. De abrir a porta e o coração aos outros. A multidão aplaudiu com entusiasmo (os bispos portugueses também, colocados no estrado, perto do Papa), mas Francisco foi muito concreto. É difícil não ficar a pensar, cada um para si, como podemos abrir o coração. E tudo o resto. Francisco acha que, quando abrimos o coração, o primeiro a entrar é Deus, a Alegria com maiúscula, o Deus cheio de sonhos, a inventar coisas boas para nós...

No mesmo dia 8 de Setembro, o Papa publicou duas cartas, «motu proprio» (de sua própria iniciativa), para reformar o processo canónico relativo à declaração de nulidade do casamento. O Papa relembra nesses textos que o casamento católico é indissolúvel e que não pode haver hesitações nesse ponto. O que tem de mudar é a rapidez a apreciar se o casamento foi válido. Como se sabe, há casos em que não chegou a haver casamento, por não se terem verificado as condições mínimas para a validade da cerimónia. Se isso aconteceu, os interessados não estão casados, mas devem dirigir-se à autoridade eclesiástica, para se confirmar que não houve realmente casamento. Tradicionalmente, essa averiguação demorava muito, frequentemente muitos anos, e acabava por ser dispendiosa para as pessoas pobres. Com a nova reforma, Francisco exige que o processo canónico se decida num prazo curto e seja praticamente gratuito.

Francisco explica que não se trata de torcer os factos. Se o casamento é válido, é para sempre e a declaração da autoridade deve ser expedita e clara: há casamento! Se não se cumpriram as condições para que a celebração tenha sido válida, a autoridade deve ser igualmente rápida e clara: as pessoas estão solteiras!

Dentro de 15 dias, Francisco parte para Cuba e depois para os Estados Unidos, onde presidirá ao Encontro Mundial das Famílias, em Filadélfia. Poucos dias depois de regressar a Roma, começa o sínodo sobre a Família. O Papa pede insistentemente orações. Na nossa sociedade, a felicidade da família vivida segundo o projecto de Deus está em competição com um pesadelo. Mas Deus sonha. Parece que o Papa também. Mas – diz ele – precisamos insistentemente de mais oração.

José Maria André in Correio dos Açores (13-IX-2015)

1 comentário:

  1. Quando eu era novo, um dos meus tios subscrevia uma revista chamada "Vida Soviética" que era uma espécie de aldeia potenkine em formato "Hola".

    Durante o consulado socratista vieram-me à memória com frequência os artigos dessa revista.

    Ao ler os artigos do sr. J.C. André volto a ter a mesma sensação de Déjà Vu.

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