Ruído mediático
por D. Nuno Brás, Bispo Auxiliar de Lisboa
Não esqueço o dia em que, aluno do secundário, visitei a Assembleia da República. Fomos recebidos pelos membros da comissão que acompanhava a Comunicação Social. Um dos deputados fez referência ao modo como os jornalistas podem contar a mesma história, sem faltar à verdade. Com efeito, dizer que “o senhor deputado estava no restaurante a comer com apetite um belo peixe, acompanhado dum bom vinho” é bem diferente de afirmar que “o senhor deputado estava numa tasca a devorar sofregamente sardinhas com vinho da terra”, embora a situação descrita seja a mesma…
Mais do que nunca, o ruído mediático faz-se sentir nas campanhas eleitorais dos nossos dias. Entre outros, têm consciência disso os políticos (que o utilizam até à exaustão) e têm consciência disso os jornalistas (que não deixam nunca de “puxar a brasa à sua sardinha” e de fazer valer os seus préstimos).
É certo que hoje não somos capazes de imaginar o que poderia ser uma campanha eleitoral (e reconheçamos mesmo: toda a nossa vida de sociedade organizada) sem a comunicação social. Mas é igualmente certo de que nada do que nos chega pelos media é inocente. Raras são as imagens, os sons, as palavras que não queiram dizer mais — ou que não digam mais a quem as vê, escuta, lê.
A escolha de quem nos governa não pode estar assente apenas sobre “ruído mediático”, sentimentos, impulsos passageiros, opiniões de jornalistas ou comentadores. Há-de antes ser decidida com base nos valores do Evangelho; na defesa da vida para todos; no bem do próximo e naquilo que é a nossa identidade nacional.
Uma coisa é certa: se não votarmos, não temos depois a autoridade moral para nos queixar, protestando de que quem nos governa o faz mal. Graças a Deus, ao menos em Portugal o voto de cada um ainda conta. Pouco, mas conta.
in Voz da Verdade
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