O sumário do último relatório sobre os cristãos oprimidos por causa da fé (Fundação AIS, Outubro de 2015) estende-se por 170 páginas tristes de ler. Este sumário do relatório é sóbrio, não alimenta aversão contra ninguém, apenas enumera, ao longo daquelas 170 páginas, com factos e datas, a imensa desgraça que aflige grande parte do nosso mundo. Os incidentes de destruição e de sangue estão agrupados por países: a China, a Coreia do Norte, o Vietname, a Indonésia, a Índia, o Sri Lanka, o Paquistão, a Rússia, a Bielorússia, o Turquemenistão, a Turquia, a Ucrânia, a Síria, Israel, a Palestina, o Egipto, o Irão, o Iraque, a Arábia Saudita, a Eritreia, o Sudão, a Nigéria, o Quénia...
Que montanha de ódio explica esta fúria generalizada?
O Papa João Paulo II dizia que o século XX tinha sido o século dos mártires. O Papa Francisco continua a queixar-se das notícias que recebe e não se cansa de enviar emissários a todo o lado, para acalmar esta enxurrada de loucura. A situação é, de facto, aflitiva.
O número de deslocados e refugiados atingiu máximos históricos.
Grupos islâmicos estão a levar a cabo uma limpeza étnica de cristãos, sobretudo na África e no Médio Oriente. O medo do genocídio – que em vários casos aconteceu, apesar de tudo –, levou multidões de famílias cristãs a tentarem a estrada da fuga, sem lugar para onde ir, nem assistência. A fuga do Iraque é dramática. A fuga da Síria mistura-se com o choque dos exércitos.
Nos regimes que ainda são comunistas, e nalguns países que foram comunistas até há pouco tempo, reacenderam-se focos de perseguição, como há umas décadas atrás.
Um pouco por todo o mundo, há grupos nacionalistas que olham para Jesus Cristo como um invasor estrangeiro, que os quer arrancar das superstições ancestrais. O Papa Bento XVI referia que o cristianismo representou para esses povos a grande libertação, ao anunciar que Deus é bom, que o mundo não está sob o domínio oculto do irracional; mas ainda há gente agarrada ao poder do mal.
O panorama é desolador?
A introdução do sumário do relatório são umas palavras do Arcebispo Jeanbart, de Aleppo, na Síria, de que fazem parte estas frases: «Estamos expostos à morte o dia inteiro e outros cristãos também (...). Mesmo assim, estamos convencidos de que o nosso amado Senhor Jesus está presente na sua Igreja e que nunca nos vai abandonar. Sabemos que nada pode intrometer-se entre nós e o amor de Cristo. E que, em todas as provações, saímos vencedores graças ao poder daquele que nos ama».
Há 2000 anos, S. Paulo escrevia aos cristãos recém-chegados a Roma: «Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? (...) Por causa de Ti estamos expostos à morte o dia inteiro, fomos tratados como ovelhas destinadas ao matadouro. Mas, em tudo isso, saímos mais do que vencedores graças Àquele que nos amou».
Segundo as estatísticas da Santa Sé, o número de católicos continua a aumentar no mundo inteiro, excepto na nossa Europa, onde já não corre o sangue precioso dos mártires. Talvez não esteja longe: na visita aos Estados Unidos, o Papa Francisco recebeu uma senhora posta na prisão por não aceitar ir contra a sua consciência cristã.
O título do sumário do relatório AIS é uma interrogação: «Perseguidos e Esquecidos?». Faltou-me coragem para manter a pergunta no cabeçalho deste artigo.
Funcionários do Governo chinês queimam o crucifixo no cimo da igreja de Huzhen, na cidade de Lishui (4 de Maio de 2015) |
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