quinta-feira, 31 de dezembro de 2015
quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
Conferência de D. Athanasius Schneider em Lisboa (Parte III)
Nota - A primeira parte deste resumo encontra-se aqui: Conferência de D. Athanasius Schneider em Lisboa (Parte I).
A segunda parte deste resumo encontra-se aqui: Conferência de D. Athanasius Schneider em Lisboa (Parte II).
A segunda parte deste resumo encontra-se aqui: Conferência de D. Athanasius Schneider em Lisboa (Parte II).
Na visita a Lisboa, D. Athanasius abriu a sua conferência
a uma sessão de questões (Q) e respostas (R). Deixamos aqui algumas delas:
Q – D. Athanasius falou-nos da necessidade de maior
reverência ao Santíssimo Sacramento para a renovação da Igreja. No entanto, não
devemos esperar que nos seja dado o exemplo pelos membros da Igreja com maior
representatividade, como os padres e as freiras, por exemplo?
R – A providência divina ao longo da história sempre se
serviu dos pequeninos para os seus desígnios. Estes não são necessariamente os
pequeninos da nomenclatura da Igreja. Os leigos como vocês, por exemplo, podem
ser um exemplo de reverência e adoração a Nosso Senhor no Santíssimo
Sacramento, mesmo se os padres e freiras assim não o fizerem. Assim é o Corpo
Místico de Cristo: quando falha um membro, Deus suscita outros membros para
fazerem a sua função.
Q – Do que nos falou a respeito da reverência a Jesus
Eucarístico, considera que de toda a reforma litúrgica vieram traços negativos?
R – Antes de mais convém esclarecer que a reforma litúrgica
não é matéria infalível, há a possibilidade de erro. De facto há momentos não
tão felizes derivados dessa reforma, pois em alguns casos o que se faz de facto
não corresponde aos princípios litúrgicos previamente estabelecidos, não na sua
totalidade mas em algumas formas concretas da mesma. A reforma precisa de ser
melhorada para se tornar mais celeste. Claramente neste momento precisamos
desse melhoramento.
Q – Falou da centralidade de Jesus Eucarístico na Eucaristia
em detrimento de nos centrarmos no sacerdote. Se me lembro bem, aprendi que o
Padre actua in persona Christi. Não estamos assim a dar o realce devido a
Cristo através do celebrante?
R – O celebrante actua
in persona Christi Capitis, mas isso não significa que seja o elemento
principal da celebração, que é Cristo. O celebrante é ministro secundário,
Cristo é o ministro principal. O celebrante é instrumento de Cristo, que actua
por meio dele. Por isso mesmo deve ser modesto e “desaparecer”, para dar espaço
a Cristo.
Q – A Igreja permite a comunhão na mão e existem textos da
Igreja primitiva que mostram que é uma prática já antiga. Porquê a oposição?
R – O que estamos a viver hoje é uma espécie de “Exílio de
Avinhão” da Liturgia. Como sabem, nos séculos XIII e XIV viveu-se um tempo em
que o Papa, sucessor de Pedro, residia em Avinhão. As consequências negativas
que daí poderiam advir eram grandes, como a questão da sucessão do Apóstolo e o
seu primado. No entanto, apesar de ser algo com consequências evidentemente más
para a Igreja, muitos aceitavam-no, incluindo o próprio Papa. Ninguém ousava
criticar a situação. Quem falou foram os pequeninos que tiveram a ousadia, como
Santa Brígida e Santa Catarina e o Papa acabou por regressar a Roma. Note-se que o
exílio era legal, permitido e defendido por muitos, mas não era isso que o
fazia ser bom ou isento de crítica. O Papa é o Servo dos Servos de Deus e não um
monarca absoluto, pois está ao serviço do Povo de Deus. Hoje, Santa Catarina é
Doutora da Igreja.
No que respeita a prática da comunhão na mão na Igreja
primitiva convém esclarecer a situação, pois é um mito recorrente. O único texto
dos padres da Igreja que fala da comunhão na mão é de S. Cirilo de
Jerusalém, que não é magistério. Além do mais, o relato da maneira de comungar
aí presente é substancialmente diferente ao gesto hoje usado ao comungar na
mão. Em primeiro lugar, comungava-se recebendo o Corpo de Cristo na mão
direita, que tinha de estar lavada e, no caso das senhoras, tinha de estar
coberta por um corporal. Depois, o comungante inclinava-se para estar abaixo da mão que tinha o Corpo de Cristo e recebia-o directamente na boca, sem alguma vez
O tocar com os dedos. Portanto, era muito diferente do gesto que hoje se faz
para comungar na mão, que não é um gesto da Igreja antiga. O gesto que hoje se
usa é um gesto que se foi buscar aos Calvinistas, na sua forma de comungar.
Mesmo a respeito da forma descrita por S. Cirilo de Jerusalém, esta forma de
comungar quase instintivamente se deixou para adoptar uma outra forma, mais
segura. Houve um crescimento orgânico e a prática deixou-se e diz-nos o Papa
Pio XII que não podemos restaurar as coisas simplesmente antigas, pois o
crescimento destas é orgânico.
Convém ainda relatar a maneira como hoje é permitida a
comunhão na mão. Antes de ser concedido o indulto para se poder comungar na
mão, o Papa Paulo VI sondou os Bispos para saberem o que pensavam desta prática.
A maioria dos bispos rejeitou-a: consideravam perigosa, pois é menos reverente,
contribui para a diminuição da fé na presença real de Cristo na Eucaristia e
abre a porta a sacrilégios daí derivantes. O indulto foi concedido sob um
conjunto de condições, sendo que quando o fez o Papa apelou a que se
mantivesse o rito tradicional de receber a comunhão. Aberta a porta,
sabemos que daí veio uma avalanche de coisas.
Q – Em muitos casos, como por exemplo em peregrinações a
Fátima, parece difícil manter a reverência de que fala para com a Eucaristia,
em particular quando é distribuída a comunhão…
R – É uma situação muito grave a que relata. Em muitos casos
de grandes multidões não é possível controlar se não há sacrilégios para com a
Eucaristia. Se de facto esta é para nós Deus encarnado, é contraditório
distribuir a Comunhão quando não fazemos ideia do que poderá acontecer. Por
isso, em tais eventos é preferível reavivar uma prática da Igreja muitas vezes
esquecida: a comunhão espiritual.
Q – Será que nos pode elucidar sobre de que maneira podemos
participar activamente na Missa?
R – Existe um mito que veio depois do Concílio Vaticano II
que convém esclarecer: participar activamente na Missa não é fazer coisas,
tarefas. Não há nada nos documentos conciliares que o diga, podem ir verificar.
O que se diz sobre a participação activa na Missa, isso sim, é que consiste
essencialmente numa presença consciente de que se está na Missa e não ter o
pensamento fora desta. Pode-se fazê-lo escutando, fazendo os gestos corporais devidos,
cantando. O cume da Participação na Missa é a Comunhão Sacramental.
Outra forma de participação proposta pela Sacrosanctum
Concilium, que talvez vos admire, é o Silêncio. No fundo, é fazer concordar o
coração com o que dizemos pelos lábios.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
Um 'mal menor' nunca pode ser bom
O Natal é o maior hino – o hino de Deus – à vida humana. Apesar de todas as suas limitações, o homem é um ser tão elevado, tão digno, que o Criador não teve pejo em unir a sua natureza à nossa. De facto, o homem e a mulher foram criados à imagem e semelhança de Deus, justamente para participarem da infinita felicidade divina.
Com todas as limitações de criaturas, há em nós uma tal grandeza que nos leva a aspirar ao infinito – ao infinito poder, à omnisciência, à vida eterna, à suprema beleza, ao amor sem fim... A Deus, numa palavra. E o nosso coração não sossega enquanto em Deus não repousa, como dizia Santo Agostinho.
A consciência intuitiva desta grandeza choca, no entanto, com a fraqueza evidente que a toda a hora sentimos: tanto a fraqueza física como a fraqueza moral. E aí está uma das razões pelas quais muitas vezes perdemos a «auto-estima»: queremos ser fortes, e a doença abate-nos; queremos ser bons, e abatem-nos as tentações... Mas a pior tentação é aquela de que tratávamos no boletim anterior: «Afinal, temos de pecar...»
Já vimos que em boa parte essa ideia errada procede de chamarmos pecado ao que não o é; mas também pode nascer de um princípio mal entendido, que invocamos com frequência: o princípio do «mal menor». Por vezes encontramo-nos perante dois males – dizemos - e havemos por força de escolher algum; logo, o menor! Por exemplo, um polícia persegue um ladrão em flagrante delito; só disparando pode capturá-lo; não deve atirar à cabeça nem ao peito, mas às pernas. É um mal menor... Simplesmente, o exemplo não serve: o polícia faz bem, não faz mal, em tentar apanhá-lo. A sua função é a de manter a ordem social com o menor custo possível de vidas e bens. Não escolhe nesse caso entre dois males, mas entre um bem – cumprir o seu dever – e um mal: feri-lo desnecessariamente.
Nunca se deve fazer um mal, nem grande nem pequeno. Nem sequer para que daí venha um bem... Temos ouvido falar das chamadas «mentiras piedosas»: - «Minto para que haja paz...» Parece realmente que obtive um bem, porque as pessoas não se zangaram, mas é um bem enganador, porque, se perdemos a confiança mútua, nunca mais haverá paz «sustentável», como agora se diz. Instalando-se a mentira, instala-se a desconfiança.
Por esse caminho errado também se legitimaria matar uma pessoa inocente «para salvar a Nação», como justificavam os fariseus a condenação à morte de Jesus. Também lhes parecia «um mal menor». Não tem faltado mesmo quem cometa genocídios por esse mesmo (desvirtuado) princípio: para «libertar» o país de um sector incómodo e «menor» da população...
E hoje em dia veja-se o aborto legalizado, pior e muito mais extenso do que todos os genocídios. Não há quem não veja no aborto voluntário um mal, e mesmo um horror, mas há quem o justifique por esse (mal entendido) princípio: «para evitar um mal maior», como seria a sobrepopulação, ou o trauma da mulher, ou a falta de progresso científico, ou até a falta de «qualidade de vida» do nascituro... Acontece, porém, que não há mal maior do que o aborto legal: matar deliberada e legalmente um inocente é a subversão total do direito, da medicina, da ciência, da política, da cultura, da técnica, da civilização, além de ser a destruição deliberada de uma vida humana («inviolável», segundo proclama a nossa Constituição..., violada ela própria por essa lei iníqua). Porque tudo se deve dirigir ao bem do homem, e não ao seu aniquilamento.
Mas, além disso, ainda que nos parecesse um «mal menor», seria um mal; ninguém teria o direito de o cometer. Se não se deve mentir, quanto menos matar - e matar um inocente! Um filho!
Então, que significa esse princípio? Significa, não que possamos cometer um mal, mas sim tolerar algum mal, alheio, para evitar males maiores. É o caso do pai que deixa passar por alto uma impertinência do filho para evitar exasperá-lo, e esperando que se acalme; o caso do professor que tolera alguma indisciplina, esperando que a sua compreensão e amizade acabem por conquistar os alunos; o caso da polícia que não prende todos os carteiristas, porque mais vale conhecê-los e controlá-los do que ignorar os que lhes sucedem nas suas «zonas»; o caso das «toleradas» (assim se chamavam as prostitutas), pela mesma razão; o caso dos juizes que aplicam leves penas ou absolvem as mulheres que abortam, pois sabem que a maior pena delas é a lembrança do filho despedaçado, e para que não façam delas bandeiras políticas; o caso de um empresário, que não expulsa um operário logo ao primeiro abuso registado; o caso dos governos que amnistiam insurreições, para abrir caminho à pacificação do país; etc.
O princípio do «mal menor», portanto, é afinal o princípio da tolerância, que faz parte da prudência doméstica e política. E procede da visão realista da natureza humana: o homem não nasce perfeito: tem de aprender com tempo e esforço, tem de começar e recomeçar; e corrigir-se muitas vezes; e mesmo assim continua fraco, frágil, propenso ao mal... Sejamos pacientes com as fraquezas humanas, inclusive com as nossas; mas não as justifiquemos; não as legitimemos, porque seria um endurecimento da consciência; e não as legalizemos, que é um incentivo ao mal. Não há nenhum «mal menor» que seja bom.
Mons. Hugo de Azevedo in juntospelavida.pt
Eu posso aspirar à Santidade
"Sempre desejei ser uma santa. O bom Deus não inspira desejos irrealizáveis, eu posso, portanto, aspirar à santidade apesar de minha pequenez”
Santa Teresinha do Menino Jesus, 2 de Janeiro de 1873
domingo, 27 de dezembro de 2015
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
Papa Bento XVI: Jesus nasceu mesmo no dia 25 de Dezembro
O
Cardeal Ratzinger também disse que se pensava que 25 de Março era o
primeiro dia da criação. Assim, 25 de Março tem um significado cósmico.
Sua Eminência também descreve como o zodíaco e o carneiro se relacionam
com este significado cósmico na Primavera, mas isso já é demais para o
que queremos. O importante aqui é que 25 de Março era o dia tradicional
para a criação do mundo, para o sacrifício de Abraão e para o sacrifício
do Filho de Deus.
Nas páginas 107-108 [na versão inglesa],
o Cardeal Ratzinger faz a observação de que o dia da morte de Cristo
também era reconhecido como o dia em que ele foi concebido pelo Espírito
Santo no ventre da Santíssima Virgem Maria. 25 de Março era, então, a
anunciação de Gabriel. Acrescentem-lhe nove meses e chegam ao 25 de
Dezembro como o dia do Seu nascimento.
Depois, Joseph Ratzinger exclui aquilo a que ele chama "as velhas teorias"
que ensinam que 25 de Dezembro foi escolhido para substituir os feriados
pagãos. Pelo contrário, o Santo Padre reconhece 25 de Dezembro como o
verdadeiro dia do nascimento de Cristo Senhor. Ele vai mais além ao
dizer que este alinhamento de significados tem um significado litúrgico.
Enquanto
estamos neste tema, o Papa S. Leão Magno falou do significado cósmico
do nascimento de Cristo na profundidade do Inverno:
Mas esta Natividade que deve ser adorada no céu e na terra é nos sugerida por nenhum outro dia que não este quando, com a luz matinal ainda a derramar os seus raios na natureza, nasce sobre os nossos sentidos o esplendor deste mistério maravilhoso.
(S. Leão Magno, Sermão 26)
Para além
disso, o Papa Bento XIV argumentou ainda que os padres da igreja
deviam saber o dia certo do nascimento de Cristo pelos censos romanos.
Feliz Natal!
Taylor Marshall
Temos que dar o que nos custa
Tendes de dar aquilo que vos custa um pouco. Não basta dar apenas aquilo de que podeis prescindir, tendes de dar aquilo de que não podeis nem quereis prescindir, as coisas às quais estais presos. Nessa altura, o que dais passa a ser um sacrifício, que tem mérito aos olhos de Deus. É aquilo a que eu chamo o amor em acção. Todos os dias vejo crescer este amor nas crianças, nos homens e nas mulheres.
Certo dia em que ia a descer a rua, aproximou-se de mim um mendigo que me disse: «Madre Teresa, toda a gente lhe oferece presentes e eu também quero dar-lhe um presente. Hoje deram-me apenas vinte e nove cêntimos durante todo o dia e eu quero dar-lhos.» Fiquei a pensar um momento: se eu aceitar estes vinte e nove cêntimos (que não valem quase nada), ele corre o risco de não ter que comer esta noite; mas, se não os aceitar, ofendo-o.
Então, estendi a mão e aceitei o dinheiro. E nunca vi, em rosto algum, tanta alegria como a que vi no rosto deste homem, que ficou felicíssimo por ter podido oferecer qualquer coisa à Madre Teresa! Para ele, que tinha mendigado o dia todo ao calor, aquela soma irrisória, que não serviria para quase nada, era um sacrifício enorme. Mas era uma coisa maravilhosa: aquelas moeditas a que ele estava a renunciar valiam uma fortuna, por serem dadas com tanto amor.
Beata Teresa de Calcutá in 'A Simple Path'
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
O Star Wars é Cristão? A Força pode estar connosco?
E
stou muito entusiasmado. O Star Wars Episódio VII está aí. Estou mesmo contente, mas sei que nem todos partilham as minhas expectativas geeks. Algumas pessoas têm sérias dúvidas teológicas em relação ao Star Wars. Hoje vamos tentar salvar o Star Wars usando um bocado de Tomás de Aquino...
Os Cristãos (tanto protestantes como Católicos) têm mostrado durante décadas a sua preocupação de que a visão do mundo do Star Wars não encaixa com a visão Cristã. Gostava de olhar para esta preocupação e depois tentar salvar o Star Wars para todos vocês, Cristãos e fãs do Star Wars.
O erro que muitas pessoas fazem quando criticam o Star Wars tem esta lógica:
Os Cristãos (tanto protestantes como Católicos) têm mostrado durante décadas a sua preocupação de que a visão do mundo do Star Wars não encaixa com a visão Cristã. Gostava de olhar para esta preocupação e depois tentar salvar o Star Wars para todos vocês, Cristãos e fãs do Star Wars.
O erro que muitas pessoas fazem quando criticam o Star Wars tem esta lógica:
- Os Cristãos têm Deus
- O Star Wars tem a Força
- Mas a Força não tem nenhum paralelo na doutrina bíblica de Deus.
- Portanto, o Star Wars ensina uma falsa visão do mundo, uma teologia falsa, e tem que ser rejeitado como mau.
Vejamos isto com mais detalhe.
Que a Força esteja convosco: o que raio é esta Força?
Vamos começar com o que a Força não é.
- A Força não é um Deus pessoal a quem se reza.
- A Força não é infinitamente boa ou "omnibenevolente". Há um 'lado negro' da Força.
- A Força não é só para os bons. Os maus também a usam e aparentemente usam-na de uma forma mais poderosa que os bons.
Parece que, na verdade, a Força é uma fonte de energia impessoal. E pode-se ver rapidamente que isto não encaixa bem com uma interpretação judaico-cristã do mundo... ou será que encaixa?
Fãs cristãos do Star Wars: Não tenham medo!
Olhemos outra vez para o argumento anti-Star Wars:
- Os Cristãos têm Deus
- O Star Wars tem a Força
- Mas a Força não se encaixa na doutrina bíblica de Deus.
- Portanto, o Star Wars ensina uma visão falsa do mundo e uma teologia errada, logo tem que ser rejeitado como mau!
Vamos virar isto ao contrário. Digamos que a Força passa a ser algo diferente de Deus. Talvez a Força não seja sequer uma entidade espiritual ou um ser divino. O que precisamos é de encontrar na Força uma analogia para a nossa visão Cristã do mundo.
Pausa: Eu sei que nem sequer precisamos de fazer isto. É uma saga cinematográfica de ficção que é divertida e lendária. Mas para acalmar os que querem uma justificação filosófica, aqui vai.
Há uma coisa no nosso universo que encaixa perfeitamente com a Força. Vou seguir directamente o raciocínio de S. Tomás de Aquino, por isso sigam-me.
De acordo com Tomás de Aquino (e a tradição Católica), os humanos e os seres espirituais preternaturais (os anjos e demónios) têm um poder que se estende bem mais além das faculdades de todas as outras espécies e coisas naturais. Esta faculdade especial, partilhada pelos anjos, demónios, homens bons e homens maus chama-se intelligentia. Esta palavra vem de duas palavras latinas:
inter + legere
inter significa "entre" (como internacional) e legere significa "escolher, agarrar ou ler".
A inteligência é, então, a capacidade de escolher ou discernir entre duas coisas.
Isto é um poder (ou talvez possa ser uma força) que nos foi dado a nós por Deus omnipotente. O vosso cão, gato, peixe e planta não a têm. Mas nós temos. Os vossos anjos da guarda também têm.
Visto que temos inteligência ou razão, conseguimos manipular o nosso ambiente, manipular a natureza, manipular os objectos à nossa volta e manipular outras pessoas. A nossa influência sobre a criação através do reinado da razão pode ser mesmo boa, mas também pode ter um lado negro...
As Paixões e a Força da inteligência
De acordo com Tomás de Aquino, há onze paixões. As emoções como o medo, a alegria e a ira. Devido ao pecado original, estas paixões podem interferir com a nossa inteligência racional. Comemos demasiados gelados, gritamos a outros condutores e choramos por coisas ridículas. As paixões alteram e contrariam a força da nossa inteligência, de tal modo que fazemos coisas negras.
O lado negro da Força
Percebemos que o mito da Força no Star Wars não é Deus ou o Espírito Santo, mas é antes a experiência partilhada da razão humana e angélica. É por isso que as personagens más tentam converter os personagens bons para o lado negro desta força, levando-os para uma ira, fúria, inveja ou luxúria descontroladas. Vemos que os Sith Lords até conseguiram conquistar o Império inteiro manipulando outros através desta força da razão. Foi o que aconteceu ao Império no Star Wars. E tem acontecido em todas as sociedades humanas. A única forma de termos o "Império Contra-Atacar" é dominar as paixões através da razão através de raciocínios certos e pensamentos prudentes. Por isso, ser treinados na força é simplesmente usar o intelecto para habituar a virtude dentro de nós mesmos e na sociedade.
O lado negro da força é como o lado negro da razão humana. A razão é boa, mas pode ser distorcida e abusada para o mal - sempre através da corrupção das paixões/emoções.
Reavaliando a Força como uma analogia Cristã no Star Wars
Alguém podia dizer, "Sim, mas o Yoda consegue mover rochas com a Força e o Luke consegue fazer o pino com a cabeça através da Força. O que é que isso tem a ver com a inteligência racional?"
Eu responto, "Certos vós estais. Siiiiim."
Mas há mais que se lhe diga. Nós humanos usámos as nossas mentes para atingir todo o tipo de coisas impossíveis como voar em aviões, andar na Lua, dividir átomos e explorar o fundo dos oceanos.
As guerras, milagres científicos, curas - tudo isto é obtido através da força da recta razão.
A lição é que é a inteligência bem usada que faz grandes coisas. No Star Wars, vemos que a Força é o poder usado com rectidão para tornar uma sociedade civilizada numa sociedade civilizada. Platão, Aristóteles, Cícero e Aquino de certeza que iam aplaudir a visão que o George Lucas deu da "Força" como o único poder para ordenar a sociedade - porque todos estes filósofos perceberam que era a verdadeira razão que dava aos humanos a lei, a ordem e a civilização. Mesmo a lei natural requer a razão para se perceber.
O Star Wars na verdade é uma visão política bastante certa de como a inteligência humana pode ser contrariada para chegar a uma sociedade maléfica. Os políticos maus estão sempre a quebrar a força da sua inteligência. Quando os homens recorrem ao "lado negro" temos coisas terríveis a acontecer, como isto:
Portanto, da próxima vez que alguém, depois da Missa, disser "Sim, eu gostava imenso do Star Wars, mas não deixo os meus filhos verem-no. É tão contrário à Bíblia," revejam os vossos conhecimentos filosóficos e mãos à obra. Lembrem-se: a Força não é igual a Deus. A força equipara-se à razão humana.
E lembrem-se, da próxima vez que se enfurecerem como um macaco e começarem a viver de acordo com as vossas paixões, estão a tornar-se cada vez mais como o Darth Vader. Não façam isso! Podem não ter uma conversão no leito da morte onde alguém vos vai tirar o capacete e dar uma última hipótese.
Presépio na Cidade
Politicamente correcta, Lisboa,
no mês de Dezembro, enchia-se de estrelas e pais-natais. Faltava qualquer
coisa, que ninguém tinha coragem de mencionar, até que, no ano 2000, apareceu
um presépio em plena rua, que se transformou em local de encontro. Houve
protestos! Uma indecência! Desonra a cidade! À noite, destruíam o presépio e despejavam-lhe
lixo em cima; de manhã, o local era limpo e reconstruia-se o presépio. Um dia e
outro. Aquele espaço de 3 por 4 metros parecia um campo de batalha. Outras
vezes, um pára-raios e um porto de abrigo.
A Sofia Guedes, que participa
na iniciativa desde 2000, conta-me histórias, recentes e antigas, encadeadas
como cerejas.
– Há bocado, a Celeste passou
por aqui e convidámo-la a entrar no presépio. Sentou-se uns bons minutos. Talvez
se sentisse bem, a inventar numa oração para a nossa colecção, um texto lindo
que falava das crianças, dos jovens, dos pais e do amor. Contou então que tinha
sido prostituta durante 40 anos, mãe de três filhos... chorou, abraçámo-nos e decidiu
voltar para jantar connosco, porque se sentia profundamente acolhida.
– A Marta e o João, sem-abrigo,
dormem no presépio com os cães e deixam a manjedoura toda suja... Comem a mesma
comida dos cães, dormem vestidos com a mesma roupa todos os dias. Trabalham com
o «fogo», são malabaristas de chamas de petróleo e deitam fogo pela boca. Têm 24
e 28 anos e vivem assim há anos. Não são felizes, mas não sabem como sair daquilo.
A mãe do João sai todos os dias à procura dele pelas ruas de Lisboa, para lhe
dar de comer e o vestir. É uma senhora pobre, a lutar pela dignidade da
família. Também ela veio jantar connosco – que grande mãe! – e volta, para
repousar o olhar na imagem de Maria, que está ali à espera de todos...
– O John tropeçou no presépio. Literalmente.
Tropeçou e caiu. Convidámo-lo a entrar, tratámos-lhe das feridas, rezámos com
ele, demos-lhe banho e comeu connosco. Há 13 anos que não via a família, a
mulher e os dois filhos. Uma instituição de tratamento de toxicodependentes
ajudou-o e, depois de três meses, contactámos a família, explicámos a situação
e pedimos que o recebessem de volta. Falámos com a Segurança Social inglesa,
que tomou conta dele e o encaminhou para continuar o tratamento. Voltou para
casa «very happy», muito grato ao «Little Jesus»!
– O Douro! O Douro era um
búlgaro, pedinte, casado e pai de 5 filhos. A mulher estava muito doente e eles
sem meios para a tratar. Pedia na escadaria da igreja do Mártires, perto de
nós. Todos os dias vinha ajudar a limpar, a pintar, guardava-nos... Um dia, explicou
que era muçulmano, mas gostava muito de estar no presépio; sonhava ir à sua
terra, a Bulgária, deixar lá um filho e visitar os outros. Aliás, ele queria
mesmo era ficar lá! No fim de jantar connosco, com outros colegas «pedintes» e
amigos que visitam diariamente o presépio, comunicou-se a todos o desejo do
Douro. Cada um deitou o que pôde num saco, mesmo os pedintes. No fim, um deles anunciou:
«temos dinheiro para o Douro, a mulher e o filho irem para a Bulgária»! Foi um momento
de grande emoção e a seguir de saudade, quando fomos despedir-nos deles, ao
comboio que partiu de Santa Apolónia.
– Num Natal anterior, o Eber, um
adolescente que entrou para partir tudo, acabou a passar a noite de Natal com
um grupo de velhinhas que estavam sozinhas, que ele ajudou e serviu. Aprendeu a
rezar e pediu para começar a catequese.
– A senhora Amélia entrou
desesperada no presépio, a pedir para rezarmos com ela. Não ligámos, porque estávamos
atarefados, mas ela insistiu e tivemos de deixar tudo. Nos dias seguintes,
voltou. Depois, contou-nos a história daquela aflição: queria suicidar-se... mas,
depois daquelas visitas ao presépio, tinha recuperado a alegria!
– O Francisco vem de 2001. Era
um sem-abrigo, vivera na rua durante 26 anos. Alcoólico, mas um homem cheio de
fé! Nunca mais nos deixou. Hoje já tem o seu quartinho e cuida muito bem de si.
Está a tirar um curso de jardinagem e o 9º ano. Aprendemos tanto com ele, pela
perseverança, pela humildade, por aquela dignidade que ensina tanto sobre a
miséria e como se lida com ela. O Francisco é um professor de humanidade. Hoje
é um dos principais voluntários. Sem o presépio, provavelmente ele hoje não viveria,
e sem o Francisco talvez hoje não houvesse este presépio.
– A Toninha, o Luís Filipe, a Maria,
o João...
– Ó Sofia! Estão a ligar-me,
desesperados, do jornal: querem a crónica ime-dia-ta-men-te. Beijinhos!
José Maria C.S. André in Correio dos Açores, 20-XII-2015
sábado, 19 de dezembro de 2015
Eutrapelia: a virtude do sorriso
Eutrapelia? Que palavra é essa? É nada mais e nada menos do que uma virtude. Uma virtude comentada por grandes filósofos gregos, como Aristóteles, e que mais tarde se tornou uma virtude cristã, querida por São Tomás de Aquino, São Filipe Neri, São Francisco de Sales, São João Bosco.
Até mesmo Dante Alighieri falou da eutrapelia no Convivio, definindo-a como a décima virtude do cristão, a penúltima antes da Justiça e depois da Fortaleza, Temperança, Liberalidade, Magnificência, Magnanimidade, ‘Amativa de honra’, Mansidão, Afabilidade e a Verdade. "A décima – escreve Alighieri – chama-se Eutrapelia, que nos modera nas diversões e nos faz usá-las corretamente".
Portanto, esta palavra antiga, hoje, infelizmente, esquecida, Eutrapelia, ou seja - do grego - "alegria, brincadeira, bom humor" é uma virtude importante, que também se traduziu em arte, uma arte especial, que felizmente nunca sai de moda durante séculos, e que se expressa por meio da literatura, do teatro, do desenho e muito mais. É a arte de fazer as pessoas rirem. O bom humor, muito diferente da sátira, que consiste não tanto no rir, mas no zombar.
A Eutrapelia é uma virtude que deveria ser recuperada, numa época que oscila entre uma soberba seriedade cheia de si e uma sátira maldosa, corrosiva. Predomina a gargalhada desbocada, onde em vez disso precisamos do bom sorriso.
A Eutrapelia é uma virtude relacionada com a modéstia: ajuda-nos a não dar demasiada importância e a não sermos orgulhosos. Chesterton, um grande Eutrapelico, dizia que a razão pela qual os anjos voam é que levam as coisas com leveza.
A diversão, portanto, não é um fim, mas um meio para melhorar-nos: a virtude do bom humor dá-nos aquela forma de desapego e de elegância espiritual que consente captar e apreciar os lados jocosos da vida: virtude de santos, de místicos e de todos aqueles que não hesitam em lançar-se com entusiasmo na resposta ao convite de Cristo.
Entre os santos, grandes exemplos dessa virtude eram São Francisco de Assis, São Filipe Neri, mas também São Francisco de Sales, que na sua Filoteia especificava as características de um bom humorismo cristão que, em primeiro lugar, deve alegrar o coração e não ofender ninguém.
Um dos piores defeitos do espírito é o de ser zombeteiro: Deus odeia muito este vício e sabemos que o puniu com castigos exemplares. Nenhum vício é tão contrário à caridade, e mais ainda à devoção, do que o desprezo e a zombaria do próximo.
O escárnio e a zombaria baseiam-se na presunção e no desprezo dos outros, e este é um pecado muito grave: o escárnio é um modo horrível de ofender o próximo com palavras; as outras ofensas sempre salvam, pelo menos em parte, a estima pela pessoa, o escárnio, pelo contrário, não economiza nada.
Muito diferentes são as brincadeiras entre amigos, que se fazem com alegria e serenidade, diz Francisco de Sales: “Trata-se, na verdade de uma virtude na qual os Gregos davam o nome de eutrapelia: nós chamamos boa conversa. É o modo de ter uma recriação honesta e amável sobre as situações cómicas às quais os defeitos dos homens dão ocasião.
É necessário apenas ter cuidado para não passar das piadas para o escárnio. A zombaria provoca o riso por falta de estima e por desprezo do próximo; pelo contrário, a piada alegre e a brincadeira provocam o riso por causa da surpresa, as combinações imprevisíveis feitas na confiança e sinceridade amigável; e sempre com muita cortesia da linguagem".
Parece ser que escritores cristãos ricos de bom humor como Giovannino Guareschi, o criador de Don Camillo e Peppone, ou Chesterton de Padre Brown, ou o escritor escocês Bruce Marshall, foram alunos diligentes de Francisco de Sales e Don Bosco. Desde menino o Santo de Valdocco sempre se dedicou a divertir os seus amigos com jogos de malabarismo.
Ele agradava a todos e de todos atraía a benevolência, a afeição, e a estima. Quando começou a sua obra de educador, os jovens começaram a vir a ele para jogar e brincar, depois para escutar histórias, depois para fazer as tarefas da escola.
Um santo que entretinha os seus discípulos nas brincadeiras e travessuras honestas e agradáveis, jogos de habilidade, e até mesmo truques de mágica. A virtude da Eutrapelia era conatural a ele, e manifestava a tranquilidade inalterável da sua alma.
O humor é uma realidade especificamente humana: a sua essência reside na ligação profunda com a emotividade, com a interioridade mais atávica e instintiva do homem.
Para aqueles que dizem que o cristianismo é chato, que é um conjunto de regras morais que tiraram a felicidade do homem e os prazeres que (a condicional é uma obrigação) teriam vindo a ele pelo paganismo, pode se responder com a alegria de viver como santos, que demonstram que a vida é bela, também quando nos parece dura, também quando nos fere, também quando nos parece um jogo perdido, porque tem um sentido.
A Tristeza é a sombra do diabo: para expulsá-la, precisamos de uma boa dose de Eutrapelia!
Paolo Gulisano in Zenit
sexta-feira, 18 de dezembro de 2015
Impacto nas crianças do 'casamento' entre pessoas do mesmo sexo
Um novo estudo publicado este ano traz evidências de que as crianças obtêm melhores resultados no seu desenvolvimento quando são criadas por um pai e uma mãe. O artigo “Problemas emocionais entre crianças criadas por pais homossexuais: diferença por definição” foi publicado na edição de Fevereiro de 2015 do British Journal of Education, Socity and Behavioural Science. O autor do estudo é o professor de sociologia Donald Paul Simmons, da Universidade Católica da América, e baseia-se numa amostragem de mais de duzentas mil crianças, incluindo 512 criadas por parceiros do mesmo sexo.
As conclusões indicam incidência consideravelmente maior de problemas emocionais nas crianças cujos responsáveis são pessoas do mesmo sexo, em comparação com os filhos de casais. “Os filhos de pais biológicos casados apresentam apenas 1/4 dos problemas emocionais identificados entre as crianças criadas por pais do mesmo sexo".
Na introdução, o estudo menciona que, ao longo dos últimos anos, várias pesquisas afirmaram que as crianças criadas por pais do mesmo sexo não sofrem desvantagens em comparação com os filhos de pais de sexo diferente. Tais pesquisas foram tão bem divulgadas que chegaram a condicionar sentenças em processos judiciais e decisões tomadas em políticas públicas e em ambientes profissionais.
Mais recentemente, porém, revisões dessas pesquisas revelaram deficiências em sua elaboração, ao mesmo tempo em que novos estudos vêm apontando resultados negativos no desenvolvimento de crianças de famílias do mesmo sexo. Muitas das pesquisas que alegavam não haver diferenças entre crianças de diferentes tipos de famílias se baseavam em amostragens muito pequenas ou em fontes não representativas, além de apresentarem limitações metodológicas.
Instabilidade familiar
Um factor que afecta em especial as crianças criadas por parceiros homossexuais é o maior índice de instabilidade e dissolução da relação entre os parceiros, na comparação com os de sexo oposto.
"Estudos sobre o divórcio sugeriram que a dissolução familiar pode afectar a saúde emocional da criança devido ao aumento do conflito parental anterior à separação (...) Pais afectiva ou mentalmente instáveis são um factor de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais ou emocionais na criança. Há indicativos robustos de que a atracção por pessoas do mesmo sexo está associada a um risco mais elevado de sofrimento psíquico", acrescentou Simmons.
A falta de laços biológicos para as crianças criadas por casais do mesmo sexo é outro factor que pode causar problemas. “Nenhuma criança participante deste estudo e criada por parceiros homosseuxias vivia com ambos os pais biológicos, ao passo que, nas famílias heterossexuais, quase dois terços (64%) viviam com pai e mãe biológicos", informa o artigo, recordando também que "quase todos os estudos que já examinaram esta questão apontaram que o bem-estar infantil é mais elevado entre as crianças que vivem com ambos os pais biológicos".
"No mínimo, não é justo afirmar que as crianças criadas por parceiros do mesmo sexo não sofram desvantagem alguma em relação às que são criadas por famílias com pai e mãe", observa o autor.
Estigmatização?
Simmons constatou que a susceptibilidade a problemas emocionais devidos à estigmatização dos casais homossexuais foi pouco marcante. Por isso, “deve ser rejeitada a hipótese de que as restrições relativas à paternidade ou ao estado civil dos parceiros homossexuais explique o maior risco de problemas emocionais”.
“O estudo indica que os problemas emocionais das crianças criadas por parceiros do mesmo sexo têm relação justamente com a privação da experiência de ser criadas pelo pai e pela mãe biológicos”, já que, “funcionalmente, o casamento entre pessoas de sexos opostos é uma prática social que, tanto quanto possível, garante às crianças um cuidado conjunto de ambos os pais biológicos, com os seus consequentes benefícios naturais”.
John Flynn, LC in Zenit
quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
O Papa Francisco faz hoje 79 anos!
V. Orémus pro beatíssimo Papa nostro Francisco.
R. Dóminus consérvet eum, et vivíficet eum,
et beátum fáciat eum in terra,
et non tradat eum in ánimam inimicórum eius.
V. Oremos pelo nosso beatíssimo Papa Francisco.
R. Que o Senhor o conserve e vivifique,
que o faça feliz na Terra,
e não o entregue nas mãos dos seus inimigos.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
Cardeal Sarah explica o que falta nas "nossas" Missas
Cinquenta anos após a sua promulgação pelo Papa Paulo VI, a Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II será lida? “Sacrosanctum Concilium” não é um simples “livro de receitas” da reforma, mas uma verdadeira “Carta Magna” de toda a acção litúrgica.
Com ela, o concílio ecuménico dá-nos uma lição magisterial. Na verdade, longe de estar contente com uma abordagem multidisciplinar e exterior, o concílio quer fazer-nos reflectir sobre o que a liturgia é na sua essência. A prática da Igreja vem sempre do que recebe e contempla no Apocalipse. O cuidado pastoral não pode ser desligado da doutrina.
Na Igreja, “a acção é ordenada à contemplação” (cfr. n.2). A Constituição do concílio convida-nos a redescobrir a origem trinitária da acção litúrgica. Com efeito, o concílio estabelece a continuidade entre a missão do Cristo Redentor e a missão litúrgica da Igreja. “Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também Ele enviou os Apóstolos” para que “mediante o sacrifício e os sacramentos, à volta dos quais gira toda a vida litúrgica” eles realizem “a obra da salvação”. (n.6).
Operar a liturgia é, portanto, nada mais do que a operação da obra de Cristo. A liturgia na sua essência é “actio Christi”. É a obra de Cristo, o Senhor, da “redenção dos homens e da glorificação perfeita de Deus.” (n.5) É Ele que é o eminente Sacerdote, o verdadeiro sujeito, o verdadeiro protagonista na liturgia (n.7). Se este princípio essencial não é aceite, existe o risco de transformar a liturgia em uma obra humana, uma auto-celebração da comunidade.
Em contrapartida, o verdadeiro trabalho da Igreja consiste em inserir-se na acção de Cristo, em unir-se a essa obra que Ele recebeu como uma missão do Pai. Assim, “deu-nos a plenitude do culto divino”, pois “a Sua humanidade foi, na unidade da pessoa do Verbo, o instrumento da nossa salvação” (n.5). A Igreja, Corpo de Cristo, deve, portanto, tornar-se por sua vez um instrumento nas mãos do Verbo.
Este é o sentido último do conceito-chave da Constituição Conciliar: “participatio actuosa”. Tal participação da Igreja consiste em tornar-se o instrumento de Cristo – O Sacerdote, com o objectivo de partilhar da Sua missão trinitária.
A Igreja participa activamente da acção litúrgica de Cristo, na medida em que é o Seu instrumento. Neste sentido, falar de “uma comunidade celebrante” “não é desprovido de ambiguidade e exige prudência. (Instrução “Redemptoris sacramentum”, n.42). A “participatio actuosa” não deve, então, ser concebida como a necessidade de fazer alguma coisa (sobre este ponto, a doutrina do concílio tem sido frequentemente deformada) mas sim permitir que Cristo nos tome e nos ligue ao Seu Sacrifício.
A “participatio” litúrgica deve, portanto, ser concebida como uma graça de Cristo, que “associa sempre a si a Igreja.” (SC, n.7) Ele é quem tem a iniciativa e a primazia. A Igreja “invoca o seu Senhor e por meio dele rende culto ao Eterno Pai” (n.7).
O sacerdote deve tornar-se, assim, este instrumento que permite que Cristo transpareça. Assim como o nosso Papa Francisco nos lembrou, o celebrante não é um apresentador de um espectáculo, não deve visar a popularidade, colocando-se diante dos fiéis como o seu principal interlocutor. Entrar no espírito do concílio significa, pelo contrário, fazer-se desaparecer – abandonando o centro do palco.
Ao contrário do que às vezes tem sido sustentado, e em conformidade com a Constituição conciliar, é absolutamente apropriado que, durante o acto penitencial, o canto do Glória, as orações e Oração Eucarística, todos - o sacerdote e os fiéis - se voltem “ad orientem”, expressando a sua vontade de participar da obra de adoração e redenção realizada por Cristo. Esta maneira de agir poderia ser convenientemente realizada nas catedrais onde a vida litúrgica deve ser exemplar (n.4).
Para ser muito claro, há outras partes da Missa, onde o Padre agindo “in persona Christi Capitis” entra em diálogo com a congregação. Mas este cara-a-cara não tem outro objectivo que não levá-los a um tête-à-tête com Deus, que, através da graça do Espírito Santo, irá torná-lo ‘coração-à-coração”. O concílio oferece outros meios para favorecer a participação: “as aclamações dos fiéis, as respostas, a salmodia, as antífonas, os cânticos, bem como as acções, gestos e atitudes corporais” (n.30).
Uma leitura excessivamente rápida e superficial deduziu que os fiéis tinham de ser mantidos constantemente ocupados. A mentalidade ocidental contemporânea, moldada pela tecnologia e enfeitiçada pelos meios de comunicação de massa, queria tornar a liturgia uma obra de pedagogia eficaz e proveitosa. Neste espírito, houve a tentativa de fazer dela um espaço de socialização. Os actores litúrgicos, animados por motivos pastorais, tentam, às vezes, fazer dela uma obra didática, através da introdução de elementos seculares e espetaculares. Não vemos, por acaso, um crescimento de testemunhos, performances e palmas. Eles acreditam que a participação é favorecida desta forma, quando, na realidade, a liturgia está a ser reduzida a uma actividade humana.
“O silêncio não é uma virtude, nem o ruído um pecado, é verdade”, diz Thomas Merton, “mas o tumulto contínuo, confusão e barulho na sociedade moderna ou em certas liturgias eucarísticas africanas são uma expressão da atmosfera dos seus pecados mais graves e de sua impiedade e desespero. Um mundo de propaganda e intermináveis argumentações, de inventivas, críticas ou mera tagarelice, é um mundo em que a vida não vale a pena viver. A Missa torna-se um barulho confuso, as orações um ruído exterior ou interior“ (Thomas Merton, “The Sign of Jonah” edição francesa, Albin Michel, Paris, 1955 – 322 p.).
Corremos o risco real de não deixar espaço para Deus nas nossas celebrações. Corremos o risco da tentação dos hebreus no deserto. Eles tentaram criar um culto de acordo com sua própria estatura e medida, [mas] não nos esqueçamos que acabaram se prostrando diante do ídolo do Bezerro de Ouro.
É hora de começar a ouvir o concílio. A liturgia é “principalmente culto da majestade divina” (n.33). Isto tem valor pedagógico, na medida em que é totalmente ordenada à glorificação de Deus e ao culto divino. A Liturgia coloca-nos verdadeiramente na presença da transcendência divina. A verdadeira participação significa renovar em nós mesmos aquela “maravilha” que S. João Paulo II tinha em grande consideração (Ecclesia de Eucharistia, n.6). Esta santa admiração, esta alegre reverência, requer o nosso silêncio diante da Majestade Divina. Frequentemente, esquecemos que o santo silêncio é um dos meios indicados pelo concílio para favorecer a participação.
Se a liturgia é a obra de Cristo, é necessário que o celebrante introduza os seus próprios comentários? Devemos lembrar que, quando o Missal autoriza uma intervenção, este não deve se transformar em um discurso secular e humano, um comentário mais ou menos subtil em algo de interesse tópico, nem uma saudação mundana para as pessoas presentes, mas uma breve exortação, como introdução ao Mistério (Apresentação Geral do Missal Romano, n.50). Em relação à homilia, é em si um acto litúrgico, que tem as suas próprias regras.
A “participatio actuosa” na obra de Cristo pressupõe que deixemos o mundo secular, de modo a entrar na “acção sagrada por excelência” (Sacrosanctum concilium, n.7). De facto, “nós reivindicamos, com uma certa arrogância – participar do divino” (Robert Sarah, “Dieu ou rien”, p 178.).
Em tal sentido, é deplorável que o altar, nas nossas igrejas, não seja um lugar estritamente reservada para o Culto Divino, que as roupas seculares sejam usadas nele e que o espaço sagrado não seja claramente definido pela arquitectura. Uma vez que, como ensina o concílio, Cristo está presente na Sua Palavra, quando esta for proclamada, é igualmente prejudicial que os leitores não usem roupas adequadas, indicando que eles não estão pronunciando palavras humanas, mas do Verbo Divino.
A liturgia é fundamentalmente mística e contemplativa, e, consequentemente, para além da nossa acção humana; ainda, a “participatio” é uma graça de Deus. Portanto, ela pressupõe da nossa parte uma abertura ao mistério celebrado. Assim, a Constituição recomenda plena compreensão dos ritos (n.34) e ao mesmo tempo estabelece que “os fiéis possam rezar ou cantar, mesmo em latim, as partes do Ordinário da missa que lhes competem “(n.54).
Na realidade, a compreensão dos ritos não é apenas um acto de razão, deixada à sua própria capacidade, que deve aceitar tudo, compreender tudo, dominar tudo. A compreensão dos ritos sagrados é a do “sensus fidei”, que exercita a fé viva através de símbolos e que conhece através da “harmonia”, mais do que pelo conceito. Esse entendimento pressupõe que nos aproximamos do Mistério Divino com humildade.
Mas será que vamos ter a coragem de seguir o concílio até este ponto? Tal leitura, iluminada pela fé, é, no entanto, fundamental para a evangelização. Na verdade, “mostra a Igreja aos que estão fora, como sinal erguido entre as nações, para reunir à sua sombra os filhos de Deus dispersos, até que haja um só rebanho e um só pastor ” (n.2). A leitura da Sacrosanctum Concilium deve deixar de ser um lugar de desobediência às prescrições da Igreja.
Mais especificamente, não pode ser uma ocasião para divisão entre os católicos. As leituras dialécticas da “Sacrosanctum Concilium”, ou seja a hermenêutica da ruptura num sentido ou outro, não é o fruto de um espírito de fé. O concílio não queria romper com as formas litúrgicas herdados da tradição, mas sim queria aprofundá-las. A Constituição estabelece que “as novas formas como que surjam a partir das já existentes.” (N.23).
Neste sentido, é necessário que aqueles que celebram conforme o “usus antiquior” devam fazê-lo sem qualquer espírito de oposição e, portanto, dentro do espírito da “Sacrosanctum Concilium”. Da mesma forma, seria errado considerar a forma extraordinária do Rito Romano como derivando de outra teologia que não da liturgia reformada. Seria também desejável que o acto penitencial e o Ofertório do “usus antiquior” fosse inserido como um apêndice na próxima edição do Missal [de Paulo VI], com o objectivo de ressaltar que as duas reformas litúrgicas se iluminam uma à outra, na continuidade e sem oposição .
Se vivemos com esse espírito, então a liturgia vai deixar de ser um lugar de rivalidade e críticas, em última análise, para nos permitir participar activamente na liturgia “celebrada na cidade santa de Jerusalém, para a qual, como peregrinos nos dirigimos e onde Cristo está sentado à direita de Deus, ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo”(n.8).
in L'Osservatore Romano, 12 de Junho de 2015