quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Conferência de D. Athanasius Schneider em Lisboa (Parte III)

Nota - A primeira parte deste resumo encontra-se aqui: Conferência de D. Athanasius Schneider em Lisboa (Parte I)
A segunda parte deste resumo encontra-se aqui: Conferência de D. Athanasius Schneider em Lisboa (Parte II).
Na visita a Lisboa, D. Athanasius abriu a sua conferência a uma sessão de questões (Q) e respostas (R). Deixamos aqui algumas delas:

Q – D. Athanasius falou-nos da necessidade de maior reverência ao Santíssimo Sacramento para a renovação da Igreja. No entanto, não devemos esperar que nos seja dado o exemplo pelos membros da Igreja com maior representatividade, como os padres e as freiras, por exemplo?

R – A providência divina ao longo da história sempre se serviu dos pequeninos para os seus desígnios. Estes não são necessariamente os pequeninos da nomenclatura da Igreja. Os leigos como vocês, por exemplo, podem ser um exemplo de reverência e adoração a Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento, mesmo se os padres e freiras assim não o fizerem. Assim é o Corpo Místico de Cristo: quando falha um membro, Deus suscita outros membros para fazerem a sua função.

Q – Do que nos falou a respeito da reverência a Jesus Eucarístico, considera que de toda a reforma litúrgica vieram traços negativos?

R – Antes de mais convém esclarecer que a reforma litúrgica não é matéria infalível, há a possibilidade de erro. De facto há momentos não tão felizes derivados dessa reforma, pois em alguns casos o que se faz de facto não corresponde aos princípios litúrgicos previamente estabelecidos, não na sua totalidade mas em algumas formas concretas da mesma. A reforma precisa de ser melhorada para se tornar mais celeste. Claramente neste momento precisamos desse melhoramento.

Q – Falou da centralidade de Jesus Eucarístico na Eucaristia em detrimento de nos centrarmos no sacerdote. Se me lembro bem, aprendi que o Padre actua in persona Christi. Não estamos assim a dar o realce devido a Cristo através do celebrante?

R –  O celebrante actua in persona Christi Capitis, mas isso não significa que seja o elemento principal da celebração, que é Cristo. O celebrante é ministro secundário, Cristo é o ministro principal. O celebrante é instrumento de Cristo, que actua por meio dele. Por isso mesmo deve ser modesto e “desaparecer”, para dar espaço a Cristo.

Q – A Igreja permite a comunhão na mão e existem textos da Igreja primitiva que mostram que é uma prática já antiga. Porquê a oposição?

R – O que estamos a viver hoje é uma espécie de “Exílio de Avinhão” da Liturgia. Como sabem, nos séculos XIII e XIV viveu-se um tempo em que o Papa, sucessor de Pedro, residia em Avinhão. As consequências negativas que daí poderiam advir eram grandes, como a questão da sucessão do Apóstolo e o seu primado. No entanto, apesar de ser algo com consequências evidentemente más para a Igreja, muitos aceitavam-no, incluindo o próprio Papa. Ninguém ousava criticar a situação. Quem falou foram os pequeninos que tiveram a ousadia, como Santa Brígida e Santa Catarina e o Papa acabou por regressar a Roma. Note-se que o exílio era legal, permitido e defendido por muitos, mas não era isso que o fazia ser bom ou isento de crítica. O Papa é o Servo dos Servos de Deus e não um monarca absoluto, pois está ao serviço do Povo de Deus. Hoje, Santa Catarina é Doutora da Igreja.

No que respeita a prática da comunhão na mão na Igreja primitiva convém esclarecer a situação, pois é um mito recorrente. O único texto dos padres da Igreja que fala da comunhão na mão é de S. Cirilo de Jerusalém, que não é magistério. Além do mais, o relato da maneira de comungar aí presente é substancialmente diferente ao gesto hoje usado ao comungar na mão. Em primeiro lugar, comungava-se recebendo o Corpo de Cristo na mão direita, que tinha de estar lavada e, no caso das senhoras, tinha de estar coberta por um corporal. Depois, o comungante inclinava-se para estar abaixo da mão que tinha o Corpo de Cristo e recebia-o directamente na boca, sem alguma vez O tocar com os dedos. Portanto, era muito diferente do gesto que hoje se faz para comungar na mão, que não é um gesto da Igreja antiga. O gesto que hoje se usa é um gesto que se foi buscar aos Calvinistas, na sua forma de comungar. Mesmo a respeito da forma descrita por S. Cirilo de Jerusalém, esta forma de comungar quase instintivamente se deixou para adoptar uma outra forma, mais segura. Houve um crescimento orgânico e a prática deixou-se e diz-nos o Papa Pio XII que não podemos restaurar as coisas simplesmente antigas, pois o crescimento destas é orgânico.

Convém ainda relatar a maneira como hoje é permitida a comunhão na mão. Antes de ser concedido o indulto para se poder comungar na mão, o Papa Paulo VI sondou os Bispos para saberem o que pensavam desta prática. A maioria dos bispos rejeitou-a: consideravam perigosa, pois é menos reverente, contribui para a diminuição da fé na presença real de Cristo na Eucaristia e abre a porta a sacrilégios daí derivantes. O indulto foi concedido sob um conjunto de condições, sendo que quando o fez o Papa apelou a que se mantivesse o rito tradicional de receber a comunhão. Aberta a porta, sabemos que daí veio uma avalanche de coisas.

Q – Em muitos casos, como por exemplo em peregrinações a Fátima, parece difícil manter a reverência de que fala para com a Eucaristia, em particular quando é distribuída a comunhão…

R – É uma situação muito grave a que relata. Em muitos casos de grandes multidões não é possível controlar se não há sacrilégios para com a Eucaristia. Se de facto esta é para nós Deus encarnado, é contraditório distribuir a Comunhão quando não fazemos ideia do que poderá acontecer. Por isso, em tais eventos é preferível reavivar uma prática da Igreja muitas vezes esquecida: a comunhão espiritual.

Q – Será que nos pode elucidar sobre de que maneira podemos participar activamente na Missa?

R – Existe um mito que veio depois do Concílio Vaticano II que convém esclarecer: participar activamente na Missa não é fazer coisas, tarefas. Não há nada nos documentos conciliares que o diga, podem ir verificar. O que se diz sobre a participação activa na Missa, isso sim, é que consiste essencialmente numa presença consciente de que se está na Missa e não ter o pensamento fora desta. Pode-se fazê-lo escutando, fazendo os gestos corporais devidos, cantando. O cume da Participação na Missa é a Comunhão Sacramental.

Outra forma de participação proposta pela Sacrosanctum Concilium, que talvez vos admire, é o Silêncio. No fundo, é fazer concordar o coração com o que dizemos pelos lábios. 

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