sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A contracepção hormonal provoca efeitos profundos no cérebro

Um artigo no jornal de medicina Frontiers veio demonstrar os possíveis efeitos da contracepção hormonal no cérebro humano, sugerindo que os efeitos podem ser muito mais profundos do que antes se pensava, e convocando a comunidade científica a dedicar mais pesquisas nesta área.

“Os contraceptivos hormonais estão no mercado há mais de 50 anos e são usados por 100 milhões de mulheres em todo o mundo,” escreveram Belinda A. Pletzer e Hubert H. Kerschbaum, neuropsicólogos austríacos da Universidade Paris-Lodron, em Salzburgo. “Enquanto esteróides endógenos vêm sendo associados, de maneira convincente, a alterações na estrutura, função e performance cognitiva do cérebro, os efeitos dos esteróides sintéticos contidos nos contraceptivos hormonais têm sido muito pouco estudados.”

Com base nos poucos dados científicos existentes e controlando mudanças neurológicas e comportamentais nos usuários de contraceptivos hormonais, os autores afirmam que “esteróides sintéticos podem acarretar efeitos masculinizadores assim como feminizadores no cérebro e no comportamento.”

“Nós concluímos que há uma grande necessidade de estudos mais sistemáticos, especialmente sobre as mudanças estruturais, funcionais e cognitivas no cérebro provocadas pelo uso de contraceptivos hormonais,” escrevem Pletzer e Kerschbaum.

“Mudanças na estrutura e na química do cérebro provocam mudanças na cognição, na emoção e na personalidade e consequentemente em comportamentos observáveis,” continuou a dupla. “Se uma maioria de mulheres faz uso de contraceptivos hormonais, tais mudanças comportamentais podem causar uma alteração na dinâmica social. Como a pílula é o principal instrumento de controlo populacional, é preciso descobrir o que ela faz ao nosso cérebro.”

Pletzer e Kerschbaum chamaram à contracepção hormonal “experimento global” e observaram que, enquanto a ingestão de esteróides e hormonais por atletas é considerada “doping” e condenada pela sociedade, quando mulheres ou adolescentes que desejam reduzir os riscos de uma gravidez fazem a mesma coisa esse comportamento não é só tolerado, mas é até mesmo encorajado; e a jovens cada vez mais jovens, a despeito da falta de dados científicos a respeito da segurança do seu uso.

“Adolescentes começam a tomar contraceptivos hormonais cada vez mais cedo, muitas vezes pouco depois da puberdade,” escreve a dupla. “E, no entanto, a maioria das pesquisas sobre acções dos esteróides no cérebro concentra-se na terapia de reposição hormonal pós-menopausa.”

Uma preocupação especial de Pletzer e Kershbaum é o facto de que a maioria dos estudos neurológicos não leva em conta se as mulheres fazem uso de métodos hormonais de contracepção.

“Tradicionalmente, a pesquisa médica, assim como a psicológica, focava-se em participantes do sexo masculino, porque se suspeitava que as flutuações hormonais ao longo do ciclo menstrual afectavam os resultados – e estavam de facto certas,” escreveram. “Hoje, um grande número de mulheres participa de estudos científicos. E, embora os participantes que estejam fazendo uso de medicação sejam excluídos, os estudos dificilmente restringem as usuárias de contracepção hormonal.”

Depois de analisar os dados disponíveis sobre o impacto cognitivo dos contraceptivos hormonais, os cientistas encontraram indícios de que as drogas alteram fundamentalmente a maneira como as mulheres processam e reagem à informação. Citando uma série de estudos que mostram diferenças na comunicação verbal, memórias, lembranças emocionais e até mesmo na escolha de companheiros de usuárias de contraceptivos, concluíram que é possível que as drogas “causem uma reorganização estrutural no cérebro.” Observaram também que alguns estudos vincularam a contracepção hormonal a transtornos de humor de origem química como depressão, ansiedade, fadiga, sintomas de neurose, compulsão e cólera.

Em face da seriedade da evidência revelada com base em uma quantidade relativamente pequena de dados, Pletzer e Kershbaum chamaram atenção para a necessidade de uma investigação mais exaustiva dos efeitos dos contraceptivos hormonais em adolescentes, e fizeram um apelo aos pesquisadores de todas as áreas da medicina a que levem em consideração essa variável comum

“Em primeiro lugar, concluímos que há uma grande procura por estudos suplementares sobre como contraceptivos hormonais afectam o cérebro, desde o nível molecular até o comportamental,” escreveram os autores. “Portanto, estudos futuros que pretenderem investigar o funcionamento “normal” do cérebro deverão restringir o uso de contraceptivos hormonais entre os participantes.”

“Como o número de mulheres que usa contraceptivos orais aumenta constantemente, ao passo que a idade do primeiro uso de contraceptivo é cada vez menor, as alterações correspondentes na personalidade e no comportamento social implicam consequências significativas para a sociedade”, concluem os autores.

Kirsten Andersen in Notifam

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