RC: Vossa
Excelência é muito conhecida por celebrar a Missa "Tridentina" por todo o mundo.
Quais são, segundo Vossa Excelência, as lições mais profundas que se aprendem
ao dar a Missa "Tridentina", como padre e como bispo, e que outros padres e
bispos podem esperar receber ao celebra- la?
D. Athanasius Schneider: As lições mais profundas que
aprendi ao celebrar o Rito Tradicional foram estas: Sou apenas um simples
instrumento de uma acção sobrenatural muitíssimo sagrada, cujo principal
celebrante é Cristo, o Eterno Sumo Sacerdote. Sinto que durante a celebração da
Missa perdi de certa forma a minha liberdade individual, uma vez que as
palavras e gestos são prescritos até nos mais ínfimos pormenores e não posso descartá-los. Sinto profundamente no meu coração que
sou apenas um servo e um ministro, que embora tenha livre arbítrio, com fé e
amor, cumpro não a minha vontade, mas a vontade de Outro.
O Rito Tradicional e mais que milenar da Santa Missa, que nem o
Concílio de Trento modificou porque o Ordo Missae antes e depois do
Concílio eram quase idênticos, proclama e poderosamente evangeliza a Incarnação
e a Epifania da indescritível santidade imensa de Deus, que na liturgia como
"Deus connosco" e "Emanuel" se torna tão pequeno e perto de
nós. O Rito Tradicional da Missa é uma obra de arte e,
ao mesmo tempo, uma proclamação do Evangelho, que realiza o
trabalho da nossa salvação.
RC: Se o Papa Bento está certo ao dizer que o Rito Romano existe (ainda que
estranhamente) em duas formas em vez de uma, porque razão é que ainda não é
exigido que os seminaristas estudem e aprendam a Missa Tridentina como parte do
seu plano de estudos do seminário? Como pode um pároco da Igreja Romana não
saber ambas as formas do único Rito da sua Igreja? E como é que é possível que
seja negada a tantos Católicos a Missa Tradicional e os respectivos sacramentos
se é uma forma igual?
D. Athanasius Schneider: De acordo com a intenção do
Papa Bento XVI, e as normas claras da Instrução Universae Ecclesiae, todos os seminaristas Católicos devem saber a
forma tradicional da Missa e ser capazes de a celebrar. O
mesmo documento diz que esta forma é um tesouro para toda a Igreja - e portanto
para todos os fiéis.
O Papa João Paulo II fez um apelo urgente a todos os bispos para
acomodar generosamente o desejo dos fiéis em relação à celebração do Rito
Tradicional da Missa. Quando os clérigos e bispos põem entraves ou restringem a
celebração da Missa Tradicional, não estão a obedecer ao que o
Espírito Santo diz à Igreja, e estão a agir de um modo muito anti pastoral.
Não se comportam como os detentores do tesouro da liturgia, que não lhes
pertence, uma vez que são só os administradores.
Ao negar a celebração da Missa Tradicional ou ao obstruir e a
discriminar, comportam-se como um administrador infiel e caprichoso que, contrariamente às
instruções do pai da casa - tem a despensa trancada ou como uma madrasta má que
dá às crianças uma dose deficiente. É possível que esses clérigos
tenham medo do grande poder da verdade que irradia da celebração da Missa
Tradicional. Pode comparar-se a Missa Tradicional a um leão: soltem-no e ele defender-se-á sozinho.
A RÚSSIA AINDA NÃO EXPLICITAMENTE CONSAGRADA
RC: Há
muitos ortodoxos russos onde Vossa Excelência vive. Aleksandr de Astana ou
alguém do Patriarcado de Moscovo perguntou a Vossa Excelência acerca do recente
Sínodo ou sobre o que está a acontecer à Igreja sob Francisco? Interessam-se sequer?
D. Athanasius Schneider: Os Prelados Ortodoxos, com os
quais contacto, geralmente não estão bem informados acerca das disputas
internas na Igreja Católica, ou pelo menos nunca falaram comigo desses
assuntos. Ainda que não reconheçam a primazia jurisdicional do Papa, veem mesmo
assim o Papa no primeiro cargo hierárquico da Igreja, do ponto de vista na
ordem do protocolo.
RC: Estamos
apenas a um ano do centenário de Fátima. A Rússia não foi, indiscutivelmente,
consagrada ao Coração Imaculado de Maria e certamente não foi convertida. A
Igreja, embora impoluta, está numa desordem completa - talvez ainda pior que
durante a Heresia Ariana. Irão as coisas ficar ainda piores antes que melhorem
e como devem os verdadeiros Católicos fiéis preparar-se para o que aí vem?
D. Athanasius Schneider: Temos de acreditar firmemente:
A Igreja não é nossa, nem do Papa. A Igreja é de Cristo e só Ele a detém e
lidera infalivelmente mesmo nos períodos mais negros de crise, como de facto
está a nossa situação.
É uma mostra do Divino carácter da Igreja. A Igreja é
essencialmente um mistério, um mistério sobrenatural, e não podemos aproximarmo-nos dela como fazemos a um partido
político ou uma sociedade puramente humana. Ao mesmo tempo, a Igreja é humana e
no seu nível humano está actualmente a sofrer uma dolorosa paixão, participando
na Paixão de Cristo.
Podemos pensar que a Igreja nos nossos dias está a ser flagelada
como foi Nosso Senhor, está a ser despida como foi Nosso Senhor na décima
estação da Via Sacra. A Igreja, nossa Mãe, está atada
por cordas não só pelos inimigos da Igreja, mas também por alguns dos
colaboradores das classes do clero, e até mesmo do alto clero.
Todos os bons filhos da Mãe Igreja, como corajosos soldados, devem
tentar soltar esta Mãe - com as armas espirituais de defesa e proclamação da
verdade, promovendo a liturgia tradicional, adoração Eucarística, a cruzada do
Santo Terço, a batalha contra o pecado na sua vida particular e aspirar à
santidade.
Temos de rezar para que o Papa consagre explicitamente a Rússia ao Imaculado
Coração de Maria com brevidade, para que então
Ela possa vencer, como a Igreja rezou desde a antiguidade:"Alegrai-vos, ó Virgem Maria, porque sozinha
derrotastes todas as heresias do mundo inteiro" (Gaude, Maria Virgo,
cunctas haereses sola interemisti in universo mundo).
O resto da entrevista exclusiva ao blog católico Rorate Caeli pode ser lida aqui (em inglês):
http://rorate-caeli.blogspot.com/2016/02/exclusive-bishop-athanasius-schneider.html
http://rorate-caeli.blogspot.com/2016/02/exclusive-bishop-athanasius-schneider.html
Continuação do meu comentário anterior...
ResponderEliminarEntre outros escritos publicados, veja-se por exemplo as pags. 205-206 de "Um caminho sob o olhar de Maria", onde para além da transcrição do que a a Ir. Lúcia escreveu sobre o assunto no seu último escrito publicado, "Como vejo a Mensagem", podemos ver a publicação de uma carta de 29 de agosto de 1989 na qual ela expressamente afirma que as consagrações anteriores a 25 de março de 1984 não foram válidas e porquê, e que afirma claramente que a Consagração está feita tal como Nossa Senhora pediu desde essa data...