Alguns anos atrás, escrevi sobre uma experiência pouco comum que tive ao celebrar a Santa Missa: uma pessoa, atormentada pela possessão demoníaca, saiu a correr para fora da igreja no momento da consagração. Voltarei a falar deste caso um pouco mais adiante.
Tenho pensado nisto desde que um grupo satânico da cidade de Oklahoma (EUA) roubou uma hóstia consagrada de uma paróquia e anunciou que a profanaria durante uma "missa negra". O arcebispo de Oklahoma, D. Paul Coakley, entrou com uma acção judicial para impedir o sacrilégio e exigir que o grupo devolvesse a propriedade roubada da Igreja. D. Coakley ressaltou, no processo, que a hóstia seria profanada dos modos mais vis imagináveis, como uma oblação feita em sacrifício a Satanás.
O porta-voz do grupo satânico, Adam Daniels, declarou: “Toda a base da ‘missa’ [satânica] é que pegamos na hóstia consagrada e fazemos uma ‘bênção’ ou oferta a Satanás. Fazemos todos os ritos que normalmente abençoam um sacrifício, que é, obviamente, com a hóstia do corpo de Cristo. Então nós, ou o diabo, reconsagramo-la…”.
À luz do processo judicial, o grupo devolveu à Igreja a hóstia consagrada que tinha roubado. Graças a Deus.
Mas reparam o que o porta-voz satânico afirmou sobre a Eucaristia? Ao falar do que seria oferecido em sacrifício, ele disse: “…que é, obviamente, com a hóstia do corpo de Cristo”.
Por mais grave e triste que seja este caso (e não é o primeiro), esses satânicos consideram explicitamente que a Eucaristia católica é o Corpo de Cristo. Pelo que sei, nunca houve tentativas satânicas de roubar e profanar uma hóstia metodista, episcopaliana, baptista ou luterana, etc. O que eles procuram é a hóstia católica. E nós temos uma afirmação das próprias Escrituras que o garante: “Até os demónios crêem e estremecem” (Tia 2, 19).
Noutra passagem, a Escritura fala de um homem que vagueava no meio dos túmulos e era atormentado por um demónio. Quando viu Jesus, ainda de longe, correu até Ele e adorou-O (Mar 5, 6). O evangelho de Lucas cita outros demónios que saíam de muitos corpos possuídos e gritavam: "Tu és o Filho de Deus!". Mas Jesus repreendia-os e não os deixava falar, porque sabiam que Ele era o Cristo (Lc 4,41-42).
De fato, como pode ser provado por muitos que já testemunharam exorcismos, há um poder maravilhoso na água benta, nas relíquias, na cruz do exorcista, na estola do sacerdote e noutros objetos sagrados que afugentam os demónios. Mesmo assim, muitos católicos e não católicos desvalorizam estes sacramentais (assim como os próprios sacramentos) e utilizam-nos sem cuidado, com pouca frequência ou sem frequência alguma. Há muita gente, inclusive católicos, que os consideram pouco importantes. Mas os demónios não! Vergonhosamente, os demónios, às vezes, manifestam mais fé (ainda que cheia de medo) que os crentes, que deviam reverenciar os sacramentos e os sacramentais com uma fé amorosa. Mesmo o satânico de Oklahoma reconhece que Jesus está realmente presente na Eucaristia. É por isso que ele procura uma hóstia consagrada, ainda que para fins tão nefastos e perversos.
Tudo isto me leva de volta ao caso real que descrevi já há um bom tempo. Apresento a seguir alguns trechos do que escrevi há quase quinze anos, quando estava na paróquia de Santa Maria Antiga [Old St. Mary, na capital norte-americana] celebrando a Missa em latim na forma extraordinária. Era uma missa solene. Não era diferente da maioria dos domingos, mas algo impressionante estava prestes a acontecer.
Como devem saber, a antiga Missa em latim era celebrada "ad orientem", ou seja, voltada em direcção ao oriente litúrgico. Sacerdote e fiéis ficavam todos de frente para a mesma direcção, o que significa que o celebrante permanecia, na prática, de costas para as pessoas. Ao chegar a hora da consagração, o sacerdote inclinava-se com os antebraços sobre o altar, segurando a hóstia entre os dedos.
Naquele dia, pronunciei as veneráveis palavras da consagração em voz baixa, mas de modo claro e distinto: “Hoc est enim Corpus meum” [Este é o meu Corpo]. O sino tocou enquanto eu me ajoelhava.
Atrás de mim, no entanto, houve uma espécie de perturbação; uma agitação ou sons incongruentes vieram dos bancos da frente da igreja, logo nas minhas costas, um pouco mais para a direita. Em seguida, um gemido ou resmungo. "O que era isto?", perguntei a mim mesmo. Não pareciam sons humanos, mas grasnidos de algum animal de grande porte, como um javali ou um urso, junto com um gemido plangente que também não parecia humano. Elevei a hóstia e novamente me perguntei: "O que era isto?". Então, silêncio. Celebrando no antigo rito da Missa em latim, eu não me podia virar facilmente para ver. Mas ainda pensei: "O que era isto?".
Chegou a hora da consagração do cálice. Mais uma vez curvei-me, pronunciando clara e distintamente, mas em voz baixa, as palavras da consagração: “Hic est enim calix sanguinis mei, novi et aeterni testamenti; mysterium fidei; qui pro vobis et pro multis effundetur in remissionem pecatorum. Haec quotiescumque feceritis in mei memoriam facietis” [Este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança, o mistério da fé, que será derramado por vós e por muitos para a remissão dos pecados. Todas as vezes que fizerdes isto, fazei-o em memória de mim].
Então, ouvi mais um ruído, desta vez um inegável gemido e, logo de seguida, um grito de alguém que gritava: "Jesus, deixa-me em paz! Por que me torturas?". Houve de repente um barulho que lembrava uma luta e alguém correu para fora a um som de gemidos, como se alguém tivesse sido ferido. As portas da igreja abriram-se e de seguida fecharam-se. Depois, silêncio.
Consciência – Eu não me podia virar para ver porque estava a levantar o cálice da consagração. Mas entendi no mesmo instante que alguma pobre alma atormentada pelo demónio se tinha visto diante de Cristo na Eucaristia e não tinha conseguido suportar a sua presença real, exibida perante todos. Ocorreram-me as palavras da Escritura: “Até os demónios crêem e estremecem” (Tiago 2,19).
Arrependimento – Assim como Tiago usou aquelas palavras para repreender a fraca fé do seu rebanho, também eu tinha motivos para a contrição. Por que, afinal, um pobre homem atormentado pelo demónio era mais consciente da presença real de Cristo na Eucaristia e ficava mais impressionado com ela do que eu? Ele ficou impressionado em sentido negativo e correu para longe. Mas por que é que eu não me impressionava de forma positiva com a mesma intensidade? E quanto aos outros crentes, que estavam nos bancos? Eu não tenho dúvidas de que todos nós acreditávamos intelectualmente na presença eucarística. Mas há algo muito diferente e muito mais maravilhoso em nos deixarmos mover por ela na profundidade da nossa alma! Como é fácil bocejarmos na presença do Divino e nos esquecermos da presença milagrosa e inefável, disponível ali para todos nós!
Quero deixar registrado que, naquele dia, há quase quinze anos, ficou muito claro para mim que eu tinha nas minhas mãos o Senhor da Glória, o Rei dos Céus e da Terra, o Justo Juiz e o Rei dos reis da terra.
Será que Jesus está realmente presente na Eucaristia?
Até os demónios acreditam!
Msgr. Charles Pope in pt.aletheia.org
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