Os três primeiros sacerdotes ordenados a 25 de Junho de 1944 pelo Bispo de Madrid foram o Pe. Álvaro del Portillo, o Pe. José Maria Hernández de Garnica e o Pe. José Luís Múzquiz, todos três engenheiros.
O primeiro que S. Josemaria convidou foi Álvaro del Portillo, depois de insistir com ele na sua liberdade de decisão, estimulando na sua alma o desejo de servir: Se sentes que está disposto – dizia-lhe -, se o desejas, e não vês inconvenientes, poderás ser ordenado sacerdote, com plena liberdade; e chamo-te ao sacerdócio não por seres melhor, mas para servir os outros (1).
José Maria Hernández de Garnica, a quem chamavam familiarmente Chiqui, pertencia ao Opus Dei desde Julho de 1935.
José Luís Múzquiz, tinha pedido a admissão em 1940, embora se tivesse encontrado pela primeira vez com o Fundador em 1935, quando acabava de terminar o curso de engenharia civil. Tinha assistido a círculos de formação na Residência de Ferraz até ao começo da guerra que o apanhou numa viagem de estudo pela Europa, e em 1939 continuou a ter direcção espiritual com o fundador do Opus Dei. Por fim, num dia de recolecção, depois de ouvir a meditação pregada pelo Pe. Josemaria – como o próprio conta -, «sem que me convidasse expressamente, manifestei-lhe vontade de ser da Obra. E ele disse-me apenas – Que Deus te abençoe, é coisa do Espírito Santo. Isto passou-se no dia 21 de Janeiro de 1940» (2).
Pe. José Luís Muzquiz com S. Josemaria |
S. Josemaria era o único sacerdote no Opus Dei desde 1928.
(...)
Resumindo algumas das causas e dos motivos pelos quais a Obra precisava de sacerdotes, o Fundador escreve:Os sacerdotes também são necessários para o atendimento espiritual dos membros da Obra: para administrarem os sacramentos, colaborarem com os directores leigos na direcção das almas, darem uma profunda instrução teológica aos restantes sócios do Opus Dei e – ponto fundamental na própria constituição da Obra – ocuparem alguns cargos de governo (5).
Entre a incerteza dos primeiros empenhamentos e a esperança, tangível e segura, da preparação dos três filhos seus para o sacerdócio, medeiam nada menos que dez anos de oração e mortificação. E haviam de decorrer mais quatro anos até à sua ordenação, em 1944. Anos e anos de pedidos e trabalhos insistentes.
Rezei com esperança e confiança, durante tantos anos, pelos vossos irmãos que haveriam de se ordenar, e por todos os que, mais tarde, seguiriam o seu caminho, e rezei tanto, que posso afirmar que todos os sacerdotes do Opus Dei são filhos da minha oração (7).
O Fundador insistiu muitas vezes em que a vocação ao sacerdócio não é uma espécie de “coroação” da vocação para a Obra. Pelo contrário, pela sua inteira disponibilidade para as tarefas apostólicas e pela formação recebida, pode dizer-se que todos os numerários reúnem as condições necessárias exigidas para o sacerdócio e estão dispostos a receber a ordenação sacerdotal, se o Senhor lho pedir e o Padre os convidar a servir a Igreja e a Obra dessa maneira.
Entre as resoluções que o Fundador do Opus Dei tomou em Novembro de 1941, está a seguinte: Orar, sofrer e trabalhar sem descanso até serem uma realidade na Obra os Sacerdotes que Jesus quer nela. Falar deste ponto com o nosso Bispo de Madrid, meu Pai (8).
Formação dos sacerdotes
O assunto a tratar com o Sr. Bispo de Madrid era o dos estudos eclesiásticos, que normalmente eram feitos em centros docentes oficiais, geralmente nos seminários diocesanos ou nas universidades pontifícias. Dadas as circunstâncias dos estudantes, a sua idade e cursos civis, receberiam aulas de professores particulares no centro da Rua de Diego de León; era seu Director de Estudos o Pe. José Maria Bueno Monreal que, entre 1927 e aquela altura, fora professor de Direito Canónico e Teologia Moral no Seminário de Madrid (9).
Na Primavera de 1942 estavam já os estudantes «em muito boas condições para fazerem os exames», segundo o Director de Estudos.
Quando preparei os primeiros sacerdotes da Obra, exagerei – se é possível – a sua formação filosófica e teológica, por diversas razões: a segunda, para agradar a Deus; a terceira, porque havia muitos olhos cheios de carinho postos em nós, e não podíamos defraudar essas almas; a quarta, porque havia quem não gostasse de nós, e procurasse uma oportunidade para nos atacar; depois, porque na vida profissional sempre exigi aos meus filhos a melhor preparação, e não ia fazer menos com a sua formação religiosa. E a primeira razão – uma vez que posso morrer de um momento para o outro, pensava -, porque tenho de dar contas a Deus do que fiz e desejo ardentemente salvar a minha alma (10).
Entre as fichas antigas soltas que se conservam do Fundador há dois pensamentos que têm muito a ver com esta matéria. Um deles diz: A formação sacerdotal… isso sim, tem de ser Opus Dei! E a outra: O sacerdócio recebe-se no momento da ordenação, mas a formação sacerdotal… (11). A formação abarca toda a vida. Porque a vida é progresso; e quem se detém atrasa-se, e acabará na valeta. (12).
Os três candidatos receberam a preparação pastoral para as Sagradas Ordens directamente do Padre, que teve o cuidado de os ir formando nas virtudes sacerdotais. E, no que se refere aos estudos, não fizeram as disciplinas de Sagrada Teologia no Seminário, mas no Centro de Estudos Eclesiásticos da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz, com sede na Rua de Diego de León, e formalmente constituído em Dezembro de 1943 (13).
in pt.josemariaescriva.info
Notas:
1. Álvaro del Portillo, PR, p.958
2. José Luis Múzquiz de Miguel, Sum. 5791
5. Carta 14-II-1944, n. 9. Os sacerdotes não eram simples auxiliares das actividades de um grupo de leigos; sacerdotes e leigos - em cooperação orgânica – eram igualmente essenciais, como o são na Igreja; com efeito, desde o princípio que a Obra foi vista pelo Fundador como uma porção do Povo de Deus, uma pequena parte da Igreja.
7. Carta 8-VIII-1956, n. 5
8. Apuntes, n. 1854, de 9-XI-1941
9. D. José Maria Bueno Monreal conheceu o Padre Josemaria em 1927 ou 1928, na Faculdade de Direito. Interveio na preparação dos documentos para a aprovação da Obra como Pia União, como atrás se disse. Encarregou-se da direcção de estudos dos três primeiros membros do Opus Dei que receberam a ordenação sacerdotal. No final de 1945, foi nomeado Bispo de Jaca, e depois de Vitória. Em 1954, foi nomeado Arcebispo Coadjutor de Sevilha e, quatro anos mais tarde, Cardeal de Sevilha. Morreu em 1987.
10. Carta 8-VIII-1956, n. 13. «Teologia não era, pois, uma coisa extraordinária, porque com o tempo seria normal na Obra: todos os membros devem possuir a formação doutrinal religiosa conveniente. Por isso, logo a seguir começariam a estudar outros, e mais outros, sem interrupção, como sucedeu efectivamente. Tudo isto mo dizia como algo que pertencia à essência apostólica da Obra, e que era, pois, claramente de Deus» (José López Ortiz, em: Beato Josemaria Escrivá de Balaguer, un hombre de Dios. Testimonios sobre el Fundador del Opus Dei, Madrid, 1994, p. 232-233)
11. RHF, AVF-0079, de II-1944
12. A vossa formação nunca se considera acabada: durante toda a vossa vida, com uma maravilhosa humildade, precisareis de aperfeiçoar a vossa preparação humana, espiritual, doutrinal-religiosa, apostólica e profissional (Carta 6-VI-1945, n. 19)
13. A constituição do Centro de Estudos Eclesiásticos da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz, com sede na Rua de Diego de León (Lagasca, n. 116), que funcionava há algum tempo como centro de estudos, foi comunicada ao Sr. Bispo de Madrid-Alcalá com data de 10 de Dezembro de 1943, isto é, dois dias depois do decreto de erecção da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz (cf. RHF, D-15140)
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