O Papa Francisco várias vezes fala sobre "o trabalho missionário da oração de intercessão". Qual é a sua visão sobre este assunto?
O Papa escreveu uma passagem admirável onde nos lembra: "Os grandes homens e mulheres de Deus foram grandes intercessores. A intercessão é como um 'fermento' no coração da Trindade. É uma forma de penetrar o coração do Pai e descobrir novas dimensões que podem dar luz a situações concretas e mudá-las. Podemos dizer que o coração de Deus é tocado pela nossa intercessão, mas na verdade Ele está lá sempre primeiro. O que a nossa intercessão obtém é que o Seu poder, o Seu amor e a Sua fidelidade são mostrados de forma ainda mais clara no meio do povo" (Evangelii Gaudium, 283).
Se um homem não levanta o seu olhar para Deus, rezando e intercedendo, ele seca e morre para si mesmo. A mesma coisa também se aplica, de um modo semelhante, ao sucesso do trabalho missionário. (...)
A oração dos monges e das freiras é um dos fundamentos mais produtivos da Igreja. Os mosteiros são centros absolutamente prodigiosos de evangelização e missão. A oração ardente e contínua das Carmelitas, dos Beneditinos, dos Cistercienses ou das irmãs da Visitação, para mencionar apenas algumas congregações, ajuda e suporta imenso o trabalho dos sacerdotes. O mundo moderno, e até alguns membros do clero, inebriados pelo seu sentimento de poder, muitas vezes pensam que os monges e as freiras de clausura não servem para nada. Em última análise é o maior elogio que podemos dar aos contemplativos que se retiraram para trás dos altos muros dos seus claustros; eles não servem nada em concreto aqui em baixo; mas servem apenas a Deus. Este é o simples e bonito segredo das suas orações, que suportam todo o mundo.
Como é que podemos esquecer as palavras de Cristo: "A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos, pedi pois ao Senhor da seara que envie trabalhadores para a sua seara. Vão, eis que Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias; e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho." (Lc 10:2-4). A primeira coisa a fazer quando faltam trabalhadores não é usar a nossa inteligência para re-estruturar a diocese ou reorganizar as paróquias consolidando-as - o que não é negar a possível utilidade e adequação de tal projecto. Pelo contrário, é necessário pedir a Deus que forme muitas santas vocações para o sacerdócio ministerial e para a vida consagrada.
Será que rezamos mesmo ardentemente pelas vocações? Rezamos todos os dias para pedir a Deus que envie mais sacerdotes?
Temos de pedir a Deus sem parar que forme grande missionários no meio do seu povo. O trabalho missionário não é uma tarefa humana; vem só de Deus. A oração de intercessão é suave e confiante. Os Padres Espiritanos da minha infância tiveram missões bem sucedidas porque estavam constantemente imersos em oração, pedindo a Deus que lhes desse a sua protecção e que tornasse produtivo o seu trabalho de semeadores da palavra. Humanamente falando, como é que alguém podia imaginar por um momento que aqueles pobres homens conseguiriam comunicar as palavras de Cristo nas regiões mais remotas de África? Só o poder missionário da oração de intercessão, de que o Papa Francisco fala, pode explicar os seus feitos admiráveis...
Durante os três anos da sua vida pública nesta terra, Jesus várias vezes se retirou com os apóstolos para rezar. A missão de Cristo e dos Primeiros Cristãos já era o trabalho de Deus. O sofrimento que muitas vezes acompanha o trabalho missionário transforma-se em vitória pela oração de intercessão. (...)
Cardeal Sarah in 'Deus ou nada'
Uma vez ouvi a um bispo português, hoje já resignatário, de uma diocese a Sul do Tejo, o seguinte: "Que é isso de rezar por muitas e santas vocações? Não, isso era dantes! Agora, temos mas é de pedir as vocações suficientes e não mais! As suficientes!.." E entoava "as suficientes" num tom solene, prolongado e ribombante, talvez porque a sua diocese fosse uma das com menor prática religiosa e menos vocações em todo o país...
ResponderEliminarÉ, a autodemolição passou também (ou sobretudo)por este tipo de discurso dúbio e ambíguo. E, claro, eu, até hoje e sempre que recordo aquele dislate episcopal, continuo a rezar por muitas e santas vocações sacerdotais, muitas e santas vocações religiosas!
Já agora, na fotografia, ao lado do Cardeal Sarah, está Dom Louis-Marie, abade dessa jóia preciosa do Catolicismo contemporâneo que é a Abadia do Barroux.
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