sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Nunca é tarde: Aos 101 anos, brasileira recebe a Primeira Comunhão

Dona Penha, uma senhora de 101 anos, viveu um momento único na sua vida no dia 27 de Setembro em Santo António de Padua (Rio de Janeiro). Ela recebeu a Primeira Comunhão numa Missa, na Forma Extraordinária, celebrada na Capela do lar de Nossa Senhora do Carmo. Para os que presenciaram o feito, tratou-se de um grande testemunho do amor de Deus.

“Foi um momento muito bonito e mostrou-nos que nunca é tarde para receber a Eucaristia, que para quem busca a Deus não há tempo ou vergonha que possa impedi-lo”, declarou a auxiliar administrativa da instituição, Josiane Ribeiro, e afirmou que ocasiões como esta ajudam a “reafirmar a fé”.

Josiane contou que a Dona Penha chegou ao lar, administrado pelas Irmãs da Associação Nossa Senhora do Rosário de Fátima. No local, há uma capela onde se celebram Missas durante a semana.

“Dona Penha começou a acompanhar outras senhoras e um dia pediu para se confessar. O Pe. Domingos Sávio Silva Ferreira (da Administração Pessoal São João Maria Vianney) percebeu que ela nunca tinha recebido a Comunhão e pediu às irmãs que a preparassem para receber o sacramento”, recordou Josiane.

Segundo a funcionária da instituição, depois dessa preparação, Dona Penha comungou pela primeira vez e quem a acompanhou pôde ver que “isso era realmente o que ela queria”. “Aos 101 anos, ela está muito lúcida, preparou-se e recebeu a Primeira Comunhão com todo o coração”.

Para Josiane, este episódio foi um testemunho não só para as pessoas que vivem com Dona Penha no lar, mas também para tantas outras que puderam partilhar esse momento por meio das redes sociais. “Colocámos as fotos no Facebook do lar e muitas pessoas as viram, comentaram e gostaram”, disse.

No Facebook da instituição o post alcançou centenas de likes e foi partilhado muitas vezes. Entre os comentários, um utilizador destacou-se: “Há sempre tempo, o dela foi agora! Deus a abençoe!”

in ACI Prensa

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

É lícito distribuir preservativos para evitar abortos?

cooperação com o mal “é o concurso que se presta à acção má de outro, levando-o a fazer o mal na qualidade de agente principal” (Del Greco, Compêndio de Teologia Moraln. 138). Segundo o mesmo autor, é lícita “quando intervier motivo proporcionado”; e, exemplificando, “pode-se dar vinho a um bêbado para impedir que ele blasfeme” (n. 139).

O moralista é até mais abrangente e chega mesmo a dizer que se pode “sempre cooperar materialmente quando se trata de fazer evitar um mal mais grave” (id. ibid). A esta luz é legítimo — já vi o exemplo algures — procurar persuadir alguém, que esteja disposto a matar um seu rival, a feri-lo “apenas”. Como o pecado é cometido por outrem e como a intervenção fê-lo, na prática, deixar de cometer um pecado mais grave, ela respeita o mandamento da caridade — que obriga a procurar o bem dos outros e se esmerar por atingi-lo. Não só é legítima como, talvez, possa ser moralmente exigida.

Diante destes pressupostos coloca-se a pergunta incómoda: é lícito, portanto, oferecer um contraceptivo a alguém que vai cometer uma relação sexual cujo eventual fruto está disposto a abortar? Em outras palavras: se se sabe que fulano constrangeria a sua namorada a cometer um aborto caso ela engravidasse, será porventura lícito, na eventualidade de não ser possível dissuadir-lhes da fornicação em si, oferecer o preservativo a ele, ou a pílula a ela, a fim de evitar que eles cometam o mal (muito maior) do aborto? O paralelo é notável: a acção é meramente cooperativa e não comissiva, e evitar a morte de um ser humano inocente parece um “motivo proporcionado” a ser levado em consideração.

Não sei se os teólogos morais já se debruçaram sobre o tema, mas penso que há certas particularidades que devem ser levadas em consideração antes de uma resposta ligeira e irrefletida.

Primeiro, a fornicação — ao contrário dos outros exemplos mais fáceis de embriagar ou bater em alguém — é pecado mortal ex toto genere suo (cf. op. cit., n. 82), i.e., não admite parvidade de matéria (não pode nunca constituir pecado venial, ao menos não pelo seu objecto); e embora o que se diga a respeito da cooperação com o mal não faça menção à gravidade do pecado com o qual se coopera, é no mínimo temerário aderir laconicamente à tese de que ela é indiferente. Ou pode-se licitamente tentar convencer a matar um inocente só quem está já disposto a matar dois?

Segundo, e talvez mais importante, porque, in casu, o pecado que se instiga e aquele que se pretende evitar não estão no mesmo plano. O primeiro existe, formalmente, na medida em que o sujeito está decidido a fornicar; já o segundo não, porque a concepção de um filho não lhe é directamente visada, e nem muito menos o eventual aborto com o qual ele teria — presumivelmente — a pretensão de se descartar da sua responsabilidade parental. É muito diferente do caso de convencer fulano a ferir o sujeito que ele pretende matar: aqui já existe o pecado do homicídio, presente no intelecto do agente, em vias de execução quase, e persuadi-lo a “apenas” dar uma surra no seu rival faz, assim, sem dúvidas, e propriamente, o papel de evitar um assassinato concreto.

Não é absolutamente o mesmo o caso do aborto, tanto por ele não passar de uma probabilidade cuja existência não depende do contraceptivo para ser afastada (afinal, a menina pode simplesmente não engravidar e, portanto, a questão do aborto pode não se colocar jamais) quanto porque ele não era, no momento do pecado, objecto do querer do agente (cuja vontade pecaminosa era simplesmente a de fornicar, e não de abortar — e, portanto, diferente do que ocorre no caso do homicida, aqui o pecado efectivamente cometido é exactamente aquele inicialmente desejado, sem diminuição alguma).

Mas há ainda um terceiro ponto que se deve ter em conta, e ele considera os efeitos sociais da atitude de cooperação para o mal. Porque se imagina, no caso do sujeito disposto a matar o seu rival, que convencê-lo a feri-lo não passa de uma solução de emergência, de um caso fortuito, raro e eventual: não passa pela cabeça do moralista, suponho, a possibilidade de que o espancamento público de rivais viesse a generalizar-se — e socialmente aceite — de cercear os instintos assassinos do ser humano. Não se concebe que, de pecado, ferir o seu inimigo passe a ser visto como uma coisa banal e indiferente, ou mesmo positiva até, a ser incentivada e vista com naturalidade.

Ora, no caso dos contraceptivos é exatamente isso o que acontece. Não se vê a pílula como um mal menor a ser eventualmente utilizado em situações excepcionais cuja premência impede uma solução mais adequada: apresenta-se-lhe, ao contrário, como a solução ordinária e definitiva em matéria sexual que, se evita maiores males (como o aborto), fá-lo às custas da naturalização generalizada do pecado — já grave — da fornicação. 

Se é possível contrapesar pecados tratando-se de escolhas individuais, não parece contudo ser lícito institucionalizar alguns pecados nem mesmo para mitigar outros mais graves. A lógica da cooperação com o mal só faz sentido dentro dos estreitos limites em que o pecado é tratado como pecado; é uma lógica de contenção perplexa e não de excepção moral. Se se perde isso de vista e se o mal passa a ser visto com naturalidade, então talvez não se esteja mais a evitar um “mal mais grave” — e, sem isso, cooperar com o pecado alheio deixa de ser lícito.

Jorge Ferraz in Deus lo vult

domingo, 25 de setembro de 2016

A beleza é importante? Roger Scruton diz que sim

A beleza é importante? Roger Scruton diz que sim from Senza Pagare on Vimeo.

Cardeal Burke: Forma extraordinária, um tesouro para a Igreja

Entrevista realizada pelo Padre Claude Barthe, capelão da peregrinação a Roma do povo Summorum Pontificum, ao Cardeal Raymond Leo Burke, cardeal patrono da Ordem de Malta.


Padre Claude Barthe: Eminência, o dia 7 de Julho assinala o aniversário do Motu Proprio Summorum Pontificum. Será exagero dizer que este texto é particularmente representativo do pontificado de Bento XVI?



Cardeal Raymond Leo Burke: Eu diria que em certo sentido, se trata, de facto, da expressão mais elevada do pensamento do Cardeal Ratzinger, que depois veio a ser o Papa Bento XVI. Ele mostra a sua compreensão do Concílio Vaticano II, já que, infelizmente, depois do segundo Concílio Ecuménico Vaticano, mas certamente não por causa dos ensinamentos do Concílio, verificaram-se numerosos abusos, nomeadamente no que diz respeito à celebração da sacra liturgia. Na Carta Apostólica Summorum Pontificum, vê-se como o Papa encontrou uma forma jurídica que estabelece um elo orgânico entre o novo e o antigo, entre a forma ordinária e a forma extraordinária.

Padre Barthe: Este texto apareceu após 50 anos de crise litúrgica, a crise a que V. Eminência se referiu na intervenção que fez em Roma, durante o colóquio Summorum Pontificum, a 13 de Junho deste ano (“Um tesouro para a Igreja”), ao dizer que, desde 1970, “o cavalo desenfreou”. Não veio o Motu Próprio abrir um caminho para a resolução desta crise?

Cardeal Burke: Sem dúvida. Bento XVI viveu com grande dor toda a crise litúrgica, tal como o contou na sua autobiografia (“A Minha Vida”). Na Carta dirigida aos bispos que acompanhava o Motu Proprio, ele dá conta desta que foi precisamente a sua experiência: “em muitos lugares – dizia o Papa Bento XVI – se celebrava não se atendo de maneira fiel às prescrições do novo Missal, antes consideravam-se como que autorizados ou até obrigados à criatividade, o que levou frequentemente a deformações da Liturgia no limite do suportável. 

Falo por experiência, porque também eu vivi aquele período com todas as suas expectativas e confusões.” E penso que, ao permitir redescobrir a forma da santa liturgia que tinha existido na Igreja romana ao longo de mil e quinhentos anos, o Papa Bento XVI veio dar a possibilidade para que os abusos sejam corrigidos, e deu também um ponto de referência para que se chegue a um necessário enriquecimento da forma ordinária.

Padre Barthe: Em jeito de pistas para este enriquecimento, o Cardeal Cañizares, prefeito da Congregação para o Culto Divino, havia apresentado ao Papa Bento XVI algumas propostas para o uso “ad libitum” na forma ordinária das antigas orações do ofertório e para um enquadramento das concelebrações: qual a opinião de V. Eminência a este propósito?

Cardeal Burke: Não tenho conhecimento sobre se o Cardeal Cañizares fez essas propostas, mas estou plenamente de acordo com a ideia de recuperar certas orações como as que se conservaram no ofertório da forma extraordinária, pois são muito expressivas do grande mistério sacrificial que se celebra. Tudo na Missa deve chamar a nossa atenção para a acção divina que se cumpre sobre o altar, e estas orações fazem-no de um modo particular. Num importante artigo concedido pelo Cardeal Sarah, prefeito do Culto Divino, ao “Osservatore Romano” de 12 de Junho passado, ele escrevia que seria desejável inserir o rito penitencial (com isso, quer-se referir às “orações aos pés do altar”) e o ofertório do “usus antiquior” como um anexo a uma futura edição do missal. Ainda acerca das orações aos pés do altar, o salmo que aí se utiliza, o salmo 42 da Vulgata (“E entrarei/irei até ao Altar de Deus; até ao Deus que alegra a minha mocidade”), era o mesmo que cantavam os sacerdotes antes de entrar no Templo de Jerusalém, voltados para o altar: é por isso uma belo modo de mostrar a unidade do culto “em espírito e verdade” (Jo 4, 23) d a Nova Aliança e do culto da Antiga Aliança, o novo culto que completa e aperfeiçoa o antigo.

Padre Barthe: Ao dar o seu lugar à missa no seu estado tradicional – o estado em que é apresentada no missal de 1962 de João XXIII – o Papa Bento XVI quis então pôr à disposição de toda a Igreja um ponto de referência.

Cardeal Burke: Assim é, devemos ver a forma extraordinária como um tesouro conservado pela Igreja romana ao longo dos séculos. Trata-se de um rito que, na sua substância, é idêntico ao de Gregório Magno.


Padre Barthe: V. Eminência insiste frequentemente na aplicação do adágio “lex orandi, lex credendi” à nova evangelização, ou reevangelização.


Cardeal Burke: A “lex orandi” está sempre ligada à “lex credendi”. Dependendo do modo em que os homens rezem, bem ou mal, assim também acreditarão, bem ou mal, e se comportarão, bem ou mal. A santa liturgia é, em absoluto, o primeiro acto da nova evangelização. Se não adorarmos a Deus em espírito e verdade, se não celebrarmos a liturgia com a maior fé possível, especialmente nessa acção divina que se desenrola ao longo da missa, então não poderemos ter a inspiração e a graça necessárias para participar na evangelização. Em suma, na santa liturgia está contida a forma da evangelização, na medida em que aquela é um encontro directo com o mistério da fé que nos cabe levar às almas que Deus traz ao nosso encontro.



Ela consegue, por ela mesma, conduzir ao conhecimento dos mistérios da fé. Se a santa liturgia for celebrada de uma maneira antropocêntrica, se ela mais não for do que uma simples actividade social, não terá qualquer impacto duradouro na vida espiritual. Uma das maneiras de conduzir os homens na direcção da fé consiste em restaurar a dignidade da liturgia. Celebrar uma missa com veneração é algo que sempre atraiu os homens para o mistério da redenção. 

É por isso que me parece que a celebração da missa na forma extraordinária pode ter um papel muito importante no âmbito da nova evangelização, porque ela acentua a transcendência da santa liturgia. Ela sublinha a realidade da união entre o Céu e a terra que a santa liturgia quer exprimir. A acção de Cristo por meio dos sinais do sacramento, por meio dos sacerdotes, instrumentos do próprio Cristo, torna-se muito evidente na forma extraordinária. Além do mais, ela ajuda‑nos a sermos mais respeitadores no modo de celebrar a forma ordinária.

Todos vemos a necessidade dessa evangelização no mundo de hoje, que vive como se Deus não existisse. É importante que se ligue esta nova evangelização à celebração o mais cuidada possível da liturgia. Em muitas pessoas ateias ou não cristãs com quem me encontrei, pude ver que, ao travarem conhecimento com a missa na forma extraordinária, tinham a experiência de estarem realmente na presença da acção de Deus. E em seguida, esta mesma experiência veio a permitir-lhes acolherem os ensinamentos da religião. Os homens devem conseguir compreender que o sacerdote age na pessoa de Cristo. Devem poder compreender que é o próprio Cristo que desce sobre o altar para renovar o sacrifício da Cruz. Devem poder compreender que têm de unir os seus corações àquele Seu Coração que foi trespassado para os purificar do pecado, e para fazer crescer neles o amor de Deus e o amor pelo próximo. Devemos pois catequizar os homens com as realidades profundas da missa, em particular por meio da forma extraordinária do rito romano.

Padre Barthe: A propósito da relação entre doutrina e liturgia, nota-se com frequência que os seminaristas que são atraídos pela forma extraordinária, têm também o desejo de receber uma formação teológica verdadeiramente estruturada. Cumpre, aliás, dizer que, em França, a forma tradicional atrai muitos seminaristas. 

Cardeal Burke: Mas, na Alemanha, também, e nos Estados Unidos, e em Itália. Havia a ideia de que os italianos não eram atraídos pela liturgia tradicional; é absolutamente falso.

Quanto aos seminaristas, quando era arcebispo de Saint Louis, assim que Bento XVI promulgou o Summorum Pontificum, pedi imediatamente que, no seminário, todos os seminaristas fossem instruídos sobre a forma extraordinária, sobre o seu rito, a sua espiritualidade, e que fosse celebrada no seminário uma vez por semana. Pedi também que os seminaristas que tivessem capacidade para aprender latim fossem formados para celebrar a forma extraordinária. Toda esta regulamentação foi muito bem recebida e, segundo penso, produziu bons frutos na arquidiocese.

Padre Barthe: Porque esta Missa agrada aos jovens.

Cardeal Burke: Assim é. O Papa Bento XVI dizia aos bispos que se poderia ter pensado que a procura da missa antiga tinha a ver com a geração mais velha, mas que se tinha tornado evidente que havia jovens a descobrirem esta forma litúrgica e que se sentiam atraídos por ela, vendo nela um modo de encontro com o mistério da Eucaristia que condizia particularmente com eles. Eu mesmo, quando celebro a missa tradicional, posso observar que a ela vêm assistir numerosas belíssimas famílias jovens e com muitos filhos. Não quero dizer que estas famílias não possam ter problemas, mas uma coisa é clara, que elas se sentem assim mais fortes para os enfrentar. 

Sempre me impressionou o número de jovens que eram atraídos pela forma extraordinária da missa. São atraídos por ela porque ela é ricamente articulada e cativa a atenção em relação ao que está a acontecer e a ser feito no altar. 

in Paix Liturgique

sábado, 24 de setembro de 2016

No amor não há segredos?

A letra deste fado tem graça porque é verdade, muitas relações passam por isto:

Se te vejo pensativo
Quero saber o motivo
Dizes sempre não é nada
Mas eu sinto meu amor
Que escondes seja o que for
E fico preocupada

Se dos teu silêncio sais
Dizes-me coisas banais
Julgas iludir-me assim
Se depois no caso penso
Cada vez mais me convenço
Que não confias em mim

Recalco mais um queixume
Fico presa de ciúme
Em tudo só vejo enredos
Se nada te sei esconder
Deves o mesmo fazer
No amor não há segredos

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A tentação que Padre Pio sofreu para não ser franciscano

Quando eu ainda era um protestante, alguém me deu uma pagela do Padre Pio. Nessa altura, o Padre Pio ainda era um "Beato", pois ainda não tinha sido canonizado. O meu amigo explicou-me que o sacerdote de barba representado na pagela tinha tido os estigmas. Eu ainda tenho a pagela por aí algures.

Lembro-me de me ter impressionado com duas coisas. Primeiro, que alguém pudesse mesmo receber os estigmas. Segundo, que pessoas modernas acreditavam que este tipo de coisas podiam ainda acontecer nesta "era iluminada". Desde então, cresci em amor ao Santo Pio cada vez mais. Talvez ele tenha estado a rezar pela minha entrada na Igreja Católica.

Recentemente li uma coisa sobre o Padro Pio que me impressionou. Era uma citação do Padre Pio sobre a sua angústia sobre se se devia tornar um frade franciscano quando tinha cerca de quinze anos:

Lembrava o Padre Pio:
“Senti duas forças a chocar dentro de mim, a romper o meu coração: o mundo queria-me para si e Deus chamava-me para uma nova vida. Seria impossível descrever este martírio. A simples memória da batalha que aconteceu dentro de mim congela o sangue nas minhas veias.
Surpreendentemente, o jovem Francesco (o nome de baptismo do Padre Pio) entrou no noviciado dos Franciscanos Capuchinhos aos 16 anos de idade! Conhecem muitos rapazes de dezasseis anos a esforçar-se ao máximo para entrar em ordens religiosas?
A vida do Padre Pio mostra que não devemos assumir que Deus nos revela tudo quando Ele quer começar uma grande transformação sobrenatural nas nossas almas. Vejam Noé, Abraão, Moisés, David, Elias, Ester, João Baptista, a Santíssima Virgem Maria e os Apóstolos. Podiam eles imaginar onde as suas vidas os iam levar? Deus esconde-nos o futuro por boas razões.
O Padre Pio é uma lembrança do século XX de que Deus ainda trabalha desta forma. Se estão a lutar com a vontade de Deus para a vossa vida, então é um bom sinal. Se se estão a contorcer, bem-vindos ao clube. Têm o Padre Pio como companhia... e todos os santos.

Na minha vida eu olho para trás, para esses momentos de "vale" e posso dizer honestamente que Deus fez sempre uma coisa impressionante em cada ocasião. Quando estava a deixar o presbiterado episcopaliano eu não fazia ideia do que ia fazer a seguir. Como é que ia ganhar a vida? Onde iria morar? Era um mistério total. No entanto, se eu tivesse esperado que Deus me mostrasse todos os detalhes, ainda seria um padre episcopaliano...

Se eu senti as "duas forças a lutar dentro de mim", como o Santo Pio descreveu? Podem crer que sim! Mas algures ao longo do caminho, a suave voz do Espírito Santo guia-vos na direcção certa. Ainda nos contorcemos, mas não ficamos orfãos.

Taylor Marshall

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A morte de um exorcista: Pe. Gabriele Amorth

O recente falecimento do Pe. Gabriele Amorth apanhou-me de surpresa. Sim, o velho exorcista já contava com 91 anos e, nesta idade, a morte não é propriamente um acontecimento inesperado; a manchete, no entanto, mostrou-me o quão pouco eu acompanhava as notícias a respeito dele. Não sabia que estava doente, aliás nem me lembrava ao certo da idade dele. Na Sexta-Feira passada, no entanto, ele deixou o campo de batalha terreno para nos ajudar lá do Alto, onde agora pode mais junto a Deus.


Há o mau hábito no Catolicismo contemporâneo de ser muito condescendente para com as imperfeições alheias, principalmente no que diz respeito à tendência de conceder uma imediata ascensão aos Céus às almas daqueles que minimamente admiramos. Toda gente é santo súbito, toda a morte é entrada gloriosa no Paraíso. Esquecemo-nos do Purgatório — e isso pode até ser falta de caridade de nossa parte, na medida em que não nos sentimos obrigados de rezar pelas almas daqueles que já consideramos salvos. Esquecemos do Purgatório e queremos que todos os nossos mortos estejam, desde já, desde o instante seguinte à morte, no gozo da Bem-Aventurança dos eleitos de Deus.

Ainda assim, eu disse acima que o Pe. Amorth já agora nos ajuda de junto de Deus. Justifico. Em primeiro lugar, o venerável sacerdote chegou a uma avançada idade, e isso significa duas coisas. Primeiro que não foi apanhado de surpresa pela Morte; segundo, que pôde padecer os sofrimentos próprios da velhice em expiação pelas próprias faltas e em preparação para o Dia sem ocaso. Muitas pessoas acham que a melhor morte é aquela que nos chega sem que percebamos; o famoso “ir dormir e acordar morto”. Não vou dizer que este seja uma má morte (até porque a morte ser boa ou má depende essencialmente das disposições interiores em que nos encontramos no instante derradeiro, e não de ela ser mais demorada ou mais lenta, mais consciente ou mais súbita); mas trata-se, parece-me, pelo menos de uma morte arriscada. As pessoas perderam o hábito de pensar na morte e, com isso, a morte repentina, de um mal súbito, ou a morte em um acidente, podem chegar sem que a casa esteja devidamente preparada, sem que as disposições interiores estejam suficientemente lapidadas, sem que a alma esteja pronta, em suma, para se encontrar com Deus e com os pecados de toda uma vida.

A morte na velhice, após uma doença mais ou menos longa, é o contrário. A Inimiga das Gentes vem devagar, vem anunciando a própria presença, vem a passos lentos — e, com isso, dá mais tempo para que nos preparemos. Podemos fazer um demorado exame de consciência; podemos suplicar mais demoradamente o perdão e a misericórdia de Deus. Podemos confessar-nos, receber a Extrema Unção e o Viático; podemos até mesmo oferecer os inconvenientes da doença, os achaques, o medo, as dores — os sofrimentos todos — em expiação pelas nossas faltas. Li que o Pe. Amorth expirou após algumas semanas internado num hospital; quero crer, portanto, que ele tenha sabido aproveitar todas essas oportunidades de apressar a própria entrada no Céu.

Uma segunda razão pela qual imagino que o Pe. Amorth esteja junto de Deus é o ofício ao qual ele dedicou a própria vida. Não foi apenas sacerdote (como se isso fosse pouco), mas sim sacerdote e exorcista. Foi nesta terra inimigo ferrenho de Satanás, lutando corajosamente contra ele exactamente naqueles aspectos em que a presença demoníaca no mundo é mais forte e mais perturbadora: a obsessão, a infestação, a possessão. O mundo moderno vive uma crise de Fé que, se muito esquece de Deus, muito mais esquece do Diabo; esta figura é muitas vezes relegada à superstição medieval, à ignorância de um passado obscuro, a concepções maniqueístas primitivas que não encontram mais lugar em um mundo onde Deus é Amor.

Ora, mas Deus sempre foi Amor; Deus é Amor desde a criação dos Anjos e a Queda de Lúcifer, e uma coisa não tem nada a ver com a outra. Satanás não é um “deus do mal”, mas isso não significa que não seja uma criatura capaz de fazer muito mal. Há entre os homens ladrões e assassinos, sádicos e estupradores, salteadores e bandidos de todos os naipes; a quantidade de mal que o homem tem provocado ao próprio homem é enorme e capaz de assombrar por toda uma vida aqueles que dela tenham ainda que um pálido vislumbre. 

Senão vejamos: se os homens podem causar mal uns aos outros sem que isso seja um óbice à existência de um Deus que é Pai Amoroso, por que um anjo não poderia também provocar o mal aos filhos de Deus sem que isso minimamente maculasse a omnibenevolência do Altíssimo? Não há maniqueísmos dentro da Doutrina Cristã e nunca os houve; não há um deus mau ao lado do Deus que é Bom. No entanto, o mistério da liberdade que permite a existência do mal moral dentro do mundo criado não se restringe apenas aos seres humanos. Também os anjos têm inteligência e vontade, também eles são seres livres, também podem fazer o mal. Satanás não é uma hipótese ingénua e contraditória com a noção de um Deus sumamente bom, pelo menos não mais do que um estuprador ou um serial killer. Na verdade é o contrário: ingenuidade é imaginar que, havendo ladrões e assassinos no mundo, não pudessem existir também seres angélicos voltados à prática do mal.

O Pe. Amorth foi inimigo ferrenho de Satanás nesta terra, e venceu-o por incontáveis vezes, e por isso eu também quero acreditar que Deus o tenha levado depressa para os Céus; pode ser sentimentalismo, mas acho que não convém que aquele que foi inimigo aberto do Demónio no mundo tenha a sua entrada no Céu postergada por causa de algum apego da sua alma aos pecados que nada mais são do que as obras do mesmo Satanás que ele dedicou a vida a combater. 

Mas há ainda uma terceira razão. É que o tempo e a Eternidade relacionam-se de maneira, digamos, curiosa: aqui a História desenrola-se de maneira sequencial mas, lá, é tudo já e(vi)terno.

O Padre Pio certo dia rezava pelo seu avô. “Mas Padre, não disse que ele já estava no Céu?”, um amigo perguntou; “sim, está, mas as orações que eu fiz por ele até hoje e as que eu ainda farei até o fim da minha vida ajudaram-no a chegar lá”. O John McCaffery registrou a história no seu livro de memórias, e compreendê-la ajuda a contemplar melhor o mistério da Comunhão dos Santos. O Céu já está completo enquanto a História se desenrola; e por mais tempo que uma alma justa tenha passado no Purgatório, já agora ela está no Céu, já agora ela pode interceder por nós.

É com este ânimo que olho para o Pe. Amorth e quero já vê-lo em esplendor — o velho guerreiro revestido das suas armas gloriosas, impingindo já a Satanás maiores tormentos do que nos mais formidáveis exorcismos que ele exerceu durante a sua vida…! Que assim seja. Que o bom Deus olhe com misericórdia para o seu pobre servo e lhe dê o descanso eterno, a luz e a paz. E que, do alto dos Céus, o Pe. Gabriele Amorth continue a fazer guerra terrível contra todos os espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas.

Jorge Ferraz in Deus lo vult

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Os 108 mártires da Segunda Guerra Mundial

Os 108 mártires polacos: 3 bispos, 52 padres, 26 religiosos, 3 seminaristas, 8 religiosas e 9 leigos.

Aqui se vê a sua execução pública, em Setembro de 1939.

Serenidade. Por que te zangas?

Serenidade. – Por que te zangas, se zangando-te ofendes a Deus, incomodas os outros, passas tu mesmo um mau bocado... e por fim tens de te acalmar? 

Isso mesmo que disseste, di-lo noutro tom, sem ira, e ganhará força o teu raciocínio e, sobretudo não ofenderás a Deus. 

Não repreendas quando sentes a indignação pela falta cometida. – Espera pelo dia seguinte, ou mais tempo ainda. – E depois, tranquilo e com a intenção purificada, não deixes de repreender. – Conseguirás mais com uma palavra afectuosa, do que ralhando três horas. – Modera o teu génio.

S. Josemaria Escrivá in 'Caminho' (pontos: 8, 9, 10)

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Morreu hoje o Pe. Gabriele Amorth

Morreu hoje o Pe. Gabriele Amorth, exorcista de Roma.
Requiem aeternam dona ei, Domine, et lux perpetua luceat ei. 
Requiescat in pace.
Amen

Cardeal Van Thuan conta a importância da Missa na prisão

O futuro cardeal François-Xavier Van Thuan com a sua irmã mais nova
A celebração faz do sacerdote um santo. É por causa disto que eu quero compartilhar com vocês a minha experiência eucarística, assim como a experiência de outras pessoas íntimas que me marcaram com a sua fé, com a sua devoção à Eucaristia.

No seminário, a minha formação inspirou-se na vida do Cura d'Ars, São João Maria Vianney, e do Padre Pio. Eles acompanharam-me durante toda a vida sacerdotal. Quando eu celebrava sozinho na prisão, João e Pio estavam sempre diante de mim e celebravam comigo. Foi graças ao seu sacrifício e ao seu amor pela Eucaristia que eu pude sobreviver na prisão. Lembro-me de que o Padre Pio celebrava a missa não em vinte ou trinta minutos, mas em uma hora, uma hora e meia. Ninguém reclamava da duração da missa, porque todos estavam fascinados pela sua maneira de celebrar, inclusive os bispos que assistiam. Entretanto, algumas pessoas mal-intencionadas pediram ao Santo Ofício que o proibisse de celebrar a Eucaristia desta forma, e então o Padre Pio foi obrigado a celebrar a missa no máximo em 45 minutos. O Padre Pio obedeceu à ordem, mas os fiéis pediram à Santa Sé a permissão para o frade celebrar a missa como antes, e Pio XII deu a autorização.

Alguém perguntou a São João Maria Vianney porque é que às vezes ele chorava e outras vezes sorria quando celebrava a missa. Ele respondeu que sorria quando pensava no dom da presença de Jesus na Eucaristia e chorava quando pensava nos pecadores que não podem receber tal dom. Quando fui preso, retiraram todos os meus pertences, mas permitiram-me escrever para casa e pedir roupa e remédios. Eu pedi que me enviassem vinho em frascos de remédio para o estômago. No dia seguinte, o director da prisão chamou-me para perguntar se eu estava mal do estômago, e se tinha algum remédio. Depois de escutar as minhas respostas afirmativas, entregou-me um pequeno frasco de vinho com uma etiqueta que dizia “remédio para a dor de estômago”. Este foi um dos dias mais felizes da minha vida! Desta forma eu pude celebrar a Missa dia após dia, com três gotas de vinho e uma gota d'água na palma da mão e com um pouco de hóstia que me davam para a celebração, e que eu guardava com muito cuidado contra a humidade.

Depois, quando estava com outras pessoas de fé católica, era abastecido de vinho e de hóstias, que os seus familiares levavam quando iam visitá-los. De um modo ou de outro, eu quase sempre pude celebrar a Missa, sozinho ou acompanhado. Celebrava depois das nove e meia da noite, porque a essa hora não havia luz e conseguíamos juntar umas seis pessoas. Todos dormiam numa cama comum, 25 em cada parte. Cada um dispunha de 50 centímetros: estávamos como sardinhas.

Quando celebrava e dava a comunhão, secávamos o papel dos maços de cigarro dos prisioneiros e, com arroz, os pregávamos para fazer uma pequena bolsa na qual colocávamos o Santíssimo. Todas as sextas-feiras tínhamos uma aula de marxismo, e todos eram obrigados a participar. Depois havia um pequeno intervalo, e era quando os cinco católicos levavam o Santíssimo a outros grupos. Eu também o levava num pequeno pacote que colocava na minha bolsa, e assim a presença de Jesus ajudava-me a ser corajoso, generoso, amável, e a dar testemunho de fé e de amor aos outros. 

A presença de Jesus fazia maravilhas, porque entre os católicos também havia alguns que eram pouco fervorosos, menos praticantes... Havia ministros, coronéis, generais e, na prisão, cada um em particular fazia uma Hora Santa todas as tardes, uma hora de adoração e de oração diante de Jesus eucarístico. Assim, na solidão, na fome... uma fome terrível, foi possível sobreviver. Desta maneira dávamos testemunho na prisão. 

A semente tinha sido semeada. Ainda não sabíamos como ia germinar, mas pouco a pouco, um a um, budistas, membros de diversas religiões, inclusive fundamentalistas hostis ao catolicismo manifestavam o desejo de ser católicos. Nos tempos livres eu ensinava catecismo a todos juntos. Baptizava às escondidas e... era até padrinho. A presença da Eucaristia mudou a prisão, que era lugar de vergonha, de tristeza, de ódio e que tinha se transformado em lugar de amizade, de reconciliação e em escola de catecismo. Sem saber, o governo tinha feito uma escola de catecismo! 

A presença da Eucaristia é muito forte, a presença de Jesus é irresistível. Eu e todos os meus companheiros de prisão somos testemunhas disto.

in 'O Dom da Eucaristia' (meditação pregada em 2002)

Novas revelações no “cárcere de São Pedro”

Restauração arqueológica do “Cárcere de São Pedro” em Roma trouxe revelações além de toda expectativa sobre São Pedro e a antiguidade pagã

O “Carcere Mamertino”, ou “cárcere de São Pedro”, foi a “prisão de Estado” do antigo Império Romano. Lá ficaram presos, antes de morrer, reis e grandes governantes derrotados pelas legiões romanas, como Vercingetorix, chefe bárbaro da Gália (França); Jugurta, rei da Numídia; Pôncio rei dos Sannitas e muitos outros.

Porém, esse cárcere ficou mais famoso por ter aprisionado os Apóstolos São Pedro e São Paulo, nos tempos de Nero. São Pedro operou ali milagres históricos.

Local onde ficou impresso o rosto de São Pedro
Entre esses está a impressão miraculosa da testa do Vigário de Cristo numa parede. O cárcere foi cavado numa camada de pedra vulcânica conhecida como ‘tufo’.

Quando São Pedro descia pela estreita escada, que ainda hoje existe, foi brutalmente empurrado pelos algozes e bateu no muro. A pedra amoleceu e parte do seu rosto ficou impresso, e ali pode ser visto e venerado.

Aquela escada era uma autêntica “descida aos infernos” pois do andar inferior habitualmente nunca mais se saía. Os prisioneiros morriam de frio, fome e doença, ou eram lançados num fosso onde morriam destroçados. Naquele antro escuro desapareciam, após serem exibidos como troféus, reis e chefes de Estado inimigos de Roma.

“Dessa maneira, eram abandonados às potências dos infernos, tragados pela terra e cancelados da existência. Não existem outros exemplos comparáveis”, observa a Dra. Patrizia Fortini, arqueóloga da Superintendência para os bens arqueológicos de Roma, que dirige os trabalhos de restauração empreendidos a partir de 1985, segundo noticiou o jornal italiano La Repubblica.

O ambiente é abafado. O tecto bastante baixo comunica uma sensação apavorante reforçada pelas grades de ferro negro que ainda perduram. Nesse porão sem janelas, húmido e fétido, São Pedro converteu os carcereiros Processo e Martiniano, posteriormente mártires, e 47 prisioneiros.

Prisão de São Pedro, à esquerda a fonte milagrosa 
Não tendo água para baptizá-los fez brotar uma fonte do chão. Depois disso, São Pedro foi libertado da prisão por um anjo.

As correntes que o prendiam são hoje veneradas como relíquias numa igreja próxima do local, chamada San Pietro in Vincoli.

Os arqueólogos retiraram diversos pisos modernos e renascentistas e deixaram aparente o chão do tempo que São Pedro pisou na prisão.

Os trabalhos revelaram frescos dos séculos XII e XIV inteiramente desconhecidos. Também foi possível localizar a comunicação que unia a prisão ao prédio do Senado, que se encontrava em frente ao “cárcere de São Pedro”.

in Aleteia

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Maria assiste à morte de Jesus na Cruz

1. “Estava, porém, junto à cruz de Jesus sua Mãe” (Jo 19,25). Consideremos nesta rainha dos mártires uma espécie de martírio mais cruel que todo outro martírio, uma mãe vendo morrer um filho inocente, justiçado num patíbulo infame: “Estava em pé”. Desde a hora em que Jesus foi preso no horto, os discípulos o abandonaram; não, porém, sua Mãe: ela o assiste até vê-lo expirar diante de seus olhos. “Estava junto dele”. As mães fogem quando vêem seus filhos padecendo e não os podem socorrer: estariam prontas a sofrer as dores em lugar dos filhos, mas quando os vêem padecer sem poder auxiliá-los, não suportam tal pena e por isso fogem e vão para longe. Maria, não; ela vê o Filho no meio dos tormentos, vê que as dores lhe roubam a vida, mas não foge, nem se afasta, antes se encosta à cruz na qual o Filho está morrendo. Ó Mãe das dores, não me desdenheis e permiti que vos faça companhia na morte do vosso e do meu Jesus.

2. “Estava junto à cruz”. A cruz é, pois, o leito em que Jesus deixa de viver: leito de dores, em que a aflita Mãe, vê Jesus todo ferido pelos açoites e pelos espinhos. Maria observa que seu pobre Filho, pendente daqueles três cravos de ferro, não encontra repouso nem alívio: desejaria procurar-lhe algum alívio; desejaria, já que ele tem de morrer, que ao menos expirasse em seus braços; nada disso, porém, lhe é permitido. Ah, cruz, diz, restitui-me o meu Filho: és o patíbulo dos malfeitores; meu Filho, porém, é inocente. Não vos aflijais, ó Mãe: é vontade do eterno Pai que a cruz não vos restitua Jesus senão depois de morto. Ó rainha das dores, alcançai-me a dor de meus pecados.

3. “Estava junto da cruz sua Mãe”. Considera, minha alma, como ao pé da cruz Maria está olhando para o Filho! E que Filho, meu Deus! Filho que era ao mesmo tempo seu Filho e seu Deus; Filho que desde a eternidade tinha escolhido para sua Mãe, e a havia preferido no seu amor a todos os homens e a todos os anjos; Filho tão belo, tão santo, tão amável como nenhum outro; Filho, que lhe fora sempre obediente; Filho, que era seu único amor, pois que era Filho de Deus. E esta Mãe teve de ver morrer de dores, diante de seus olhos, um tal
Filho! Ó Maria, ó Mãe, a mais aflita entre todas as mães, compadeço-me de vosso coração, especialmente quando vistes vosso Jesus inclinar a cabeça, abrir a boca e expirar. Por amor deste vosso Filho, morto por minha salvação, recomendai-lhe a minha alma. E vós, meu Jesus, pelos merecimentos das dores de Maria, tende piedade de mim e concedei-me a graça de morrer por vós, como morrestes por mim. Com S. Francisco de Assis vos direi: Morra eu, Senhor, por amor de vós, que por amor de meu amor vos dignastes morrer. 

S. Afonso Maria de Ligório

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

A guerra das escolas em África

Como as antigas colónias inglesas de África não seguem o calendário escolar da Europa, pude aproveitar o mês de Agosto para visitar várias escolas em funcionamento. Ao entrar numa escola do Uganda, a primeira impressão é ter chegado ao império britânico. Cada estabelecimento de ensino tem uma farda própria, que geralmente inclui saia para as raparigas e gravata para os rapazes. Crianças ou «teenagers», ninguém escapa. O espaço abunda e, no Uganda, a mais de mil metros de altura, os relvados são verdejantes: de repente, a pessoa imagina-se em Inglaterra. Em contraste, os edifícios são muitas vezes rudimentares, as paredes têm um acabamento mínimo, o chão é térreo ou com uma camada singela de cimento.

Melhor que visitar escolas, foi falar com o Prof. Charles Sotz. Tive a sorte de o apanhar de férias no Uganda e aproveitei a oportunidade para me informar sobre o sistema educativo das antigas colónias inglesas de África. Sotz é um queniano com raízes argentinas e checas, apaixonado pelo ensino e pelo desenvolvimento social, é dos que mais sabe de educação nestes países. Foi ele quem me apresentou as escolas privadas para pobres, sobretudo no ensino básico.

O fenómeno tem raízes antigas, mas acelerou na última década. Por exemplo, em 2005, havia quase uma centena de escolas estatais na província de Mombasa e um número equivalente de escolas não estatais. Em 10 anos, a procura das escolas estatais manteve-se e a das outras escolas triplicou. Na província de Nairobi, a proporção actual já é de 4 escolas privadas por cada escola estatal. No «ranking» dos exames nacionais de 2005, a melhor escola estatal da província de Mombasa estava em 23º lugar, actualmente, a melhor escola estatal está em 94º lugar.

As comparações económicas são difíceis de estabelecer, porque o custo de vida é muito diferente do da Europa, mas podemos confrontar as escolas entre si. As propinas de algumas escolas privadas custam 14 euros por mês, mas na maioria a propina é de 7 euros por mês, durante 10 meses. Ao lado, o Estado gasta mensalmente cerca de 35 euros por aluno nas escolas estatais.

Esta disparidade de custo e sobretudo de eficácia tem muitas explicações. A mais óbvia é que as instalações das escolas não estatais são realmente muito deficientes, os salários são muito inferiores aos dos funcionários públicos e geralmente os professores das escolas não estatais têm piores qualificações formais. Isto explica a diferença entre o que os pais pagam nas escolas privadas e o que o Estado gasta por aluno nas escolas estatais.

A parte interessante, e que mais ocupou as minhas conversas com Sotz, foi a razão de as escolas privadas serem tão assinaladamente melhores.

Em primeiro lugar, Sotz verificou uma diferença abissal entre a motivação dos professores, pais e alunos. No Estado, os pais não conseguem contactar com os professores e os professores não estão dispostos a sacrificar-se pelos alunos. No ensino privado, os alunos são mais responsáveis, trabalham mais e sabem o que estão a fazer na escola.

Outra observação estatística que me deixou a pensar é que não há correlação entre a qualidade dos edifícios e o nível de aprendizagem dos alunos. Se a escola não tem instalações desportivas, os alunos jogam ao ar livre; se as salas são velhas e desconfortáveis, isso não afecta o rendimento escolar. As qualificações formais dos professores também não têm relação estatística com os resultados dos alunos: um professor trabalhador e exigente é muito melhor que um diplomado em pedagogia, com uma atitude pouco generosa.

Os sindicatos dos professores das escolas estatais opõem-se ferozmente à existência de escolas livres e têm forçado o Governo a tomar medidas restritivas, tais como exigir melhores equipamentos e professores mais qualificados. Os pais reagem, porque essas medidas aumentam os custos e, se a propina aumentar acima de 7 euros por mês, as famílias mais pobres têm de colocar os filhos nas escolas do Estado. Criando mais exigências, o Governo já conseguiu fechar várias escolas privadas. (Onde é que eu já vi isto?). O surpreendente, explicou-me Sotz, é que essas escolas continuam a funcionar. Como?!

– Os pais têm lá os filhos durante todo o ano lectivo e, no final, inscrevem-nos numa escola do Estado, para eles fazerem os exames nacionais.

– E as escolas estatais aceitam esses paraquedistas?!…

– Sim, porque esses alunos têm melhor preparação que os das escolas do Estado e fazem-nas subir no «ranking».

O mundo é tão diferente, de país para país! E tão igual, nalgumas coisas! Os sindicatos dos professores de África insistem em que os «rankings» dão cabo da qualidade das escolas.

José Maria André in Verdadeiro Olhar, 9-IX-2016

domingo, 11 de setembro de 2016

Um herói: Padre Mychal Judge, OFM

O capelão dos bombeiros de Nova Iorque, Padre Mychal Judge, que há 15 anos deu a vida enquanto tentava salvar as vítimas do atentado de 11 de Setembro

Cristãos chineses recebem a Bíblia pela primeira vez

A procura pela Sagrada Escritura na China está a superar a oferta. Se é verdade que nas grandes cidades, como Pequim, hoje em dia a Bíblia já pode ser comprada em qualquer livraria, nos meios mais rurais existem muitos cristãos sem acesso à Palavra de Deus escrita. Neste vídeo podemos ver a alegria de cristãos já adultos que recebem uma Bíblia pela primeira vez.

sábado, 10 de setembro de 2016

Quem quer ser perdoado tem que perdoar

«Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos» (Mt 5, 12)

Todo o homem é devedor de Deus e tem o seu irmão como seu devedor. Haverá alguém que não deva nada a Deus, senão Aquele em quem não se pode encontrar pecado? E quem é o homem que não tem um irmão como seu devedor, senão aquele a quem ninguém ofendeu? Parece-te possível que haja um único homem a quem não se possa contabilizar qualquer falta para com um irmão?

Portanto, todo o homem é devedor de alguém e tem os seus devedores. Por isso Deus, que é justo, deu-te uma regra para seguires com o teu devedor, e Ele próprio aplicará esta regra para com o seu. Existem, com efeito, duas obras de misericórdia que nos podem libertar; o próprio Senhor as formulou de uma forma breve no seu Evangelho: «Perdoai e ser-vos-á perdoado», «Dai e dar-se-vos-á» (Lc 6,37ss). A primeira tem a ver com o perdão, a segunda com a caridade.

Tu desejas obter o perdão dos teus pecados e também tens pecados a perdoar a alguém. O mesmo se passa com a caridade: o mendigo pede-te esmola e tu és o mendigo de Deus, porque todos somos, quando pedimos, mendigos de Deus. Todos nos prostramos diante da porta do nosso Pai, da sua enorme riqueza. E suplicamos-lhe gemendo, desejosos de receber dele alguma coisa: ora essa coisa é o próprio Deus. Que te pede o mendigo? Pão. E tu, que pedes a Deus? Nada menos que o próprio Cristo, que disse: «Eu sou o pão vivo que desceu do Céu» (Jo 6,51). Quereis ser perdoados? «Perdoai e sereis perdoados.» Quereis receber? «Dai e dar-se-vos-á.»

Santo Agostinho in 1º sermão

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Demolição de clínica de aborto para construir centro Pró-Vida

Uma clínica de aborto em Toledo, no estado de Ohio (EUA), fez mais de 50 mil abortos desde que abriu as portas, em 1983. Os esforços duma aliança entre várias organizações pró-vida, chamada Hope Park, e uma inspecção das autoridades de saúde do estado de Ohio, que encontrou vários problemas nos equipamentos, fizeram com que a clínica fechasse. 

A Hope Park comprou então o edifício, prometendo que tornaria aquele "um lugar que afirmasse o valor, a dignidade e a beleza de cada vida humana".

Este vídeo mostra os momentos em que a antiga clínica foi demolida. É bom vê-lo para perceber que a nossa luta pelo fim do aborto, além de fazer todo o sentido, é uma luta cheia de esperança que a pouco e pouco a cultura da vida triunfe e deite abaixo a cultura da morte.
adaptado do Life Site News

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A oração que levou à canonização de Madre Teresa

O milagre alcançado por um fiel brasileiro por intercessão de Madre Teresa de Calcutá, aprovado pelo Vaticano para a canonização da Beata, teve início com uma oração e a fé de uma família. O homem tinha múltiplos tumores no cérebro. Os seus familiares tiveram contacto com a Beata Teresa por intermédio de Padre Elmiran Ferreira, que os acompanhou na durante doença, tendo visitado o homem no hospital. 

O sacerdote deu-lhes uma oração a Madre Teresa para que a família rezasse de maneira intensa e assim o fizeram. Segundo ele, "a Madre Teresa tornou-se conforto e alento naquela longa jornada".

A oração que a família do miraculado rezou:

"Beata Teresa de Calcutá, tu permitiste ao sedento amor de Jesus na Cruz tornar-se uma chama viva dentro de ti. Chegaste a ser luz do Seu amor para todos. Obtém do coração de Jesus... (pedido). Ensina-me a deixar Jesus penetrar e possuir todo o meu ser, tão completamente, que a minha vida também possa irradiar a Sua luz e amor para os outros.
Amen."

in ACI Digital

A expulsão dos Jesuítas de Portugal

Neste dia (3 de Setembro de 1759) era ordenada a expulsão da Companhia de Jesus de Portugal e do Império.

Encerrava-se violentamente um ciclo grandioso da Cultura portuguesa e inaugurava-se o atraso que nos iria caracterizar até meados do século XX, agravado com a extinção das Ordens em 1834.

Com os jesuítas desaparecia a segunda universidade portuguesa (a de Évora), uma das mais prestigiadas na Europa do seu tempo a par de Coimbra. Desaparecia também a rede de Colégios que, das primeiras letras aos estudos médios e superiores, constituíram a elite do ensino e da cultura portuguesa durante 200 anos.

Eram mais de 30 colégios (só no Reino) que por alturas do seu encerramento ensinavam cerca de 20 000 alunos (seriam precisos quase 200 anos para voltar a esses níveis), desde os currículos tradicionais às principais inovações científicas da época, muitas delas nascidas das escolas jesuítas.

Entre eles os famosos Colégio das Artes de Coimbra (reputado como o melhor do mundo), o Colégio de Santo Antão o Novo de Lisboa (onde era famosa a Aula da Esfera), o Noviciado da Cotovia de Lisboa (cujo património, biblioteca e instrumentos transitariam para o Colégio dos Nobres), ou o Colégio de São Paulo de Macau (a primeira instituição de cariz universitário do Oriente e grande formador das elites que penetraram nos impérios Chinês e Japonês).

Não esquecendo a rede que do Brasil a Goa foi responsável pela formação dos agentes do Padroado e constituíram a mais densa rede cultural do Império Português.

Os seus contributos para todas as áreas do Saber são inestimáveis e marcaram a História do Ocidente como nenhuma outra Ordem nesse tempo.

O que os substituiu, como se sabe, foi o Nada. O afã pombalino-josefino na extinção da Companhia não só cá, como no mundo, apenas permitiu à Rússia o aproveitamento desse imenso manancial de sábios e cientistas que lá se refugiaram e que contribuíram para o salto russo rumo à afirmação como grande potência. 

Por cá o seu património foi esbulhado entre o Estado e as outras Ordens e seria completamente destruído a partir do saque a que essas Ordens foram sujeitas com o Liberalismo. Sem gente para substituir os jesuítas, Portugal amputou as suas elites e fechou-se à inovação científica e cultural: a tão proclamada "renovação científica" pombalina traduziu-se num gigantesco nada, incapaz de se afirmar e de se enraizar por não haver quem a dirigisse.

Nesta imagem, a fachada da Sé Nova de Coimbra, antiga casa jesuítica, no estilo que seria disseminado por todo o mundo e que faria - também a sua arquitectura - um marco na história da globalização e da portugalidade no mundo.”

Luís Russo Pistola