Neste dia (3 de Setembro de 1759) era ordenada a expulsão da Companhia de Jesus de Portugal e do Império.
Encerrava-se violentamente um ciclo grandioso da Cultura portuguesa e inaugurava-se o atraso que nos iria caracterizar até meados do século XX, agravado com a extinção das Ordens em 1834.
Com os jesuítas desaparecia a segunda universidade portuguesa (a de Évora), uma das mais prestigiadas na Europa do seu tempo a par de Coimbra. Desaparecia também a rede de Colégios que, das primeiras letras aos estudos médios e superiores, constituíram a elite do ensino e da cultura portuguesa durante 200 anos.
Eram mais de 30 colégios (só no Reino) que por alturas do seu encerramento ensinavam cerca de 20 000 alunos (seriam precisos quase 200 anos para voltar a esses níveis), desde os currículos tradicionais às principais inovações científicas da época, muitas delas nascidas das escolas jesuítas.
Entre eles os famosos Colégio das Artes de Coimbra (reputado como o melhor do mundo), o Colégio de Santo Antão o Novo de Lisboa (onde era famosa a Aula da Esfera), o Noviciado da Cotovia de Lisboa (cujo património, biblioteca e instrumentos transitariam para o Colégio dos Nobres), ou o Colégio de São Paulo de Macau (a primeira instituição de cariz universitário do Oriente e grande formador das elites que penetraram nos impérios Chinês e Japonês).
Não esquecendo a rede que do Brasil a Goa foi responsável pela formação dos agentes do Padroado e constituíram a mais densa rede cultural do Império Português.
Os seus contributos para todas as áreas do Saber são inestimáveis e marcaram a História do Ocidente como nenhuma outra Ordem nesse tempo.
O que os substituiu, como se sabe, foi o Nada. O afã pombalino-josefino na extinção da Companhia não só cá, como no mundo, apenas permitiu à Rússia o aproveitamento desse imenso manancial de sábios e cientistas que lá se refugiaram e que contribuíram para o salto russo rumo à afirmação como grande potência.
Por cá o seu património foi esbulhado entre o Estado e as outras Ordens e seria completamente destruído a partir do saque a que essas Ordens foram sujeitas com o Liberalismo. Sem gente para substituir os jesuítas, Portugal amputou as suas elites e fechou-se à inovação científica e cultural: a tão proclamada "renovação científica" pombalina traduziu-se num gigantesco nada, incapaz de se afirmar e de se enraizar por não haver quem a dirigisse.
Nesta imagem, a fachada da Sé Nova de Coimbra, antiga casa jesuítica, no estilo que seria disseminado por todo o mundo e que faria - também a sua arquitectura - um marco na história da globalização e da portugalidade no mundo.”
Luís Russo Pistola
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