'A crise de Deus no Ocidente e a missão dos
cristãos'
Cardeal Robert Sarah
19.Outubro.2016
Depois de fazer uma breve introdução sobre quem era e de onde vinha, o Cardeal começa por falar das grandes empresas dos dias de hoje. Estas, tendo domínio sobre grande parte da sociedade, gerem ideais universais levando todos a seguir o mesmo, ideais estes que excluem Deus. Daqui provém a grande causa do chamamento feito aos cristãos: anunciar a Palavra de Deus numa sociedade anti-religiosa e amoral que luta por um ateísmo radical e que não tolera aqueles que são diferentes, excluindo-os; até a Igreja é posta de parte.
Continua demonstrando o enorme risco que a Igreja corre de cair numa crise socialista se o Homem erradicar o Evangelho da sua vida, se achar que o fim da pobreza é o “bem para todos os males”; diz que é preciso sermos pobres para erradicarmos a pobreza (miséria), que a pobreza é um valor cristão que nos leva a Deus. Afirma que a Igreja deve lutar para acabar com a miséria mas não com a pobreza pois a pobreza é a grandeza da Igreja e que esta não se pode esquecer do seu carisma contemplativo pois, se o fizesse, correria o risco de se tornar numa Igreja sem Cristo, numa instituição social.
O Homem abandonou a ideia bíblica do Deus-Criador
levando-nos a acreditar que não necessitamos de Deus. Mas o Homem foi feito à
semelhança de Deus e, sem Ele, perde a sua dignidade, começa a dispor dos
outros como produtos, como algo que se pode utilizar e deitar fora. Desta perda
de Deus, de dignidade, vêm as ideias de aborto e eutanásia; ideias que mostram
a facilidade com que se eliminam “seres imperfeitos” com o objectivo de criar um
“Homem perfeito”.
Dissemina-se a mentalidade
de “o que for possível fazer deve ser feito”, obrigando o Homem a fazer tudo para
chegar a um nível superior em que não precisa de Deus. O mundo assim pensado só
pode ter valores absolutos fazendo desaparecer os dogmas e os princípios
universais existentes até aí. Abre-se caminho a novos objectivos considerados
superiores que levam a acreditar que a utilização de seres humanos em
experiências, como se de objectos se tratassem, é uma necessidade. “Como é que é
possível usar uma pessoa como um objecto, como se não tivesse alma?”, pergunta o
Cardeal claramente indignado e em sofrimento.
Infiltram-se ideologias
diferentes e sem sentido para poder haver uma nova ética mundial, para que o
mundo possa ter dois novos ídolos, duas novas potências que o transformaram: a
ciência e o dinheiro. Com a “adoração” destes novos ídolos acentuou-se a distância
entre Deus e os homens, o Ocidente já não tem necessidade de Deus; afastou-se
de tudo o que conhecia e a tradição deixou de ter relevo.
Citando o Papa Bento XVI
disse ainda: “A Europa desenvolveu uma nova cultura, o Ocidente atravessa uma
crise cultural, afasta Deus e julga, até, a Sua existência”, há um liberalismo
moral. Mas a Fé pode pretender o respeito dos não crentes, pode esperar que não
haja ataques e pode pedir que os fiéis rezem por estes perigos da actualidade.
Outro problema que
assalta o mundo Ocidental é o uso de Deus como um meio para atingir os
interesses pessoais de cada um, é a deformação da Sua imagem. Hoje lutam por um
ídolo feito na própria cabeça a quem chamam Deus; usam-n’O, entre outros, os
terroristas para justificar os ataques e as mortes, e as seitas espalhadas pelo
mundo. É a isto que conduz o afastamento do verdadeiro Deus, é muito perigoso e
nós, enquanto cristãos temos o dever de rezar todos os dias por estas dificuldades
que assolam a Terra.
Afirma que nós temos o dever de testemunhar Deus
através da nossa vida, da nossa palavra e das Escrituras, temos que ler a
Bíblia e falar dela aos outros. Não podemos ter medo de o fazer. Há quem vá à
missa, em África, no Paquistão e em tantos outros países, sem saber se volta a
casa, se não vão ser mortos pelo simples facto de estarem a celebrar a
Eucaristia. Temos que aprofundar a nossa Fé e dar verdadeira importância à
nossa formação bíblica, teológica e pessoal, a procura da verdade e o
reconhecimento do bem são o pressuposto da paz e da tranquilidade, a contrário,
só haverá terror e miséria.
Não nos podemos esquecer
que “o verdadeiro repouso do Homem é Deus”, não podemos deixar que Ele fique
fora das decisões do ser humano.
É por tudo isto que diz
“Deus ou nada”: há uma ausência de Deus tanto na sociedade civil como no clero.
Há muitos sacerdotes que não têm tempo de rezar, afastando-se, progressivamente,
da Verdade. A própria Igreja esquece-se de Deus. Temos de rezar pelos padres.
Ninguém se pode ocupar dos outros sem o coração cheio de Deus, é preciso
sacrifício! É preciso oração! É preciso tempo para rezar! A cultura ocidental
organizou-se como se Deus não existisse, decidiram viver sem Deus pondo os
próprios ideais em prática.
Já nem os cristãos vão às Igrejas, as Igrejas estão
vazias, Nosso Senhor, no Sacrário, fica muitas vezes sozinho. O Homem perdeu o
seu caminho, sem Deus está completamente desorientado, há guerras e discórdia
por toda a parte! Onde não está Deus está o mundo, onde não existe Deus só há
miséria, discórdia, confusão e guerras. Tudo se resume a Deus, é Deus ou nada!
Deus tem de voltar a
estar no centro da vida dos homens, nos nossos corações, nas nossas decisões
para que o nosso percurso seja feito “sobre rocha”, para que não se deixe
abalar por razões mundanas e sem sentido. É preciso fé para termos uma vida
santa e feliz no amor de Deus, “é necessário oração”, repetiu muitas vezes,
temos que ser perseverantes e temos que ter esperança. Sem louvor e adoração só
existirão guerras, sem Deus no coração do Homem só haverá discórdia e
violência.
Temos que melhorar a
nossa relação com Deus, temos de rezar mais, temos que estar constantemente com
Ele e temos que pensar n’Ele antes de tomarmos qualquer decisão, só assim
acabarão a guerra e a discórdia.
Perguntas e respostas
A primeira pergunta disse
respeito ao casamento: “Quais são os conselhos que o Senhor Cardeal tem para um
casal jovem prestes a casar?” O Cardeal Sarah respondeu que o casamento é como uma
flor que precisa de ser regada, trabalhada e protegida. Que o amor nos dias de
hoje está muito frágil devido ao mundo, porque o mundo não sabe o que é o amor,
não sabe que o amor vem de Deus e por isso não o respeita. Diz ainda que é
preciso paciência, encontro diário entre marido e mulher, oração em conjunto e
um pelo outro e que o homem tem de olhar para a sua esposa, e vice-versa, como
um dom que vem de Deus e que por isso tem de ser olhado com todo o carinho
santificando-o.
Falando, de seguida,
sobre o centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima, afirmou que este
era uma providência divina para os tempos que estamos a viver, uma chamada de
atenção para as pessoas recuperarem a sabedoria de Deus e deixarem o culto do
dinheiro e do poder militar. Diz que Fátima é uma escola de humildade essencial
para um mundo orgulhoso demais em que as pessoas se vêm como deuses na Terra.
Maria pede conversão, oração e penitência e Portugal tem uma missão especial no
que respeita a espalhar esta mensagem, “Portugal é o centro do mundo para a
causa de Maria”. Fala ainda de António Guterres e da necessidade de rezar por
ele para que consiga mudar o rumo da ONU.
Quando lhe perguntaram porque é que diz tantas vezes que o Homem se afasta de Deus e não que Deus nunca se afasta do Homem pediu desculpa pela visão pessimista que tem e reforçou que Deus nunca se afasta do Homem, contando, de seguida, a parábola do “Filho Pródigo”.
Diz que temos de rezar pelos católicos que se afastam mas que nem todos são filhos pródigos, há muitos que ficam, mas que nem esses conhecem o Pai totalmente, não percebem porque é que o Pai acolhe os que voltam de braços abertos e a eles, que sempre ficaram, não faz uma festa. Realça que esses, que ficam, têm que dedicar mais tempo a Deus, à oração e ao apostolado; há que fazer um esforço muito maior para ter um contacto íntimo e pessoal com Deus porque só podemos testemunhar aquilo que sentimos e vemos. Reforça, ainda, a importância dos Sacramentos, da oração e da inclusão de Deus nas nossas casas e nas nossas vidas quotidianas.
Quando lhe perguntaram porque é que diz tantas vezes que o Homem se afasta de Deus e não que Deus nunca se afasta do Homem pediu desculpa pela visão pessimista que tem e reforçou que Deus nunca se afasta do Homem, contando, de seguida, a parábola do “Filho Pródigo”.
Diz que temos de rezar pelos católicos que se afastam mas que nem todos são filhos pródigos, há muitos que ficam, mas que nem esses conhecem o Pai totalmente, não percebem porque é que o Pai acolhe os que voltam de braços abertos e a eles, que sempre ficaram, não faz uma festa. Realça que esses, que ficam, têm que dedicar mais tempo a Deus, à oração e ao apostolado; há que fazer um esforço muito maior para ter um contacto íntimo e pessoal com Deus porque só podemos testemunhar aquilo que sentimos e vemos. Reforça, ainda, a importância dos Sacramentos, da oração e da inclusão de Deus nas nossas casas e nas nossas vidas quotidianas.
Clarinha Goes
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