domingo, 4 de outubro de 2020

S. Francisco de Assis e as Cruzadas

Durante a Quinta Cruzada chegou ao exército cristão um santo personagem, de nome Francisco de Assis. A sua fama de piedade havia-se difundido no mundo cristão e tinha-o precedido no Oriente. 

Desde tenra idade, Francisco tinha deixado a casa paterna para levar uma vida edificante. Um dia, quando assistia à Santa Missa, ficou impressionado com a frase do Evangelho em que Nosso Senhor diz aos seus discípulos: "Não tenhais nem ouro, nem prata, nem outra moeda, nem sacolas para a viagem, nem sandálias, nem bastões". Francisco começou então a ver com piedade todas as riquezas deste mundo e entregou-se todo à pobreza dos apóstolos. Percorreu as cidades, convidando os povos à penitência. Os discípulos que o seguiam, enfrentavam os desprezos da multidão e sentiam-se com isso grandemente honrados, diante de Deus; quando lhes perguntavam de onde vinham, eles respondiam: Somos pobres penitentes que chegamos de Assis.

Francisco foi levado ao Egipto pela fama da Cruzada e pela esperança de ali obter alguma grande conversão. No dia que precedeu a última batalha ele tivera um pressentimento da derrota dos cristãos. Francisco quis pregar aos chefes do exército que o escutaram com indiferença. Descontente com os cruzados e inflamado pelo zelo da causa de Deus, ele pensou então em fazer triunfar a fé por meio da sua eloquência e com as únicas armas do Evangelho. 

Avançou para o acampamento inimigo e fez-se aprisionar por soldados muçulmanos, que o levaram à presença do sultão. Então Francisco de Assis falou a Malek-Kamel, dizendo: 'Foi Deus que me enviou a vós para vos mostrar o caminho da salvação.' Depois destas palavras, o missionário exortou o sultão a abraçar o Evangelho. Desafiou na sua presença a todos os doutores da lei e propôs lançar-se numa fogueira acesa, para confundir a impostura e provar a veracidade da religião cristã. O sultão, admirado, despediu o zeloso pregador, que nada conseguiu do que ardentemente desejava. Não converteu o chefe dos infiéis e não obteve a palma do martírio.

Depois dessa aventura, S. Francisco de Assis voltou para a Europa, onde fundou a ordem religiosa dos frades menores que a princípio nada possuíam, nem igrejas, nem mosteiros, nem terras, nem rebanhos, e que, espalhados pelas províncias do Ocidente, trabalhavam na conversão dos pecadores. Os discípulos de S. Francisco levaram algumas vezes a palavra de Deus até os povos selvagens. Alguns foram à África e à Ásia, procurando, como o seu mestre, erros para combater e males para suportar; colocaram a cruz de Jesus Cristo em terras infiéis; durante a sua Cruzada de apóstolos repetiam estas palavras evangélicas: a paz esteja convosco! Iam somente armados com suas orações e apenas aspiravam à glória de morrer pela fé.'

Joseph François Michaud in'História das Cruzadas' (1956)

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