Na semana passada foi publicada uma entrevista com o Cardeal Gerhard Muller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Além do Papa, é ele que tem autoridade para interpretar os documentos da Igreja de acordo com o Magistério, como ele próprio diz na entrevista.
Nos últimos meses surgiram entre alguns bispos dúvidas sobre a interpretação correcta da exortação apostólica Amoris Lætitia. Nesta entrevista o Cardeal Muller não disse nenhuma novidade, mas voltou a esclarecer que a única interpretação possível da Amoris Lætitia é a que está de acordo com o Catecismo da Igreja Católica.
Aqui fica parte da entrevista:
Pode haver alguma contradição entre a Tradição e a própria consciência?
Não, é impossível. Por exemplo, não se pode dizer que haja circunstâncias em que um adultério não constitui um pecado mortal. Para a doutrina católica é impossível a coexistência entre o pecado mortal e a graça santificante. Para superar esta absurda contradição, Cristo instituiu para os fiéis o Sacramento da Penitência e Reconciliação com Deus e com a Igreja.
Esta é uma questão que se discute muito a propósito do debate em torno da exortação pós-sinodal Amoris Lætitia.
A Amoris Lætitia deve ser interpretada claramente à luz de toda a doutrina da Igreja. (...) Eu não gosto disto, não está certo que tantos bispos estejam a interpretar a Amoris Lætitia de acordo com a sua maneira de entender o ensinamento do Papa. Isto não está de acordo com a doutrina Católica. O magistério do Papa é interpretado apenas por ele ou pela Congregação para a Doutrina da Fé. O Papa interpreta os bispos, não são os bispos que interpretam o Papa, isto é uma inversão da estrutura da Igreja Católica. Eu insisto com todos os que estão a falar demais para estudarem a doutrina sobre o papado e o episcopado. O bispo, como mestre da Palavra, tem que ser primeiro bem formado para não cair no risco do cego a guiar os cegos. (...)
A exortação Familiaris Consortio de São João Paulo II estipula que os casais divorciados e recasados que não se podem separar, para receberem os sacramentos, têm que decidir viver em continência. Este requisito ainda é válido?
Claro, não é dispensável. Porque isto não é apenas uma lei positiva de João Paulo II. Ele expressou um ensinamento essencial da teologia moral Cristã e da teologia dos sacramentos. A confusão neste ponto também tem a ver com a incapacidade de aceitar a encíclica Veritatis Splendor, com a doutrina clara sobre o "intrinsece malum." (...) Para nós o matrimónio é a expressão da participação na união entre o noivo, Cristo, e a Igreja, sua noiva. Isto não é, como alguns diziam durante o Sínodo, uma analogia simples e vaga. Não! É a substância do sacramento, e nenhuma autoridade no céu ou na terra, nem um anjo, nem o Papa, nem um concílio, nem a lei dos bispos, tem o poder para mudar isso.
Como é que se pode resolver o caos que se está a gerar por causa das diferentes interpretações que estão a ser dadas a esta passagem da Amoris Lætitia?
Eu insisto para que todos reflitam, estudando primeiro a doutrina da Igreja. Começando pela Palavra de Deus na Sagrada Escritura, que é muito clara sobre o matrimónio. Recomendo também não entrar numa casuística que pode facilmente originar mal-entendidos, especialmente aquele de que se o amor desaparece a ligação matrimonial morre. Isso são sofismas: a Palavra de Deus é muito clara e a Igreja não aceita a secularização do matrimónio. A tarefa dos sacerdotes e dos bispos não é criar confusão, mas trazer claridade. Uma pessoa não pode apenas olhar para as pequenas passagens na Amoris Lætitia mas tem que a ler como um todo, com o propósito de tornar o Evangelho do matrimónio e da família mais atractivo para as pessoas. Não foi a Amoris Lætitia que provocou a interpretação confusa, mas alguns intérpretes confusos. Todos temos de perceber e aceitar a doutrina de Cristo e da sua Igreja e ao mesmo tempo estar prontos para ajudar os outros a percebê-la e a pô-la em prática, mesmo em situações difíceis.
in Settimo Cielo
PAI, MÃE E FILHOS
ResponderEliminarIniciativa de cidadania europeia para defender o casamento e a família:
http://www.mumdadandkids.eu/pt
Então agora seria de se esperar uma reprimenda do cardeal Müller aos bispos alemães, seus compatriotas e também aos malteses que liberaram a Comunhão aos divorciados recasados em seus países.
ResponderEliminarExato!
EliminarA Igreja possui uma sólida reflexão sobre os condicionamentos e as
ResponderEliminarcircunstâncias atenuantes. Por isso, JÁ NÃO É POSSÍVEL DIZER QUE TODOS OS QUE ESTÃO NUMA SITUAÇÃO CHAMADA « irregular » VIVAM EM ESTADO DE PECADO MORTAL, privados da graça santificante.
e QUANTO AO CATECISMO O PAPA FRANCISCO É CLARO: A propósito destes condicionamentos, o
Catecismo da Igreja Católica exprime-se de maneira categórica: « A IMPUTABILIDADE E RESPONSABILIDADE DUM ACTO PODEM SER DIMINUÍDAS, E ATÉ ANULADAS, PELA IGNORÂNCIA, A INADVERTÊNCIA, A VIOLÊNCIA, O MEDO, OS HÁBITOS, AS AFEIÇÕES DESORDENADAS E OUTROS
FACTORES PSÍQUICOS OU SOCIAIS».343 E, noutro parágrafo, refere-se novamente às circunstâncias que atenuam a responsabilidade moral, nomeadamente « a imaturidade afectiva, a força de hábitos contraídos, o estado de angústia e outros fatores psíquicos ou sociais ».
No evangelho narrado por São João 15,22 Jesus fala que não há desculpa para os nossos pecados pois ele se fez conhecer.
EliminarPor isso, um pastor não pode sentir-se satisfeito
ResponderEliminarapenas aplicando leis morais àqueles que
vivem em situações « irregulares », como se fossem
pedras que se atiram contra a vida das pessoas.
É o caso dos corações fechados, que muitas
vezes se escondem até por detrás dos ensinamentos
da Igreja « para se sentar na cátedra de Moisés
e julgar, às vezes com superioridade e superficialidade,
os casos difíceis e as famílias feridas ».349
E esta é especialmente para vocês, o Papa já vos adivinhava: Compreendo aqueles que preferem uma pastoral mais rígida, que não dê lugar a confusão alguma; mas creio sinceramente que Jesus Cristo quer uma Igreja atenta ao bem que o Espírito derrama no meio da fragilidade: uma Mãe que, ao mesmo tempo que expressa claramente a sua doutrina objectiva,« não renuncia ao bem possível, ainda que corra o risco de sujar-se com a lama da estrada ».356
ResponderEliminarAcho graça... "Então agora seria de se esperar uma reprimenda do cardeal Müller aos bispos alemães, seus compatriotas e também aos malteses que liberaram a Comunhão aos divorciados recasados em seus países." acho graça o então.... estas reprimendas... tomem juizinho meus meninos... então leiam o que o Papa escreveu seus pacóvios... vá lá censura lá conta mais esta... nem tudo é perfeito
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