quinta-feira, 11 de julho de 2024

O tomista Garrigou-Lagrange sobre os erros e a morte da nossa Sociedade

Os perniciosos erros que se espalham pelo mundo, tendem à descristianização completa dos povos. Ora, isto começa no século XVI com a renovação do paganismo, ou seja, com a renovação da soberba e da sensualidade pagã entre cristãos. 

Este declínio avançou com o protestantismo, através da negação do Sacrifício da Missa, do valor da absolvição sacramental e, por consequência, da confissão; pela negação da infalibilidade da Igreja, da Tradição ou Magistério, e da necessidade de se observar os preceitos para a salvação. 

Em seguida, a Revolução Francesa lutou manifestamente para a descristianização da sociedade, conforme os princípios do Deísmo e do naturalismo. O espírito da revolução conduziu ao liberalismo que, por sua vez, queria permanecer numa meia altitude entre a doutrina da Igreja e os erros modernos. 

Ora, o liberalismo nada concluía; não afirmava, nem negava, sempre distinguia, e sempre prolongava as discussões, pois não podia resolver as questões que surgiam do abandono dos princípios do cristianismo. Assim, o liberalismo não era suficiente para agir, e depois veio o radicalismo mais oposto aos princípios da Igreja, sob a capa de ''anticlericalismo'', para não dizer anticristianismo: a maçonaria. 

O radicalismo, então, conduziu ao socialismo e o socialismo, ao comunismo materialista e ateu, como na Rússia, e quis invadir a Espanha e outras nações negando a religião, a propriedade privada, a família, a pátria, e reduzindo toda a vida humana à vida económica como se só o corpo existisse; como se a religião, as ciências, as artes, o direito fossem invenções daqueles que querem oprimir os outros e possuir toda a propriedade privada.

Contra todas essas negações do comunismo materialista, só a Igreja, somente o verdadeiro Cristianismo ou Catolicismo pode resistir eficazmente, pois só ele contém a Verdade sem erro.

Portanto, o nacionalismo não pode resistir eficazmente ao comunismo. Nem, no campo religioso, o protestantismo, como na Alemanha e na Inglaterra, pois contém graves erros, e o erro mata as sociedades que nele se fundam, assim como a doença grave destrói o organismo; o protestantismo é como a tuberculose ou como o cancro, é uma necrose por causa da sua negação da Missa, da confissão, da infalibilidade da Igreja, da necessidade de observar os preceitos.

O que, pois, se segue dos erros citados no que diz respeito à legislação dos povos? Esta legislação torna-se paulatinamente ateia. Não somente desconsidera a existência de Deus e a lei divina revelada, tanto positiva como natural, mas formula várias leis contrárias à lei divina revelada, por exemplo, a lei do divórcio e a lei da escola laica, que termina por tornar-se ateia. Por fim, vem a liberdade total de cultos ou religiões, e da própria impiedade ou irreligião. 

As repercussões destas leis em toda sociedade são enormes. Por exemplo, a repercussão da lei do divórcio: qualquer que seja o ano, qualquer que seja a nação, milhares de famílias são destruídas pelo divórcio e deixam sem educação, sem orientação, crianças que acabam por se tornar ou incapazes, ou exaltadas, ou más, por vezes, péssimas. 

Do mesmo modo, saem da escola ateia, todos os anos, muitos homens ou cidadãos sem nenhum princípio religioso. E portanto, em lugar da fé, da esperança e da caridade cristã, têm eles a razão desordenada, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos, o desejo de riqueza e a soberba de vida. Todas essas coisas são erigidas num sistema especialmente materialista, sob o nome de ética laica ou independente, sem obrigação e sanção, na qual às vezes remanesce algum vestígio do decálogo, mas um vestígio sempre mutável.

Portanto, qual é, segundo este princípio, o modo de discernir o falso do verdadeiro? O único modo é a livre discussão, no parlamento ou em algum outro lugar, e esta liberdade é, portanto, absoluta, nada pode ser subtraído à sua jurisdição, nem a questão do divórcio, nem a necessidade da propriedade individual, nem a da família ou da religião para os povos. 

Neste caso, é para se concluir que estas sociedades, fundadas sobre princípios falsos ou sobre uma legislação ateia, tendem para a morte. Nelas, com o auxílio da graça, as pessoas individuais ainda se podem  salvar. Mas estas sociedades, como tais, tendem para a morte, pois o erro, sobre o qual se fundam, mata, como a tuberculose ou o cancro que, progressiva e infalivelmente, destrói o nosso organismo. 

Só a fé cristã e católica pode resistir a estes erros, e tornar a cristianizar a sociedade, mas, para isso, requer-se uma condição: uma fé mais profunda, conforme a Escritura, "Este é o poder vitorioso que venceu o mundo: a nossa fé." (1 Jo 5, 4)

Frei Reginald Garrigou-Lagrange in 'De Sanctificatione Sacerdotum Secundum Nostri Temporis Exigentias'

1 comentário:

  1. Maria José Martins23 fevereiro, 2021 07:01

    Este texto está muito bem concebido, pela maneira como mostra a contaminação da Sociedade, ao logo dos tempos, e as consequências funestas que daí advêm.
    Porém, e me desculpem, mais uma vez, não resisto em transcrever uma das Passagens da Obra "O Evangelho como me foi revelado", de Maria Valtorta, onde Jesus explica como, desde o Princípio, o Homem se deixou contaminar pela desobediência, ao Plano de Deus, ficando assim, à mercê de Satanás e, logicamente, do pecado, que o conduziu e ainda conduz, a todas essas oscilações, ao longo da sua existência. Desde sempre, o Homem quis substituir ou NEGAR Deus e, por isso, tem sofrido horrores, até que DESCUBRA, que o seu lugar é o CÉU, mas que, SEM DEUS, nunca há de lá chegar, acabando por se destruir e destruir-- enquanto Deus permitir-- tudo o que está à sua volta.
    Diz-nos então Jesus: "...Ai do Homem, se ele com as suas forças humanas, se tivesse feito o DONO DA VIDA! E tivesse que viver com as lembranças dos seus delitos e seu aumento, pois, viver sem pecar é muito mais impossível do que viver sem respirar, sendo vós, homens, as criaturas criadas para ver a Luz, mas cujas TREVAS, por si mesmas, A envenenaram, fazendo-vos vítimas.
    As Trevas vos rodeiam continuamente. Elas vos envolvem, fazendo renascer todo o mal, que o SACRAMENTO DESFAZ, mas porque, CONTRA ELAS, vós não opondes a vontade de serdes de DEUS. Elas chegam a envenenar-vos DE NOVO, com o SEU VENENO, aquele que, depois do BATISMO, se havia TORNADO INÓCUO!
    Deus Pai afastou o Homem do PARAÍSO, por causa da sua DESOBEDIÊNCIA, a fim de que ele não pecasse uma segunda vez e até mais, levantando a sua mão de ladrão, para Árvore da Vida. O Pai não podia mais confiar em seus filhos, pois Satanás havia penetrado neles, para lhes armar ciladas: às Criaturas prediletas do Pai! Se os tinha seduzido à culpa, quando eram inocentes, muito mais os seduziria, depois de terem perdido a INOCÊNCIA.
    O HOMEM PRETENDEU POSSUIR TUDO, NÃO DEIXANDO PARA DEUS O TESOURO, QUE É SOMENTE DELE: O DE SER ELE O CRIADOR!!
    Assim, a Criatura paradisíaca se havia tornado uma criatura terrestre e deveria passar por séculos de dor, até que o ÚNICO que podia entender a mão para o FRUTO DA VIDA, Se aproximasse e O colhesse para toda a Humanidade. E O colhesse em SUAS MÃOS TRESPASSADAS, e O desse ao HOMEMS, a fim de que eles se tornem co-herdeiros do Céu e POSSUIDORES DA VIDA QUE NÃO MORRE NUNCA!"

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