Esta vida eterna começada[1] constitui todo um organismo espiritual, que deve desenvolver-se até à nossa entrada no céu. A graça santificante, recebida na essência da alma, é o princípio radical deste organismo imperecível, que deveria durar para sempre, se o pecado mortal, que é uma desordem radical, não viesse por vezes destruí-la. (Cfr. ST, I-II, Q109, A3 e A4)
Da graça santificante, semente da glória, derivam as virtudes infusas, primeiramente as virtudes teologais, a maior das quais, a caridade, deve, como a graça santificante, durar para sempre. "A caridade nunca passará, - diz S. Paulo -, (...) agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade, mas a maior das três é a caridade" (I Cor 13, 8-13). Ela durará para sempre, eternamente, quando a fé tiver desaparecido para dar lugar à visão e quando à esperança suceder a possessão inadmissível de Deus claramente conhecido.
O organismo espiritual completa-se pelas virtudes morais infusas que se referem aos meios, enquanto as virtudes teologais se voltam para o fim último. São estas outras tantas funções admiravelmente subordinadas, infinitamente superiores àquelas do nosso organismo corporal. Elas chamam-se: prudência cristã, justiça, fortaleza, temperança, humildade, mansidão, paciência, magnanimidade, etc.
Finalmente, para remediar a imperfeição destas virtudes, que sob a direcção da fé obscura e da prudência conservam ainda um modo demasiado humano de agir, há os sete dons do Espírito Santo, que habita em nós. São como velas de um barco e dispõem-nos a receber dócil e prontamente o sopro do alto, as inspirações especiais de Deus, que nos permitem agir de uma maneira já não humana, mas divina, com o entusiasmo necessário para percorrer o caminho de Deus e não recuar diante dos obstáculos.
Todas estas virtudes infusas e estes dons crescem com a graça santificante e a caridade, diz S. Tomás (ST, I-II, Q66, A2), assim como os cinco dedos da mão se desenvolvem conjuntamente, como todos os órgãos do nosso corpo aumentam ao mesmo tempo. Assim sendo, não é possível conceber que uma alma tenha alta caridade sem ter o dom da sabedoria em grau proporcional, quer sob forma nitidamente contemplativa, quer sob uma forma prática mais directamente ordenada para a acção. A sabedoria de um S. Vicente de Paulo não é absolutamente semelhante à de um S. Agostinho, mas ambas são infusas.
Adaptado de: Pe. Reginald Garrigou-Lagrange, OP, in As Três Vias e as Três Conversões, Cap. I
Notas:
1. O autor explica mais atrás que a "vida eterna começada" consiste na crença em Deus com fé viva, unida à caridade, ao amor a Deus e ao próximo. Numa vida sobrenatural idêntica, em germe, à vida eterna: "A graça não é senão um certo começo da glória em nós." (ST, II-II, Q24, A3; I-II, Q69, A2; De Veritate 14, A2)
Explica que esta é necessária para o progresso espiritual: "Gratia est semem gloriae." A diferença para a vida sobrenatural do céu é uma só: aqui na terra conhecemos a Deus (sobrenatural e infalivelmente) pela obscuridade da fé e não na clareza da visão. Esta vida é dada pelo baptismo e nutrida pela Eucaristia e é superior a qualquer milagre, é supra-humana e até supra-angélica.
Dizia Bossuet: "A vida eterna começada consiste em conhecer a Deus pela fé (unida à caridade), e a vida eterna consumada consiste em ver a Deus face a face desveladamente. Jesus Cristo nos dá uma e outra, porque no-la mereceu e porque Ele é o seu princípio em todos os membros que anima." (Méditations sur L'Évangile, IIa P, 37º dia, em João 17, 3)
Tal como diz a liturgia no prefácio da Missa Pro Defunctis: "para os vossos fiéis, Senhor, a vida não é tirada mas mudada e transfigurada".
Bom dia!
ResponderEliminarVejam isto! Inacreditável.
A profanação numa capela de Braga https://www.facebook.com/watch/?v=353858309312171&extid=NAoq57xGKh1bqmW6