Um sol magnífico. No recinto
imenso de Fátima e nas ruas à volta, ecoa a voz pausada do Papa. Faz-nos sonhar com a poesia de
imagens tiradas do Apocalipse, fala da «Mulher revestida de sol», refulgente de
beleza. Ela, disse-nos o Papa, é a nossa mãe! Depois de ver Nossa Senhora, a
pequena Jacinta não se conteve e desvendou o segredo à mãe: «Hoje vi Nossa
Senhora!».
Também nós a veremos pela
eternidade inteira, se formos para o Céu – diz o Papa. Por isso o preocupa o risco do Inferno «onde leva a vida sem
Deus e profanando Deus nas suas criaturas».
O assunto é da máxima
gravidade: «Nas suas “Memórias”, a Irmã Lúcia dá a palavra à Jacinta que
beneficiara de uma visão: “Não vês tanta estrada, tantos caminhos e campos
cheios de gente, a chorar com fome, e não têm nada para comer? E o Santo Padre
numa igreja, diante do Imaculado Coração de Maria, a rezar? E tanta a gente a
rezar com ele?”».
As circunstâncias desta homilia
despertam-nos para a actualidade da visão. O Santo Padre diante de Maria, e uma
multidão rezando... Mas é o próprio Papa que sublinha o que quer dizer: «Irmãos
e irmãs, obrigado por me acompanhardes!». Sim, somos nós e é ele. Um arrepio de
responsabilidade leva-nos a viver mais intensamente este momento que une o Céu
e a Terra.
No meio das tribulações que
desabam sobre a Igreja e a humanidade, o Papa aponta o caminho da esperança:
sob o seu manto, não se perdem os filhos de Nossa Senhora – diz o Papa. Com essa esperança, o Papa
põe-nos a caminho:
– «Ele criou-nos como uma esperança
para os outros, uma esperança real e realizável, segundo o estado de vida de
cada um. Ao “pedir” e “exigir” o cumprimentos dos nossos deveres de estado (a
citação é de uma carta da Irmã Lúcia de 1943), o Céu desencadeia aqui uma
verdadeira mobilização geral contra esta indiferença, que nos gela o coração e
agrava a miopia do olhar. Não queiramos ser uma esperança abortada! A vida só
pode sobreviver graças à generosidade de outra vida. Se o grão de trigo,
lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto” (Jo
12, 24) ».
No espaço desta homilia,
cruzaram-se o esplendor da beleza e os abismos do mal, a esperança de Deus e a
nossa responsabilidade. Com uma intensidade multiplicada pela multidão que ouve
as palavras do Papa e reza com ele. Os que aqui estamos, somos, em primeira
linha, a multidão imensa que a Jacinta viu.
José Maria C.S. André - Fátima, 13-V-2017
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