sábado, 3 de fevereiro de 2018

Pe. Gonçalo Portocarrero explica que uma pessoa em situação objectiva de pecado não pode comungar

Decorria o ano do Senhor de 2012. Ainda sob o Pontificado do Papa Bento XVI. Zita Seabra publica um livro-entrevista feito ao Pe. Gonçalo Portocarrero com o nome "Auto de Fé - A Igreja na Inquisição da opinião pública". 

O Pe. Gonçalo responde aos temas mais controversos que envolvem a doutrina católica numa sociedade descristianizada. À pergunta sobre por que razão a Igreja discrimina os "divorciados recasados" não permitindo que acedam aos sacramentos, esclarece: 

«Não é a Igreja que não deixa comungar os que, tendo casado pela Igreja, se divorciaram e casaram civilmente com outra pessoa. A Igreja não os exclui, no sentido em que não os marginaliza, não lhes impede que continuem a ser cristãos. 

Continuam a ser cristãos e continuam com o direito e o dever de cumprir com as demais obrigações próprias de um cristão: participar na eucaristia dominical, rezar, praticar a caridade, etc. Eles é que se puseram a si próprios numa situação em virtude da qual não podem receber alguns sacramentos, nomeadamente a confissão sacramental e a eucaristia.

Mas não é a Igreja que os exclui. Foram eles próprios que se excluíram a si mesmos, foram eles próprios que se puseram numa situação objectiva que os impede de receber esses sacramentos

O Pe. Gonçalo explica, tal como na altura tinha explicado o Papa Bento XVI e antes dele o Papa João Paulo II e por aí fora, que alguém em situação objectiva de pecado não pode receber os sacramentos. 

Chegados a 2018 - com base na Amoris Laetitia, na interpretação dos Bispos de Buenos Aires, e numa suposta pastoral da misericórdia - o Pe. Gonçalo publica um texto, com o título "A 'heresia' do Papa Francisco", no qual defende que afinal já não é determinante a situação objectiva de pecado mas sim a situação subjectiva, que deve ser averiguada através dum "processo de discernimento". Esta tese apresenta três problemas:

1) Ninguém consegue saber realmente se outra pessoa está em pecado subjectivo ou não, por mais discernimento que faça...o perscrutar dos corações cabe apenas a Deus;

2) A única hipótese de não estar em pecado seria uma ignorância invencível e inculpável em relação ao pecado, o que neste caso é impossível porque a pessoa sabe que se casou com outra pessoa que está viva e sabe que vive com uma terceira pessoa, como marido e mulher, com quem não casou;

3) Ainda que fosse possível esse estado de ignorância, com o processo de discernimento a ignorância rapidamente desapareceria; portanto o método escolhido para tentar perceber se aquela pessoa estaria em pecado subjectivo seria ele próprio responsável por colocar aquela pessoa em pecado subjectivo, isto é com culpa.

Nesta questão dos "recasados" a busca pela quadratura do círculo intensifica-se. Precisamos de pessoas que gritem que o Rei vai nu!

João Silveira

2 comentários:

  1. Prezados senhores, por demais interessante a matéria que trata do livro do Pe. Gonçalo Portocarrero com o nome "Auto de Fé - A Igreja na Inquisição da opinião pública". Concordo plenamente com o citado Pe. Gonçalo, haja vista a clareza e razoabilidade com que explicita a matéria na qual eu me incluo em idêntica situação. Inclusive, não obstante pudesse eu me beneficiar, ao contrário, vejo modestamente uma heresia a Amoris Laetitia do Papa Francisco. Todavia, não entendo porque a Igreja Católica nunca enxergou que a solução para os recasados retomarem o caminho que lhes permitam participar da Santa Eucaristia, fosse permitir a interposição de ação de nulidade junto aos Tribunais Eclesiásticos, visando tornar "nulos" eventuais casamentos que fracassaram por ter à época da cerimônia, elementos de vício que o levaram a falência. No meu caso, não casei para me separar e nem sonhava com essa hipótese. Cheio de sonhos após 10(dez) anos de casado civil e religioso, e com um filhinho de 3(três) anos de idade, tive minha ex-mulher no seu desejo voluntário de acabar com o casamento(portanto, me impôs o divórcio), porque fez um concurso público e obteve êxito na aprovação. Detinha um outro cargo público anterior que NÃO podia acumular. Minha ex-mulher sabia que eu não concordaria que acumulasse os dois cargos públicos. Então, sua opção foi dar preferência a manter os dois cargos públicos. Preferiu o dinheiro a família. Jogou no lixo o casamento de 10 anos. E eu?. A partir dali o que deveria fazer da minha vida?. E meu projeto pessoal de ter uma família?. Cegamente, à época, contrai outra união com o casamento civil que dura,hoje, 22 anos e 3(três) filhos de 22, 17 e 7 anos de idade. Mas, depois que cai em mim enxerguei a armadilha na qual eu próprio armei e cai nela. Enxerguei o altíssimo prejuízo que contrai para mim mesmo. Sofro por estar longe do "Corpo e Sangue de Deus" há 22 anos. Arrepender-me?. Como posso arrepender sem pensar nos filhos que Deus me concedeu generosamente, sem falar nas incontáveis e inúmeras bençãos e graças que recebemos diariamente oriundas da Sua benevolência que chamo de "Amor da Tolerância de Deus". Tentei com recusa do Tribunal Eclesiástico que se recusa em analisar a peculiaridade do meu caso. Generalizam a ponto de dizer simplesmente se se tratar de um casamento válido. Como "válido" se há explícito uma "acumulação ilícita de cargos" que serviu de base para uma decisão de acabar um casamento de 10 anos?. Não enxerga o Tribunal Eclesiástico o vício que minha ex-mulher levou consigo embutido nela para o casamento que permitia rescindir a cláusula da união por dinheiro?. Se eu soubesse dessa fragilidade pessoal há 10 anos atrás teria eu casado com minha ex-mulher?. Óbvio que não e, na verdade, me sinto traído pela troca efêmera que o Tribunal Eclesiástico se nega enxergar. Bem, a história continua só Deus até quando, pois, tenho muito medo de morrer em pecado gravíssimo. Quero pelas vias legais da Igreja Católica da Tradição corrigir isso por meio da NULIDADE de um casamento fracassado. Abraço cordial.

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  2. "A homilia pode tratar da necessidade de abandonar o caminho do pecado para podermos entrar, com esperança, no Reino de Deus." (diocese de Braga, guia Quaresma/Páscoa 2018, página 74)

    http://www.diocese-braga.pt/media/contents/contents_Fjs9sG/Guia_o_quaresma%20pa_scoa_2018.pdf

    "INTRODUÇÃO À PREPARAÇÃO PENITENCIAL
    O mundo em que vivemos está cheio de apelos e seduções, muitos deles aliciantes e convidativos.
    Contudo, a peregrinação humana e o caminho quaresmal que nos propomos percorrer exige de nós a capacidade de optar e de decidir, na certeza de que há escolhas que não são conciliáveis.
    Na balança da vida ficamos muitas vezes divididos, confusos, pois os pequenos deuses que criamos à nossa imagem parecem pesar e influenciar mais do que o Deus verdadeiro, que em Cristo nos quer resgatar do pecado.
    A Quaresma é um tempo que nos implica, que exige mais do que, habitualmente, estamos dispostos a dar ou, neste caso, a deixar.
    Façamos a nossa parte e libertemo-nos do pecado da idolatria, pois só desta forma chegaremos à verdadeira meta, sem nos perdermos nas ilusões que escravizam e nos descentram do foco."

    na página 15:
    http://www.diocese-braga.pt/media/contents/contents_Fjs9sG/Guia_o_quaresma%20pa_scoa_2018.pdf

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