Há 13 anos o Cardeal Ratzinger foi eleito Papa. Para ter presente o seu pontificado, vale a pena recordar este diálogo entre o Papa Bento XVI e alguns reclusos de uma prisão romana.
Pergunta #1: Pergunto a Sua Santidade se este gesto vai ser entendido na sua simplicidade também pelos nossos políticos e governantes para que se restitua a todos os últimos - nós incluídos, os detidos - a dignidade e a esperança que é preciso reconhecer a todos os seres.
Resposta Papa Bento: Vim sobretudo para mostrar-vos a minha proximidade pessoal e íntima na comunhão com Cristo que vos ama. Mas, certamente esta visita que para vós é pessoal, é também um gesto público que recorda aos nossos cidadãos, ao nosso governo, o facto de que há grandes problemas e dificuldades nas prisões italianas. E, efectivamente, o objectivo destas prisões é o de ajudar a justiça, e a justiça implica como primeiro dado a dignidade humana. Da parte que depende de mim, quero assinalar sempre que é importante que as prisões respondam ao seu objectivo de renovar a dignidade humana e melhorar a sua condição e não de a comprometer. Esperemos que o governo tenha a possibilidade de responder a esta vocação.
Pergunta #2: Mais do que uma pergunta, prefiro pedir-lhe que no deixe agarrar-nos a si com os nossos sofrimentos e os dos nossos familiares, como a um cabo eléctrico que nos comunica com o nosso Senhor. Gosto muito de si.
Resposta Papa Bento: Eu também gosto muito de si. A identificação do Senhor com os presos interpela-nos profundamente. E eu também tenho de me perguntar: "Cumpri o imperativo do Senhor?" Vim aqui porque sei que em vós me espera o Senhor, que necessitais que se vos reconheça humanamente e que necessitais da presença do Senhor que no Juízo Final nos pedirá contas disso, por isso espero que estes centros cumpram cada vez mais com o objectivo de ajudar os detidos a reencontrar-se, a reconciliar-se com os outros, com Deus, para incorporar-se de novo à sociedade e ajudar ao progresso da humanidade.
Pergunta #3: Parece-lhe justo que agora que sou um homem novo e pai de uma menina de poucos meses não me dêem a possibilidade voltar a casa, apesar de ter pago amplamente a minha dívida para com a sociedade?
Resposta Papa Bento: Antes de mais, parabéns! Fico contente de que se considere um homem novo. Sabe que para a doutrina da Igreja a família é fundamental e é importante que um pai tenha nos braços a sua filha. Por isso rezo e espero que quanto antes possa recebê-la realmente no seus braços e estar com a sua mulher para construir uma bonita família e contribuir para o futuro de Itália.
Pergunta #4: Que podem pedir os presos doentes e seropositivos ao Papa? Fala-se muito pouco de nós, e por vezes de uma forma tão feroz que parece que nos querem eliminar da sociedade. Fazem que nos sintamos infrahumanos.
Resposta Papa Bento: Temos que suportar que alguns falem mal de nós. Também falam mal do Papa e, no entanto, vamos para a frente. Creio que é importante alentar todos para que pensem bem, para que entendam que vocês sofrem, para que compreendam que têm de vos ajudar a levantar-vos. Eu farei todo o possível para convidar a pensar de forma justa - não com desprezo mas com humanidade - que todos podemos cair, mas Deus quer que todos cheguemos a ele, e que podemos cooperar, com espírito de fraternidade e reconhecendo a nossa fragilidade, neste processo para que os que caíram se levantem e prossigam a sua vida com dignidade.
Pergunta #5: Santidade, ensinaram-me que Nosso Senhor vê e lê dentro dos corações; por isso pergunto: porque é que a absolvição se delega nos sacerdotes? Se eu, sozinho, pedisse de joelhos a absolvição dirigindo-me ao Senhor, seria absolvido?
Resposta Papa Bento: É preciso dizer 2 coisas. A primeira, naturalmente, se se ajoelha e com verdadeiro amor de Deus lhe pedir perdão, Deus perdoá-lo-á. Mas há outro elemento: o pecado não é só algo pessoal, individual, entre Deus e eu, o pecado tem sempre uma dimensão horizontal. Por isto esta dimensão social, horizontal, do pecado exige que se absolva também no âmbito da comunidade humana, da comunidade da Igreja, exige o Sacramento. A absolvição do sacerdote, a absolvição sacramental é necessária para absolver-me deste laço com o mal e reintegrar-me na vontade de Deus, dando-me a certeza de que me perdoa e me recebe na comunidade dos seus filhos.
Pergunta #6: Santo Padre, no mês passado esteve em visita pastoral em África, no pequeno país do Benin, uma das nações mais pobres do mundo. Aí têm esperança e fé em Deus, e morrem no meio da pobreza e da violência. Porque é que Deus não os escuta? Será que ouve só os ricos e os poderosos que, aliás, não têm fé?
Resposta Papa Bento: A medida de Deus e os seus critérios são diferentes dos nossos. Deus dá a estas pessoas a alegria da sua presença, faz que sintam que está próximo deles, mesmo no sofrimento e na dificuldade e, naturalmente, chama-nos para que façamos o que estiver nas nossas mãos para que saiam das trevas das doenças e da pobreza. Temos de rezar a Deus para que haja justiça, para que todos possam viver na alegria de ser seus filhos.
Visita do Papa Bento XVI à prisão romana de Rebibbia (18/12/2011)
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