Creio que é compreensível, embora inaceitável, que expoentes da Igreja afirmem sem pejo que a questão da eutanásia não é religiosa nem confessional. Isto que afirmam, aduzindo vários argumentos racionais, terá, imagino eu, a intenção, aliás aparentemente justa, de evitar um confronto religioso entre crentes e não crentes, que poderia prejudicar a defesa e promoção da vida humana em todas as fases da sua existência.
Não obstante, creio que seria melhor ensinar que esta questão não é somente religiosa mas também racional, isto é, afirmar que de si a Lei Natural poderá ser entendida e reconhecida por todos como fundamento da recusa absoluta da “eutanásia/suicídio assistido”, uma vez que está inscrita na razão humana.
Mas que a religião verdadeira, Revelada, não só confirma, purifica e facilita esse conhecimento como exige da parte dos crentes, católicos e cristãos em geral, um empenho determinado na repulsa dessa ignóbil monstruosidade que se traduza num dever iniludível de rejeição total de propagandear, de votar favoravelmente, ou mesmo de se abster, ou promulgar qualquer tipo de “lei” que admita a legalização ou despenalização da eutanásia/suicídio assistido. A não ser assim não nos podemos admirar que haja muitos católicos e demais cristãos - como aconteceu aquando da liberalização do aborto provocado - que cuidem que a sua atitude e comportamento diante desta abominação nada tenha a ver com a sua Fé, que podem ser excelentes cristãos demitindo-se do combate contra ou mesmo do favorecimento destas infâmias.
Esta é uma de entre muitas outras razões por que afirmo que a Igreja não pode, absolutamente, renunciar ao anúncio, em todas as circunstâncias, de Jesus Cristo, que é a Verdade, necessária à Salvação, à Liberdade e ao Bem-comum de todos, crentes e não crentes.
Uma das muitas outras coisas que a Igreja, principalmente através dos seus Pastores, tem a obrigação estrita e gravíssima de anunciar, é a de que a “eutanásia” ou o “suicídio assistido” são totalmente incompatíveis com a Fé Cristã e com a dignidade, intrínseca e incomensurável de toda e qualquer pessoa humana, independentemente do estado em que se encontra. Por isso, constitui um pecado gravíssimo cooperar com a eutanásia ou com o suicídio assistido, principalmente pela aprovação (ou concordância) da legalização destas atrozes crueldades, quer pela prática delas.
Para que não subsistam dúvidas: quem propagandear, votar ou promulgar uma “lei” que legalize quer a eutanásia quer o suicídio assistido será responsável perante a Justiça de Deus por todas as matanças (assassínios) que forem praticadas em virtude dessa despenalização/legalização; terão também que responder diante do Tribunal Divino por todas as consequências directas e indirectas dessa cabanagem hedionda e brutal. Quem o fizer consciente e livremente não se poderá salvar a não ser que se arrependa verdadeiramente e se converta genuinamente, procurando com a máxima exigência reparar, tanto quanto lhe for possível, a tremendíssima malícia em que ocorreu e para a qual contribui-o. Isto, independentemente de ser ou não cristão, pois esta gravíssima incumbência é ‘património’ comum de todos.
O que significa que independentemente da confissão religiosa, ou não, de cada qual, todos serão julgados severissimamente diante d'Aquele que embora infinitamente misericordioso é igualmente infinitamente Justo, não podendo pois contradizer minimamente a Sua Justiça em nome da Sua misericórdia.
À honra de Cristo. Ámen
Pe. Nuno Serras Pereira - 14. 05. 2018
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