“A Mensagem de Fátima: Paz para o Mundo”
Galt House, Louisville, Kentucky
Desenvolvendo Vidas de Paz
seguindo o Coração de Maria
Recentemente,
participei numa conferência de 3 dias sobre a Sagrada Liturgia, na qual muitos
bons jovens padres também participaram. Houve várias ocasiões para falar com
eles sobre o seu ministério sacerdotal. Como
tenho experienciado na maioria dos locais que visito, os sacerdotes expressaram
uma grande preocupação com a situação em que o mundo e a Igreja se encontram. É
uma situação que pode ser descrita simplesmente como confusão, divisão e erro.
Perto do final da conferência, um jovem pastor aproximou-se de mim e perguntou:
"Cardeal, pensa que estamos no fim dos tempos?" A expressão na sua
cara tornou clara a sinceridade da sua questão e a profunda preocupação que a
motivou. Eu não hesitei e respondi: “É possível que sim.”
Estamos
a viver tempos muito atribulados no mundo e também na Igreja. A secularização tem
devastado a cultura de muitas nações, especialmente no Ocidente, alienando a
cultura da sua única e verdadeira fonte em Deus e o Seu plano para nós e o
nosso mundo. Há o ataque diário e generalizado à vida humana inocente e
indefesa, com a resultante violência sem precedentes na vida familiar e na
sociedade em geral. Há a cada vez mais virulenta ideologia de género, que
propaga a total confusão sobre a nossa identidade como homem e mulher, e leva a
uma profunda infelicidade e até à auto-destruição de muitos na sociedade. Há
também a negação da liberdade religiosa, que tenta impedir, se não extinguir
completamente, qualquer discurso público sobre Deus e a nossa necessária
relação com Ele. Com a negação da liberdade religiosa vem a tentativa de forçar
os indivíduos tementes a Deus a agir contra a sua consciência bem formada, isto
é, contra a lei de Deus inscrita no coração humano. Em países supostamente
livres, o governo força na sociedade práticas como o aborto, esterilização,
contracepção, eutanásia e falta de respeito pela sexualidade humana, até mesmo
ao ponto de doutrinar crianças pequenas na iníqua "teoria de género".
Ao
mesmo tempo, o relativismo e materialismo ateístas levam à busca inescrupulosa
de saúde, prazer e poder, enquanto o estado de direito, ditado pela justiça, é
espezinhado. Em tal condição cultural perversamente desordenada, existe o medo
legítimo de um confronto global que só pode significar destruição e morte para
muitos. Claramente, a presente situação do mundo não pode continuar sem levar à
total aniquilação.
O
mundo nunca precisou tanto do ensinamento sólido e direção que Nosso Senhor, no
Seu incomensurável e incessante amor pelo homem, deseja dar ao mundo através da
Sua Igreja e, especialmente, através dos seus pastores: o Romano Pontífice, os
Bispos em comunhão com a Cátedra de Pedro, e os seus principais cooperadores,
os padres. Mas, de uma maneira diabólica, a confusão e o erro que levaram a
cultura humana no caminho da morte e destruição também entraram na Igreja, de modo
que ela se aproxima da cultura sem parecer conhecer a sua própria identidade e
missão; sem parecer ter a clareza e a coragem de anunciar o Evangelho da Vida e
do Amor Divino à cultura radicalmente secularizada. Por exemplo, depois da
decisão de 30 de Junho de 2017 do Parlamento Alemão de aceitar o chamado “casamento homossexual”,
o Presidente da Conferência de Bispos na Alemanha declarou que a decisão não
era uma grande preocupação para a Igreja que, segundo ele, devia estar mais
preocupada com a intolerância em relação às pessoas que sofrem de atracção pelo
mesmo sexo.1 Claramente, em tal abordagem, já não há a justa e
necessária distinção entre o amor que nós, como Cristãos, devemos ter sempre
pela pessoa envolvida no pecado e o ódio que também devemos ter sempre pelos
actos pecaminosos.
O
Papa Bento XVI, na sua saudação na ocasião da Missa fúnebre pelo Cardeal
Joachim Meisner, Arcebispo Emérito de Colónia, na Alemanha, fez referência à
situação geral da Igreja em relação à cultura. Tendo tido o privilégio de
conhecer o Cardeal Meisner relativamente bem e de trabalhar com ele na defesa
dos ensinamentos da Igreja sobre o Santo Matrimónio, a Sagrada Comunhão e a lei
moral, sei o quanto sofreu com a crescente confusão sobre o ensinamento da
Igreja dentro da própria Igreja. Claramente, ele tinha expressado as mesmas
preocupações ao Papa Bento XVI, preocupações que aparentemente eram mútuas,
enquanto ao mesmo tempo ele reafirmava, como a nossa fé nos ensina a fazer, a
sua confiança em Nosso Senhor, que prometeu permanecer com o Seu Corpo Místico
“todos os dias, até à consumação dos séculos”.2
Relativamente
às permanentes preocupações pastorais do Cardeal Meisner, o Papa Bento XVI
escreveu:
Nós
sabemos que este apaixonado pastor achou difícil deixar o seu cargo, especialmente
num tempo em que a Igreja está particularmente necessitada de pastores
convincentes que conseguem resistir à ditadura do espírito da época e que vivem
e pensam a fé com determinação. Contudo, o que me moveu ainda mais foi que,
neste último período da sua vida, ele aprendeu a viver com uma profunda
convicção de que o Senhor não abandona a Sua Igreja, mesmo quando o barco ficou
com tanta água que está quase a virar.3
Quando
falei pela última vez com o Cardeal Meisner em Colónia, a 4 de Março de 2017, ele estava sereno mas, ao mesmo tempo, expressou a sua determinação
para continuar a lutar por Cristo e pelas verdades que Ele nos ensina, numa
linha inquebrável, através da Tradição Apostólica.
A
fidelidade do Cardeal Meisner ao seu ofício de pastor do rebanho, mesmo quando
já não era Arcebispo de Colónia, foi uma tremenda fonte de força para muitos
outros pastores na Igreja que lutam cada dia para conduzir o rebanho no caminho
de Cristo. Por qualquer motivo, muitos pastores estão em silêncio sobre a
situação em que a Igreja se encontra, ou abandonaram a clareza dos ensinamentos
da Igreja pela confusão e erro que se pensa, erradamente, responder mais
eficazmente ao total colapso da cultura Cristã. O jovem pastor que me perguntou
a questão sobre a possível natureza apocalíptica do tempo presente na Igreja e
no mundo falou de uma experiência de desafios cada vez maiores em ensinar as
verdades da fé com integridade, enquanto testemunhava uma aparente falta de
clareza e coragem da parte da autoridade eclesial superior.
De
facto, a cultura totalmente materialista e relativista, abraçada e fortemente apoiada
pelos meios seculares da comunicação e o lobby político dos secularistas ricos,
encoraja a confusão e divisão na Igreja. Algum tempo atrás, um Cardeal em Roma
comentou sobre o quão bom era que os media seculares já não atacavam a Igreja,
como tinham feito ferozmente durante o pontificado do Papa Bento XVI. A minha
resposta foi que a aprovação dos media seculares é para mim, pelo contrário, um
sinal de que a Igreja está a falhar muito no seu claro e corajoso testemunho
para o mundo, para a salvação do mundo.
Juntamente
com o interesse dos inimigos da Igreja em louvar e promover a confusão e o erro
dentro da Igreja, há também uma leitura política mundana do governo da Igreja.
Para os arquitectos de uma Igreja secular e politizada, aqueles que apresentam
o que a Igreja sempre ensinou e praticou são agora os inimigos do Papa.
Doutrina e disciplina, que juntamente com o Culto Sagrado são os presentes
essenciais de Cristo para nós na Igreja, são agora vistas como as ferramentas
de supostos fundamentalistas rígidos que estão a tentar dificultar o cuidado
pastoral dos fiéis, como é desejado pelo Papa Francisco. Até testemunhamos a
triste situação de membros da hierarquia a acusarem-se publicamente uns aos
outros de uma agenda política e mundana, tal como os políticos se atacam uns
aos outros para promover uma agenda política.
A
este respeito, a plenitude do poder (plenitudo
potestatis) essencial para o exercício do ofício do Sucessor de São Pedro é
falsamente retratada como poder absoluto, traindo assim a primazia do Sucessor
de São Pedro, que é o primeiro entre nós em obediência a Cristo vivo para nós
na Igreja através da Tradição Apostólica. As vozes seculares promovem a imagem
do Papa como um reformador que é um revolucionário, isto é, aquele que
empreende a reforma da Igreja rompendo com a Tradição, a regra da fé (regula fidei) e a correspondente regra
da lei (regula iuris). Mas o ofício
de São Pedro não tem nada que ver com a revolução, que é basicamente um termo
político e mundano. Como o Concílio Vaticano II assinalou, o Sucessor de Pedro
“é o perpétuo e visível fundamento da unidade, não só dos Bispos mas também da
multidão dos fiéis.”4 A plenitude do poder, o exercício desimpedido
do ofício do Romano Pontífice, é precisamente para o proteger de todo o tipo de
pensamento mundano e relativista que leva à confusão e à divisão. Também
permite que ele anuncie e defenda a fé na sua integridade. Descrevendo o que ficou
conhecido como “o poder das chaves”, o Catecismo da Igreja Católica recorda-nos
que este é fundado na confissão de São Pedro de Nosso Senhor como Deus Filho
Incarnado para a nossa salvação eterna5 e declara:
Graças
à fé que confessou, Pedro permanecerá o rochedo inabalável da Igreja. Terá a
missão de defender esta fé para que nunca desfaleça e de nela confirmar os seus
irmãos. 6
Portanto,
é absurdo pensar que o Papa Francisco pode ensinar qualquer coisa que não está
de acordo com o que os seus predecessores, por exemplo o Papa Bento XVI e o Papa
São João Paulo II, solenemente ensinaram.
Quanto
às frequentes declarações do Papa Francisco, desenvolveu-se uma compreensão
popular de que todas as afirmações do Santo Padre devem ser aceites como
ensinamento ou magistério papal. Os mass media certamente quiseram escolher
entre as declarações do Papa Francisco, de modo a demonstrar que a Igreja
Católica está a passar por uma revolução e está a mudar radicalmente os seus
ensinamentos em certas questões chave da fé e, especialmente, da moral. A
questão é complicada porque o Papa Francisco regularmente escolhe falar de
maneira coloquial, seja durante entrevistas dadas em aviões, ou para meios de
comunicação, ou em comentários espontâneos para vários grupos. Sendo assim,
quando alguém coloca as suas observações dentro do contexto apropriado do
ensinamento e prática da Igreja, pode ser acusado de falar contra o Santo
Padre. Lembro-me de um dos eminentes Padres da Sessão Extraordinária do Sínodo
dos Bispos, realizada durante Outubro de 2014, se aproximar de mim durante um
intervalo para dizer: “O que está a acontecer? Quem de nós está a apoiar o que
a Igreja sempre ensinou e praticou é agora chamado de inimigo do Papa?” Como
resultado, uma pessoa é tentada a permanecer em silêncio ou a tentar explicar
doutrinalmente a linguagem que confunde ou até contradiz a doutrina.
O
modo como tenho vindo a perceber o dever de corrigir o entendimento popular
sobre o ensinamento da Igreja e as declarações do Papa é distinguir, como a
Igreja sempre fez, as palavras do homem que é o Papa e as palavras do Papa como
Vigário de Cristo na terra. Na Idade Média, a Igreja falou dos dois corpos do
Papa: o corpo do homem e o corpo do Vigário de Cristo. Aliás, a veste Papal
tradicional, especialmente a mozzetta encarnada com a estola, representando os Apóstolos São Pedro e
Paulo, representa visivelmente o verdadeiro corpo do Papa quando ele está a
proclamar o ensinamento da Igreja.
Em
tempos recentes, a Igreja não tem sido habituada a um Romano Pontífice que fala
publicamente de uma maneira coloquial. Aliás, foi sempre tomado um grande
cuidado para que quaisquer palavras do Papa publicadas estejam de acordo com o
Magistério. Alguns meses atrás, estava a falar com um Cardeal que, como jovem
prelado, tinha trabalhado de perto com o Papa Paulo VI. O Papa Paulo VI foi um
pregador talentoso que falou muitas vezes sem ter um texto preparado. Estes
sermões foram posteriormente transcritos para publicação, mas o Papa Paulo VI
nunca permitia a publicação de nenhum destes sermões sem estudar minuciosamente
o texto impresso. Como ele disse ao jovem prelado, eu sou o Vigário de Cristo
na terra, e tenho uma responsabilidade muito séria de assegurar que nenhuma
palavra minha possa ser interpretada de maneira contrária ao ensinamento da
Igreja.
O
Papa Francisco escolheu falar frequentemente no seu primeiro corpo, o corpo do
homem que é Papa. De facto, mesmo em documentos que, no passado, representavam
um ensinamento mais solene, ele afirma claramente que não está a oferecer
ensinamentos magisteriais, mas o seu próprio pensamento. Mas aqueles que estão
acostumados a uma maneira diferente de discurso Papal querem fazer de cada
declaração dele, de algum modo, parte do Magistério. Fazer isto é contrário à
razão e ao que a Igreja sempre entendeu. É simplesmente errado e prejudicial
para a Igreja receber cada declaração do Santo Padre como uma expressão do
ensinamento ou magistério papal.
Fazer
a distinção entre os dois tipos de discurso do Romano Pontífice não é, de forma
alguma, desrespeitoso para o Ofício Petrino. Muito menos constitui inimizade ao
Papa Francisco. Aliás, pelo contrário, mostra um respeito último pelo Ofício
Petrino e pelo homem a quem Nosso Senhor o confiou. Sem esta distinção,
facilmente perderíamos respeito pelo papado ou seríamos levados a pensar que,
se não concordamos com as opiniões pessoais do homem que é o Romano Pontífice,
então temos de quebrar a comunhão com a Igreja.
Em
qualquer caso, qualquer declaração do Romano Pontífice tem de ser entendida
dentro do contexto do constante ensinamento e prática da Igreja, para que a
confusão e divisão sobre o ensino e a prática da Igreja não entrem no seu corpo,
para grande dano das almas e grande dano da evangelização do mundo. Lembrem-se
das palavras de São Paulo no princípio da Carta aos Gálatas, uma comunidade dos
primeiros Cristãos onde tinha entrado uma grande confusão e divisão. Como um
bom pastor do rebanho, São Paulo escreveu as seguintes palavras para resolver
esta preocupante situação:
Estou
admirado de que tão depressa vos afasteis daquele que vos chamou pela graça de
Cristo, para seguirdes outro Evangelho; que outro não há, o que há é certa
gente que vos perturba e quer perverter o Evangelho de Cristo. Mas, até mesmo
se nós ou um anjo do céu vos anunciar como Evangelho o contrário daquilo que
vos anunciámos, seja anathema! Como anteriormente dissemos, digo agora mais uma
vez: se alguém vos anuncia como Evangelho o contrário daquilo que recebestes,
seja anathema! Estarei eu agora a tentar persuadir homens ou a Deus? Ou será
que estou a procurar agradar aos homens? Se ainda pretendesse agradar aos
homens, não seria servo de Cristo. 7
Embora
mantendo firmemente a fé Católica no que diz respeito ao Ofício Petrino, não
podemos cair numa idolatria do papado, que faria com que cada palavra dita pelo
Papa fosse doutrina, mesmo que seja interpretada como contrária à própria
palavra de Cristo, por exemplo, em relação à indissolubilidade do matrimónio.8
Em vez disso, com o Sucessor de Pedro, devemos esforçarmo-nos por entender mais
e mais plenamente a palavra de Cristo, a fim de a viver mais e mais
perfeitamente.
Surpreendentemente,
há alguns meses, o Superior Geral dos Jesuítas sugeriu que não podemos saber o
que Cristo realmente disse acerca de nenhum assunto, uma vez que não temos
gravações dos Seus discursos. Para além do absurdo da sua afirmação, dá a
impressão de que já não existe um ensinamento e uma prática constantes da fé
como chegou até nós, numa linha interrupta, desde o tempo de Cristo e dos
Apóstolos.
Da
mesma forma, não é uma questão de um chamado “pluralismo” legítimo na Igreja,
isto é, de uma diferença legítima de opinião teológica. Os fiéis não estão
livres para seguir as opiniões teológicas que contradizem a doutrina contida
nas Sagradas Escrituras e na Sagrada Tradição, e confirmada pelo Magistério
ordinário, mesmo que essas opiniões encontrem ampla audiência na Igreja e não
sejam corrigidas pelos pastores da Igreja, como os pastores são obrigados a
fazer.
Observando
o centenário das aparições de Nossa Senhora de Fátima, temos de nos recordar de
como a sua Mensagem ou, como por vezes é chamado, o seu Segredo, destina-se
principalmente a abordar uma apostasia generalizada na Igreja e o fracasso dos
pastores da Igreja em corrigi-la. O triunfo do Coração Imaculado de Maria é, em
primeiro lugar, o triunfo da Fé que nos ensina qual é a nossa relação correcta
com Deus e com os outros.
Certamente,
Cristo o Bom Pastor exige que aqueles ordenados para agir na Sua pessoa em nome
de todo o rebanho saiam em busca da ovelha perdida. 9 Mas quando o
bom pastor encontra a ovelha perdida, ele não a deixa nessa sua condição, mas
leva-a nos seus ombros de volta para o rebanho. O verdadeiro pastor do rebanho,
conformado sacramentalmente a Cristo o Bom Pastor e esforçando-se por crescer
cada vez mais fielmente na sua identidade sacerdotal, é um bom pai que procura
o filho errante ou perdido, a fim de o trazer de volta para o rebanho, para
Cristo, Aquele que nos salva do nosso pecado. Referindo-se à alegria do pastor
que trouxe de volta a casa a ovelha perdida, Nosso Senhor conclui a parábola da
Ovelha Perdida com estas palavras:
Ao
encontrá-la, põe-na alegremente aos ombros. E, ao chegar a casa, convoca os
amigos e vizinhos e diz-lhes: “Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha
ovelha perdida.” Digo-vos Eu: Haverá mais alegria no Céu por um só pecador que
se converte, do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão.
10
Qual
deve ser, então, a nossa resposta aos temos extremamente difíceis em que vivemos,
tempos que realisticamente parecem ser apocalípticos? Tem de ser a resposta da
fé, da fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, que está vivo para nós na Igreja e que
nunca deixa de ensinar, santificar e guiar-nos na Igreja, mesmo ao professar
que iria permanecer sempre connosco até ao Seu regresso no Último Dia para
inaugurar “os novos céus e a nova terra” 11, para receber os fiéis no
Banquete das Núpcias do Cordeiro.12 Nós sabemos o que Cristo nos
ensina na Igreja. Está no Catecismo da Igreja Católica, no ensino oficial da
Igreja. O Seu ensinamento não muda. No meio da presente confusão e divisão,
temos de estudar mais atentamente os ensinamentos da fé contidos no Catecismo
da Igreja Católica e estar preparados para defender esses ensinamentos contra
qualquer falsidade que irá deteriorar a fé e, portanto, a unidade da Igreja.
Ao
mesmo tempo, na nossa angústia sobre as muitas manifestações perturbadoras de
confusão, divisão e erro na Igreja, não devemos deixar de reconhecer também os
muito edificantes sinais de fidelidade a Cristo na Igreja. Penso em tantos bons
lares católicos em que o conhecimento, amor e serviço a Cristo é o centro da
vida. Penso em tantos bons e inabaláveis fiéis, padres e bispos que vivem a fé
e prestam contas disso pela sua vida diária. Nos atribulados tempos em que
estamos, é importante que bons e fiéis Católicos se unam para aprofundar a sua
fé e encorajar-se uns aos outros. Por favor permitam-me observar que o The Church Teaches Forum fornece um
serviço muito importante a todos nós na Igreja, especialmente num tempo em que
a Igreja está em crise.
Para
permanecermos completamente unidos a Cristo, para sermos um só coração com o
Sagrado Coração de Jesus, temos de ir à Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de
Cristo e Mãe da Igreja, para imitar a unidade do seu Imaculado Coração com o
glorioso Coração perfurado de Jesus e para procurar a sua maternal intercessão.
As últimas palavras da Virgem Mãe do Redentor recordadas nos Evangelhos são as
palavras que ela disse aos serventes de vinho nas Bodas de Caná, que vieram a
ela angustiados com a falta de vinho suficiente para os convidados dos
recém-casados. Ela respondeu-lhes, e à sua situação de grande angústia,
conduzindo-os para o seu Divino Filho, também um convidado nas Bodas, e instruindo-os:
“Fazei tudo o que Ele vos disser.”13 Estas simples palavras
expressam o mistério da Divina Maternidade pela qual a Virgem Maria se tornou a
Mãe de Deus, trazendo Deus Filho Incarnado ao mundo. Pelo mesmo mistério, ela
continua a ser o canal de todas as graças que, incomensurável e incessantemente,
fluem do glorioso Coração perfurado do seu Divino Filho para os corações dos
Seus irmãos fiéis, na peregrinação terrena para a sua casa eterna com Ele no
Céu. Não menos do que ela fez com os serventes de vinho nas Bodas de Caná, a
nossa Bem-Aventurada Mãe atrair-nos-á sempre para mais perto de Cristo, o Único
que nos traz a paz no meio das nossas tribulações.
Invocando
a intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, devemos também invocar
frequentemente ao longo do dia a intercessão de São Miguel Arcanjo. Não há
qualquer dúvida de que a Igreja está no meio de um tempo particularmente feroz
da batalha contra as forças do mal, contra Satanás e as suas cortes. Há um
envolvimento definitivamente diabólico na sempre crescente confusão, divisão e
erro dentro da Igreja. Como São Paulo nos lembrou na Carta aos Efésios, “a
nossa luta não é contra a carne e o sangue, mas contra os Principados e as
Potestades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos do
mal que estão nos céus.”14 São Miguel é o nosso defensor na batalha,
é o nosso “auxílio contra as maldades e as ciladas do demónio”, que não dorme
enquanto “vagueia pelo mundo para perder as almas”.15
A
nossa Bem-Aventurada Mãe também nos torna conscientes da nossa comunhão com
todos os santos e, de um modo particular, com o seu castíssimo esposo e
pai-adoptivo do seu Divino Filho, São José. São José é o patrono da Igreja
Universal. Devemos rezar-lhe diariamente pela paz da Igreja, pela sua proteção
contra todas as formas de confusão e divisão, que são sempre obra de Satanás.
Não sem razão, um dos títulos de São José é “Terror dos demónios”. Como um bom
pai, ele intercederá pela Igreja, Corpo Místico de Cristo.
A
nossa Bem-Aventurada Mãe também nos levará a procurar a intercessão de São
Pedro para o seu sucessor, o Papa Francisco, de modo a que ele saiba como
melhor abordar a grave situação do mundo e da Igreja, fielmente ensinando a
palavra de Cristo e dirigindo-a no amoroso e firme caminho de um verdadeiro pai
espiritual para a situação do mundo hoje. Devemos também invocar a intercessão
dos grandes santos papas que guiaram a Igreja em tempos difíceis com santidade
heróica. Penso no Papa São Leão Magno, Papa São Gregório Magno, Papa São Gregório
VII, Papa São Pio V, Papa São Pio X e Papa São João Paulo II.
De
um modo particular, devemos rezar pelos cardeais da Igreja, que são os
principais conselheiros do Romano Pontífice, para que sejam de verdadeira
assistência ao Santo Padre no exercício do seu ofício como “o perpétuo e
visível fundamento da unidade, não só dos bispos mas também da multidão dos
fiéis.”16 Em tais tempos, o serviço dos cardeais requer deles uma
particular clareza e coragem, e a disposição para aceitar qualquer sofrimento
necessário de modo a ser fiel a Cristo e à Sua Igreja, “até ao derramamento do
seu sangue” (“usque ad effusionem
sanguinis”).
Tendo-nos
aproximado da Mãe de Deus que infalivelmente nos leva ao seu Divino Filho,
temos de permanecer serenos porque a nossa fé em Cristo não permitirá que as
“portas do inferno” prevaleçam contra a Sua Igreja. 17 A serenidade
não significa que ignoremos ou neguemos a gravidade da situação em que o mundo
e a Igreja se encontram. Significa que estamos plenamente conscientes da
seriedade da situação, enquanto ao mesmo tempo dirigimos
todas as necessidades do mundo e da Igreja a Cristo nosso Salvador, através da
intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, São Miguel Arcanjo, São José e toda
a plêiade dos santos.
Serenidade
significa que não cedemos a um desespero mundano que se expressa de maneiras
agressivas e sem caridade. A nossa confiança está em Cristo. Sim, devemos fazer
tudo o que estiver ao nosso alcance para defender a nossa fé católica em
qualquer circunstância em que esteja a ser atacada, mas sabemos que a vitória
pertence última e unicamente a Cristo. Assim, quando tivermos feito tudo o que
podemos fazer, estamos em paz, mesmo que reconheçamos que continuamos a ser
“servos inúteis”. 18
Não
pode haver lugar no nosso pensamento ou agir para o cisma, que é sempre e em
qualquer lugar errado. Devemos estar prontos para aceitar qualquer sofrimento
que possa vir pelo bem de Cristo e do Seu Corpo Místico, a nossa Santa Madre
Igreja. Como Santo Atanásio e os outros grandes santos que defenderam a fé em
tempos de graves tribulações na Igreja, devemos estar prontos para aceitar o
ridículo, a incompreensão, perseguição, exílio e até morte, para permanecermos
unidos a Cristo na Igreja, sob a maternal proteção da Bem-Aventurada Virgem
Maria. Rezemos para que, no fim da nossa peregrinação na terra, possamos ser
capazes de dizer com São Paulo:
Combati
o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da
justiça está-me guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e
não somente a mim, mas também a todos os que amarem a Sua vinda. 19
O
cisma é fruto de um modo de pensar mundano, de pensar que a Igreja está nas
nossas mãos, em vez de nas mãos de Cristo. A Igreja no nosso tempo tem uma
grande necessidade de purificação de qualquer tipo de pensamento mundano. Em
vez disso, com São Paulo que sofreu tanto pela pregação da fé a todas as
nações, devíamos alegrar-nos por completar na nossa carne o que falta à paixão
de Cristo pelo bem da Sua Esposa, a Igreja. 20
Dada
a particular natureza das provações da Igreja no nosso tempo, temos de
salvaguardar especialmente a nossa fé no Ofício Petrino e o nosso amor pelo
Sucessor de São Pedro, o Papa Francisco. Nosso Senhor constituiu a Sua Igreja
sob o firme fundamento de São Pedro e os seus sucessores. O ministério de São
Pedro é essencial para a vida da Igreja. Renovemos diariamente a nossa fé na
Igreja e no ofício divino do Romano Pontífice, e rezemos fervorosamente pelo Romano
Pontífice, para que ele sirva Cristo com toda a obediência e com toda a
generosidade.
Para
concluir, na minha resposta ao jovem padre que expressou a preocupação de que
podemos estar a viver o fim dos tempos, depois de dizer que pode ser que sim,
continuei dizendo que não é para nos preocuparmos se estes tempos são
apocalípticos ou não, mas para permanecermos fiéis, generosos e corajosos no
servir a Cristo no Seu Corpo Místico, a Igreja. Nós sabemos que o capítulo
final da história destes tempos já está escrita. É a história da vitória de
Cristo sobre o pecado e o seu fruto mais mortal, a morte eterna. Resta-nos
escrever, com Cristo, os capítulos intervenientes pela nossa fidelidade,
coragem e generosidade como Seus verdadeiros cooperadores, como verdadeiros
soldados de Cristo. Resta-nos sermos servos bons e fiéis, que esperam para
abrir a porta para o Mestre na Sua Vinda. 21
É
minha esperança que estas reflexões sejam úteis para que vivam a vossa fé
Católica o mais plena e perfeitamente possível nestes tempos atribulados. De um
modo particular, é minha esperança que vos ajude a viver vidas de paz, seguindo
o Imaculado Coração de Maria, sob o qual Deus Filho tomou um coração humano, a
fim de ganhar a paz para os nossos corações sempre. Façamos nosso o hino mais
antigo preservado para a Virgem Mãe de Deus, descoberto já num papiro egípcio
no 3º século:
À
vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus; não desprezeis as nossas
súplicas em nossas necessidades; mas livrai-nos de todos os perigos, sempre
Virgem gloriosa e bendita. 22
Da
mesma forma, rezemos nas palavras do antigo hino das Vésperas nas festas da
Bem-Aventurada Virgem Maria, Ave Maris
Stella:
Mostrai
que sois nossa mãe: por Vós ouça as nossas preces Aquele que, para nos salvar,
quis ser Vosso Filho. 23
Nunca
duvidemos de que a Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe da Graça, nos
guiará para o seu Divino Filho, para que os nossos corações, unidos ao seu
Imaculado Coração, possam descansar sempre no Seu Coração, a única fonte da
nossa salvação. Então encontraremos paz. Iremos conhecer, amar e servir Cristo
no nosso dia-a-dia.
Obrigado pela vossa amável atenção. Por favor rezem por mim. Que Deus vos abençoe, e
abençoe os vossos lares e todos os vossos trabalhos.
Cardeal Raymond Leo BURKE
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1 Cf. http://www.catholicculture.org/news/headlines/index.cfrm?storyid=32128.
“Interview: Kardinal Marx,
empfinden Sie die ‘Ehe für alle’,” Augsburger Allgemeine, 14. Juli 2017.
2 Mt 28, 20.
3 “Wir wissen, dass es ihm, dem leidenschaftlichen Hirten
und Seelsorger, schwerfiel, sein Amt zu lassen und dies gerade in einer Zeit,
in der die Kirche besonders dringend überzeugender Hirten bedarf, die der
Diktatur des Zeitgeistes widerstehen und ganz entschieden aus dem Glauben leben
und denken. Aber um so mehr hat es mich bewegt, dass er in dieser letzten
Periode seines Lebens loszulassen gelernt hat und immer mehr aus der tiefen
Gewissheit lebte, dass der Herr sein
Kirche nicht verlässt, auch wenn manchmal das Boot schon fast zum Kentern
angefültt ist.” newsdesk@erzbistum-koeln.de.
4 Lumen Gentium, n. 23.
5 Cf. Mt 16, 13-20.
6
Catecismo da Igreja Católica, n. 552.
7 Gal 1, 6-10.
8 Cf. Mt
19, 9.
9 Cf. Lc 15, 1-7.
10 Lc 15, 7.
11 2 Pe 3, 13.
12 Ap 19, 9.
13 Jo 2, 5.
14
Ef 6, 12.
15 Oração a São Miguel Arcanjo.
16 Lumen
Gentium, n. 23.
17 Mt 16, 18.
18 Lc 17, 10.
19 2 Tim 4, 7-8.
20 Cf. Col 1, 24-29.
21 Cf. Lc 12, 35-38.
22 “Sub tuum
praesidium confugimus, sancta Dei Genetrix; nostras deprecationes ne
despicias in necessitatibus nostris, sed a periculis cunctis libera nos semper Virgo gloriosa et benedica.” Enchiridion
Indulgentiarum. Normae et concessiones, ed. 4ª (Città del
Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 1999), p. 65, n. 17. [EnchInd].
23 “Monstra te esse matrem, sumat per te preces qui pro
nobis natus tulit esse tuus.” The Raccolta or A Manual of Indulgences.
Prayers and Devotions Enriched with Indulgences, tr. Joseph P. Christopher, Charles E. Spence and
John F. Rowan (New York: Benziger Brothers, Inc., 1957), pp. 222-223, no. 321.
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