«A vossa maneira de proceder relativamente às coisas espirituais e corporais para o progresso da vossa alma deu-me uma boa razão para me regozijar em Nosso Senhor e dar-Lhe graças para sempre… Mas sentindo-me como me sinto no mesmo Senhor que os exercícios espirituais e corporais, bons para a nossa salvação em algumas circunstâncias e nem por isso noutras, devo dizer a vossa Senhoria as minhas opiniões sobre a matéria, visto que me pediu.
Primeiro de tudo, quanto ao tempo dedicado aos exercícios exteriores, eu cortá-los-ia em metade… Pelo que sei de vossa Senhoria, penso que seria melhor dedicar a outra metade ao estudo, ao governo das vossas terras e a conversas espirituais, sempre procurando manter a vossa alma calma, em paz, e disposta para o que quer que Nosso Senhor deseje trazer para ela. É, sem dúvida nenhuma, uma virtude e graça maior ser capaz de gozar do vosso Senhor em várias ocupações e lugares do que em apenas um.
Segundo, no que toca ao jejum e abstinência, aconselhar-lhe-ia, por amor de Deus, a cuidar e a fortificar o vosso estômago e os outros órgãos naturais, em vez de os enfraquecer. Quando um homem está de tal forma disposto [para Deus] que escolheria morrer do que cometer sequer a menor ofensa contra a Divina Majestade e quando, mais ainda, não está perturbado por nenhum ataque especial do demónio, do mundo ou da carne, como eu julgo ser o caso de vossa Senhoria, então, e este é um ponto que eu gostaria particularmente de lhe passar, visto que tanto o corpo e a alma pertencem ao seu Criador e Senhor, que vai exigir contas deles, não podeis deixar os vossos poderes naturais enfraquecerem-se.
Se o corpo estiver doente, a alma não consegue funcionar como devia. Devemos amar e defender o corpo ao ponto de ele ser obediente e cooperador da alma, porque, com tal obediência e ajuda, a alma consegue dispor-se melhor para servir e louvar o nosso Criador e Senhor.
Se o corpo estiver doente, a alma não consegue funcionar como devia. Devemos amar e defender o corpo ao ponto de ele ser obediente e cooperador da alma, porque, com tal obediência e ajuda, a alma consegue dispor-se melhor para servir e louvar o nosso Criador e Senhor.
Terceiro, em relação ao castigo do corpo, eu evitaria de uma só vez qualquer forma de castigo que causasse o aparecimento de uma única gota de sangue. Em vez de procurar derramar o nosso sangue, é muito melhor procurar directamente o Senhor de todos nós e os Seus santos dons, tais como as lágrimas pelos nossos pecados, uma intensificação da nossa fé, esperança e caridade, a alegria em Deus e a paz espiritual, tudo com humildade e reverência à nossa santa Mãe, a Igreja, e aos seus líderes escolhidos.
Cada um destes santos dons devia ser muito preferido a todas as acções corporais, que são boas só quando tendem a obter esses dons para nós. Não estou a dizer que eles [esses dons] deviam ser procurados pelo contentamento que nos trazem. Mas, visto que sabemos que sem eles todos os nossos pensamentos, palavras e obras são confusos, frios e incómodos, desejamo-los para que essas coisas se tornem ardentes, lúcidas e rectas para o maior serviço de Deus.»
Cada um destes santos dons devia ser muito preferido a todas as acções corporais, que são boas só quando tendem a obter esses dons para nós. Não estou a dizer que eles [esses dons] deviam ser procurados pelo contentamento que nos trazem. Mas, visto que sabemos que sem eles todos os nossos pensamentos, palavras e obras são confusos, frios e incómodos, desejamo-los para que essas coisas se tornem ardentes, lúcidas e rectas para o maior serviço de Deus.»
Esta carta foi escrita quando Santo Inácio, sempre vigilante, soube que São Francisco andava com práticas de mortificação muito austeras, que tinha aprendido com alguns amigos em Espanha, também Jesuítas. Só para termos ideia, o tipo de austeridade que São Francisco levava até receber a carta de Santo Inácio era qualquer coisa como acordar à meia-noite e ficar sete horas a rezar, querer sair um mês por ano para fazer retiro, rezar três Missas por dia, ...
Nuno CB
Nuno CB
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